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MaDame Listas Filmes na Netflix por Cristiane Costa Com a comodidade de ter plataformas como Netflix a poucos segundos do c...

10 países, 10 filmes na Netflix para quebrar sua rotina

MaDame Listas
Filmes na Netflix
por Cristiane Costa





Com a comodidade de ter plataformas como Netflix a poucos segundos do controle remoto vem a responsabilidade de escolher bons títulos. Parece tarefa fácil, mas não é. Vários espectadores já passaram por aquele momento em que navegar pelas categorias do menu dura mais de 10 minutos (e até muito mais). Haja paciência para encontrar alguma novidade que faça valer a pena o tempo, não é mesmo? Mas, acredite! Quem procura bem, acha coisa boa!


Apesar do catálogo ainda carecer de grandes lançamentos com agilidade na disponibilização, Netflix é uma diversão imprescindível para alegrar os lares e tem um potencial cada vez maior de trazer títulos que não entrariam em cartaz ou que passam muito rápido pelas salas de cinema. Uma das maiores vantagens também é descobrir filmes de vários países que, não necessariamente, foram ovacionados em vários festivais e nem todos passaram pelos cinemas Brasileiros.

Pensando na sua comodidade, MaDame Lumière selecionou 10 filmes para você quebrar a sua rotina. Foram escolhidos 10 diretores(as) de diferentes países que se destacam na categoria de filmes estrangeiros e também para assegurar a diversidade na seleção.


Além dos longas serem ótimas diversões, eles tratam de temas de interessante apelo como o desejo e diferentes formas de prazer, a tradição e impactos familiares em histórias da Índia, Itália e Israel, o difícil universo da moda e da profissão de top model e outros temas como canibalismo, zumbis, homossexualidade,  paixão e relações de poder, amor e amadurecimento.

Esta seleção está imperdível! 

Boa sessão!

Cristiane Costa 
Editora e crítica de Cinema
MaDame Lumière





10. Top Model (The Model, 2016)
Diretor: Mads Matthiesen, Dinamarca


Quando o sonho de ser modelo, uma paixão obsessiva e os riscos do mercado da moda se encontram, uma jovem e sedutora mulher é levada a situações extremas. A top model Emma (Maria Palm) tem uma beleza misteriosa e desabrochante.  Seu tórrido caso de amor com o badalado fotógrafo Shane White (Ed Shrein) transforma o filme em um enigmático drama que denuncia o lado amargo do sedutor mundo fashion.






9. Queda livre (Freier Fall, 2013)
Diretor: Stephan Lacant, Alemanha

Um amor explosivo entre dois policiais, Marc (Hanno Koffler) e Kay (Max Riemelt) levam ambos a uma dramática queda livre em suas vidas. Marc está dividido entre a família e a opinião dos amigos, Kay está perdidamente apaixonado e ama com intensidade. As  boas atuações dos dois atores garantem cenas realistas que mostram paixão, sofrimento e desejos reprimidos.






8. Kiki, os segredos do desejo (Kiki, el amor se hace, 2016)
Diretor: Paco León, Espanha

Esta divertida comédia erótica é uma celebração de vários tipos de desejo e prazer: do amor a três à libido por pessoas que dormem, o longa liberta sem qualquer inibição diversas taras, sempre com diálogos engraçados e situações inusitadas. O mesmo espírito Almodovariano prevalece aqui, conta os segredinhos libidinosos, atiça a imaginação e esquenta a sessão.






7. A garota Húngara (Demimonde/Félvilág, 2015)
Diretor: Attila Szász, Hungria

As relações de poder, amor e sedução se desenvolvem na casa habitada pela prostituta Elza (Patricia Kovács) e suas duas empregadas, Rószi (Dorka Gryllus) e Kató (Laura Döbrösi). Um sedutor jogo de poder, obsessão, vingança e morte conduzem o espectador a um trágico desfecho e mostra que algumas histórias pessoais já nascem para ser tragédias sociais.





6. Raw (Grave, 2016)
Diretora: Julia Ducournau, França

Uma universitária vegetariana come carne durante o trote na faculdade. A partir daí, é possuída por um desejo voraz de devorar carne humana. Raw é cru como o título, um filme de horror sobre canibalismo com cenas viscerais de dar embrulho no estomago. A excelente atuação de Garance Marillier no papel de Justine cresce à medida que ela se torna mais letal em seu frágil corpo. Muito mais que um drama pessoal, Raw é um drama familiar.






5. Tempestade de Areia (Sufat Chol, 2016)
Diretora: Elite Zexer, Israel


Layla (Lamsi Ammar) é a jovem libertária que luta contra as tradições impostas por sua família  em uma aldeia beduína em Israel. Convivendo com pais rígidos e em conflito em um local pobre, silenciada até mesmo no direito a amar e negociada como mercadoria para um casamento, esse belo drama tem a força da rebeldia mas também a fraqueza imposta às mulheres por uma cultura tradicionalmente machista.





