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  Acompanhante Perfeita: O Terror da Solidão e da Misoginia na Era da IA #FicçãoCientífica #Violênciadegênero #Terror #Horror #Thrillerpsico...

 



Acompanhante Perfeita: O Terror da Solidão e da Misoginia na Era da IA



#FicçãoCientífica #Violênciadegênero #Terror #Horror #Thrillerpsicológico #Suspense #Críticasocial #Streaming


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


A combinação da ficção científica com o horror funciona como um inigualável instrumento para construir histórias que tocam em temas nevrálgicos e urgentes em nossa sociedade atual, imersa em avanços tecnológicos, relações fracassadas e frustrações humanas. "Acompanhante Perfeita" (Companion, 2025), com direção do americano Drew Hancock, demonstra claramente que a mistura de solidão, amores líquidos, ambição e tecnologia é uma combinação explosiva, capaz de aterrorizar os corações mais crentes no amor.










Na narrativa, o solitário Josh (Jack Quaid) decide adquirir uma robô como acompanhante perfeita. Autêntica em sua singularidade, Iris, interpretada por Sophie Thatcher, é programada para se apaixonar e agir servilmente ao seu "amado". Tudo é milimetricamente controlado pelo celular: Josh pode configurar o que desejar, inclusive o nível de inteligência da robô. Paulatinamente, o público percebe que Josh não é um homem ingênuo; pelo contrário, revela-se cruel, ambicioso e, definitivamente, sem caráter. Sua solidão é exposta da pior forma: a de alguém que não tem escrúpulos morais nem para tratar sua robô com respeito, em suma, um homem incapaz de estabelecer relações verdadeiras.









Mesclando horror, comédia e suspense, o longa assemelha-se a um episódio estendido da série Black Mirror, ao retratar a tecnologia sendo utilizada e subestimada pelo ser humano e sua intrínseca arrogância. Nesse caso, pessoas podem ser mais perigosas do que máquinas. Fica ainda mais evidente que o problema não reside na tecnologia em si, mas em como o ser humano a projeta e a manipula. No caso de Josh, ao lado de seus amigos em uma cabana no campo, a violência contra os robôs é contínua, tanto física como psicológica. Com planos premeditados para enganar o ricaço Sergey (Rupert Friend), Josh e sua amiga Kat (Megan Suri) não demonstram nenhuma piedade por Iris. A partir desse ponto, começam cenas bastante carregadas de humor ácido e sangue, desmascarando suas índoles.









Para além dos interesses escusos dos amigos, uma das melhores camadas do longa reside na constatação de que não haverá acompanhantes perfeitas para homens como Josh. São homens que usam a mulher ao seu bel-prazer sexual, revelando inseguranças patéticas. Homens com baixa autoestima, irresponsáveis afetivos e incapazes de estabelecer laços verdadeiros. Ainda que seja uma robô, ela mereceria ser tratada com uma consideração consciente. No entanto, Josh é a expressão grotesca de um homem misógino.




Sophie Thatcher, em seu cativante papel de Iris, é uma atriz que se encaixa perfeitamente na atmosfera de horror com ficção científica. Ela encarna aquela figura "esquisita e legal" que carrega uma autenticidade formidável, o que gera uma torcida absoluta para sua personagem – a ponto de desejarmos que ela se vingue perfeitamente de mais um misógino desnecessário no mundo. Outro aspecto relevante na narrativa é a sutil inclusão de que, por trás da tecnologia, e em uma visão mais ficcional, a máquina se mostra mais humanizada do que o próprio ser humano. Com isso, essa crítica não se baseia em devaneios, mas em constatações perspicazes. De fato, até mesmo ao conversar com uma inteligência artificial, ela demonstra mais respeito e colaboração do que muitas interações humanas.










Assim, Iris, como acompanhante perfeita, revela-se verdadeiramente espetacular, pois a confiança e os limites estabelecidos pelo uso da tecnologia são levados a sério pela robô. Em contrapartida, o ser humano, na figura de Josh, age sem escrúpulos, o que o estabelece como um desses seres humanos desprezíveis, que não merecem compaixão por se esconderem por trás de sua própria covardia.




(3,5)




  Jovem Afegã pensou que era amor mas era cilada #Dicadestreaming  Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e speciali...

