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Philippe Garrel é um diretor que fala sobre as relações, um tema complicado e frágil mas poderoso terreno fértil para o Cinema....

O Ciúme (La Jalousie / Jealousy) - 2013











Philippe Garrel é um diretor que fala sobre as relações, um tema complicado e frágil mas poderoso terreno fértil para o Cinema. Em seu mais novo longa, O Ciúme (La Jalousie), estrelado por seu filho Louis Garrel e Anna Mouglalis, filmado todo em preto e branco e com a bela fotografia de Willy Kurant, somos convidados a observar a diferença do amor entre homem e mulher, o ciúme e os inícios e fins de relacionamento. Tudo em menos de 80 minutos de projeção e com uma estética baseada em recortes do cotidiano, com a influência do experimentalismo Godardiano, da tradição dramática e amorosa do Cinema de Truffaut e da abordagem autobiográfica do diretor. 


Louis (Louis Garrel) é um ator de teatro, sem grana e que vive em um apartamento minúsculo com Claudia (Anna Mouglalis). Ela foi uma atriz em evidência e está com dificuldades para arranjar um emprego. Ele é divorciado de Clothilde (Rebecca Convenant) e tem uma filha, Charlotte (Olga Milshtein). Outras pessoas aparecem na história como um ex-affair do pai de Louis, um conselheiro senhor idoso, os flertes extraconjugais como elementos que refletem a releitura autobiográfica do cineasta e uma retomada de fundo psicológico de aspectos de sua vida. 



De imediato, podemos observar que esse é um retrato do que acontece nas relações.  Um casamento é desfeito. Outro relacionamento começa. Os filhos de pais separados lidam com os atuais parceiros dos pais. Algumas traições no caminho (ou o desejo de conhecer outras pessoas). Os amantes terminam o relacionamento, alguns de forma mais prática, outros não aceitam o fim do romance e sofrem passionalmente. Assim é o longa de Garrel, a diferença é que ele deixa fluir os encontros e desencontros como um drama mais naturalista, um roteiro mais teatral baseado nos gestos do que nas palavras e em silêncios  e diálogos que nos deixam na memória realizar o paralelo entre o filme e a vida prática.




Fotografia de Wally Kurant  : fundamental para O Ciúme


No início, é necessário se acostumar ao estilo do diretor e a escolha por fragmentos do dia a dia.  A narrativa não tem grandes ações. Boa parte das cenas não aproveitam  os conflitos somente os lança para o público. Não há linearidade. As situações são colocadas e algumas chegam a ser muito entendiantes porém, pouco a pouco, o longa consegue inserir alguns planos que evidenciam cenas de ciúme, a falta de dinheiro do casal, o mal estar de desejar outra coisa diferente do parceiro etc e o público é incentivado a observar as relações. São questões muito comuns no relacionamento moderno e as poucas dramáticas chacoalham a narrativa e arrastam o interesse. 



A atuação de Anna Mouglalis, em especial, em um momento chave demonstra que os amantes simplesmente tomam decisões e não precisam verbalizar todos os motivos. Ela é responsável por segurar mais a dramatização, inclusive é a única personagem mais atrativa e, felizmente, tem algumas atitudes que fazem a história evoluir. Por outro lado, Louis Garrel tem uma atuação medíocre que transita entre o conformismo da sua personagem e a sua falta de vigor na narrativa. Por ser dirigido pelo próprio pai e ter contracenado com sua irmã Esther Garrel, ele está mais ligado no piloto automático e tudo acaba em família. Normalmente ele performa melhor em filmes de outros diretores. Além do mais, sua personagem é o mais fragilizado por esse amor que também o angustia, o que reforça a imagem mais depressiva do seu papel.


No geral, o clima do filme é realista  e lembra os filmes em Preto e Branco da Nouvelle Vague, porém não "tipo câmera na mãe" e  tão experimental. Ele é muito mais estilizado pela impecável cinematografia que faz a diferença e o salva de maiores fracassos. Também, é relevante comentar que esse não é um filme que agrada qualquer pessoa. Alguns apreciadores do trabalho de Philip Garrel tem mais chances de morrer de amores. Por outro lado, embora não seja um filme excepcional na seara das relações afetivas, a experiência cinematográfica é válida. É como espiar e analisar os personagens em conversas rotineiras, ações inesperadas e sentimentos diversos e perceber que essa releitura é uma contemporânea manifestação da fragilidade dos relacionamentos.








Ficha técnica do filme ImDB O Ciúme

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