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  Primeira animação do diretor Michel Hazanavicius narra conto sobre perda e sobrevivência durante o Holocausto Lançamento de 17 de Abril. D...

 



Primeira animação do diretor Michel Hazanavicius narra conto sobre perda e sobrevivência durante o Holocausto


Lançamento de 17 de Abril. Distribuição #ParisFilmes



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 




Animações voltadas para um público adulto ainda são pouco vistos no circuito nacional de exibição de filmes tendo em vista que é um campo cinematográfico de natureza mais artística e independente que, normalmente, encontra espaço em salas menores e festivais de Cinema de Animação como Annecy (França), Cartoon Movie (Europa), Anima Mundi (Brasil), entre outros. A depender da visibilidade e influência do cineasta, o filme tem mais possibilidades de alcançar uma divulgação mais notória. É o caso de A mais preciosa das cargas (La Plus Précieuse des Marchandises, 2024), primeira animação de Michel Hazanavicius, diretor do premiado O Artista, vendedor do Oscar em 2012.












Adaptado do conto de Jean-Claude Grumberg e exibido no Festival de Cannes 2024, a animação narra a história de um humilde lenhador e sua esposa que lutam contra a pobreza durante a guerra. Desprovidos de qualquer conforto diante do horror e vivenciando a fome e a solidão em uma áspera floresta, nem a companhia um do outro é suportável e os conflitos surgem com rispidez. Certo dia, a mulher encontra uma bebê abandonada próxima aos trilhos de um trem e que foi friamente jogada de um dos vagões. Com gratidão e esperança, ela resolve adotá-la mas encontra no marido uma forte resistência. A partir daí, esse encontro é marcado por altos e baixos, da violência à resiliência, passando pelo amor, morte e superação.











O pano de fundo histórico utilizado nessa adaptação é o Holocausto com uma narrativa mais linear e melancólica que apresenta camadas emocionais de crueldade, aceitação, arrependimento e auto perdão, dessa forma, o diretor manipula algumas emoções para que o público sinta que essa é uma história dramática de encontros e desencontros, com um toque de fantasia que leva os personagens a cruzarem seus caminhos em algum momento. Como o campo é ficcional e literário, o tom sentimental da animação poderá ser percebida como genuína ou forçada, a depender do espectador, considerando as escolhas do cineasta.












Nessa experiência bem particular com uma animação inédita de um diretor que não é experiente nessa técnica, a recepção do longa enquanto Arte visual é positiva, levando em conta que há um estilo de desenho bem conectado aos horrores da guerra, sua beleza artística é notável. Personagens expressivamente tristes, raivosos, desconfiados e/ou amargurados expressam essa legitimidade do sofrimento e da dor. O cansaço físico e mental, o abandono, a desunião e o luto em uma guerra que não poupa nem uma criança é dilacerante, além do mais a melancolia do ambiente, do clima, das pessoas e dos acontecimentos cria um mundo sombrio e pessimista no qual os personagens não têm escapatória a não ser esperar por um futuro incerto.











Nesse contexto, o fator histórico pesa consideravelmente na abordagem da narrativa, assim como o elemento moral. O Holocausto deixou inúmeros órfãos e pais apartados de seus(suas) filhos(as) que, ou eram separados nos trens de deportação ou nas filas dos campos de concentração, assim, a animação oferece espaço para reflexão acerca da moralidade: abandonar uma criança na linha do trem poderia lhe trazer esperança de viver ou foi um ato de crueldade que anteciparia um triste fim? Pela escolha da direção, ainda muito apoiada e dependente do uso da trilha sonora de Alexandre Desplat, a necessidade de cavar emoções sobressaiu a reflexão moral em determinados planos.





Ainda assim, apesar do diretor ter optado por uma obra mais sentimental, o longa é uma bela animação com efeito dramático e denso que conecta passado, presente e futuro. Em seu desfecho, é impossível não pensar nas famílias afetadas pelo Holocausto. Permanece a memória daqueles que foram separados e tiveram uma continuidade da vida e daqueles que foram isolados e se encontraram com a perda ou a morte. Além dessa compaixão pela dor do outro, na essência, fica a reflexão de que a carga mais preciosa é o grande tesouro da obra. A carga simboliza essa resistência por amor à vida, liberdade e esperança. Ela traz a chance de um recomeço, de uma nova história com sobrevivente(s).





