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O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report, 2021)





Imperdíveis dicas Streaming MaDame Lumière 

Filme da @A2filmes disponível nas plataformas online



#Guerra #CinemaEuropeu #CineMundi
 


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Dirigido pelo roteirista e cineasta Peter Bebjak, O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report, 2021) utiliza fontes históricas sobre o Holocausto e a denúncia das atrocidades ocorridas no campo de extermínio de  Auschwitz-Birkenau, possibilitando que o público conheça os horrores do Terceiro Reich que visava por fim às vidas de prisioneiros da Segunda guerra. Baseado na obra "What Dante did not see", de Alfréd Wetzler, o drama conta a história de Freddy e Rudolf, dois jovens judeus eslovacos que, após um plano de fuga corajoso, escapam do campo de concentração em abril de 1944. 













Quem carrega o peso do protagonismo para mostrar o real drama dessa jornada arriscada e resiliente é o ator Noel Czuczor que interpreta Freddy. Ele mostra um comando maior em cena durante a fuga, bem respaldado pelo companheiro Rudolf Vrba (Peter Ondrejicka). Muito do interesse de Czuczor para interpretar esse personagem real está no compromisso de trazer para o presente um passado que nunca ou raramente foi contado nas escolas da própria Eslováquia.






Alfréd Wetzler e Rudolf Vrba não foram apenas sobreviventes de guerra, mas também heróis que se arriscaram em montanhas tenebrosas, sob a constante ameaça dos nazistas. Eram judeus movidos pela esperança e tinham como objetivo trazer à luz da população as informações de extermínio de judeus e salvar outros que seriam deportados. Trata-se de liberdade com voz para denunciar o genocídio sistemático em Auschwitz-Birkenau.










"eu li tudo que pude, incluindo o romance de Wetzler, e assisti
a documentários e entrevistas com sobreviventes. E, além de visitar
Auschwitz pessoalmente, tive a chance de conversar com a senhora
mais incrível, uma sobrevivente de Auschwitz, Srta. Laura, que tinha
96 anos de idade na época. Mas nem mesmo todas essas informações
me deixaram mais perto de compreender totalmente como deve ter
sido. Eu me senti preso por um longo tempo - todas as coisas que
aprendi estavam apenas se acumulando dentro de mim. E então um
dia voltei ao livro de Wetzler e de repente percebi que estava tudo lá
- cada pensamento seu, cada sentimento, cada dúvida."
(Ator Noel Czuczor, sobre preparação para o papel)







O roteiro segue um caminho bem autoral para esse tipo de narrativa de memórias de guerra, sendo dividido em três principais momentos: a fuga com o apoio dos colegas, o percurso de sobrevivência nas montanhas e o encontro com a resistência e Cruz Vermelha seguido da elaboração do relatório sobre o funcionamento do campo. Há certa peculiaridade nessa estrutura narrativa considerando que, logo no início, o foco não é precisamente os dois protagonistas. O diretor opta por enfocar o medo, sofrimento e resistência dos prisioneiros que ficaram e cobriram a fuga de Freddy e Rudolf. Esse é um aspecto bem interessante na direção que não segue um padrão, lembrando o excelente húngaro "O filho de Saul", de Lászlo Nemes.








A visão do inferno que Dante não viu. 
Palheta de cores quentes na linguagem cinematográfica e fotografia






Nesse primeiro ato, entra em cena a competência da direção de fotografia de Martin Ziaran, que trabalha as nuances da paleta de cores mais esfumada, aterrorizante e claustrofóbica, alternando entre cores quentes como o inferno na terra ou frias como o clima cinzento e brutal de um campo de extermínio.  Nesse desenvolvimento inicial, os recursos de linguagem cinematográfica como som e trilha sonora (de Mario Schneider), enquadramentos  e close ups bem planejados e ênfase na atuação do elenco coadjuvante traz uma unidade tensa, melancólica e desesperadora para a narrativa. Esse clima de violência sádica se torna mais brutal quando fica perceptível a naturalidade de como os nazistas agiam e silenciavam a morte e sofrimento alheios. É a visão da tortura normatizada pela História. Algo difícil e nauseante que o tempo não apaga.














