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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Os Pecadores: A Maldição da Branquitude e a Resistência do Blues
Ryan Coogler transforma o horror musical gótico em um tratado visceral sobre poder, legado e a maldição da imortalidade. Em Os Pecadores (The Sinners, 2025), seu épico mais político, ele mergulha nas raízes do blues no Delta do Mississippi em 1932 para revelar que até mesmo essa riqueza cultural foi cobiçada e corrompida pela branquitude dominante, aqui representada por seres vampíricos que amaldiçoam a América com sua fome insaciável.
Mais do que uma luta pela sobrevivência, Os Pecadores é um lamento melódico e sangrento que reverbera a história real de opressão e resistência. A força dramática da narrativa repousa na atuação visceral de Michael B. Jordan, que interpreta os irmãos Smoke e Stack (Fumaça e Ferrugem), fisicamente idênticos, mas emocionalmente distintos. Unidos por um projeto de vida e por laços ancestrais, eles sonham em abrir um juke joint no Delta, celebrando a música como forma de pertencimento e avanço. Mas a estética do horror gótico logo revela que essa paz é frágil. A chegada dos vampiros azeda a esperança, e a crítica social se impõe com brutalidade.
Em contraste com o romantismo de vampiros clássicos, a imortalidade aqui é retratada como condenação. O horror assume a forma da branquitude opressora, incapaz de suportar o brilho do negro evoluído, manifestando-se naqueles que buscam sugar o sucesso e a riqueza cultural alheia. Se os irmãos representam o legado, Sammie encarna o futuro. Um jovem artista talentoso, cuja energia vital se torna alvo da obsessão do vampiro chefe. A música, que deveria libertar, vira objeto de apropriação. O desejo de consumir sua essência é um dos momentos mais perturbadores do filme, simbolizando a recusa da classe dominante em permitir que o talento floresça fora de seu controle.
O filme culmina em um paradoxo existencial. Em um dos momentos mais assombrosos e reveladores do filme, uma figura branca lamenta não a perda de uma vida negra, mas a impossibilidade de alcançar o que essa vida representa. Liberdade, ancestralidade e paz. A mise-en-scène, com luz fria e enquadramento distante, reforça a solidão dos pecadores. A condenação dos vampiros é viver eternamente em um ciclo de violência e desejo, lamentando até a paz que a morte confere.
Os Pecadores não afirma que ser branco é, por si só, uma condenação. O que o filme denuncia é a estrutura de poder racializada que se recusa a morrer. Uma branquitude que, ao se alimentar da cultura negra, revela sua própria falência espiritual. A imortalidade dos vampiros brancos não é um dom, mas uma prisão. Um ciclo eterno de consumo, inveja e vazio. Eles não vivem, apenas persistem, incapazes de criar, apenas de tomar.
Os Pecadores usa o horror para expor a história de opressão racial com ferocidade. O verdadeiro monstro não é a criatura, mas o sistema que a cria. Coogler se consolida como mestre em narrativas negras de grande escala, com uma veia autoral inconfundível. A branquitude no poder e os colonizadores são os verdadeiros pecadores, condenados por sua própria natureza a uma existência vazia. O maior horror é a recusa em ceder poder, manifestada no desejo de consumir a vida, o talento e a cultura da nova geração preta em busca de uma imortalidade que é, por si só, uma maldição.
A mensagem final é clara. A cultura negra é resistência, e o enfrentamento é necessário para mantê-la viva. E nós, como espectadores, o que faremos diante dessa pergunta:
Qual é o preço da liberdade quando o opressor está disposto a sugar a própria alma para manter o domínio, e o que a nova geração fará para se proteger?
Imagens. Divulgação Warner Bros Pictures.




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