(3,5)



Imagens do filme para divulgação da crítica.

Produção inédita da Warner Bros Animation traz os queridos amigos Gaguinho e Patolino em uma aventura para salvar o planeta Lançamento de 24...



Produção inédita da Warner Bros Animation traz os queridos amigos Gaguinho e Patolino em uma aventura para salvar o planeta

Lançamento de 24 de Abril. Distribuição #ParisFilmes



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


Gaguinho (Porky Pig) e Patolino (Daffy Duck) são personagens icônicos que fizeram parte da infância de gerações e ao longo dos anos vivenciaram aventuras no  icônico desenho Looney Tunes.  Na década de 30, Gaguinho surgiu como um personagem gracioso, tímido e com gagueira e se estabeleceu como uma porquinho gentil e autêntico para o grande público. Em outra via mais caótica, Patolino surgiu em 1937, dois anos após a criação de Gaguinho e apresentou uma personalidade mais hiperativa e corajosa, com uma originalidade acima da média e ganhando um carater mais voltado para si, com um perfil de validação. O equilíbrio foi reunir os dois que, com dinâmicas pessoais muito distintas, se complementam e firmam uma amizade especial.












Após surgirem no primeiro longa juntos em 2003, "Looney Tunes: De volta à ação, esse ano eles reaparecem em uma produção inédita da Warner Bros Animation e distribuição da Paris Filmes, Looney Tunes - O filme: O dia que a terra explodiu, com maior protagonismo em uma missão destemida e caótica: salvar o planeta da ambição de um alienígena lunático que utiliza chicletes manipulados para dominar as pessoas. Desacreditados após serem desligados de diversos empregos e sob o risco de perder seu lar, Gaguinho e Patolino unem forças para enfrentar esse mal.










Inicialmente, o longa-metragem mostra um cotidiano comum aos heróis, apresentando como cada um reage a diferentes circunstâncias e espelhando suas personalidades. Na roteirização e diferente dos desenhos anteriores, eles já não estão mais vivendo sozinhos, mas são criados juntos. Tal adaptação os conecta como verdadeiros amigos e irmãos, fortalecendo esse elo emocional. O começo diz muito sobre os valores que os unem pois a possível perda do seu lar os força a buscar oportunidades de trabalho. 










Após muitas frustrações laborais, eles encontram trabalho em uma fábrica de chicletes e são confrontados por uma ameaça alienígena, a partir daí são colocados em situações inusitadas, que misturam os gêneros comédia, aventura e horror em sua dinâmica narrativa e efeitos visuais. Esses desdobramentos representam um excelente acerto da história, tendo em vista que, ao serem desligados de vários trabalhos, a dimensão de não pertencimento ou de fracasso poderia ter tomado conta dos dois, porém, de personagens comuns, eles se tornam super heróis corajosos e empáticos sem freios para buscar soluções. 




Essa característica de utilidade dos personagens é sensacional e evolui a narrativa a medida de que lhes dão um senso de propósito e de valorização. Gaguinho e Patolino já não são os apenas atrapalhados que nenhum chefe suporta manter no trabalho, mas amigos que estão dispostos a lidar com problemas que trarão o bem à humanidade. Sendo assim, muitas das soluções são criadas por eles de forma inventiva e rápida, elevando seu valor à uma inteligência natural e intuitiva com uma boa dose de maluquice sadia, além da parceria com a personagem feminina, a porquinha Petunia, crush do Gaguinho.











Essa magia da animação somada ao carisma dos personagens que, ora se divertem com suas ações frenéticas, ora choram com a possibilidade das coisas não darem certo os humaniza e os conecta com o público. Ao fim, além dos ganhos com uma animação bem dinâmica e criativa, percebe-se que o que importa é a amizade, o estar junto e feliz na própria casa. Nesse contexto, o lar não é apenas a estrutura física que eles correm o risco de perder, mas o lar é a Terra, a morada de todos nós.




(3,5)






Imagens do filme para divulgação da crítica.