 



Jovem Afegã pensou que era amor mas era cilada

#Dicadestreaming 



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 



A quebra de regras culturais e sociais em uma sociedade como a do Afeganistão traz graves consequências para a mulher e sua família e, muito menos para os homens que seguem sendo preservados pelo patriarcado estrutural e indissociável da violenta realidade das diferenças de gênero e da opressão das tradicionais doutrinas religiosas. Em Wajma: Um história de amor Afegã (2013) ambientado em Cabul em uma híbrida narrativa ficcional e documental, o público é levado a observar como uma jovem é seduzida e tem que lidar com o abandono e uma indesejada gravidez.





Mustafa Abdulsatar e Wajma Bahar





Com roteiro e direção de Barmak Akran e atores que usam os próprios nomes, é importante considerar que o filme tem atributos culturais que ultrapassam o certo ou o errado, pois cada país tem sua cultura e deve ser respeitada sem ignorar as bases históricas que a fundamentaram. Diante disso, o drama de Wajma tem ver com uma construção social e como as relações interpessoais e afetivas são mediadas pelas leis, intervenção familiar e a honra.




A ideia de namoro que há no mundo ocidental é completamente diferente em uma sociedade Afegã. Como outros países do Islão, os desejos são mais reprimidos e o casamento é a rota para o sexo e a formação da família. Apesar da modernidade de algumas nações de maioria muçulmana, eles não têm relacionamentos íntimos e/ou sexuais aceitos e liberados naturalmente. Pelo contrário, os relacionamentos têm uma forte base familiar na qual os casais devem ser apresentados e aceitos pelas famílias, além de outros requisitos inclusive de natureza econômica, de status e prestígio. Ademais, à mulher Afegã é destinado um lugar de submissão e confinamento, logo ela não desfruta integralmente da mesma liberdade das mulheres ocidentais, inclusive sendo impedida de frequentar universidades em diferentes períodos históricos.




Com isso, ao observar o filme, ele deve ser contextualizado com a história do país e das relações familiares que ditam as regras de como os indivíduos devem se comportar. Se considerado o ano de 2013, o Talibã já havia saído do poder por um momento, dessa forma, Wajma é uma jovem que foi aprovada na faculdade de Direito e ia a festas de casamentos, ou seja, nada além do círculo educacional e familiar. Ao conhecer Mustafa, jovem de ascendência Iraniana e garçom de um restaurante, nitidamente ele começa a flertar com ela e dizer que a ama. Eles começam a se encontrar às escondidas. Depois, nada diferente do que ocorre em países ocidentais nos quais o homem busca o prazer sexual e usa palavras de amor que não carregam qualquer responsabilidade afetiva.











Para a desonra de Wajma, de acordo com a tradição, ela engravida e começam os problemas reais. De forma muito egoísta, Mustafa ainda questiona a lealdade dela, o que ainda é um absurdo de se ouvir, mas que reproduz comportamentos comuns em homens que não assumem uma mulher e muito menos os filhos. Com uma abordagem bem visceral, a câmera percorre o desespero de Wajma, sua casa humilde e sua família agindo de forma violenta e sofrida diante da gravidez. Sendo assim, não é um filme fácil de digerir mas é muito honesto em mostrar que quase não há saída para essa jovem, a não ser ela contar com o perdão e ação da família para tirá-la desse desespero.





Um elemento interessante em termos sociológicos é observar que o homem tem seus privilégios de ser poupado ao máximo possível e agir conforme os ensinamentos da lei.  O pai de Wajma age com violência física porque foi o que ele aprendeu na estrutura patriarcal e que é permitido. Se a filha falhou segundo a tradição, ele e a esposa também falharam pois serão desonrados pela sociedade. Já Mustafa tem o comportamento inseguro e imaturo, um completo irresponsável sem qualquer atrativo. De sedutor, ele mostra a máscara da covardia pois sabe que sofrerá as consequências de ter violado a jovem, sabendo claramente que deveria ter assumido um compromisso matrimonial se assim a desejasse como esposa e amante.






Com todo o drama realista das cenas, há uma trágica variável que permeia todo o filme: a culpabilização da mulher. Wajma foi seduzida e, no decorrer da história, ela é agredida de diversas formas violentas e para a qual a morte seria um alívio.  A culpa é colocada nela e em sua mãe, dessa forma, o título do filme não é sobre Amor, mas sobre uma mentira, uma grande cilada.






