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Um soco no estômago do começo ao fim!
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Já ouviu a frase "Envelhecer é uma merda?". Concordar ou não com essa afirmativa depende do ponto de vista de cada um. Envelhecer é um presente se você está bem consigo mesmo(a) e o movimento natural de diferentes ciclos, amadurecimento e evolução e tem condições de ter uma envelhecimento com prevenção à saúde, bem estar, conforto e qualidade de vida. Ter longevidade com um estilo saudável e vívido e um senso de autorrealização é raro, mas não é impossível. Por outro lado, envelhecer em uma sociedade como a nossa guarda em si uma crueldade com o outro, quando observamos que as pessoas não respeitam quem envelhece, principalmente quando valorizam demasiadamente a juventude física em um mundo cada vez mais obsessivo com a beleza e as intervenções de natureza estética.
Com essa base temática, um dos melhores lançamentos do Cinema em 2024 apresenta um terror com crítica social que escancara a monstruosidade dos padrões estéticos e de uso de substâncias para imposição da beleza e juventude feminina. Lançado pela Imagem Filmes em parceria com a MUBI e direção da cineasta Francesa Coralie Fargeat, A Substância (The Substance, 2024) traz Demi Moore no papel de Elizabeth Sparkle, estrela de fama em Hollywood por anos que, após atingir maior maturidade, é descartada pelo executivo da indústria, o asqueroso Harvey (Dennis Quaid). Bastante impactada pela rejeição e tomada por contínua solidão, ela é atraída pela Substância, uma droga que propõe um rejuvenescimento rápido, oferecendo uma solução intrigante e sedutora: uma melhor versão de si mesma.
O que é uma melhor versão de si mesma? Apenas cada um pode escolher a sua. A melhor versão para algumas mulheres é ter um corpo padrão, esteticamente atraente, ainda que a mente esteja vazia. Para outras, alcançar a melhor versão de si mesma é evoluir espiritualmente com propósito coletivo e compromisso social, já outras preferem o equilíbrio entre o bem estar e a saúde do corpo e da mente. Considerando essas escolhas que não devem ser perdidas de vista no mundo real, o roteiro do filme é muito bem elaborado. Ele faz o público refletir por meio da espiral obsessiva e destrutiva de Elizabeth Sparkle: uma mulher deve ceder à pressão social de ser bela e jovem ou ela pode buscar resultados de médio e longo prazo e cuidar da sua saúde mental como principal alicerce?
Fatalmente, Elizabeth escolhe o caminho mais fácil: a droga e o imediatismo. Escolhe ser Sue (Margaret Qualley), no auge de sua juventude e perfeição estética. Ao usar A Substância, Elizabeth alterna seus momentos como Sue, estando nesta troca a dinâmica de destruição da personagem com uma combinação de terror e ficção científica que gera cenas agonizantes e monstruosas. É impactante ver a sua queda cada vez mais violenta, uma mutilação do corpo físico e da alma.
Com a excelente direção de Coralie e interpretações críveis e intensas de Demi e Margaret, a narrativa apresenta referências audiovisuais do horror como a decadência psicológica e física, a metamorfose dos corpos, a agonia visual da destruição humana, a glutonaria e o espetáculo sanguinário. Com todas essas virtudes em uma verdadeira aula de Body Horror, um dos subgêneros e estéticas do Horror Contemporâneo, merecidamente, o filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2024.
Embora apresente uma duração mais longa, o roteiro não se perde, tanto em clímax com em desfecho, porque há um conflito psicológico na personagem de Demi Moore que extrapola a aniquilação física. Diz respeito ao aspecto mais importante do filme: a obsessão e a solidão como mistura angustiante de que ela não conseguirá se livrar de Sue. Sua versão jovem quimicamente induzida é o sonho e a realização. Como Sue, ela é desejada e amada, famosa e em evolução. Essas emoções são compreensíveis porque toda mulher quer ser amada e valorizada. A diferença aqui é a dose e o quanto cada mulher está disposta a sacrificar a sua própria sanidade, seu corpo e saúde.
Infelizmente, com a sociedade líquida e de aparências na contemporaneidade povoada por influenciadoras digitais que vendem um engajamento baseado em escolhas estéticas duvidosas, de culto exacerbado ao corpo e esvaziamento mental, com certeza, Elizabeth Sparkle não é a única que se sente mal na própria pele. Sob essa perspectiva, o filme faz um grande serviço à sociedade porque quem deve controlar nosso corpo é o nosso cérebro. Se induzimos nossa mente ao uso exagerado de substâncias e intervenções estéticas, em algum momento, a conta alta irá chegar e não será apenas uma conta monetária, mas uma conta que trará doença e/ou morte. Tendo em vista uma abordagem realista após assistir a essa ficção, a saúde mental deve estar em dia.
Ao fim, A Substância traz um sentimento de compaixão por Elizabeth Sparkle se cada espectador olhar profundamente a jornada dramática com todo o sofrimento provocado por sua obsessão e as faltas que a destruíram. Se há uma indústria que não tem pena de ninguém, essa indústria se chama Hollywood. Desde os tempos áureos do Cinema, grandes mulheres com suas belezas estonteantes já foram descartadas por grandes executivos, pelo simples fato de terem envelhecido e se tornado "esteticamente e comercialmente desinteressantes".
A questão do etarismo na indústria é real e complexa e permeia não apenas Hollywood mas todo o mercado de trabalho; desta forma, a mulher luta continuamente contra o machismo estrutural e as pressões de diversas naturezas que a considera um pedaço de carne comercial que deve ser atraente, bonita, sorridente e submissa. Isso não deve ser esquecido ao observar que a sociedade também é culpada pelas imposições estéticas e o culto à juventude.
Fotos cedidas gentilmente pela Imagem filmes para divulgação da crítica para Madame Lumière, imprensa credenciada
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