  #MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra De 21 de Outubro a 03 de Novembro Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogue...

 




#MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra



De 21 de Outubro a 03 de Novembro




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Fãs do cartunista Angeli e apreciadores de Animações terão a oportunidade de dar muitas gargalhadas com o multifacetado Bob Cuspe - Nós não gostamos de gente (Bob Spit, we do not like People, 2021), merecidamente vencedor  do Prêmio Contrechamp no Festival de Annecy e presente na Mostra Brasil e Competição de Novos Realizadores na 45ª Mostra SP. Idealizado e dirigido por Cesar Cabral, a Animação é o primeiro-longa metragem do diretor que é um leal entusiasta da obra de Angeli, tendo realizado curtas como Dossiê Rê Bordosa e a Série de TV Angeli The Killer.







O diretor Cesar Cabral, em produção da Coala Filmes: Animação espetacular com equipe, idem. Distribuição da Vitrine Filmes




Hilário e genial, a animação é mais voltada para o público jovem maduro e adulto por utilizar um dos personagens mais icônicos e polêmicos na cultura de comics Brasileiros dos anos 80. Bob Cuspe (Milhem Cortaz) é um velho punk que usa óculos escuros, jaqueta preta e piercings e não tem problema algum em falar palavrões e mostrar gestos obscenos com as mãos. Ele é a representação de uma resistência. Angeli criou personagens ácidos e cômicos, com uma linguagem autêntica e crítica.












Muito bem apoiado por uma excepcional coesão entre direção de Arte (Daniel Bruson e Olyntho Tahara), fotografia (Alziro Barbosa) e montagem (Eva Rudolph), a Animação cria um mundo fantástico, brincando com as fronteiras metalinguísticas entre gêneros (comédia, road-movie, documentário e animação em stop motion) e os limites entre a criação, criador e o processo criativo.  










Um incrível trabalho de design em variadas dimensões: personagens, roteiro, stop motion, pesquisa documental, storyboards, entre outros, que se destaca por um equilíbrio entre  as diversas áreas da composição fílmica; assim, além dos mencionados, o desenho de som (Daniel Turini e Henrique Chiurciu) e a trilha sonora (André Abujamra e Márcio Nigro) asseguram uma imersão completa na experiência, com o benefício de muito saudosismo ao som de Sonífera Ilha e Cabeça Dinossauro do Titãs.





A narrativa tem a genialidade de criar um documentário animado dentro da animação no qual, em uma crise existencial, Angeli concede entrevistas sobre sua trajetória, estilo pessoal, obra e personagens e tem a liberdade de gravar pensamentos, ideias e relatos. A sua  companheira Carol (Carolina Guaycuru) participa ativamente da história ao dividir depoimentos sobre a vida e obra do autor, sempre de maneira espontânea e sincera. Além da amiga de longa data, cartunista e chargista, Laerte, cuja composição animada é perfeitamente deslumbrante, trazendo o bom humor e gentileza que são tão únicos na artista.






Em paralelo, em um outro mundo ficcional, Bob Cuspe vive em um deserto pós-apocalíptico, um tipo de purgatório na mente do cartunista, onde é perseguido por monstruosos mini Elton Johns que desejam matá-lo. De forma hilariante, os mini astros do pop parecem fofinhos, mas depois se transformam em personagens de horror. Acompanhando Bob Cuspe em busca do seu criador estão os irmãos Kowalski (Paulo Miklos), em uma viagem que aparecem outros personagens como Os Skrotinhos (Hugo Possolo), o guru Rhalah Rikota (André Abujamra) e o criador e editor da Circo Editorial, Toninho Mendes (Beto Hora).





A ideia de compor um encontro entre obra e criador é irreverente e rica em aspectos de linguagens na Animação, tendo em vista que movimenta Bob Cuspe em uma jornada dentro da mente do cartunista e como um potencial acerto de contas. Na trajetória de Angeli, ele era adepto a matar os personagens quando assim chegasse a hora. Bob Cuspe transgride essa profecia e leva o público para esse excitante e potente encontro, no qual outros personagens como MaDame L (Laerte) e Rê Bordosa (Grace Gianoukas) são desenvolvidos.