Há amor em casamentos arranjados e nos quais a mulher não tem seu lugar de autonomia e liberdade? Há amor quando é apenas sexo e não sobre valorização afetiva da mulher? Há amor quando não existe diálogo para compreender essa desilusão amorosa e as emoções femininas? Há amor quando a mulher está sozinha e tem que agredir o próprio corpo para escapar de uma "morte social"? Não há amor nesse contexto! O que existe é controle para atender o desejo masculino, algo que não é exclusivo de sociedades mais tradicionais, mas também em países ocidentais que mascaram esse controle dos corpos femininos. 




(3,5)






  #Envelhecimento#Horrorpsicológico #Terror #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Obsessãopelabeleza #FicçãoCientífica #DemiMoore Um soco no e...


 


#Envelhecimento#Horrorpsicológico #Terror #Terrorsocial #Críticasocial #Medo #Obsessãopelabeleza #FicçãoCientífica #DemiMoore


Um soco no estômago do começo ao fim!

Try the Substance



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 



Já ouviu a frase "Envelhecer é uma merda?". Concordar ou não com essa afirmativa depende do ponto de vista de cada um. Envelhecer é um presente se você está bem consigo mesmo(a) e o movimento natural de diferentes ciclos, amadurecimento e evolução e tem condições de ter uma envelhecimento com prevenção à saúde, bem estar, conforto e qualidade de vida. Ter longevidade com um estilo saudável e vívido e um senso de autorrealização é raro, mas não é impossível. Por outro lado, envelhecer em uma sociedade como a nossa guarda em si uma crueldade com o outro, quando observamos que as pessoas não respeitam quem envelhece, principalmente quando valorizam demasiadamente a juventude física em um mundo cada vez mais obsessivo com a beleza e as intervenções de natureza estética.







Com essa base temática, um dos melhores lançamentos do Cinema em 2024 apresenta um terror com crítica social que escancara a monstruosidade dos padrões estéticos e de uso de substâncias para imposição da beleza e juventude feminina. Lançado pela Imagem Filmes em parceria com a MUBI e direção da cineasta Francesa Coralie FargeatA Substância (The Substance, 2024) traz Demi Moore no papel de Elizabeth Sparkle, estrela de fama em Hollywood por anos que, após atingir maior maturidade, é descartada pelo executivo da indústria, o asqueroso Harvey (Dennis Quaid). Bastante impactada pela rejeição e tomada por contínua solidão, ela é atraída pela Substância, uma droga que propõe um rejuvenescimento rápido, oferecendo uma solução intrigante e sedutora: uma melhor versão de si mesma.







O que é uma melhor versão de si mesma? Apenas cada um pode escolher a sua. A melhor versão para algumas mulheres é ter um corpo padrão, esteticamente atraente, ainda que a mente esteja vazia. Para outras, alcançar a melhor versão de si mesma é evoluir espiritualmente com propósito coletivo e compromisso social, já outras preferem o equilíbrio entre o bem estar e a saúde do corpo e da mente. Considerando essas escolhas que não devem ser perdidas de vista no mundo real, o roteiro do filme é muito bem elaborado. Ele faz o público refletir por meio da espiral obsessiva e destrutiva de Elizabeth Sparkle: uma mulher deve ceder à pressão social de ser bela e jovem ou ela pode buscar resultados de médio e longo prazo e cuidar da sua saúde mental como principal alicerce?







Fatalmente, Elizabeth escolhe o caminho mais fácil: a droga e o imediatismo. Escolhe ser Sue (Margaret Qualley), no auge de sua juventude e perfeição estética. Ao usar A Substância, Elizabeth alterna seus momentos como Sue, estando nesta troca a dinâmica de destruição da personagem com uma combinação de terror e ficção científica que gera cenas agonizantes e monstruosas. É impactante ver a sua queda cada vez mais violenta, uma mutilação do corpo físico e da alma. 