Na segunda parte, Freddy e Rudolf percorrem a jornada de de coragem, força e superação em caminhos arriscados, contando com a ajuda de estranhos.  Aqui temos uma visão visceral da luta pela sobrevivência, da fome e miséria humana. Por outro lado, a generosidade de uma mulher que entrega-lhes um pão, por exemplo, demonstra que, apesar dos perigos que cercam a fuga, os dois jovens não desistiram de seus propósitos.  Em todo o percurso, o cineasta se dirige mais ao esgotamento físico e mental dos heróis, uma superação a qualquer custo, realizando movimentos de câmera mais lentos, ora próximos ora mais distantes, e enquadramentos icônicos como realistas pinturas da guerra. 







Freddy e Rudolf certamente sabiam que inúmeros judeus poderiam ser salvos se eles conseguissem cruzar as fronteiras e chegar às autoridades aliadas e Ocidente. O Relatório Vrba-Wetzler era uma arma contra os assassinatos em massa autorizados e defendidos por uma ideologia genocida como a de Hitler. A direção subjetiva mostra esse peso dos personagens.  "Queríamos permitir que o público passasse pelas mesmas coisas que nossos personagens principais estão passando, em um mundo onde não existem padrões ou regras, um mundo onde o medo e a morte são seus únicos companheiros, um mundo onde você está fraco, doente e impotente, um mundo que está louco. Isso é o que estávamos tentando encontrar e alcançar", desabafa o diretor.











Por fim, o desfecho é o momento mais aguardado mas também ligeiramente frustrante. O cineasta se apressa na sua finalização, o que decepciona pela expectativa criada.  Em filmes sobre  memórias da guerra baseado em caso real, por mais que o espectador suspeite que há esperança para alguma justiça, nem sempre as conclusões otimistas ocorrem de forma  fluída. Aqui não seria diferente. O anti-clímax é visível em comparação ao desenvolvimento dos dois primeiros atos. Pensando sob a perspectiva de um cineasta contador de história dos horrores da guerra, essa decisão é compreensível. As dificuldades encontradas por Freddy e Rudolf fazem parte da vida como ela é. Uma vida cheia de angústia que muitas vezes quem luta por justiça tem que provar o óbvio.










Nesse sentido, um dos melhores aprendizados com essa história real é a constatação de que o passado deve ser lembrado porque ele pode se repetir no presente e ser absurdamente destrutivo às pessoas; assim, temos que tomar cuidado com as personalidades que estão no poder agindo como "Hitlers".  Como diz o diretor Peter Bebjak " As pessoas mais influentes na política geralmente são aqueles que a criam. São suas realizações, sua retórica, sua abordagem. Se alguma dessas coisas for odiosa, sempre haverá pessoas que irão, talvez por frustração, se voltar para políticas como essa. Isso está acontecendo em todo o mundo, onde o populismo é a forma de governança. E em tempos de crise, econômica ou moral, as pessoas tendem a se refugiar em ideologias extremas. Foi assim que Hitler ganhou seu poder e também como nascem as ditaduras.




Nos créditos finais, isso se confirma como uma necessária mensagem às nações e cidadãos.  Os boçais estão por aí , com suas falas populistas e neonazistas, com o avanço dos imbecis, extremistas e racistas, desse modo, os erros brutais do passado não podem ser mais aceitos e muito menos cometidos.











Fotos e citações do diretor e do protagonista, uma cortesia A2 filmes para divulgação via veículos de comunicação credenciados.

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Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière

  Classificação do filme para faixa etária: 16+ anos Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunic...