É uma história divertidíssima com aquele estilo porra-louca dos personagens de Angeli. Eles não têm papas na língua e não lhes falta autenticidade e muito menos originalidade. O fato de ter o cartunista falando abertamente com sua personalidade reclusa e sincerona agrega muito o peso documental de suas decisões acerca dos personagens e resgata sua forma de criação.










É uma fantástica obra animada que traz um frescor cinematográfico e um impressionante diálogo metalinguístico entre gêneros. A composição desses mundos em incrível stop motion, roteirização redonda de Cesar Cabral e Leandro Maciel e uma trilha sonora nostálgica transformam Bob Cuspe em uma viagem ao passado, unindo o presente e novos rumos para a valorização e o reconhecimento da Animação Brasileira.









Fotos, uma cortesia 45ª Mostra para divulgação do filme.

  #AnimaçãoBrasileira #Streaming #DisneyPlus #Infância #Adolescência Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specia...

 



#AnimaçãoBrasileira #Streaming #DisneyPlus #Infância #Adolescência



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação






Uma obra audiovisual para o Cinema e/ou TV continuamente oportuniza distintas experiências e opiniões na sua recepção pelo público e um dos efeitos mais enriquecedores no acesso e democratização destes produtos culturais é a possibilidade de melhor apreciar e analisar a obra dentro do seu contexto de produção, podendo relacioná-la a outros contextos deste mercado. Nesta seara de obras que ganham cada dia mais espaço, a Animação tem sido destaque tanto em Festivais de Cinema como em plataformas de Streaming, entre elas a mais recente produção Brasileira da Tortuga Studios"O Pergaminho Vermelho" (The  Red Scroll, 2020) dirigida por Nelson Botter Jr, que concorre ao prêmio de melhor animação dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano.








Com ineditismo, o filme é a primeira animação Brasileira a estrear no catálogo da Disney Plus, feito que já representa uma excelente conquista para os produtores e realizadores nacionais, levando em conta que a plataforma tradicionalmente tem a força das produções Americanas, além da demanda e exigência por emplacar conteúdos de blockbusters ou fidelização de personagens e super heróis  da Disney e Marvel. É claro que, neste cenário, a Disney tem buscado valorizar produções Latino-Americanas para atrair público mas também como uma necessidade crescente de estar alinhada à diversidade dos mercados internacionais e, por consequência, compreender e estar aberta a novas narrativas para diferentes públicos.








A história é sobre a mítica jornada de amadurecimento de Nina (Marina Sirabello), uma adolescente de 13 anos que está naquela fase complexa de transição entre a infância e a puberdade. Dócil, comunicativa e praticante de skate, Nina ainda tem um jeito de criança e encontra-se em um natural ciclo de mudanças com todas as dúvidas, inseguranças e descobertas que ele traz. Com constantes pesadelos, certo dia, ela é transportada para o mundo de Tellurian, no qual encontra figuras semelhantes à mitologia e novos amigos como Idril (Any Gabrielly) e Victor (Viny Takahashi). Ela tem que enfrentar o Lorde Dark (Nelson Machado), o Senhor dos Pesadelos, para recuperar o pergaminho roubado, defender a Terra Telluriana e voltar a ter bons sonhos em seu mundo real.




"- Queríamos abordar o mundo da imaginação das crianças, o motorzinho que impulsiona todas as criações e fantasias infantis, sempre tão livres de amarras e limites. Para isso, imaginamos uma aventura em um mundo onírico, que servisse de representação para tudo isso, nosso inconsciente coletivo, como uma Alice no País das Maravilhas. " - Fala do diretor




"O Pergaminho Vermelho" vem de encontro a apresentar animações que não reproduzam as grandes produções Disney e a valorizar outras formas regionais de realizar filmes, incluindo algo que é muito específico para o público infanto-juvenil em termos de linguagem, que é a sua identidade e capacidade de se conectar com histórias que englobam o universal e o local. Diante do apresentado pelo diretor, em parceria com Fernando Alonso, Keka Reis e Leo Lousada, o roteiro demonstra a busca por uma identidade infanto-juvenil que concilia o amadurecimento de Nina com sua eterna criança, podendo ser um filme muito adequado a crianças menores na faixa de 5 a 8 anos e bem compreendido por jovens que estão entre 12 e 13 anos. 