Com a excelente direção de Coralie e interpretações críveis e intensas de Demi e Margaret, a narrativa apresenta referências audiovisuais do horror como a decadência psicológica  e física, a metamorfose dos corpos, a agonia visual da destruição humana, a glutonaria e o espetáculo sanguinário. Com todas essas virtudes em uma verdadeira aula de Body Horror, um dos subgêneros e estéticas do Horror Contemporâneo, merecidamente, o filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2024.







Embora apresente uma duração mais longa, o roteiro não se perde, tanto em clímax com em desfecho, porque há um conflito psicológico na personagem de Demi Moore que extrapola a aniquilação física. Diz respeito ao aspecto mais importante do filme: a obsessão e a solidão como mistura angustiante de que ela não conseguirá se livrar de Sue. Sua versão jovem quimicamente induzida é o sonho e a realização. Como Sue, ela é desejada e amada, famosa e em evolução. Essas emoções são compreensíveis porque toda mulher quer ser amada e valorizada. A diferença aqui é a dose e o quanto cada mulher está disposta a sacrificar a sua própria sanidade, seu corpo e saúde.



Infelizmente, com a sociedade líquida e de aparências na contemporaneidade povoada por influenciadoras digitais que vendem um engajamento baseado em escolhas estéticas duvidosas, de culto exacerbado ao corpo e esvaziamento mental, com certeza, Elizabeth Sparkle não é a única que se sente mal na própria pele. Sob essa perspectiva, o filme faz um grande serviço à sociedade porque quem deve controlar nosso corpo é o nosso cérebro. Se induzimos nossa mente ao uso exagerado de substâncias e intervenções estéticas, em algum momento, a conta alta irá chegar e não será apenas uma conta monetária, mas uma conta que trará doença e/ou morte. Tendo em vista uma abordagem realista após assistir a essa ficção, a saúde mental deve estar em dia.







Ao fim, A Substância traz um sentimento de compaixão por Elizabeth Sparkle se cada espectador olhar profundamente a jornada dramática com todo o sofrimento provocado por sua obsessão e as faltas que a destruíram. Se há uma indústria que não tem pena de ninguém, essa indústria se chama Hollywood. Desde os tempos áureos do Cinema, grandes mulheres com suas belezas estonteantes já foram descartadas por grandes executivos, pelo simples fato de terem envelhecido e se tornado "esteticamente e comercialmente desinteressantes".



A questão do etarismo na indústria é real e complexa e permeia não apenas Hollywood mas todo o mercado de trabalho; desta forma, a mulher luta continuamente contra o machismo estrutural e as pressões de diversas naturezas que a considera um pedaço de carne comercial que deve ser atraente, bonita, sorridente e submissa. Isso não deve ser esquecido ao observar que a sociedade também é culpada pelas imposições estéticas e o culto à juventude.





 


Fotos cedidas gentilmente pela Imagem filmes para divulgação da crítica para Madame Lumière, imprensa credenciada

  #MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra De 21 de Outubro a 03 de Novembro Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogue...

 





#MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra

De 21 de Outubro a 03 de Novembro




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



 

As violências doméstica e de gênero são percebidas nos ambientes familiares através de outros tipos de violências que compõem este cenário disfuncional como as de ordem psicológica, patrimonial, moral, sexual, entre outras. Neste sentido, nas sociedades e culturas em geral, como teorizado pelo sociólogo Francês Pierre Bourdieu, há violência simbólica que não é manifestada apenas com coação física, mas com outras violências construídas na base da dominância e do poder que têm efeitos danosos nos indivíduos.





Levando em conta o difícil processo de amadurecimento e desumanização diante de um contexto familiar hostil para mulheres, a Romena Alina Grigore estreia na direção de longas-metragens com Lua Azul (Blue Moon| Crai Noi, 2021). Exibido no Festival de San Sebastian, a história acompanha a jovem Irina (Ioana  Chitu) que vive com seus familiares em uma região provinciana da Romênia onde se dedicam a gerenciar um hotel, realizar os afazeres domésticos e do negócio e receber os turistas. Irina tem como propósito escapar da violência familiar e cursar uma universidade em outra cidade, porém encontra resistências como a de seu agressivo primo Liviu (Mircea Postelnicu).












