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Estreia nos Cinemas 13 de Novembro de 2025
Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Vitória
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
LAR: A Nobreza do Tema e o Desafio da Consolidação Narrativa
O Documentário LAR, que retrata o cotidiano de famílias LGBTIAPN+ através da perspectiva de seus filhos e filhas, desempenha papel essencial ao iluminar realidades silenciadas e combater a ignorância. Nesse sentido, a proposta de LAR é um retrato necessário para a sociedade, abrindo espaço para discussões educacionais e jurídicas que ainda carecem de representatividade no cinema brasileiro. O acerto do filme está em estabelecer uma conversa honesta e bem cotidiana, incluindo o exemplo do diretor. Embora a proposta seja potente e necessária, sua realização como obra cinematográfica enfrenta obstáculos que comprometem parte de sua força. A costura narrativa se revela frágil diante da complexidade do tema, com dificuldades em consolidar a totalidade da sua potência: manifestadas na distribuição desigual do tempo de tela para cada família, na fluidez da montagem, que não convida à imersão esperada, e na abordagem breve de subtemas que mereciam maior aprofundamento.
O filme demonstra acerto ao apresentar uma diversidade de realidades na adoção, desde a experiência do diretor até o cotidiano das outras famílias, trazendo relatos honestos sobre abandono, rejeição e os desafios envolvidos. As cenas que utilizam a perspectiva das crianças e adolescentes são, de longe, as mais engajadoras, pois eles carregam o repertório vivido do recomeço na vida familiar. Contudo, em diversas passagens, a narrativa arrisca-se a manter certo distanciamento do cotidiano dos lares. Isso se deve à montagem, que provoca cortes abruptos e abala a estrutura narrativa e o ritmo. A consequência direta é que a experiência do público pode ser comprometida: mesmo com a duração de 76 minutos, o filme não alcança uma imersão suficiente para o aprofundamento das histórias. Não se trata de exigir um tom didático, mas sim de reconhecer que a fluidez ausente compromete a conexão emocional esperada.
O diretor Leandro Wenceslau opta por entrelaçar sua jornada pessoal com o cotidiano das famílias, uma escolha que, em tese, poderia fortalecer a busca por pertencimento, mas que, na prática, não resultou em um produto coeso. Os diferentes círculos de convivência e as narrativas não são suficientemente desenvolvidos, diluindo o foco narrativo. Infere-se que, se o diretor tivesse se mantido como um pesquisador empático, utilizando sua experiência de forma mais distanciada, talvez houvesse mais tempo e clareza para consolidar as outras realidades. De certa forma, a sinceridade de Leandro Wenceslau ao expor questões familiares pode ter impactado o resultado final, gerando uma honestidade que, paradoxalmente, o faz questionar a própria obra. O cinema também é aprendizado: há espaço para que ele continue explorando o tema, observando que a técnica narrativa, diferentemente da intenção, interfere diretamente no sucesso de um documentário. A fotografia do filme, por exemplo, é um ponto bem trabalhado e pode impulsionar novas e mais bem-sucedidas produções.
O filme é inegavelmente afetuoso em determinados círculos, como nas cenas mais naturalistas de convivência familiar, mas ainda carece de equilibrar a celebração dos afetos com a exposição dos conflitos. O material é rico, com potencial para explorar os bastidores e os desafios da adoção no Brasil para famílias LGBTIAPN+, mas a forma como foi montado prejudica a fluidez. Isso torna o envolvimento orgânico com o tema desafiador, pois o espectador, que nem sempre conhece a complexidade da adoção, é mantido à distância das dores e dos obstáculos. O documentário se contenta em mostrar a camada visível dos afetos, mas perde a oportunidade de alcançar a profundidade da denúncia social e das lutas jurídicas, limitando o seu impacto final.
Apesar dos desafios na costura narrativa, o valor de LAR como registro histórico essencial é inegável no cinema brasileiro contemporâneo sobre o tema da adoção em famílias LGBTIAPN+. O filme abre um espaço crucial para novos realizadores e cumpre um papel na formação do cidadão de forma transversal, uma vez que o tema engloba não apenas os afetos familiares, mas todo o ciclo de desafios em instituições como a escola, o sistema jurídico e a sociedade civil. É nesse ponto que a experiência prévia de Leandro Wenceslau, que valoriza o cinema com jovens e crianças e possui formação em audiovisual, reforça sua qualificação para evoluir e consolidar suas narrativas em futuros documentários. Por sua importância como documento, LAR é um filme que merece ser prestigiado, reforçando que o tema exige conhecimento, experiência e aprofundamento contínuos.



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