Em determinados eventos e diálogos, o longa é bastante infantil na fértil imaginação que é comum à infância, como por exemplo, na forma de falar de Wupa (Marcelo Palermo), o bicho-preguiça de pelúcia que se assemelha à voz de uma criança pequena; por outro lado, o roteiro traz um frescor contemporâneo ao colocar elementos de aventura que trazem à memória produções da cultura pop como Senhor dos Anéis e Harry Potter, e personagens que remetem a natureza e ao Folclore Brasileiro como os Sacis. Assim, o filme caminha de um polo ao outro: entre o global e o regional, entre a maturidade e o pueril, entre o real e a fantasia.





Para um filme que levou 10 anos para ser realizado, o mérito é digno de aplausos e  visualizações no streaming, afinal haja superação.  Ademais os desafios cotidianos recorrentes na Animação, a cronologia de 1 década de produção é uma legítima evidência do resiliente esforço dos realizadores para viabilizá-lo.  É compreensível tanto tempo considerando que não é fácil fazer Cinema no Brasil, principalmente o de Animação. Faltam recursos financeiros para tantos bons profissionais que se esforçam todos os dias para produzir um filme, logo, quando se analisa "O Pergaminho Vermelho", deve-se observar o contexto da produção. Foram 10 anos em um país no qual a área Cultural é continuamente ameaçada ou pouco incentivada, portanto cabe prestigiá-la no que ela tem de mais especial, amoroso e Brasileiro.









Certamente, é notável que o longa tem aspectos que poderiam melhorar e que demonstram mais uma oportunidade de lapidação do que propriamente falhas, entre os quais, o texto, no qual os diálogos nem sempre são fluídos e dão continuidade ao aproveitamento dos conflitos e aventuras. Neste sentido, em algumas cenas, Nina se vê em um cenário onírico e atrativo e alguma fala ou ação interessante deixa de ser oportunizada. É como notar algumas lacunas nas interações que, independente da imaginação da criança e do amadurecimento da jovem, poderiam ter sido preenchidas para gerar mais conexão e engajamento com a história. 





O filme funciona melhor quando tenta mostrar os conflitos internos da personagem, mas ainda assim, foram poucos momentos dando a impressão de que esses conflitos não conseguiram ser desenvolvidos em toda sua potencialidade. No geral, o roteiro se aproxima mais da linguagem das crianças, priorizando a aventura. Apesar de ser uma Animação para toda a família, as crianças se divertirão mais com o acesso a esse streaming por conta da leveza e doçura da história. 




Como pontos favoráveis, além da Animação ser visualmente competente e criativa com elementos híbridos e referências culturais, a história é divertida e os personagens são próximos e cativantes, especialmente Nina e Wupa, seu fiel companheiro. Ela, empática e corajosa. Ele, engraçado e comilão. Essa graciosidade tem tudo a ver com a infância, mesmo porque está relacionada a criar fantasias que são bem espontâneas da criança. A maioria delas acredita que seus bichinhos de pelúcia e demais brinquedos conversam e se aventuram com elas em mundos imaginativos. Nina e Wupa representam o afeto e a diversão presentes na infância e que não podem ser perdidos no amadurecimento; então é um prazer conhecê-los e não deixar de sonhar.









Fotos e citação do diretor, uma cortesia assessoria do filme.

Vicenta integra a programação do Festival É tudo Verdade 2021 Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista ...



Vicenta integra a programação do Festival É tudo Verdade 2021




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Realizado pelo documentarista Argentino Darío Doria, Vicenta (2020) surpreende pelo híbrido processo de criação em torno da controversa relação entre abuso sexual e aborto.  Desenvolvido como uma fusão de Cinema de Animação com narrativa documental, o longa apresenta um caso real da Sra. Vicenta e sua filha, cidadãs contra o Estado Argentino durante uma longa batalha judicial.



