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Proibido nascer no paraíso (2021)



 Imperdíveis dicas Streaming MaDame Lumière 


Estreia na Globoplay em 1º de maio e no GNT em 5 de maio


 
#Família #Maternidade #Gravidez #CinemaBrasileiro 
#Mulheresnadireção #RetratoSocial #DireitosHumanos #Mulheres


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Quando as pessoas brincam que o Brasil (e os Brasileiros) precisam ser estudados, elas não estão erradas. Após assistir ao documentário de Joana Nin, "Proibido nascer no paraíso" (2021), com certeza muitos espectadores poderão vir a dizer: "O Brasil não é para amadores".  Temos um povo batalhador e acolhedor que, apesar de todas as desigualdades e desafios sociais, permanece resiliente e esperançoso, porém, o Brasil como Estado realmente precisa ser mais investigado e estudado. De fato,  viver aqui não é para os fracos.











Ambientado em Fernando de Noronha, um dos paraísos naturais mais caros e fashionistas no Turismo Brasileiro e Internacional, o longa traz uma denúncia social bem articulada com o direito ao parto e à maternidade, a realidade da especulação imobiliária e a política do Estado na administração e exercício do poder. Por mais inacreditável que pareça, a questão é muito séria: as grávidas não podem ter seus partos no local. São obrigadas a irem ao Recife para ter seus bebês. Como um destino paradisíaco tão caro, superfaturado por altas taxas turísticas para a preservação da natureza e a presença de milionários e celebridades não tem infraestrutura médica e hospitalar para que as grávidas possam ter seus bebês próximas de suas famílias?





Embora seja um contexto complexo movido por interesses comerciais e políticos e de pouca  intervenção do desejo democrático, a maior indignação sobre o tema é a intervenção direta do Estado no direito de ir e vir das mães  e, pior, na obrigação da mãe sair da ilha para ter o bebê em outra cidade.  Assim, por trás de toda a beleza natural Noronhense, esconde-se uma administração que não quer que os nativos reivindiquem seus direitos sobre a terra.





Ao ver esse documentário, o espectador tomará contato com realidades que esbarram no desrespeito do Estado não só à figura da mãe, mas a todo um povo local. Primeiramente, a ancestralidade das famílias e seus descendentes não têm direito a comprar nenhum imóvel na ilha como propriedade privada. As terras pertencem ao Estado, logo, essas famílias terão apenas a permissão de uso e isso somente ocorrerá se elas conseguirem ser prioridade diante da concorrência do mercado, considerando que o empresariado não deixará de seguir sua agressiva lógica de expansão dos negócios turísticos.





"Fernando de Noronha, um lugar dentro do Brasil com uma lógica própria, não é um município, é um distrito estadual de Pernambuco, o administrador é um cargo nomeado pelo governador, assim como todo pessoal de apoio. A única instância local com eleição democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa. A ilha até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a população é tutelada. Tudo é controlado pelo “Palácio”, como os moradores chamam a sede da administração na ilha." (palavra da diretora)











Experiente diretora e produtora, Joana Nin realizou seu filme com coragem e naturalidade. Entre 2017 e 2019, acompanhou o dia a dia de 3 gestantes:  Babalu, Harlene e Ione e deu conta de mostrar os sentimentos das futuras mães, mas também a força dessas mulheres e suas fragilidades. Por mais que elas queriam ter seus filhos na ilha, elas simplesmente não tiveram apoio o suficiente para mudar um sistema autoritário e coronelista em pleno século XXI.  A indignação só aumenta ao ver cada cena, cada relato. 




A cineasta só conseguiu fazer o doc. de uma forma transparente devido à participação e acolhida das gestantes da população local. Sem a voz do povo, nada disso seria revelado, principalmente sobre um paraíso turístico que só estampa os Instagram das celebridades e maquia toda essa perversidade contra o direito ao parto e o respeito à subjetividade materna e feminina. A postura autoritária do Estado é uma forma de se apropriar do corpo feminino pois ninguém deveria obrigar uma mãe a ter o bebê em determinado local contra a sua vontade. Felizmente, graças a essas mulheres corajosas que amam sua terra natal, seus familiares e histórias de vida, é possível ver que, mesmo em meio a um tema polêmico, o documentário é sobre os afetos e direitos dessas futuras mães, sua ascendência e descendência.




“o desejo da mulher é ainda mais invisível do que me parecia antes. Nos tornamos transparentes no dia em que as outras pessoas tomam conhecimento de que temos um feto dentro de nós. Ele ainda não é um bebê, não tem vontade própria nem personalidade formada, não fala nem se expressa, mas nossa barriga passa a ser sempre o primeiro e o último foco do olhar de quem nos vê de fora.” (palavra da diretora)





 administração só utiliza o argumento de que  não pode nascer criança ali para preservar o bem estar da mãe e do bebê, além do mais não investe no único hospital existente, o São Lucas. Esse é uma sustentação fraca por parte da instância administrativa, afinal, como um rico distrito estadual não tem condições de ter um hospital funcional com todo o aparato obstétrico? E a saúde integral da mulher gestante? E a saúde mental / psicológica de uma mulher grávida próximo ao seu lar e à sua família? E o seu bem estar sem necessidade de deslocamentos a Recife? E a saúde dos turistas que enchem os cofres públicos visitando o local?




A resposta é simples: Nascer bebê em Fernando de Noronha não é prioridade para o administrador! Seria um problema para os interesses dos poderosos por mais que eles utilizem o argumento de que é preciso "preservar a natureza" e as terras como patrimônio da humanidade. Esse posicionamento demonstra claramente que quem manda na região são políticos e pessoas influentes. A população local tem seus direitos impactados por decisões arbitrárias baseadas em poder, dinheiro e lucro. 










Diante de tanta indignação e poucas condições de mudar essa situação, pelo menos, cabe a cada Brasileiro conhecer essas realidades que nem sempre chegam à grande mídia. Calar-se não é uma opção, logo, cada um tem o direito de saber o que se passa em nosso país para, então, tentar transformar essas realidades tão desiguais. Infelizmente, nem mesmo a beleza de Fernando de Noronha poderia ocultar essa triste situação. Ainda assim, enquanto houver crianças, haverá alguma esperança que talvez essas novas gerações consigam mudar esse país para um lugar com mais justiça, dignidade e respeito.









Fotos e citações da diretora: uma cortesia da assessoria do filme para divulgação e crítica.

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