Kelly + Victor (2012)

 


Classificação do filme para faixa etária: 16+ anos




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



O vencedor do Bafta 2014 de melhor estreia na direção, Kieran Evans, explorou a cidade de Liverpool, entre cenários urbanos e melancólicos  assim como naturais e líricos, para realizar o drama de um amor jovem, transgressivo e trágico entre Kelly (Antonia Campbell-Hughes) e Victor (Julian Morris). Adaptação do romance de Niall Griffiths, a qualidade da  direção transborda naturalidade em filmar o encontro de dois jovens solitários que, ao se conhecerem em uma balada e terem uma noite de sexo casual, passam a ter uma peculiar atração e desejo de descobrir a paixão e o prazer juntos, se arriscando a romper as barreiras do convencional.











A coerente apropriação de recursos espaciais e temporais pelo cineasta, bem como a competente direção de atores e espontaneidade ao dirigir perturbadoras cenas de sexo fazem a diferença. Pode-se afirmar veemente que o filme não entrou em um declínio narrativo em função de como o diretor soube equilibrar as dimensões controversas entre o tema e o roteiro, os perfis dos amantes e respectivas atuações e as cenas da cidade.  












A narrativa tem variados aspectos líricos e intimistas como a mulher que está sozinha e com pensamentos distantes e misteriosos, mas também o homem que trabalha em uma rotina entediante e se sente bem quando está próximo à natureza e das memórias da amante. Nesse sentido, Kelly e Victor são como duas almas anônimas e solitárias que se encontram em um cotidiano realista e melancólico. Começam a ceder aos seus desejos sem necessariamente estarem focados no tipo de relação que ali se desenvolve. São duas almas que sentem a inadequação ao mundo e são impactados por ela em diferentes situações.





Assim, o sexo é um meio de comunicação entre eles. Apresenta-se na sua natureza mais visceral e libertadora, mostrando sua pulsão de vida e morte na história. Kelly é uma jovem mais discreta e madura que decide morar sozinha após uma separação conturbada, com um passado de violência doméstica. Victor é um jovem estilo bom moço. Bonito, gentil e de sorriso tímido, ele se sente muito atraído por Kelly e se permite ter uma experiência sexual mais selvagem. Tanto um como o outro tem a oportunidade de colocar para fora suas pulsões sexuais reveladoras. O sexo vem acompanhado por uma quebra de tradições, dando vazão à proximidade entre prazer e violência.













Mesmo em meio à complexidade da relação amorosa em um casal tão jovem e de personalidades bem diferentes, o longa garante boas cenas de flerte, confiança e cumplicidade. Algumas cenas mais fortes são dirigidas de uma forma rápida e exagerada, com alguns recortes abruptos, porém não chegam a comprometer a qualidade da direção.  A trilha sonora indie-rock apresenta as emoções dos personagens com melancolia, escapismo e descoberta do amor.  O final doloroso choca pelo imediatismo da finalização. 











Ainda que seja trágico e obscuro, o filme  traz as contradições do lirismo do amor e do sexo jovem. Estranhamente, tem aspectos leves e pesados, unindo essas duas pontas extremas bem amarradas por uma ótimas atuações e direção. A escolha por Antonia Campbell-Hughes e Julian Morris foi bem acertada. Ambos apresentam diferenças de personalidades e vivências. Ela teve experiências traumáticas que ele não teve e desconhece em grande parte da narrativa. Ele é mais ingênuo e romântico mas não menos sexual. Os dois conseguem encontrar um ponto de intersecção nos diálogos e na cama, fato que tem o lado prazeroso mas também destrutivo. Tudo depende até onde o fetiche controla a relação.





Kelly e Victor são como aquele casal escapista que poderia ter dado certo se o tempo assim o permitisse. Poderiam ter curtido mais as noites de Liverpool, a música que os aproxima e que substituiu as palavras que, muitas vezes, foram silenciadas ou não puderam ser ditas.









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  Classificação do filme para faixa etária: 18+ anos Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunic...