4. Masaan (Masaan, 2015)
Diretor: Neeraj Ghaywan, India

Com uma excelente direção que ganhou o prêmio Un Certain Regard de Cannes 2015, Masaan é um drama moderno que mostra a realidade dos jovens em uma Índia ainda tradicional e miserável. Com 4 histórias que se cruzam no roteiro, a repressão, o suicídio, a corrupção, a pobreza e o preconceito de castas surgem como subtemas entrelaçados a essa dramáticas realidades e fazem parte das duras consequências que impõem sofrimento e falta de liberdade às novas gerações. 






3. Invasão Zumbi (Train to Busan, 2016)
Diretor: Sang-ho Yeon,  Coréia do Sul




Uma história dinâmica sobre sobrevivência na qual os passageiros pegam o trem de Seul a Busan e fogem de um bando de zumbis. Com maestria, este é um imperdível zombie film Coreano que dá de dez a zero em muitos blockbusters americanos. O diretor Yeon assegura um ótimo ritmo, com uma combinação crível entre ação e drama familiar que garante momentos de tirar o fôlego e arrancar algumas lágrimas. O excelente elenco tem Yoo Gong  e Dong-seok Ma, respectivamente,  o executivo em redenção e o herói que rouba a cena e cuida da mulher grávida.





2.  Um sonho de amor (Io sonno L'Amore, 2009)
Diretor: Luca Guadagnino, Itália


A tradição dos Recchis, uma família industrial Italiana é colocada em xeque quando a refinada matriarca Emma (Tilda Swinton) cede ao desejo, amor e prazeres ao conhecer o chef Antonio (Edoardo Gabbriellini). O êxito (e sedução) do filme é a direção sensorial, envolvente e provocativa de Guadagnino que, com a excepcional atuação de Swinton, faz desmoronar o castelo de cartas desta riquíssima e conservadora família.






 1. Sing street : música e sonho (Sing Street, 2009)
Diretor: John Carney, Irlanda

Imagine um filme gracioso e agradável de assistir que reúne várias referências pop rock e cinéfilas e mostra um encantador rito de amadurecimento com muitas músicas cool, um garoto apaixonado (Ferdia Walsh-Peelo), uma musa inspiradora (Kelly Thornton) e uma turminha de amigos que montam uma banda? Imaginou? Ele é "Sing Street". Com um jeito criativo e descolado que não deixa a tradição dos músicos atrás e nem mesmo o lado deprê  da criação, John Carney realiza um longa nostálgico e, ao mesmo tempo, futurista para os jovens. Cheio de sonhos, romance e música, o filme retrata a época de escola, de descobrir músicas, de se apaixonar, fazer amigos e aspirar conquistas. Tem de tudo para tocar os corações de adultos e jovens.





Lista e ranking elaborados por Cristiane Costa para MaDame Listas

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Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière

Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação   Um dos grandes ícones da comédia,  Jer...

O mensageiro trapalhão







Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 



Um dos grandes ícones da comédia, Jerry Lewis, faleceu neste último domingo (20  de Agosto) em Las Vegas, em decorrência de doença cardíaca. Aos 91 anos, o comediante já tinha um histórico de problemas no coração e havia passado por sérias complicações de saúde, entre elas,  câncer de próstata e fibrose pulmonar. Sua morte é aquela ocorrência que sempre será inaceitável para os admiradores de sua obra. 


Sua contribuição para o Cinema é tão diferenciada e única que ele, assim como Charlie Chaplin, Buster Keaton e Laurel & Hardy, rompem qualquer barreira entre vida e morte e continuam eternos na intersecção entre a memória do Cinema e a experiência e nostalgia do púlbico. Além de seu polivalente perfil com múltiplas habilidades como ator, diretor, roteirista, produtor, cantor, comediante, apresentador de TV, Jerry Lewis é o raro artista que desenvolveu a própria independência,  liberdade no processo criativo e o gerenciamento da carreira. 





Em O mensageiro trapalhão (The Bellboy, 1960), Lewis é o adorável mensageiro Stanley no hotel Fountainbleau em Miami Beach . Prestativo e trabalhador, ele encarna aquele funcionário que recebe ordens e as executa com dedicação e bom humor. Cria várias confusões absurdas e hilariantes.  Ainda que a intenção nunca foi ter um roteiro bem elaborado, Jerry brinca com situações bem comuns no show business.  A elite americana cercada de puxa sacos e afins em cenas como a  chegada de uma celebridade parecida com Stanley, uma competição de golfe e as relações de trabalho em luxuosos hoteis. Também, a opinião de Stanley não é solicitada e ele permanece mudo em grande parte do longa. Jogar luz na figura protagonista de um mensageiro não deixa de reunir a diversão com o tom provocativo.





