Por Cristiane Costa, Editora, blogueira e crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Realizador de filmes como "Mademoiselle Chambon" e "Uma primavera com minha mãe", Stéphane Brizé se destaca como um cineasta que aprecia abordar dramas sociais e familiares que levam seus personagens a determinados limites emocionais. Como consequência, a experiência com seus dramas é forte, projetada na plateia com histórias que tocam em temas contemporâneos que são facilmente encontrados no dia a dia como uma forma de opressão. O valor de um homem, protagonizado por Vincent Lindon, que ganhou os prêmios de melhor ator no Festival de Cannes 2015 e o César 2016 veio a consolidar sua filmografia focada no realismo social.
As primeiras cenas já indicam que esse filme tem influência e/ou diálogo com o naturalismo dos irmãos Dardenne. Assim como Marion Cotillard luta para manter o emprego em "Dois dias, uma noite", Lindon interpreta Thierry Taugourdeau, um senhor de 51 anos, casado e pai de um filho com deficiência. Desempregrado, Thierry é colocado à prova em variadas situações à procura de emprego. O realismo da câmera na mão de Brizé, observadora das mazelas humanas, mostra a humilhação sofrida pelas pessoas quando buscam emprego ou quando precisam se manter em um trabalho. Também mostra, como o ser humano é reduzido a pó ao depender de uma sociedade economicamente opressora.
A atuação de Vincent Lindon tem o primor de um homem concentrado em observar a situação social na qual se encontra. Embora suas emoções não estejam à vista, ele está sentindo o drama. Agora está de volta à classe trabalhadora francesa e exposto a contundentes situações. Também tem o desafio de manter o próprio emprego, como mais um sobrevivente da selva chamada mercado de trabalho. Pouco sorri. Pouco fala. As poucas vezes que tem alegria, está com a família. O estilo durão e seco do ator também coopera para reforçar a excelente performance do personagem, com olhos e feições que precisam dar conta do drama de Thierry.
Quando encontra um emprego como segurança de supermercado, o drama está em fazer parte de uma arena social na qual empregados são observados, pessoas sem dinheiro e com problemas financeiros agem desesperadamente. Com 51 anos, já experiente de guerra laboral, vivenciar este cotidiano é pesado, cansativo. Os dilemas morais do protagonista são aquecidos como em uma panela de pressão. Seu olhar sempre astuto, tenso e frio, a observar os outros, deixa o espectador em suspense. O que fará Thierry? Ele acredita no seu trabalho? Como se sente? Ele suporta viver assim? Fará alguma loucura?
Fica claro que, transferindo esta ficção para o plano real do cotidiano, diariamente, a classe trabalhadora tem que suportar várias situações humilhantes para sobreviver no emprego, para ter o que comer e pagar as contas. Depender dessa cova dos leões capitalista e empresarial tem um preço alto, no qual nem sempre a humanidade será valorizada. Muitos poderão vir a se questionar: "O que estou fazendo aqui?" "Qual é o valor de um homem?" Nesse sentido, o filme de Brizé é mais um angustiante drama que tem tudo para ser catártico para quem carrega este peso e sabe como dói. Indubitavelmente, o homem vale muito mais do que pensa.
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