O caso verídico torna-se mais delicado quando relatam que a filha de Sra. Vicenta tem deficiência intelectual severa e incapacitante e foi abusada sexualmente pelo tio. Partindo dessa trágica ocorrência, independente de quem defende ou não o aborto, por razões óbvias e humanizadas,  caberia à família decidir sobre a interrupção da gravidez ou não.  A família está destroçada por uma violência sexual e doméstica praticada por uma pessoa próxima e revela que a menor não teria condições de criar uma criança. Essa decisão seria ainda mais destrutiva e traumatizante para todos, porém, para o Estado Argentino, o aborto legal não poderia ser liberado.



"Não foi o ódio nem a indignação  que me levou a fazer esse filme. Se trabalhei mais de cinco anos nele, foi por admiração pela luta gigantesca  e vitoriosa dela. Ele quer ser uma celebração, um pequeno tributo a essa grande mulher."



O desenvolvimento do documentário é de um cuidado ímpar e diferenciado. Ele não se aparta dos registros documentais como visibilidade do caso nas esferas familiar, midiática e jurídica intercalada no storytelling que, muito bem escrito, revela detalhes relevantes que vão desde a lentidão da lei até a participação de mulheres no apoio à Sra. Vicenta. Mas, é visível que a qualidade da produção advém de um corajoso híbrido trabalho com a Animação, que se constitui com uma criação minuciosa de bonecos em stop motion.








Vicenta é uma produção fora da curva. Se aproxima bastante do bom Cinema animado em virtudes visuais, mas os registros históricos preservam o documentário. Os personagens representados em bonecos não se movem e, nesse sentido, o poder da palavra narrada tem uma importância chave para a compreensão da realidade. No efeito de locução de voz, o documentário inclina-se mais à rigidez e racionalidade jornalística na contação, sem muita emoção e ênfase de diálogos na narração, assim, aproxima-se de uma narração documental que traz o elemento de suspense. Pouco a pouco, revela os desdobramentos.



Por outro lado, a técnica empregada na criação dos bonecos mantem uma forte autoria do artista, da direção de Arte e da intenção dramática do documentário. Os olhos dos bonecos estão continuamente entristecidos, observadores e pensativos.  Esse olhar distante e sério é uma marca registrada como o que denuncia, testemunha e observa esse drama, inconformado com a procrastinação e descaso do Estado. Um olhar cansado que espera pela justiça.




Vicenta se situa como uma obra necessária para reflexão sobre a liberalidade de aborto para casos de estupro de vulneráveis e de maiores, assim como uma forma de conhecer um caso real que se arrastou pelos tribunais por mais de 8 anos, no qual o Estado foi negligente em diferentes momentos e adotou uma postura rígida e antiprofissional, dessa forma, não dando a devida importância às especificidades da história e à aplicação da justiça.

 





  Lançamento Blockbuster @WarnerBrosPictures Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Seg...

 



Lançamento Blockbuster @WarnerBrosPictures





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação





Seguindo uma lógica contemporânea, fantasiosa e emotiva, o novo blockbuster distribuído pela Warner, Convenção das Bruxas (The Witches, 2020) dirigido por Robert Zemeckis,  apresenta uma terna história que conquista mais pela graciosidade entre neto e vovó do que propriamente pela atuação das bruxas. Neste sentido, o lançamento perde em efeito sombrio, mas ganha em uma diversão leve e agradável para toda a família.










Baseado no livro de Roald Dahl, o roteiro tem uma participação especial: Guillermo del Toro que, mais uma vez, vem a somar na linha tênue entre a realidade e a fantasia, o sombrio e o luminoso. Ao lado do cineasta e de Kenya Barris (da série"Black-ish"), Del Toro agregou um toque contemporâneo, principalmente, sob a perspectiva de uma fantasia que percorre o imaginário coletivo e ficcional, entrelaçando as fronteiras entre os afetos e o horror. Zemeckis consolida sua habilidade em contar histórias imaginativas nas quais o mundo adulto e infanto-juvenil se cruzam com perigo, aventura e diversão.






“eu acho que Convenção das Bruxas é um dos melhores livros do autor britânico, se não o melhor, e é por isso que eu estava muito interessado no projeto. As bruxas são diabolicamente deliciosas. Elas são más, não se arrependem jamais. Elas querem livrar o mundo das crianças. Me parece uma ideia maravilhosamente subversiva para uma história infantil”, diz Zemeckis.