O filme fez parte de uma nova fase de Lewis, quando ele inicia a direção em longas-metragens e não tinha mais dupla com Dean Martin.  Nos créditos iniciais, através da fala de um executivo, o espectador é avisado da modéstia da produção, de seu teor bobo e sem sentido. É exatamente aí que estão a graça e a curiosidade.  Quem quiser embarcar nas sequências do mensageiro trapalhão, já entra no clima do humor pastelão, apalermado, cheio de piadas. Realizado com forte improvisação, roteiro despretensioso e uma menor duração (72 min),  a comédia mostra o que Lewis se tornaria (e reforçaria) nessa época de ouro de seus longas-metragens como "Terror das mulheres" e "O professor aloprado" : um grande ator e palhaço para trazer o encanto dos absurdos. 


No longa, fica mais evidente que ele tem espetacular capacidade de protagonizar uma série de cenas (rápidos sketches) que exigem bastante preparo físico,  consciência corporal,  foco e competência de fazer performance pastelão. Também foi apoiado pelo videoassist, tecnologia que possibilitou que ele tivesse um controle maior da direção e da visualização de suas próprias cenas.  Sem dúvidas, os desafios do cinema mudo, da pantomima e da comédia maluca não são para qualquer um. Seu talento mímico é impressionante. Seu vigor para se arriscar na direção e, ao mesmo tempo, marcar seu estilo cômico é digno de aplausos. Seus gestos, expressões faciais e carisma são como uma impressão digital, um DNA.




Um dos maiores legados de Jerry Lewis foi sua dedicação à comédia, um dos gêneros mais difíceis de fazer. Muitas vezes e injustamente, ela é considerada de menor valor, sobretudo em uma cultura Americana que fincou suas bases cinematográficas em grandes épicos, dramas, musicais e westerns. Por essa importância e tantos risos e descontração, Jerry Lewis é um gênio imortal. Nem mesmo sua partida  poderá separá-lo dos corações cinéfilos.




Ficha técnica do filme IMDB O mensageiro trapalhão





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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação   Os altos e baixos de lutadores de boxes fora...

O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 



Os altos e baixos de lutadores de boxes foram amplamente abordados no Cinema com clássicos imbatíveis como Rocky (1976, de Sylvester Stallone) e O touro Indomável (1980, de Martin Scorsese) e novas interpretações como Menina de Ouro (2004, de Clint Eastwood),  Nocaute (2015, de Antoine Fuqua) e Creed: Nascido para matar (2015, de Ryan Coogler), todos sob a chancela do Cinema Americano e influenciados pelo American way de realizar dramas do esporte. Com esse cenário cinematográfico hegemônico, é mais do que bem vindo um filme de boxe que busca inspiração em outro país: Finlândia. Após conhecer o boxeador Olli Mäki e sua esposa Raija, o cineasta Juho Kuosmanen decide pela elaboração do roteiro e a coprodução Finlândia - Suécia - Alemanha para contar a trajetória do lutador. Em uma ligeira coletânea de frames, a plateia conhecerá o dia mais feliz de Olli.




A história transcorre em meados de 1962, quando o boxeador (Jarkko Lahti) começa uma série de treinos e publicidade para obter o título de campeão mundial. Com previa experiência como padeiro e uma vida modesta, Olli  não tem muita escolha a não ser sua submissão aos caprichos e ambição do arrogante Elis  Ask (Eero Milonoff), boxeador de outra categoria, seu amigo e coach. Paralelamente, sua relação com Raija (Oona  Airola) fica mais próxima e emocional. Ele que lidar com as cobranças e conflitos durante sua preparação.



Diferente dos dramas de boxe americanos, mais extensos e dramatúrgicos, esse breve longa-metragem é um belo híbrido de história de amor com a prematura frustração na carreira de boxe, apoiada por uma incrível cinematografia em preto e branco  que enche os olhos com um realismo esteticamente impecável. Kuosmanen apresenta o bucólico interior e Helsinque e foge dos clichês cinematográficos a tal ponto que ganhou o prêmio Un certain regard do Festival de Cannes 2016. É uma honra dada apenas a produções que evidenciam um frescor deleitante na estética do filme, em especial na composição da fotografia e da decupagem. No mesmo ano, o longa também obteve premiações no European film awards e Festivais internacionais de Zurique e de Chicago.