Fidelidade (Vernost, 2019)

 



Classificação do filme para faixa etária: 18+ anos




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Na seara dos filmes que abordam os relacionamentos conjugais, mais especificamente temas como casamento em crise e adultério, o longa russo Fidelidade (Vernost, 2019) com direção de Nigina Sayfullaeva tem virtudes bem sutis na discussão sob a perspectiva de gênero. Ainda se impõe como uma narrativa com considerável influência das diferenças afetivas entre homens e mulheres, o que acaba por reforçar a dependência emocional da mulher em uma relação heterossexual dentro da instituição casamento.




Embora seja muito bem interpretado pela protagonista Evgeniya Gromova no papel de Lena, uma mulher de 30 anos que começa a ter encontros casuais após seu marido ignorá-la sexualmente, o longa  busca situações comuns e realistas, como clichês necessários. Então surgem momentos nos quais há a desconfiança e insegurança da esposa, a frieza, o egoísmo e a rejeição do marido, a traição do homem casado, brigas entre mulheres com o homem como motivo, fetiches, entre outras, para a partir dessas questões levar o público para a entendiante relação entre Lena e Sergei (Aleksandr Pal). O resultado se torna mediano replicando o vazio das relações modernas, o que não deixa de ser um reflexo das experiências de muitos casais.











É sabido que essas narrativas tendem a cair, ou no lugar-comum, ou dão pistas para que o espectador possa refletir sobre o ego e o sexo na relação. Esses dois elementos ainda impactam bastante a convivência e o nível de maturidade da relação. Aqui começando pela postura de Sergei que não deseja transar com a esposa e muito menos conversar direito com ela. Dificilmente um homem deixa de comparecer à cama da mulher, a não ser que ele esteja tendo outras relações extraconjugais ou realmente quer "novidades" para apimentar o sexo. Ainda assim, tanto o homem como a mulher tem o direito ao não. 




O problema não é apenas a falta de desejo, mas a quase inexistente comunicação entre eles. Não há muitos diálogos e, quando eles acontecem, não chegam a lugar algum. O pior é que a maioria das discussões são humilhantes para Lena. Essas evidências são honestas por parte do roteirista pois o silêncio e as lacunas nas conversas acontecem nos casamentos e em tantos outros tipos de relacionamentos. Diante dessa barreira comunicacional entre o casal, Lena começará a trair, porém seu mal estar e desmotivação são tão evidentes que essas relações se tornam mais vazias e piores do que suportar o descaso do marido.








A partir disso, o interessante é perceber que a representação da mulher na narrativa ainda é acompanhada de muita culpa, infelicidade e humilhação. Por diversas vezes, a vontade como observador é tirar Lena dessa situação e dizer "Saia dessa cilada pois seu marido não te respeita!". Além do mais, ela trai e sabe o que está fazendo ao flertar com outros homens, mas também todas as cenas de sexo fora da relação são totalmente frustrantes. Assim,  Evgeniya Gromova  apresenta boas nuances comportamentais na  interpretação que não foge às contradições das emoções de Lena. Certamente, a protagonista estava aberta a novidades porque decidiu buscá-las movida pela necessidade sexual e afetiva, entretanto, se Sergei lhe desse a devida atenção, ela não teria essas relações tão medíocres, nada prazerosas.









A verdade é que Lena ama o seu marido e tem muito desejo por ele. Ela está nas mãos de Sergei em todos os sentidos, logo, o filme diz respeito mais a ser leal que a trair. O título combina bastante com a personagem porque ela é dependente desse homem que, por sinal, não a respeita. Com isso, a grande sacada da história é mostrar que, não importa o que ela faça, ele dá o norte do desejo e ela decide se terá uma vida dupla ou não.  As cenas no banheiro do casal e do desfecho mostram que, lamentavelmente, ela está nas mãos dele.




O longa tem seus altos e baixos e se perde bastante do meio para o fim, apressando o terceiro ato; ainda assim, a ótima atuação de Gromova ajuda a compreender as emoções e dilemas dessa mulher. São escolhas difíceis que muitas mulheres têm que fazer para sobreviver na relação. No mais, o roteiro evidencia que o desejo do homem sobre o corpo feminino pode tentá-la e/ou levá-la a seguir determinados fetiches apenas para a satisfação masculina. 




