"Pode me dizer para onde foi a minha vida?"
(Vanessa Redgrave)
Se há algo mais forte que o amor, estas são as suas lembranças. Como elas marcam a vida como cicatrizes profundas que, ao serem tocadas suavemente, despertam lembranças dos fatos que ocasionaram aquelas expressivas marcas. As memórias de um amor que resiste ao tempo nunca escapam aos pensamentos, e com elas, as suas escolhas.
Ao Entardecer, drama
sobre uma linda história de amor que volta à memória de uma senhora idosa é uma película sobre lembranças. São as memórias de um grande amor que aparecem nos delírios de Ann (Vanessa Redgrave) que está muito doente e à beira da morte. Quando jovem, Ann (Claire Danes) conhece o charmoso médico Harris (Patrick Wilson) ao visitar a casa de campo de seus amigos Buddy (Hugh Dancy) e Lila (Mamie Gummer,
filha da diva Meryl Streep). Lila está às vésperas de seu casamento e convida sua amiga Ann para ser a madrinha de seu casamento. Com a ocasião, novas revelações advindas de velhas lembranças são ditas, escolhas são feitas, oportunidades são perdidas. As vidas destes jovens tomam distintas direções.
Baseado no romance de
Susan Minot, a história se desenvolve em dois planos temporais: passado e presente,
flashbacks que conectam a Ann
'Redgrave' e a Ann
'Danes', deslumbrantes locações litorâneas, e um elenco feminino estelar que conta também com a presença de Meryl Streep, Toni Colette, Glenn Close e Natasha Richardson,
Ao entardecer é um belo e triste filme para refletir como somos afetados por lembranças românticas, carregadas de interrogações quando perdemos algumas oportunidades:
e se aquele inesquecível amor tivesse dado certo, estaria eu mais feliz? Estaria eu e ele casados e apaixonados ? Ou ele seria mais um erro impossível de esquecer? A película é produzida para emocionar a partir de alguns elementos: uma canção instrumental bem emotiva composta por Jan A.P. Kaczmarek, um ensolarado cenário com o azul do mar e o brilho das estrelas, uma atração irresistível entre dois estranhos que se apaixonam repentinamente como em uma paixão de verão, uma idosa doente em sua cama e em delírios que relembram um amor de mais de 40 anos atrás, uma tragédia familiar, duas filhas adultas de Ann, Nina (Toni Collette) e Connie (Natasha Richardson, filha falecida de Vanessa Redgrave) que têm que lidar com uma mãe doente e a desejam sã novamente, etc. O mais interessante neste roteiro é perceber que as lembranças de amor não são só as de Ann. Buddy e Lila são personagens que são impactados por lembranças afetivas e revelam sentimentos que os deixam bem vulneráveis.
Ao Entardecer tem uma inspiradora atmosfera romântica que faz par com a tragédia do amar e do perder. O frescor da paixão é apresentado com dois jovens que se apaixonam como a Allie e o Noah de
Diário de uma paixão (2004). Na outra ponta, vemos um dos personagens em idade avançada, trazendo à memória as lembranças amorosas via
flashback. Se Noah lê um diário lembrando de seu amor com a jovem Allie, Ann conversa delirante com sua enfermeira e suas filhas lembrando de seu Harry. Mais uma vez, as titãs Vanessa Redgrave e Meryl Streep têm atuações excelentes que, em poucas cenas, colocam o filme em um nível mais elevado. Claire Danes continua com a mesma interpretação cativante, que irradia a simpatia de seus belos olhos e sorriso e dá um show de talento em uma das cenas mais dramáticas do filme ao lado de Hugh Dancy. A revelação Mamie Gummer tem uma atuação bem centrada, discreta e sem as frescuras de ser filha de quem é, o que demonstra um senso de profissionalismo que segue os passos de sua mãe. Toni Collette e a saudosa Natasha Richardson nos brindam com sensíveis momentos mãe e filhas ao lado de Redgrave.
Com uma direção bem regular realizada por
Lajos Koltai, o roteiro não é um espetáculo cinematográfico mas realmente não precisa sê-lo. Ele é sob medida para ter a previsibilidade dos dramas de amor, alicerçados em encontros e desencontros e assombrados por fantasmas do passado, porém tal lugar comum o torna um tocante filme, sobre o amor, a amizade e a família, singelo e verdadeiro, amoroso e doloroso. Além disso, de alguma forma, o segredo de Ann e sua frágil condição de saúde catalisa a vida de uma de suas filhas, Nina, como o presente de uma mãe para uma filha, logo um amor do passado volta ao presente por
n motivos: para dar as respostas que precisam, cravar os momentos que anseiam, trazer as escolhas que tanto precisam. Tamanha sensibilidade faz do filme também um diálogo amigo sobre as oportunidades que são perdidas quando as temos. Ele tem este efeito de conversar com a gente, nos envolvendo com as emoções já vividas de tantos de nós.
Avaliação MaDame Lumière
Título original: Evening Origem: USA, Germany
Gênero: Romance, Drama
Duração: 117 min
Diretor(a): Lajos Koltai
Roteirista(s): Michael Cunningham, Susan Minot
Elenco: Vanessa Redgrave, Claire Danes, Patrick Wilson, Toni Collette, Meryl Streep, Natasha Richardson
5 comentários:
Caro (a) leitor(a)
Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.
Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.
No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.
Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.
Saudações cinéfilas,
Cristiane Costa, MaDame Lumière