Se por um lado o filme ganha na estética, por outro o roteiro escrito pelo cineasta e Mikko Myllylahti perde algumas oportunidades de desenvolver melhor os arcos dramáticos, em especial a relação afetiva de Olli e Raija. Esse desabrochar do amor é bastante interrompido ou não aprofundado nos diálogos, que pode ter sido uma escolha do biografado ou dos roteiristas. Raija é tida como uma distração para o boxeador e se firma como uma figura dicotômica que para os outros atrapalhará a carreira do emergente lutador,  para o próprio, ela  é fundamental como mulher amada e apoio emocional em um momento tão transformador. 



Na pouca tensão dramática que a narrativa apresenta, a atuação de Eero Milonoff é um dos pontos altos por ser ambicioso, autoritário e uma especie de amigo interesseiro, vilão da relação. Apesar do bom desempenho de Jarkko Lahti, Olli é um homem confuso profissional e afetivamente, ainda perdido no início de carreira e tratado bem apenas para ganhar o cinturão de peso pena; assim, em diversas cenas, desperta mais a piedade  que a admiração. Infelizmente, a graciosa  Oona Airola permanece pouco utilizada, salvo o flerte que a câmera tem com sua angelical beleza. De forma recorrente, o diretor enfoca seu luminoso sorriso. Com essa proposta de roteiro, ela acaba sem espaço para ter uma postura ativa no desenvolvimento do relacionamento. A história de amor perde parte do seu potencial cinematográfico.







Colocar Raija como uma distração ao sucesso de Olli leva o filme ao risco de ser considerado machista e superficial. Essa não parece ser a intenção real do cineasta. Aqui o verniz é outro:  a prioridade de tornar Olli um campeão custe o que custar. Por si só, isso já é opressor! Não havia espaço para o afeto, apenas em torná-lo um vencedor e uma celebridade, logo, as tomadas que acompanham Olli nos treinos e nas sessões fotográficas dizem muito sobre as aparências e os interesses alheios. Dessa forma, mostrar que o amor é muitas vezes desprezado diante da razão tem um significado universal, dramático. Não há como negar: ser bem sucedido cria um distanciamento nas relações. 



Mais uma vez, a história do boxeador ganha uma dimensão significativa quando é perceptível que o caminho para o sucesso tem o seu alto preço assim como as derrotas testam a lealdade. Como acontece em diversas histórias, estar em evidência, indo para ou no topo,  é quando são testadas as reais motivações que vão sustentar as conquistas, lidar com as derrotas e dar continuidade aos relacionamentos. Nesses aspectos, essa joia Finlandesa tem o seu valor.





Fotos: uma cortesia Zeta filmes

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O galante Mr. Deeds



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 



Longfellow Deeds, um adorável tocador de Tumba, interpretado pelo icônico Gary Cooper, herda uma fortuna , vira  motivo de notícias enganosas que descredibilizam sua sanidade e é alvo de oportunistas e ambiciosos.  Como essa dinâmica, Frank Capra, um dos maiores cineastas humanistas, realiza uma das mais divertidas e charmosas comédias do Cinema, O Galante Mr. Deeds.




Com várias produções no auge dos anos 30, o diretor é de uma época na qual as comédias eram afiadas para tratar temas sociais e criticar a sociedade de aparências  de um modo bem humorado e igualmente cortante. Contemporâneo de cineastas que investiram no gênero como  Howard Hawks e  Ernst Lubitsch, Capra é reconhecido pelo seu legado com clássicos como Aconteceu naquela noite (1934), Do mundo nada se leva (1938), A mulher faz o homem (1939) e A felicidade não se compra (1946) que enobrecem a comédia com um approach dramático bastante enraizado no idealismo do diretor. O velho ditado "Dinheiro não traz felicidade" cabe bem na filmografia de Capra. Em grande parte dos seus longas, a integridade do homem é reforçada como um valor universal e vital.






Merecidamente vencedor do Oscar de melhor diretor por esse filme, o cineasta demonstra um vigor excepcional na direção ao transformar um plot aparentemente medíocre em uma marcante comédia. No início, Mr. Deeds tem um jeito abobalhado e deslocado do mundo. Não se importa com dinheiro e tem uma reação atípica que muitos outros  não teriam ao ganhar um grande quantia de dinheiro. Muito querido pela população de uma cidade do interior, Mr. Deeds é apresentado como um homem íntegro e terno, bem nos moldes dos heróis Caprianos. Pouco a pouco, o roteiro do experiente  Robert Riskin, que tem uma forte parceria com Capra em outros filmes, evoluí para mostrar como as pessoas podem ser bem invejosas e nocivas com o outro. Mr Deeds vira motivo de chacota com posteriores danos pessoais. Aqueles que ama e que deveriam protegê-lo, como a jornalista Babe Bennett (Jean Artur), mostram as garras da ambição e da hipocrisia. Mas, nunca é tarde para se redimir! Afinal, Capra é um otimista.