Irina é uma personagem em libertação que percorre um processo de autoconhecimento no qual os afetos familiares se misturam com violências e culpa. Na verdade, como uma jovem de pais separados e que foi acolhida pelos tios e primos desde criança, é doloroso sair de um ambiente familiar, sua única referência de trabalho,  experiências e valores, ainda que ele seja bastante tenso e violento. Diante destas sutilezas e contradições, a diretora assina um roteiro humanizado que também preserva as falhas e tentativas de acerto da protagonista. Assim, Irina busca um distanciamento familiar sem ser radical.






As relações familiares em cena são insustentáveis, carregadas de palavras agressivas e gestos brutos e imprevisíveis. Eles não conseguem nenhum tipo de diálogo saudável e tudo termina em confusão até na mesa do almoço. Sob a perspectiva de uma dramaturgia crível, a única personagem que tem desenvolvimento dramático é Irina, que sustenta o interesse pela obra. Todos os demais são demasiado arrogantes ou enfurecidos, fato que dificulta qualquer aproximação. A excelente atuação de Ioana Chitu dá o tom na narrativa, dividida entre as responsabilidades, os conflitos e a experiência sexual.










A violência doméstica e de gênero permeia toda a narrativa, mais fortemente por Liviu, um personagem difícil de aturar devido às suas limitações como homem. É o tipo que chantageia, grita, agride, controla, ou seja, pior que um selvagem. Suas cenas com Irina são baseadas na agressão gratuita e ele não tem qualquer inteligência emocional para lidar com qualquer conflito ou discordância, já que pensa que as primas são posses. Apesar da boa atuação de Mircea Postelnicu no que o roteiro propõe,  Liviu é um personagem desequilibrado que afeta a profundidade da narrativa ao agir constantemente de forma similar. Seu padrão comportamental é limitado.





Lua Azul percorre um processo de desumanização que não se afasta inteiramente do lar e da ancestralidade.  Neste aspecto, o longa mantém a tradição Romena através das belas cinematografia de Adrian  Paduretu e  trilha sonora de Subcarpati. Ainda que Irina não tenha referências femininas na narrativa e viva ao lado da irmã como duas prisioneiras, a história é sobre uma mulher e sua libertação, logo, a força feminina que vem da terra, das origens, da Romênia é mais complexa do que simplesmente abandonar o lar. 





Por fim, escapar de uma família disfuncional não é apenas afastá-la fisicamente. Ela continuará afetando-lhe negativamente mesmo à distância. Com isso, o filme acerta em não dar respostas prontas. Irina não acerta em tudo porque desconhece o mundo exterior àquela realidade familiar. Ela enfrenta suas próprias contradições e, com elas, os desdobramentos de suas escolhas. No fim dos créditos do filme, o único desejo é que Irina encontre o seu caminho e que possa levar algo de bom da Romênia.







(3,5)




  Lançamento @A2Filmes na retomada do Cinema nas salas #Thriller #MulheresnaDireção  #CinemaHolandês Por  Cristiane Costa ,  Editora e blog...

 




Lançamento @A2Filmes na retomada do Cinema nas salas



#Thriller #MulheresnaDireção  #CinemaHolandês




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Como lidar com o poder, a sexualidade e a intimidade quando o instinto não nos preserva de situações perigosas e potencialmente danosas? Como confrontar-se com pulsões do amor e do desejo que podem nos levar a sofrimentos em sérios conflitos com dilemas morais? Como agir quando não sabemos mais identificar as fronteiras e limites de nós mesmos e nossas paixões?











O primeiro longa-metragem da atriz e diretora Holandesa Halina Reijn é um complexo thriller-drama psicológico que traz para a cena todas essas controversas questões. Estrelado por Carine Von Houten (da série Game of Thrones, da HBO) e Marwan Kenzari (do live-action Aladin), Instinto (Instinct, 2019) narra um arriscado jogo de poder e manipulação no qual Nicoline, uma experiente psicóloga começa a desenvolver sentimentos ambíguos e perigosos por Idris, um criminoso sexual que cumpre pena há 5 anos e está prestes a ganhar a liberdade condicional.





De personalidade narcisista, Idris (Kenzari) está muito seguro de que terá sua liberdade desacompanhada. Além do comportamento contraditório e manipulador, o agressor sexual colocou em ação toda sua habilidade sedutora para conquistar a confiança de todos os outros terapeutas da instituição penal. Entretanto, Nicoline (Van Houten) é a única que não confia nele e não pretende facilitar sua liberdade condicional.