Se o casal gosta de um fetiche, é de comum acordo, porém, renunciar a si mesma(o) para satisfazer unicamente o desejo do outro é dependência afetiva, é como ser desleal consigo mesma (o). 











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  Imperdíveis dicas  Streaming  MaDame Lumière  Estreia na Globoplay em 1º de maio e no GNT em 5 de maio   #Família #Maternidade #Gravidez #...

Proibido nascer no paraíso (2021)



 Imperdíveis dicas Streaming MaDame Lumière 


Estreia na Globoplay em 1º de maio e no GNT em 5 de maio


 
#Família #Maternidade #Gravidez #CinemaBrasileiro 
#Mulheresnadireção #RetratoSocial #DireitosHumanos #Mulheres


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Quando as pessoas brincam que o Brasil (e os Brasileiros) precisam ser estudados, elas não estão erradas. Após assistir ao documentário de Joana Nin, "Proibido nascer no paraíso" (2021), com certeza muitos espectadores poderão vir a dizer: "O Brasil não é para amadores".  Temos um povo batalhador e acolhedor que, apesar de todas as desigualdades e desafios sociais, permanece resiliente e esperançoso, porém, o Brasil como Estado realmente precisa ser mais investigado e estudado. De fato,  viver aqui não é para os fracos.











Ambientado em Fernando de Noronha, um dos paraísos naturais mais caros e fashionistas no Turismo Brasileiro e Internacional, o longa traz uma denúncia social bem articulada com o direito ao parto e à maternidade, a realidade da especulação imobiliária e a política do Estado na administração e exercício do poder. Por mais inacreditável que pareça, a questão é muito séria: as grávidas não podem ter seus partos no local. São obrigadas a irem ao Recife para ter seus bebês. Como um destino paradisíaco tão caro, superfaturado por altas taxas turísticas para a preservação da natureza e a presença de milionários e celebridades não tem infraestrutura médica e hospitalar para que as grávidas possam ter seus bebês próximas de suas famílias?





Embora seja um contexto complexo movido por interesses comerciais e políticos e de pouca  intervenção do desejo democrático, a maior indignação sobre o tema é a intervenção direta do Estado no direito de ir e vir das mães  e, pior, na obrigação da mãe sair da ilha para ter o bebê em outra cidade.  Assim, por trás de toda a beleza natural Noronhense, esconde-se uma administração que não quer que os nativos reivindiquem seus direitos sobre a terra.





Ao ver esse documentário, o espectador tomará contato com realidades que esbarram no desrespeito do Estado não só à figura da mãe, mas a todo um povo local. Primeiramente, a ancestralidade das famílias e seus descendentes não têm direito a comprar nenhum imóvel na ilha como propriedade privada. As terras pertencem ao Estado, logo, essas famílias terão apenas a permissão de uso e isso somente ocorrerá se elas conseguirem ser prioridade diante da concorrência do mercado, considerando que o empresariado não deixará de seguir sua agressiva lógica de expansão dos negócios turísticos.





"Fernando de Noronha, um lugar dentro do Brasil com uma lógica própria, não é um município, é um distrito estadual de Pernambuco, o administrador é um cargo nomeado pelo governador, assim como todo pessoal de apoio. A única instância local com eleição democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa. A ilha até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a população é tutelada. Tudo é controlado pelo “Palácio”, como os moradores chamam a sede da administração na ilha." (palavra da diretora)











Experiente diretora e produtora, Joana Nin realizou seu filme com coragem e naturalidade. Entre 2017 e 2019, acompanhou o dia a dia de 3 gestantes:  Babalu, Harlene e Ione e deu conta de mostrar os sentimentos das futuras mães, mas também a força dessas mulheres e suas fragilidades. Por mais que elas queriam ter seus filhos na ilha, elas simplesmente não tiveram apoio o suficiente para mudar um sistema autoritário e coronelista em pleno século XXI.  A indignação só aumenta ao ver cada cena, cada relato. 