A comédia é um espetáculo na junção do roteiro, elenco e direção. Transborda em elementos comuns nos filmes da época como o jornalismo impresso, a mise en scène de um tribunal e os personagens periféricos e patrióticos. Especificamente aqui, com destreza e articulação, Capra e Riskin trabalham muito bem com grande elenco. Há espaço para outros atores que se referem a personas que afetam a vida de Mr. Deeds e que são retratos dessa sociedade como Jean Artur, a jornalista esperta e ambiciosa que deseja subir na carreira, e  George Bancroft, o editor patético que adora notícias ridículas e topa tudo para a primeiro página. Personagens como fazendeiros, autoridades legais e médicas, vizinhas do interior e todos os  interesseiros em heranças também são essenciais para o grande momento: Mr. Deeds é louco ou não?. O que essa sociedade bisbilhoteira incapaz de olhar para o próprio umbigo tem a dizer? Ela está realmente atenta às virtudes do homem ou seus argumentos são tão superficiais como as aparências?






Com louvores, destaque especial para a paciência de Gary Cooper em um papel que a sanidade do personagem é testada. Além de combinar com os faroestes como o imperdível Will Kane, em Matar ou Morrer(High Noon), o ator cabe muito bem em personagens gentleman com suas feições angelicais que agregam humor, delicadeza e um toque de melancolia. Ele se destaca como um galã que não é apenas um rosto bonito mas um homem que transmite credibilidade, ética e atrai a simpatia do público. Assim é o Mr. Deeds: encantador! Ele encarna bem os peculiares atos que são foco de zombaria, o romantismo e a timidez diante da amada e o estilo nobre e lúcido de quem não perde suas humildes origens e não está à venda por qualquer preço. Até mesmo as mirabolantes ações de generosidade de Mr Deeds, obviamente nutridas pelos propósitos idealistas, sentimentais e políticos de Capra, são graciosos. Demonstram que talvez a generosidade seja um ato de loucura em um mundo ganancioso que, a todo momento, testa a nossa humanidade e mina o riso fácil, despojado. 





Ficha técnica do filme no Imdb O Galante Mr. Deeds

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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação   Destaque nas programações do último Festival Va...

A viagem de Fanny


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 


Destaque nas programações do último Festival Varilux de Cinema Francês e do Festival de Cinema Judaico, "A viagem de Fanny" (Le voyage de Fanny) é o terceiro longa-metragem da diretora Lola Doillon (de "Contre toi"). O filme apresenta a jovem Leónie Soluchaud, que nunca havia atuado como atriz, no papel da heroína Fanny. Ela é uma garota de 12 anos que, com as irmãs e outras crianças, atravessam a França ocupada pelos nazistas. Inspirada pelo romance e consultoria de  Fanny  Ben-Amy, a cineasta conta as memórias do Holocausto sob o ponto de vista infantil. 




Como em "Os meninos que enganavam os nazistas", A viagem de Fanny é um drama de sobrevivência que não está alicerçado em enfatizar visualmente apenas os  males e destroços da guerra. Eles estão lá, porém de outra forma: a perseguição, o abandono, o risco da orfandade, as saudades da família, a resistência. Mas, doçura, espontaneidade e leveza do elenco infanto-juvenil cooperam com a narrativa para apaziguar qualquer efeito muito obscuro, pesado. É a força das crianças que faz a diferença para catalisar as emoções. Em variadas cenas, o que salta nas atuações é a perspectiva de que as crianças, ainda que não tenham total noção do perigo que as cerca, mantêm o protagonismo que requer um pouco de fantasia e ingenuidade. Diante disso, o filme precisa ser apreciado com um olhar menos exigente e mais fabuloso, de modo a valorizar a importância do acolhimento, da coragem, da generosidade e da solidariedade.






Fanny é uma líder, uma jovem que está passando da infância à adolescência. É uma heroína essencial para manter o grupo em segurança e com foco em atravessar a fronteira para a Suíça, portanto, a maturidade de Leónie Soluchaud é impressionante no seu primeiro papel, evidenciando ser um potencial talento para novos trabalhos no Cinema. Ela encarna um equilíbrio entre audácia e  medo, bastante pertinente ao rito de amadurecimento. Ao olhar para sua câmera pessoal, ela busca forças através do lúdico e da memória. Mesmo que cuidar das irmãs e das demais crianças traz uma responsabilidade de peso, a história fortalece o contraponto de que é preciso amadurecer em um cenário de imprevisibilidades e ausência do pais. 