A história é centrada na tradição literária de que as bruxas são más e não gostam de crianças. Se a criançada está vulnerável, estas bruxas têm mais forças para atacá-las, oferecer-lhes doces envenenados e transformá-las em ratinhos. A partir deste aspecto narrativo que alimenta o medo, o roteiro mostra o personagem central, o garoto herói (Jahzir Bruno) que ao ficar órfão após o acidente dos pais, vai morar com a vovó (Octavia Spencer). Desconfiada de que há bruxas por perto que podem colocar a segurança do neto em risco, a vovó se hospeda em um hotel. O que eles não imaginavam era que estavam no local da Convenção das Bruxas.






Como a Grande Rainha Bruxa, Anne Hathaway performa o charme, o exagero e a crueldade em pessoa. Nos últimos anos, a atriz tem mostrado atuações bastante expressivas no excesso, tanto na dimensão física/ corporal como na caricatura de personagens excêntricos  como em "Alice através do espelho" e "As trapaceiras", o que lhe caem bem. Como bruxa, sua atuação não tem um resultado cômico extraordinário porque está no limite do exagero (já esperado para o personagem), porém, ela encarna muito bem a combinação da elegância com o grotesco e cria uma dúbia e estranha tensão entre a mulher poderosa e má e a bruxa infeliz e ridícula.











Há algo bem solar no longa resultante do talento do cineasta e equipe, além do mérito de um roteiro objetivo que, ainda, mantem a ternura e a leveza para o público infantil. Mesmo em meio à frieza das bruxas, além dos ratinhos divertidos e simpático, o sol (e a estrela) deste live-action é Octavia Spencer. Que atriz fascinante! Ela reproduz a gentileza e proteção da família. Inteiramente, ela se estabelece como a personificação da gentileza humana com as crianças e os animais. Não é uma senhora "careta", pelo contrário, apresenta uma transparência no ser e no agir que combina bem com a delicadeza da relação neto-avó, entre o cuidado e a severidade. 






“Ela tem que preparar seu neto para a vida, porque sabe que a vida não será fácil para ele dali para frente. Então, ela lhe oferece um amor às vezes rígido, mas também um ombro macio quando ele precisa de um. E eu gosto desse equilíbrio. Gosto de como Kenya e Bob criaram a personagem da Vovó. Ela é engraçada, amorosa, mas também é severa quando precisa. É uma força da natureza”, explica a atriz.






Descendente de uma tradição espirituosa, a vovó é a anciã sábia e contadora de histórias para o neto. Ela é a senhora que preserva o conhecimento e o passa adiante, que sabe sobre os antigos rituais de cura, é a ancestral das ervas medicinais, das poções e remédios caseiros. Logo, a atriz reproduz esse lado afetivo da força do bem, das vovós que representam o alicerce do amor,  dialogam com os netinhos e entram nas brincadeiras. Mesmo quando o bem não pode vencer o mal através de uma magia imediata, é a humanidade da vovó que possibilita ajudar o neto e os outros ratinhos.










Sob a perspectiva da literatura infanto-juvenil e da tradição narrativa, uma boa decisão a respeito do roteiro é a transmissão da contação de histórias ao longo dos séculos e a importância das memórias afetivas e fantasiosas da infância, principalmente, na relação da criança com outros contadores de histórias como uma mãe, um pai, avós ou professor(a). Neste sentido, a história é narrada por Chris Rock, que interpreta o garoto herói já maduro. Ele conta a experiência da infância, algo que foi vivenciado com sua vovó. Apesar dos perigos vividos, a imaginação da criança mistura realidade com ficção e resgata os momentos de afetos e aventuras com os familiares e amigos.





Com um roteiro que não pesa na experiência, Convenção das Bruxas é mais uma vitória contra as bruxas más. É um divertido levante das crianças, vovós e ratinhos contra as megeras do que propriamente um filme protagonizado por bruxas. Nisto está sua melhor performance!









Fotos e citações do diretor e de Octavia Spencer, via press book para imprensa credenciada Warner Bros Pictures. Reprodução. 

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