Sustenta-se no desenvolvimento da narrativa um jogo de poder e de intimidade entre os dois. Dúbio e enigmático. Repulsivo e sedutor. Desse modo, o longa transita entre  atração e aversão a esses sentimentos e comportamentos, podendo ser apreciado ou odiado, a depender de como o público vir a compreender o propósito da jovem cineasta.






É interessante notar que, embora haja filmes que tratem a relação entre mulheres e psicopatas ou com agressores sexuais, esse assunto ainda é um grande tabu. É um tema polêmico e difícil também no Cinema; tendo em vista que ainda há mulheres em relacionamentos abusivos sem se dar conta de que foram seduzidas por narcisistas e/ou têm questões psíquicas mais densas a serem cuidadas no campo afetivo. Nesse caso, Halina Reijn, em parceria com o experiente produtor Frans van Gestel e com um ótimo duo de protagonistas, conseguiu trazer essa complexidade que nem sempre é colocada para fora.




Segundo a diretora, após assistir a um documentário sobre o amor no canal TBS, ela se interessou em explorar como mulheres que sabem do risco de envolvimento com um homem abusivo, ainda assim, entram nesse tipo de relação. "Claro que você tem amor em todas as instituições. Apenas realmente me atraiu a ideia de que alguém que conhece o problema que esse psicopata, sociopata ou narcisista tem e ainda pode ser vítima de tal pessoa – e ir muito além de seus próprios limites" (via Press Book*). É claro que o filme retrata a relação mulher e homem, mas é conhecido que o abuso se dá em variados gêneros e tipos de relacionamentos.











De fato, Nicoline e Idris têm danos antes mesmo de se conhecerem, portanto, têm que lidar com os efeitos danosos, as experiências complexas e pulsões incontroláveis que surgem no transcorrer da narrativa. Como psicóloga, evidentemente, Nicoline sabe que ele é um narcisista de mão cheia, assim como que ele tem um passado que nunca será apagado e tem prazer em manipular e jogar esse game. Também, ainda que ela esteja no pool de psicoterapeutas, ela está em uma zona de risco e nitidamente perdendo o controle e entrando em uma espiral de descontrole emocional.





Trata-se de um drama de efeito contraditório que, na execução, tem um recorte narrativo mais objetivo. Basicamente, a  instituição penal é o ambiente principal, onde ocorrem as consultas de psicoterapia, as discussões entre psicólogas, as trocas de olhares e palavras entre Nicoline e Idris. É estranho perceber que, nesta entidade penal, o agressor sexual está tão à vontade que ele tem poder de manipulação entre os funcionários. Halina Reijn não aprofunda a questão em termos de grandes desdobramentos de roteiro, porém, em forte parceria com a roteirista Esther Gerritsen que responde pela densidade psicológica do texto, ela coloca em cena o suficiente para causar barulho e incômodo.





A diretora comenta que é um filme "sobre alguém que nunca mais poderá ter intimidade com alguém devido a danos. Em última análise, é uma história sobre poder,  sexualidade e intimidade (...) é uma luta com intimidade"(*). Com certeza, ela foi bem assertiva nessa citação. É um filme que mexe (e remexe) com a moral, principalmente porque Carine Von Houten e  Marwan Kenzari colocam bastante veracidade e ambiguidade nas interpretações. Esse efeito realista não se trata apenas do desejo e da perda de limites e do bom senso, mas está relacionado à química que os aproxima e os rejeita mutuamente. 





Com destaque para Carine Von Houten, absolutamente, o filme não seria nada sem sua atuação. Ela consegue dar boas nuances dramáticas entre a razão e a loucura, entre o rechaço e o desejo, entre o distanciamento e a intimidade. Desde Game of Thrones, é uma atriz excepcional. Misteriosa, sedutora e elegante, aqui surge mais simples e igualmente potente no drama.  Como também dito pela diretora, "esta é uma história sobre alguém quase enlouquecendo. Porque toda interação humana é íntima demais para ela. Você pode sentir esse barulho" (*). Com efeito, Carine von Houten faz uma personagem inquieta e contraditória. 