De forma favorável, o elenco infanto-juvenil é bem profissional. Os atores - mirim foram muito bem selecionados após mais de 1000 candidatos que passaram pelo crivo da diretora. Cada um com seu jeito único de ser garante personalidade à equipe. O roteiro tem o cuidado de não calar essas crianças e acerta na miscelânea de perspectivas e sentimentos infantis durante a jornada, principalmente o quão é comovente ver a angústia delas diante do desconhecido. 








Nesse contexto, a personagem de MaDame Forman, interpretada por Cecile de France, reforça o precoce e inevitável amadurecimento das crianças para a sobrevivência. Em uma das cenas, ela é demasiado rígida, a ponto de gerar dúvidas: está ali para ajudar as crianças ou subjugá-las com tanta autoridade e frieza?  Mas, esse comportamento dá uma dimensão de que havia adultos que eram responsáveis por desenvolver o espírito independente das crianças, muitas vezes, anulando o sentimentalismo. Os pais de "Os meninos que enganavam os nazistas" também tinham esse comportamento, divididos entre a proteção da cria e a urgente necessidade de preparar os filhos para encarar as adversidades da fuga. 





Quando as crianças aparecem mais leves, o espírito é de brincadeira, otimismo e união. Suavizar essas cenas  dá uma ligeira impressão de que nem parece que elas estão sob a mira dos nazistas  e podem morrer a qualquer momento, o que também gera um sutil estranhamento já que a tendência, até mesmo do público em geral, é esperar que filmes de Holocausto sejam sérios e sofridos demais. Por outro lado, essa é uma estratégia narrativa em cheio para elevar o olhar da criança em um mundo de adultos que declaram guerra. Vê-las sorrindo e correndo pelo campo não quer dizer que elas não estejam sofrendo. Subestimá-las no que elas têm de mais sonhador e esperançoso é um erro. Desse modo, sentimentos bons e ruins caminham com eles a cada passo, a diferença é que existe uma meiguice na perspectiva infantil que ilumina essa caminhada.


Com a bela fotografia de Peter Cottereau, são esses momentos solares em tempos de escuridão que rompem as fronteiras físicas e emocionais da guerra e inspiram à libertação e a resiliência. Essa é uma instintiva aventura que prediz: é difícil sobreviver sem união e coragem. Recuperar as memórias de uma história de superação ajuda o público a enfrentar épocas frágeis e desafiadoras e todos os holocaustos diários que tentam abater a humanidade.







Ficha técnica do filme Imdb A viagem de Fanny

Fotos: uma cortesia, Mares Filmes

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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação   Falecido em Julho desse ano, o saudoso realiza...

A noite dos mortos vivos




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 



Falecido em Julho desse ano, o saudoso realizador George Romero estabeleceu um divisor de águas no Cinema de horror com o lançamento do icônico "A noite dos mortos vivos" (Night of the Living Dead), inaugurando a série de filmes "Living Dead" que inspirou tantos outros cineastas do gênero ao enfocar o zumbi. Antes o homem tinha algum controle sobre monstros e criaturas criadas em laboratórios como, por exemplo, Frankeinstein, ou as figuras clássicas de influência literária como o Conde Drácula . Com a chegada dos zumbis de Romero em um cinema independente, o realismo da proposta em um cotidiano caótico e sem muitas explicações insere a simbologia dos zumbis de uma forma crível e perene na cinematografia mundial.




A noite dos mortos vivos é uma obra tão primorosa e visionária que fundamenta todos os elementos da criação de um zumbi que influenciou a maioria dos recursos da mise en scène de filmes de horror/terror.  O enredo começa com personagens jovens que pegam a estrada e viajam para um lugar distante, normalmente próximos a cemitérios e uma casa no meio da floresta. São aterrorizados por uma situação peculiar que foge ao controle e que representa uma ameaça à sobrevivência e à civilização. Ficam cativos em uma casa e sofrem perturbações psicológicas, como histeria, paranoia, com intenso medo de morrer e ser devorado. Esse medo é mais intensificado por aquela sensação de total desconhecimento com relação aos zumbis. Quem são eles?  De onde vieram? Por que um aparente humano quer devorar os seus semelhantes?




Em Romero e seu criativo ineditismo na subversão do gênero, os zumbis surgem como monstros coletivos, ainda não tão desfigurados fisicamente, podendo até ser confundidos, à distância, com pessoas normais vagando pelas ruas. Sem mais nem menos, eles invadem a terra e se alimentam de outros homens. A mídia e a ciência especulam fenômenos radioativos, porém argumentos todos superficiais que intensificam a pequenez do ser humano que não tem respostas para tudo. Assim como aconteceu com o boom da ficção científica Americana nas décadas de 50 e 60, os zumbis da forma que conhecemos hoje surgem em um período caótico nos Estados Unidos  com discursos anti-guerra, conflitos raciais e o medo de ataques bélicos estrangeiros e de alienígenas. Toda esse contexto criou um prato cheio para produções ficcionais baseadas no desconhecido, no caos, no "outro" estranho. Com essa obra prima do Cinema de horror, o cineasta revela mais tabus como a antropofagia, a morte e a destituição e evisceração do corpo humano.





