Em pleno século XII, época das pós Cruzadas e de um contexto de poder e economia fragilizado na Inglaterra, Robin Hood e seus amigos arqueiros testemunham uma emboscada aos soldados do Rei Ricardo de Leão, assassinado e cuja coroa estava sendo levada à realeza em Londres. Robin Hood, disposto a retornar à sua terra Natal e com seu impetuoso espírito, se passa pelo soldado Robert Loxley para levar a coroa ao novo Rei, o arrogante e imaturo John (Oscar Isaac) e também cumprir uma promessa que Robin Hood faz ao falecido e verdadeiro soldado Loxley: levar a espada ao pai de Robert. Estando na Inglaterra, Robin, um rebelde e líder nato com um passado misterioso, conhece o patriarca dos Loxleys, Sir Walter (Max von Sydow, em excelente atuação) que conheceu o verdadeiro pai de Robin Hood, um pedreiro "filosófo" que acreditava na liberdade do povo inglês. A partir daí, Robin Hood se enamora de Lady Marion, a viúva de Robert Loxley, uma mulher corajosa e que luta pelo seu povo, além dele se envolver na batalha entre Ingleses e Franceses, em defesa da sua nova família e toda a Inglaterra. O país está sendo atacado pela ambição de Felipe da França, o qual conta com o traidor Sir Godfrey (Mark Strong, de novo como vilão), que conquista a confiança do ingênuo novo Rei Inglês. Para tal batalha, Robin Hood também conta com o apoio influente de William Marshall (William Hurt), ex-conselheiro da coroa britânica.
Robin Hood é um filme que dá uma sensação de dejà vu à audiência que gosta do gênero épico e conhece os trabalhos épicos de Ridley Scott, talvez seja por isso que a crítica está matando o filme a duras flechadas. Isso porque, nesse longa, ele recupera vários recursos de direção, fotografia, figurino, edição e roteiro de seus filmes anteriores, em especial, cenas similares a Gladiador e Cruzada, além de alguns efeitos de roteiro, nos pilares de romance e guerra, que lembram longas-metragem como O Senhor dos Anéis, Tróia, Rei Artur e Tristão e Isolda; tudo isso também é reforçado pelo fato de que Russell Crowe incorpora mais uma vez o herói legendário e medieval, rebelde, justo e corajoso que incorpora bem a faceta rústica e violenta de bravos homens, mas também tem uma força interpretativa que o enobrece como um líder moral e físico. Mesmo que Robin Hood esteja distante do herói Maximus de Gladiador tanto como filme quanto como atuação, esse caratér do trabalho de Crowe, bem aproveitado pela relação entre Scott e o ator, faz com que Robin Hood seja uma boa opção de entretenimento para ver novamente um Crowe épico, dessa vez, ao lado da talentosa e sempre elegante Cate Blanchett que, aqui, é uma mulher de família e guerreira que transpira beleza, coragem e força feminina e se apaixona por Robin Hood, lutando ao seu lado por justiça e liberdade.
Essa nova produção está longe do sucesso estrondoso e do tino inspiracional épico que significa o General Maximus, muito em virtude do roteio mediano e sem muito conteúdo diferenciado para as mais de duas horas de exibição, e da falta de inovação em cenas que já são batidas. Sem muito afinco criativo na câmera, porém com a mesma habilidade para evocar contemplativas imagens épicas e enfocar melhor algumas cenas de guerra (como prover a mesma realidade dramática da câmera de seu irmão Tony Scott), Ridley Scott repete, de forma escrachada, momentos similares como a conversa "paterna" entre Robin Hood e Sir Walter Loxley que lembra a conversa de Maximus com Marcus Aurelio (Richard Harris) em Gladiador, o ambiente bélico medievalista do filme Cruzada e a figura de Balian(Orlando Bloom), o herói ferreiro e mais um plebeu que se torna líder de batalha. Por outro lado, há uma referência cênica muito parecida com Tróia de Wolfgang Petersen: os navios do inimigo chegando à costa marítima rival antes de serem atacados por flechas. A associação dessa cena ao épico troiano é imediata, assim como ver o ímpeto corajoso de Lady Marion em enfrentar uma batalha. Tal espírito de lutadora lembra bastante a Eowyn de Rohan de O Senhor dos Anéis - as Duas Torres, interpretada pela Miranda Otto. O "benchmarking" do gênero épico rolou solto na obra Scottiana.
Apesar dessas coincidências cinematográficas, Robin Hood é um filme que conquista por sua mensagem, e vale a pena ser visto como forma de inspiração à nossa vida diária: a luta pela liberdade e a necessidade de que cada indivíduo desenvolva a sua própria rebeldia como cidadão. Há um cenário mítico na película que encontra reflexo no realismo da contemporaneidade: um rei ditador sem índole e sem palavra alguma para governar o seu país, a corrupção da igreja e a diferença entre a prática e o discurso, pobreza e a ignorância do povo, a ausência de um verdadeiro líder nas principais instituições, interesses individuais de poder e traições na cúpula dos poderosos, etc. Somente o século muda, mas os problemas ainda permanecem com o novo revestimento hipócrita dos dias atuais. Nesse cenário dirigido por um diretor que ama filmes épicos, surge Robin Hood, um misto de plebeu com nobreza que tem o predicativo da liderança e que é um bom exemplo de mito necessário à mudança da sociedade e a construção de uma nova História. Um Robin Hood rebelde e nobre de coração, capaz de circular entre a elite e o povo e que represente miticamente o "bom ladrão" que toda a sociedade merece: Um ladrão justo que roube dos verdadeiros ladrões, afinal estar fora da lei no bom sentido é estar dentro de uma lei ideal.
