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Babygirl (2024)

 





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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



 O Risco do Desejo: Babygirl e a Subversão do Poder na Crise da CEO 

 




Babygirl estreou no Festival de Veneza 2024, onde Nicole Kidman venceu o prêmio de Melhor Atriz. O filme percorreu outros festivais internacionais e consolidou seu prestígio ao ser indicado ao Oscar 2025, com destaque para a performance de Kidman, que foi celebrada como um dos grandes retornos do ano.





Halina Reijn, como diretora mulher, dá continuidade à sua seara temática sobre o desejo feminino. Em Instinto (2019), ela já havia explorado a tensão entre razão e tesão, com uma terapeuta atraída por um agressor sexual. Em Babygirl, ela amplia esse olhar para o universo corporativo e conjugal, reafirmando sua assinatura autoral sobre o erotismo psicológico.










Babygirl percorre os núcleos familiar e corporativo de Romy (Nicole Kidman), uma CEO de alto escalão casada com Jacob (Antonio Banderas), que se vê cada vez mais atraída por Samuel (Harris Dickinson), o novo estagiário da empresa. Desde De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick, Nicole Kidman já havia plantado uma semente de fetiche na imaginação do público. Em Babygirl, ela retorna à cena do erotismo neste thriller e se torna o principal chamariz pela ousadia de se submeter a um filme que explora o desejo e a subversão do poder.





A poderosa Romy se revela entediada e insatisfeita no casamento, e a trama constrói uma tensão sexual clara: ela busca ser controlada intimamente, e o objeto desse fetiche é, curiosamente, seu estagiário. Ainda que pouco plausível no mundo corporativo, onde hierarquias mais próximas costumam ser o foco de relações de risco, o filme exige essa licença poética. Dito isso, embarcamos nessa jornada erótica impulsionados pela força dramática de Kidman e Harris Dickinson, que sustentam a intenção psicológica de cada cena.










A insatisfação de Romy começa na intimidade: ela é uma mulher que não consegue alcançar o orgasmo com o marido amoroso, mas previsível. Seu desejo clama por novidade; o tédio é tão evidente que ela recorre até à pornografia para preencher o vazio, uma cena que corre o risco de soar como clichê, embora revele a profundidade do vazio emocional da personagem. A partir daí, a hierarquia de poder é subvertida. A atração que ela sente por Samuel é uma química que atiça sua submissão. Ele, por sua vez, é ousado para um estagiário e entra no jogo com provocações que realçam a insegurança de Romy, levando-a a se comportar de forma até mais imatura do que o seu cargo sugere. O fetiche se torna uma bomba-relógio onde a dominação é a peça-chave. Afinal, quem está no poder muitas vezes anseia por momentos de obediência.





A tensão sexual é ancorada no fetiche leve de dominação e submissão (BDSM). Embora falte à direção de Halina Reijn uma sofisticação maior para construir um erotismo mais profundo e tensionado, ela é salva pelo profissionalismo da dupla central. Harris Dickinson encarna um jovem dominador, destemido e racional, que não se rende à intensidade apaixonada, obrigando Romy a esperar por suas ordens. Essa dinâmica a coloca exatamente onde ela deseja: na novidade, na libertação, na submissão que neutraliza suas inseguranças. Em contraponto, o marido, Jacob (Antonio Banderas), serve apenas como coadjuvante da normalidade. Ele jamais satisfará a necessidade de perversão e dominação da esposa, pois tal ímpeto não está em sua natureza. A carga erótica intencional, afinal, exige um parceiro que se conecte a desejos específicos, uma verdadeira loteria. É neste prisma que Jacob e Samuel se configuram como os opostos: o risco e o tédio.





Visualmente, o filme é mais bonito nos quartos de intimidade entre Romy e Samuel. A paleta quente, com tons dourados e gabinetes sofisticados, dá um toque de erotismo elegante. A trilha sonora é envolvente nos momentos intimistas, com escolhas certeiras como George Michael e INXS, que reforçam o clima de tensão e entrega. Nessas cenas, Samuel se torna mais sensual e é quem destrava Romy, que por incrível que pareça, carrega sérios problemas de autoestima.






Tecnicamente, a diretora opta por ir na contramão dos thrillers eróticos clássicos de Adrian Lyne, predominantes nos anos 90. Reijn dá ao filme uma roupagem contemporânea, focada na psicologia do desejo, mais mental do que físico. Por essa razão, as cenas corporais e viscerais são raras, com os atores explorando o erotismo através de silêncios, olhares, comandos e hesitações. Embora a escolha não seja incorreta, ela rouba o engajamento voyeurista mais carnal e quebra o ritmo, refletindo-se na experiência geral do filme. O envolvimento emocional é interrompido por um constante vai e vem, e os momentos de libertação de Romy só ganham mais corpo na última parte do longa. 





Comandos como “ajoelhe-se, faça isso”, embora coerentes com o fetiche, podem reduzir o erotismo à mecânica da dominação. O erotismo verdadeiro é descoberta e entrega, mas Babygirl tende a obter o efeito do suspense que hesita em mergulhar inteiramente no prazer. A exceção está em uma sequência mais divertida e intimista, que finalmente permite à protagonista experimentar o desejo com leveza e conexão.










Por mais irônico que seja, a submissão com o amante deixa Romy mais relaxada com o marido, contanto que sua vida dupla se mantenha em segredo. Essa é a questão relevante: o ideal seria ela se satisfazer plenamente com Jacob e manter a fidelidade, mas, como o desejo não é possível com ele, sua vida se fragmenta entre a culpa e o prazer, o corporativo e o doméstico, a prisão e a libertação. Quando essa linha de demarcação entre a empresa e o lar é cruzada, os problemas e as descobertas existenciais se tornam inevitáveis. 





A verdade é que, para qualquer mulher, é delicado encontrar amor e desejo em um único homem que preencha suas necessidades complexas, especialmente nas relações líquidas da modernidade, onde o prazer feminino ainda é frequentemente negligenciado ou temido. Quando a mulher é financeiramente independente e detém poder e privilégios, o cenário se torna ainda mais complexo. Com essa perspectiva, a personagem de Nicole Kidman carrega um peso terrível que não a faz uma mulher feliz. A grande reflexão que Babygirl nos deixa é: seria possível ter amor, prazer e sucesso ao mesmo tempo?








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