Os alicerces da direção de George Romero não ficam apenas no enredo e no plano das ideias. Longe disso, ele tem um processo criativo de decupagem simples e funcional que tornam sua obra um clássico obrigatório que envelheceu muito bem. A começar pelo pouco uso de iluminação, não apenas pelo período noturno em uma casa na floresta, mas por apontar para referências clássicas do horror expressionista com utilização do jogo sombra x luz, com closes de rostos exageradamente assustados e esteticamente angustiantes, em um constante clima de pessimismo e paranoia. Romero também se preocupa em conceituar didaticamente o zumbi em algumas narrações e ainda deixa os benefícios do mistério e do desespero, tão vitais para o gênero. Explica o que mata um zumbi: morte pela cabeça ou cremação; que serviria como regra básica para outras produções vindouras. Inclui os conflitos entre homens, dentro da casa, em um constante clima de desconfiança que corrobora que não se deve confiar nem mesmo no próprio homem. 





Com  vigor narrativo, a câmera na mão com enquadramentos bastante realistas e bem posicionados mostram a fragilidade do ser humano, como o da atriz Judith O'Dea (Barbara), em excelente performance. Cada vez mais insana e enclausurada em um profundo e perturbador choque, Barbara é um personagem tão interessante que é como se ela fosse uma morta viva, mais insignificante e passiva do que um zumbi. Muito mais do que o medo que, ora paralisa, ora impulsiona à uma ação, o homem retratado em personagens como Barbara, Harry (Karl Hardman) e Hellen (Marilyn Eastman) é pequeno, falho e trágico, simbolicamente eles representam a parte familiar que é perdida e fragmentada de forma violenta, cruel. É um elenco verossímil para reforçar a proximidade da morte e da tragédia, além do individualismo, preconceito e insegurança nas relações.




Ademais, muito afiado na proposta narrativa em um Estados Unidos tradicionalmente dividido por questões étnico-raciais, Romero utilizou um protagonista negro, Ben (Duane Jones), como o líder na luta pela sobrevivência. Uma escolha inteligente e provocativa! Ben é o mais astuto e racional na casa. Ele proporciona um efeito dramatúrgico de incansável superação e cria mecanismos para conter a invasão dos zumbis, desta forma, a pouca ação que existe, apenas ocorre por causa do corajoso personagem negro. Isso pode levar a várias elucubrações sobre o porquê de um personagem negro na liderança e que faz todo o sentido em uma década marcada por Martin Luther King e Os panteras negras. Essas escolhas de Romero funcionam como metáforas para combater a opressão da sociedade burguesa. 


Sem sombra de dúvidas, o desfecho genial é uma crítica social de homo sapiens para homo sapiens, bastante pessimista e perdurável. Além do mais, ficam questões que até hoje podem ser refletidas e são muito contemporâneas: os zumbis são a representação de como o homem é perecível e desfigurado na sua essência, na sua humanidade? Os zumbis são a metáfora de como o homem é capaz de perseguir e devorar o outro em um mundo cada vez mais monstruoso e caótico? Não tenha medo de respondê-las.





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Por  Cristiane Costa ,  Editora, blogueira e crítica de Cinema, e specialista em Comunicação   "Meu pai não deveria ter parti...

O filme da minha vida





Por Cristiane Costa,  Editora, blogueira e crítica de Cinema, especialista em Comunicação 


"Meu pai não deveria ter partido na mesma noite da minha volta. Nem ao menos consegui abrir minha pasta para mostrar-lhe meu diploma. Minha mãe e eu choramos." Este sincero depoimento que exterioriza a ausência de um pai é um dos tantos belos existentes na obra "Um pai de Cinema", do escritor Antonio Skármeta. Adaptado para o cinema em "O filme da minha vida", de Selton Mello, conta a jornada de amadurecimento de Tony Terranova (Johnny Massaro), jovem professor que, após estudar no exterior, retorna à sua casa e não encontra o pai Nicolas (Vincent Cassel). Com pesar, ele e a mãe Sofia (Ondina Clais) têm que levar suas vidas adiante, constantemente com essa dúvida: por que Nicolas partiu e abandonou a família? Independente da resposta, esta é a história sobre um filho.