Origem: EUA
Gênero: Aventura, Ação
Duração: 140 min
Diretor(a): Ridley Scott
Roteirista(s): Brian Helgeland, Ethan Reiff, Cyrus Voris
Elenco: Russell Crowe, Cate Blanchett, Max von Sydow, William Hurt, Mark Strong, Oscar Isaac, Danny Huston, Eileen Atkins, Mark Addy, Matthew Macfadyen, Kevin Durand, Scott Grimes, Alan Doyle, Douglas Hodge, Léa Seydoux
Vote no MaDame Lumière
Não é nem, pelas críticas negativas, mas não estou com a menor vontade de conferir este longa, num sei bem o motivo, já que costumo gostar de filmes épicos, rs
ResponderExcluirBela crítica!
Eu não estava muito curiosa, mas agora que li a sua crítica, fiquei com vontade de ver.
ResponderExcluirAdorei o blog, estou fuçando todos os arquivos!
Vou assistir amanhã madame. Gostei do teu olhar. Das comparações com os filmes (algo que muitos fizeram, mas poucos se deram ao trabalho de contextualizá-las), do reconhecimento das limitações e das virtudes do filme. Gostei. Amanhã eu faço a minha prova dos nove. rsrs
ResponderExcluirBeijos!
Alan, obrigada. Confira sim, sempre é bom ver um épico e ser movido a passear em outra época. Adoro esses épicos, mesmo que não mudem tanto o formato. bjs
ResponderExcluirOi Ana,
ResponderExcluirBem-vinda ao MaDame Lumière. Se você gosta de épicos, será uma sessão agradável. Gosto muito do trabalho do Crowe e, principalmente da Blanchett, então vê-los juntos foi um deleite!
Fuce sim... e venha mais vezes.
bjs
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirObrigada por gostar do meu olhar. Naturalmente penso que um filme que é comparado a outro nunca pode deixar de ser contextualizado e comentado a respeito de suas virtudes e limitações. É muito fácil denegrir um trabalho de um diretor e/ou elenco, difícil é elogiá-lo mesmo que ele tenha limitações.
Para quem gosta de Cinema, não há como radicalizar e atirar a pedra com força. Temos que aprender a desenvolver o olhar e separar o que bom e o que poderia ser melhorado. Pelo menos, eu tento aprender a ser sempre assim e me sinto feliz sendo assim.
Obrigada, meu querido. beijo grande
Parece ser bom, mas realmente nada mais que um divertimento banal. Uma pena...
ResponderExcluirps: já votei no blog! =D
Oi Wally,
ResponderExcluirObrigada pelo voto!
É uma diversão para quem curte épicos. Só isso!
Na verdade, eu nunca fui muito fã do mito Robin Hood. Prefiro histórias gregas e romanas, por exemplo. O que mais gostei é ver o casalzinho do filme.
abs!
É a melhor crítica e opinião detalhada deste filme que já li, até agora. Perfeita suas conexões e referências às semelhanças contextuais de outros filmes parecidos, de fato este filme não prioriza uma criatividade...mas, tem força sim e interpretações boas. Blanchett dominou muito, muitas cenas e é uma beleza assistir a seu vigor interpretativo, principalmente interpretando uma mulher de grande feminilidade e, acima de tudo, esperança em seu povo e em si própria...
ResponderExcluirCrowe está menos enérgico que no Gladiador, mas eu gosto muito dele...
É um filme que realmente não inova em nada, nem as cenas de batalhas surpreende - mas, ainda sim, gostei do foco do roteiro e das composições de Von Sydow, Oscar Isaac e Strong.
Beijo!
Oi Cris,
ResponderExcluirObrigada pelo reconhecimento. Tentei ser justa com o filme e avaliar as conexões que o favorecem já que ainda acho Ridley Scott um grande diretor e aprecio a parceria dele com Crowe. Como você bem disse mais uma vez, penso que ver Blanchett como uma brava e bela mulher é um deleite, adoro a interpretação dela e adoro sua elegante beleza, mesmo como uma mulher medieval, ela continua sofisticada e dá luz ao filme. Além disso, concordo com o que falou sobre Crowe, sempre gostei muito dele e aqui não seria diferente. O fato dele ser um cara mais robustamente rústico x a Blanchett ser uma finèsse de mulher formou um lindo casal, tanto que eu gostei mais do filme pela química deles do que outras questões. Ah, também gosto muito de Strong como um cara mau... ele é absurdamente sexy como um bad guy e um dos meus atores preferidos em papel de vilão.
bjs
Eu adorei Robin Hood. Um filme bem leve, mas muito interessante. Estou anciosa pela sequência. Numa coisa eu concordo com você Madame. Russell Crowe é um ótimo ator, Max Von Sydow está excelente no filme, e acima de tudo, Cate Blanchett é uma atriz divina. Sua atuação é um misto de majestade e deliciosa traquinagem como bem definiu a crítica da Veja, Isabela Boscov. como Adoro os filmes dela.
ResponderExcluirOi Ana,
ResponderExcluirObrigada por ter visitar o meu blog. Eu gostei de Robin Hood, apesar dos pontos que comentei. Sempre gosto de épicos, me inspiram, me levam para uma mundo medieval, heróico. Concordo com você com relação a Max Von Sydow. Vê-lo encarnando um personagem tão nobre de espírito e coração foi um deleite total, praticamente um cupido, apaixonei-me pelo seu papel.
abs!
É verdade também pensei nisso. Sir Walter Loxley foi um verdadeiro cupido. Muito fofo.
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