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Estreia nos Cinemas 06 de Novembro de 2025
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O Dollhouse: O Luto que se Recusa a Ser Esquecido
O que poderia soar como mais uma variação de terror com bonecas, à la Brinquedo Assassino ou Annabelle, ganha aqui uma guinada cultural e emocional com o retorno do J-horror. Em Dollhouse, Shinobu Yaguchi, conhecido por suas comédias, mergulha no drama psicológico com o traço inconfundível do cinema asiático: atmosfera sombria, ambiguidade narrativa e uma dor que se instala silenciosamente. A premissa se ancora na perda trágica da filha e na tentativa de Kae (Masami Nagasawa) de ressignificar um luto esmagado pela culpa. Ao adquirir uma boneca semelhante à criança, ela inicia um processo de substituição afetiva que, embora soe estranho ou até bizarro para muitos, é conduzido com uma escolha estética precisa: a boneca permanece estática, intensificando o estranhamento e transformando o objeto em um espelho opressor do trauma.
A boneca adentra o cotidiano como se fosse a filha ausente, instaurando uma dinâmica perturbadora sob qualquer racionalidade. Ela se torna uma presença simbólica, uma pseudo-filha que acalenta o coração materno e paterno, funcionando como válvula emocional para um luto não elaborado. A densidade psicológica do J-horror se afasta dos sustos fáceis e do maniqueísmo, revelando um ambiente familiar invadido pela negação e pela esperança de cura. O que a família não prevê é que a boneca carrega uma história ancestral e uma natureza obsessiva, subvertendo o consolo em ameaça latente.
O roteiro demonstra perspicácia ao introduzir uma nova dinâmica familiar que tensiona ainda mais o vínculo entre Kae e a boneca. Ao tentar seguir em frente e abrir espaço para um novo afeto, a mãe passa a negligenciar o objeto que antes simbolizava sua dor. Essa rejeição reverbera no ambiente e intensifica o estranhamento. A atmosfera doméstica, típica do J-horror, torna-se palco de uma inquietação crescente, onde os limites entre afeto, obsessão e ameaça se embaralham. A direção explora essa ambiguidade com sutileza, especialmente ao inserir uma personagem que se conecta à boneca de forma inesperada, dissolvendo as defesas do lar e tornando a ameaça ainda mais íntima.
Shinobu Yaguchi transita com habilidade entre o horror e o drama, explorando a ambiguidade emocional que permeia a narrativa. Como em todo bom terror psicológico, há momentos de riso nervoso provocados pela estranheza da boneca, o que confirma a promessa de um tom excêntrico e inquietante. Ainda assim, o filme apresenta oscilações típicas do gênero: a força da culpa e da tristeza que impulsionam o início da trama vai se diluindo aos poucos. No terceiro ato, a narrativa se volta para a busca de uma resolução que traga paz à família. Essa escolha, embora funcional, suaviza a densidade psicológica construída até então, convertendo a inquietação em uma trajetória mais voltada à ação do que à introspecção.
Dollhouse representa um retorno expressivo ao J-horror, mesmo que perca parte de seu ritmo no desfecho. Ao inserir uma boneca com passado sombrio, uma história de trauma e a culpa de uma mãe em luto, o filme afirma que o luto não se resolve, ele se transforma em um processo contínuo e complexo. A tentativa de estancar essa dor por meio de um recomeço cobra o preço da obsessão e da negação. Um dos grandes acertos de Yaguchi é manter a incógnita até o fim, transformando o filme em um espelho inquietante: a verdadeira ameaça reside no que reprimimos, e o horror é, no fundo, a nossa incapacidade de esquecer ou de encarar o que não queremos ver.
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