Com um filme cheio de ternura e graciosidade, Selton Mello  realiza um belo trabalho de contação de história na qual o rito de passagem de um jovem é revelado com uma delicadeza e senso de humor inesquecíveis. Não há como sair indiferente da sessão. O filme inspira a buscar aquela nostalgia da vida que é tão intimamente unida ao próprio ser : em qual momento amadurecemos de verdade? Quando nos apaixonamos? Quando descobrimos o conforto e o prazer do amor? Quando sentimos saudades de alguém? Com suas descobertas, amores e desejos, a vida de Johnny dá um ar de juventude, afeto e esperança que suaviza a penosa realidade fora das telas. Mostra que, ainda que a vida tenha tristezas, decepções e ausências, há tempo para o recomeço, a continuidade, o perdão e o amor.




A espetacular fotografia de Walter Carvalho, que cria um mundo especial no Sul do país, região de Bento Gonçalves, valoriza uma terra pouco explorada no Cinema. Sua excelência na Arte, em sinergia com a direção de Selton Mello, leva a plateia a um lugar que tira as preocupações por algumas horas. É como colocar o público em um sereno universo litérario ou um encantador filme Italiano que enche os olhos com sonhos poéticos. 



Não menos importante, o excelente elenco legitima a candura da história. Petra (Bia Arantes) e Luna (Bruna Linzmeyer) são as belas e misteriosas irmãs que despertam a curiosidade de Tony e  trazem, cada uma a seu modo, esses ingredientes tão essenciais para o amadurecimento de um homem: o desejo, o amor, a amizade, a insegurança, a timidez, a rejeição.  O versátil Selton Mello, no papel de Paco, atua como um homem rústico, direto na opinião, de humor sarcástico. Com proeza, o ator consegue entregar o papel de um bruto  que tem senso de humor e facetas de médico e monstro também, garantindo bons momentos. A participação de Rolandro Boldrin, como o maquinista Giuseppe, traz grandes ensinamentos como o respeito à  experiência, a longanimidade e a memória dos mais velhos, afinal, há que ter generosidade com o tempo das coisas e do ser humano.





Irremediavelmente, a força do elenco está na escolha perfeita por Johnny Massaro e Ondina Clais, filho e mãe juntos, eternos agora no Cinema Brasileiro. Muito mais que ser o principal núcleo dramático, o da família abandonada, Massaro e Clais são muito diferenciados aqui e bem alinhados à dramaturgia de seus personagens. Entre os silêncios e a escuta no lar, ambos vivem a dor dessa partida inexplicável. Ao mesmo tempo, existe uma cumplicidade e companheirismo comoventes. Johnny Massaro se destaca como um crível ator da sua geração, com uma preparação física e interpretativa que lembra aqueles belos atores do Cinema Francês que estão em um momento de desabrochar do charme, da beleza, da graça e do talento. Sua performance tem um frescor sedutor combinada a uma docilidade no olhar e no sorriso que flerta com a câmera. 



Já Ondina Clais, advinda do teatro, tem uma performance incrivelmente humana, arquetípica, melancólica. A vulnerabilidade da mulher que ama, cuida e é abandonada mostra ainda mais a força de ser mulher e mãe com a entrega de Clais. Os enquadramentos de sua personagem Sofia estão entre os mais poeticamente viscerais, sensíveis e dramáticos. O diretor apresenta bastante sensibilidade para criar momentos imagéticos que um olhar, uma hesitação, um silêncio dizem mais do que muitos diálogos, dando assim uma conexão mais íntima, universal e atemporal com a história.





Selton Mello acerta em manter a poesia do livro original, ainda que mude alguns nomes e locações. Segue uma direção precisa, intuitiva, empática. Ele é um dos poucos cineastas ideais para adaptar uma obra do escritor com tamanho senso poético que combina com o estilo da Literatura de Skármeta, assim, a parceria foi eficaz tanto do ponto de vista artístico como também mercadológico, podendo até render uma indicação para o Oscar 2018.  Desde "O Palhaço", o diretor já havia demonstrado que não há limites para a sua poesia cinematográfica, de que ele consegue, através de uma doce simplicidade, muita experiência com Cinema e background cinéfilo, trazer histórias que combinam o humor, a liberdade, o amor e a esperança. 



"O filme da minha vida" é delicioso de assistir! Eleva o espírito. Conforta a alma. Aquece o coração.  É um comovente desabrochar de uma vida que, teria de tudo para se perder com a ausência do pai, entretanto, Tony supera. Tem essa sensibilidade dos  meninos bons, dos raros garotos que merecem passar à fase adulta com momentos marcantes, fortes e inspiradores que servirão para outros ciclos. A história é um suave sopro da vida para a gente se lembrar de que todos os dias estamos rodando os filmes de nossas vidas, então, que eles sejam cada dia mais plenos de afeto.





Ficha técnica do filme Imdb O filme da minha vida

Fotos : cortesia , Vitrine filmes / Assessoria.

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