E é exatamente a contradição de Nicoline e Idris que traz outra questão poderosamente desconfortável: Quem está manipulando quem? Ambos entram no game! Chega a ter momentos bem irritantes e fora de si. É um jogo onde há atração e repulsa, mas também os dois têm similaridades que os aproximam na esfera do passado danoso. Embora não dito tão visualmente, Nicoline foi e é abusada pela mãe, portanto, a violência sexual é um ponto de intersecção na vida dos dois. Esse histórico de violação deixa os dois personagens bastante vulneráveis, logo, na história ocorre uma atração perigosa entre eles.





Instinto é um filme difícil de assistir, contem gatilhos para pessoas que já sofreram alguma violência sexual ou relação abusiva. No geral, o seu diferencial é  perceber que Nicoline não deve ser julgada por essa paixão. Muitas mulheres já se apaixonaram por seus inimigos, e sair desse círculo vicioso é bastante complexo. O campo da paixão, da intimidade, do poder e do desejo é fortemente minado.






Fotos: uma cortesia Reprodução filme via assessoria da A2 Filmes.

Trechos da entrevista, uma cortesia press book do filme por A2filmes, fonte e créditos: Entrevista realizada por Ronald Rovers, para o site De FILM KRANT, na ocasião do lançamento de INSTINTO no Nederlands Film Festival, em setembro de 2019. Tradução e edição de André Cavallini. Fonte: https://filmkrant.nl/interview/halina-reijn-instinct/

Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Um curta metragem  visceral, vi...






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Um curta metragem  visceral, violento e pessimista resume "Passion Gap", filme produzido pela África do Sul, escrito por Jason Donald e Matt Portman. Relacionando o passado e o presente de violências sofridas por Elani (Marguerite Van Eeden), o curta enfoca um fragmento da vida da jovem no qual ela tem um relacionamento tóxico com o traficante Sunday (Aaron Jacobs). O curta abre espaço de debate e reflexão sobre a violência de gênero, sonhos despedaçados pelo crime  e por relacionamentos abusivos e más escolhas.



Juntos há 1 ano, Elani vê em Sunday uma esperança de sair da decadente vida  no submundo de Cape Town e se empenha em manter o humor do namorado sob controle. Sunday tem um ego gigante e instável e deseja alcançar uma posição de destaque no mundo do tráfico.  Ao lado do amigo Mikey (Shuraigh Meyer), outro tão desequilibrado quanto ele, o casal percorre uma noite inteira durante a qual precisam realizar negócios e ter um boa relação com a organização para qual trabalham. Nesta noturna jornada, o curta mostra desilusões, fracassos e agressões que reproduzem os mesmos padrões de violência que a jovem experiencia no bairro e na família.





Passion  Gap tem um doloroso retrato para as mulheres quando se observa o desespero e o auto-engano de Elani. Na verdade, por falta de melhor opção, má escolha e carência, ela reproduz um padrão que acontece com algumas jovens que se envolvem com criminosos e outros bad boys: ela acredita que terá ganhos, afeto, respeito e mudança de vida. É bem provável que Elani saiba que não chegará a lugar algum com uma pessoa tão tóxica como Sunday, um homem que não a respeita nem mesmo em uma balada e que a trata como uma vagabunda. Pelas suas expressões no filme, ela sabe do fracasso e decadência que isto representa, ainda assim , seu desejo de sair desta triste realidade é maior.



O título do curta se refere à "lacuna da paixão", que são quando os dentes da frente são extraídos e dizem que, sem eles, beijos e sexo oral são mais prazerosos. Na narrativa, essa expressão deixa mais claro a objetificação do corpo feminino, a violência contra a vontade da mulher, o desejo masculino de ter prazer com mulheres que têm o passion gap


A relação abusiva entre Elani e Sunday é disfarçada como uma frágil ilusão. Ele diz a ela que ela é a "garota número 1", ela o chama de "amor" e tenta motivá-lo.  São pequenos fragmentos de falas que são comuns no cotidiano dos relacionamentos tóxicos. A qualquer momento, essa relação pode implodir como uma bomba relógio. Assim, fica mais claro que as lacunas da paixão não são preenchidas nem pelo prazer e nem pelo amor mútuo, mas pela violência contra o outro. As lacunas permanecem como espaços vazios sem qualquer afeto.





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