A cineasta só conseguiu fazer o doc. de uma forma transparente devido à participação e acolhida das gestantes da população local. Sem a voz do povo, nada disso seria revelado, principalmente sobre um paraíso turístico que só estampa os Instagram das celebridades e maquia toda essa perversidade contra o direito ao parto e o respeito à subjetividade materna e feminina. A postura autoritária do Estado é uma forma de se apropriar do corpo feminino pois ninguém deveria obrigar uma mãe a ter o bebê em determinado local contra a sua vontade. Felizmente, graças a essas mulheres corajosas que amam sua terra natal, seus familiares e histórias de vida, é possível ver que, mesmo em meio a um tema polêmico, o documentário é sobre os afetos e direitos dessas futuras mães, sua ascendência e descendência.




“o desejo da mulher é ainda mais invisível do que me parecia antes. Nos tornamos transparentes no dia em que as outras pessoas tomam conhecimento de que temos um feto dentro de nós. Ele ainda não é um bebê, não tem vontade própria nem personalidade formada, não fala nem se expressa, mas nossa barriga passa a ser sempre o primeiro e o último foco do olhar de quem nos vê de fora.” (palavra da diretora)





 administração só utiliza o argumento de que  não pode nascer criança ali para preservar o bem estar da mãe e do bebê, além do mais não investe no único hospital existente, o São Lucas. Esse é uma sustentação fraca por parte da instância administrativa, afinal, como um rico distrito estadual não tem condições de ter um hospital funcional com todo o aparato obstétrico? E a saúde integral da mulher gestante? E a saúde mental / psicológica de uma mulher grávida próximo ao seu lar e à sua família? E o seu bem estar sem necessidade de deslocamentos a Recife? E a saúde dos turistas que enchem os cofres públicos visitando o local?




A resposta é simples: Nascer bebê em Fernando de Noronha não é prioridade para o administrador! Seria um problema para os interesses dos poderosos por mais que eles utilizem o argumento de que é preciso "preservar a natureza" e as terras como patrimônio da humanidade. Esse posicionamento demonstra claramente que quem manda na região são políticos e pessoas influentes. A população local tem seus direitos impactados por decisões arbitrárias baseadas em poder, dinheiro e lucro. 










Diante de tanta indignação e poucas condições de mudar essa situação, pelo menos, cabe a cada Brasileiro conhecer essas realidades que nem sempre chegam à grande mídia. Calar-se não é uma opção, logo, cada um tem o direito de saber o que se passa em nosso país para, então, tentar transformar essas realidades tão desiguais. Infelizmente, nem mesmo a beleza de Fernando de Noronha poderia ocultar essa triste situação. Ainda assim, enquanto houver crianças, haverá alguma esperança que talvez essas novas gerações consigam mudar esse país para um lugar com mais justiça, dignidade e respeito.









Fotos e citações da diretora: uma cortesia da assessoria do filme para divulgação e crítica.

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Quando Hitler roubou o coelho cor de rosa ( Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl, 2019)

 


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#Família #Infância #Literatura #CinemaAlemão
#Mulheresnadireção #Guerra #Amadurecimento #CineMundi 


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



O Cinema é um grandioso palco das memórias afetivas que circulam na nossa sociedade ao longo de séculos, tanto por parte dos contadores de histórias como pelo público. Continuamente é uma honra conhecer sobre biografias que apresentam esperança em tempos sombrios. É uma maneira de permanecer firme e resistente diante das mazelas da vida que nunca serão controladas em sua totalidade. 














Nessa ampla gama de produções cinematográficas que utilizam a memória como um dispositivo sensível, entrelaçando a História e sua relação com outras áreas como a Literatura, a Infância e a Educação,  Quando Hitler roubou o coelho cor de rosa  (Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl, 2019) de Carolina Link, se destaca como um drama familiar contado sob a perspectiva de Anna (Riva Krymalowski), uma garota judia-alemã de 9 anos que vivia em Berlim em 1933. Com seus pais (Oliver Masucci e Carla Juri) e irmão (Marinus Hohmann), ela abandona a Alemanha para viver na Suiça, e depois na França e Londres. O percurso da família começa como consequência da perseguição de judeus pelo Nazismo e todo o clima de medo e insegurança da época.





