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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Wicked - parte 1: A Maldição da Cor e a Redefinição do Bem na Fábula Política de Oz
No Wicked – Parte 1 não é apenas um sucesso de bilheteria global; é um fenômeno que redefiniu a temporada de premiações. A ambiciosa adaptação de Jon M. Chu conquistou o prêmio de Maior Realização Cinematográfica e de Bilheteria no Globo de Ouro 2025 e garantiu 10 indicações ao Oscar, incluindo categorias de destaque como Melhor Filme e Melhor Atriz para a aclamada Cynthia Erivo. Ao quebrar recordes e conquistar prestígio tanto da crítica quanto da Academia, a narrativa revisionista do universo de Oz se consolida como um marco cultural, elevando ainda mais a expectativa em torno de sua análise.
A continuação, Wicked – Parte 2, tem estreia confirmada nos cinemas brasileiros para 20 de novembro de 2025, prometendo concluir a saga com ainda mais grandiosidade e emoção. A Parte 1 prepara esse terreno ao deixar em aberto os dilemas éticos e afetivos que definem o destino de Oz, especialmente no arco de Elphaba.
É um deleite quando um musical desafia a tradição maniqueísta do bem e do mal, infundindo representatividade e densidade dramática na tela grande. Wicked – Parte 1 insere-se no cânone de O Mágico de Oz justamente ao questionar a história oficial, recentrando a narrativa na jornada da futura Bruxa Má do Oeste. No centro dessa revolução moral está Elphaba (Cynthia Erivo), que, por ter a pele verde, ser desprezada pelo pai e estar fora do padrão da ambiciosa e privilegiada Glinda (Ariana Grande), é vítima de bullying e perseguição. Sua essência, no entanto, é de uma ética pessoal e coletiva inabalável. Com essa história inspiradora, o conceito de “bem” e “mal” é drasticamente reconfigurado: aqueles tidos como “bons”, Glinda, o Mágico de Oz e outros, revelam facetas de maldade e manipulação. Assim, Wicked nos convence de que Elphaba é a verdadeira luz e a bússola moral de Oz.
A força motriz do filme reside na potência vocal e na química complexa da dupla central. Cynthia Erivo (Elphaba) e Ariana Grande (Glinda) funcionam tão bem por serem estrelas de primeira grandeza na música e na interpretação teatral. Erivo entrega a alma do filme: é uma atriz de grande força de caráter e tão expressiva que seus olhos estabelecem um diálogo direto com o público. Sua personagem vive na tensão constante entre a genialidade/força e a vulnerabilidade/rejeição externa, mas Erivo lhe confere uma natureza empática e profundamente humanizada.
Ariana Grande, por outro lado, está confortável em sua popularidade, mas revela-se essencialmente uma garota frágil e insegura, ciente de que não possui o talento inato de Elphaba. Essa inveja sutil a leva a certas atitudes, inclusive a uma aproximação que revela intenções ambíguas. O musical, com suas vozes poderosas (muitas cantadas ao vivo), mantém a energia de uma amizade que poderia ser plena, mas que é constantemente ameaçada pelas perspectivas e personalidades antagônicas. O que mais incomoda é a percepção de que, apesar de toda a doçura e delicadeza da atriz, Glinda nunca se revela plenamente confiável.
Jon M. Chu, que já havia se destacado em Podres de Ricos ao levantar questões de preconceito social na elite, se confirma como uma ótima escolha para a direção de Wicked. Ele transforma o musical em um espetáculo cinematográfico que celebra a diversidade, um tema crucial para a narrativa: o elenco abraça a pluralidade de forma consciente e simbólica, começando pela atriz negra Cynthia Erivo, a atriz malaia/chinesa Michelle Yeoh (Madame Morrible) e a inclusão da irmã de Elphaba, Nessarose (vivida por Marissa Bode), em um papel de pessoa com deficiência (cadeirante). O elenco de coadjuvantes e figurantes é propositalmente amplo e diverso, o que é fascinante. O diretor explora cenários oníricos e mágicos, com um uso de cores que se comunica diretamente com a dualidade central: o rosa vibrante de Glinda versus o verde único de Elphaba.
A presença de uma escola de feitiçaria evoca um universo próprio, com ecos da estrutura de Harry Potter, e cumpre a função de incluir a magia que, para a sociedade em geral, é vista como algo subversivo ou demoníaco. Assim, o filme constrói uma arquitetura de representatividade que se impõe como um dos pilares do filme e, ironicamente, ressalta a exclusão de Elphaba. Ela é, no geral, sozinha; nem mesmo as aproximações de Glinda e Madame Morrible são integralmente confiáveis. Apenas Fiyero (Jonathan Bailey) consegue vê-la e acolhê-la sem o julgamento inerente à cor de sua pele.
Com relação à narrativa, a duração da Parte 1 é, de fato, extensa, sendo mais recomendada para quem já aprecia o gênero musical em sua totalidade. Parte dos números musicais são mais ambientais e relacionais como: festas, apresentações escolares e interações cotidianas, concedendo um espaço mais amplo para os coadjuvantes. Contudo, os momentos mais emocionantes envolvem a amizade entre Elphaba e Glinda, justamente nos instantes em que elas se aproximam e se diferenciam. Sem dúvidas, “Defying Gravity” é o momento de ápice emocional e funciona perfeitamente como espetáculo cinematográfico, alinhando o arco dramático entre o sonho (expectativa) e o pesadelo (realidade) de Elphaba na Cidade Esmeralda.
Wicked – Parte 1 ganhou admiradores, emocionou fãs e também encontrou recepção crítica dividida, o que valida a diversidade de fruição e recepção da obra por cada espectador. Enquanto parte da crítica se manteve cautelosa, o público abraçou a obra com entusiasmo, especialmente pela força simbólica de Elphaba como figura de resistência. A transposição do palco para o cinema preserva a essência do musical original, mas Jon M. Chu imprime uma linguagem visual que amplia o alcance emocional da história.
Como espetáculo visual, é muito bonito, e como narrativa política em um universo musical cinematográfico, resulta em um belo e emocionante blockbuster. Exatamente porque o cerne do filme fala sobre valores inegociáveis: respeito pela diferença, defesa da liberdade de ser e de escolher a verdade, e a busca pela integridade. Ao abordar a destruição dos animais, o preconceito contra quem é diferente (a pele verde de Elphaba) e a manipulação de pessoas que só desejam poder e ambição, Wicked – Parte 1 é muito mais do que um musical: é uma fábula política de aceitação e ética coletiva. Elphaba é uma personagem espetacular que não se vende ao sistema contaminado, mas que buscará seus sonhos com a consciência da verdade. Ela tem a clarividência de uma bruxa honesta e que honra o seu talento para o bem.




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