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  Lispectorante (2024): Entre o Sonho e a Realidade Feminina Em cartaz no  IMS Paulista - SP #Drama #CinemaBrasileiro #Literatura #ClariceLi...

Lispectorante (2024)

 


Lispectorante (2024): Entre o Sonho e a Realidade Feminina


Em cartaz no IMS Paulista - SP


#Drama #CinemaBrasileiro #Literatura #ClariceLispector


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 



Como espectadores, há momentos em que filmes, apesar de ideias promissoras, atores talentosos e uma equipe dedicada, nos deixam com a sensação de que algo na execução se perdeu. Isso acontece, por vezes, quando tentativas oníricas não conseguem se ancorar nas experiências práticas da vida. É uma sensação que Lispectorante (2024) pode evocar. O drama, dirigido por Renata Pinheiro, traz a mais do que especial Marcélia Cartaxo no papel de Gloria Hartman, uma mulher de meia-idade.








Distribuído pela Embaúba Filmes, o longa da diretora pernambucana oferece uma perspectiva feminina sobre o amadurecimento. Ele aborda os desafios da longevidade: a solidão, a carreira e a morte. Nesse contexto, a figura de Clarice Lispector e o casarão em seu nome inspiram a protagonista a viver dias que oscilam entre a esperança dos sonhos e a dura realidade da mulher pós-40 no Brasil.



Gloria Hartman, uma referência ao livro A Paixão Segundo G.H., é um mergulho literário na alma feminina que precisa lidar com as interrogações de um cotidiano ordinário e nem sempre palatável. Com a experiência de Marcela Cartaxo, Gloria demonstra uma humildade e gentileza que tocam o público. No entanto, ao percebemos sua realidade — divorciada, com uma carreira de altos e baixos e dificuldades financeiras —, os sonhos se revelam uma fuga necessária.








Nesse sentido, Lispectorante pode ser percebido como um "shot onírico" que se estende por 93 minutos. Apesar das ótimas ideias, sua execução nem sempre é acessível a todos. A materialização dos planos se mostra itinerante, dificultando que o filme alcance a inventividade e o lirismo de Clarice Lispector de forma mais palpável, o que gera opiniões divididas. Em vez de explorar as referências lispectorianas com uma lógica mais clara, o drama ecoa mais nas camadas visuais de um escapismo — possivelmente uma crise de meia-idade —, com planos que se inclinam mais ao caótico do que ao afetivo, nem sempre promovendo uma catarse emocional efetiva.




Em qualquer adaptação literária, é relevante considerar uma dose de mímesis ou uma releitura clássica que permita ao público conectar-se com as referências. Aqui, há boas intenções partindo das ruínas do casarão de Clarice em Recife. Contudo, a mera presença dessas ruínas, que marcam o tempo com o qual uma mulher como Gloria não consegue lidar, pode não ser suficiente para construir uma narrativa que realmente envolva o público geral.








De forma ampla, Lispectorante utiliza a obra de Clarice Lispector mais como uma ambientação onírica e uma inspiração subjetiva. Isso pode fazer com que alguns espectadores se identifiquem, enquanto outros podem sentir que a presença da escritora foi menos evidente do que o esperado. É fundamental que a arte, mesmo ao explorar a subjetividade, conecte-se com o que é mais humano: a compreensão do ser. Em Lispectorante, a experimentação parece preponderar sobre a memória, e no caso de Clarice Lispector, a memória é questão de identidade — um aspecto que poderia ter sido mais explorado no filme.







Fotos cedidas pela assessoria do filme para crítica do longa.

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