Adaptado do romance homônimo e semiautobiográfico da escritora e ilustradora Judith Kerr, o longa cativa pela narrativa delicada sob a perspectiva da inteligente Anna e mistura elementos da Literatura Infanto-juvenil na forma como é desenvolvida. Em momento algum, o terror da guerra é mostrado de uma maneira abertamente violenta, sangrenta. Entretanto, tais estratégias do roteiro e direção não significam que não há violência. Ela existe nos deslocamentos dos personagens, nas dificuldades de moradia, emprego e autoestima, na incerteza e no medo.
















A família Kemper está fugindo mas o inimigo não está em cena. Como na guerra, eles podem estar ocultos no cotidiano, assim, eles têm que lidar com a invisibilidade do inimigo e também ser invisíveis ou, no mínimo, discretos. O pai Arthur é jornalista e, como um anti nazi e homem da palavra, ele é perseguido e vive a tensão entre a responsabilidade pela família, a falta de trabalho e o medo de ser descoberto.  A mãe Dorothea é do lar. Ao perder a antiga empregada Heimpi (Ursula Werner), tem que reaprender a comandar a casa, cozinhar e apoiar o marido. Max, na faixa etária adolescente, perde as referências de amigos e grupos e se vê bem sozinho. Com isso, Anna é a garotinha esperta que protagoniza o arco dramático. Das cenas fofas aos questionamentos do amadurecimento, é Anna que move a história.











Considerando a Literatura Infanto-Juvenil e seu potencial pedagógico nas adaptações para o Cinema, o drama entrega uma boa experiência que proporciona uma conexão com a empatia e o carisma. A família Kemper é agradável, bastante pé no chão e ciente das mudanças, dessa forma, não haverá altos e baixos emocionais e reviravoltas muito dramáticas. O ritmo tende a ser lento, possibilitando mais a observação e contemplação dessas mudanças familiares.





Nesse sentido, é um roteiro que preserva bastante linearidade nas ações apesar dos deslocamentos e situações novas vivenciadas pela família. Em alguns momentos, falta um pouco da inserção de elementos históricos externos e gatilhos para movimentar as cenas e os conflitos. Por outro lado, o drama ganha pelas sutilezas com belos momentos de ternura entre pais e crianças e uma direção que explora bem as locações e design de produção. Carolina Link, vencedora do Oscar por "Lugar nenhum da África" opta por uma direção humanista, equilibrando as pontas entre a realidade histórica e a ficção literária.












Para quem aprecia filmes como  "A viagem de Fanny", "Os meninos que enganavam nazistas", "O menino do pijama listrado"  e a "A menina que roubava livros", certamente, gostará desse drama. Todos eles trazem a realidade cruel da guerra e/ou do Holocausto, protagonizadas por crianças que vivenciaram esses dramas e tiveram que amadurecer além do convencional. Histórias duras que, no mundo ideal e fantasioso, deveriam ter sido experienciados apenas por adultos.





De fato, um de seus pontos altos é observar a fusão entre a Literatura a partir da perspectiva da criança e a linguagem cinematográfica no desenvolvimento da narrativa. O filme tem um carater educativo ao mesclar essas dimensões na forma de contar histórias que, se fossem contadas arduamente, não seriam bem compreendidas por crianças e jovens. Com isso, apresenta-se como uma bela história de uma família que permaneceu unida e corajosa. Independente qual foi o seu destino, eles foram muito fortes. 





Por uma coincidência ou não, o sobrenome da família Kemper lembra muito a sonoridade da palavra Kampf (em alemão "luta") que dá título a uma obra de Hitler.





(3,5)



Fotos do filme, uma cortesia A2filmes para divulgação em veículos credenciados.

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