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   #Comédia #Família #Diversidade #Streaming #CinemaFrancês Uma das novidades da  A2 Filmes Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crít...

 





 #Comédia #Família #Diversidade #Streaming #CinemaFrancês



Uma das novidades da A2 Filmes






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
 





Não há mais nenhuma dúvida de que o Cinema Francês funciona bem na Cinefilia Brasileira, especialmente com o crescimento do Festival Varilux nos últimos anos e a presença massiva de comédias que se popularizaram na França. Entre elas, Que mal eu fiz a Deus?, dirigido por Philippe de Chauveron, conquistou apreciadores em todo o mundo ao trazer a diversidade familiar alinhada à realidade étnico-social da França. Como ponto de intersecção global, o diretor buscou tratar de temas universais como aceitação, tolerância, respeito, empatia e resolução de conflitos.









Devido ao sucesso do primeiro filme, o que não era uma franquia, tornou-se uma. O projeto ganhou peso com a colaboração dos atores no feedback do próprio roteiro e o sentido da França como lar. Considerando a perspectiva de que a França é mais multiétnica do que Francesa na atual conjuntura, mas ainda assim, conservando o bom humor Francês para a abordagem de uma complexa agenda de diversidade, pode-se dizer que o segundo filme buscou trazer novas problemáticas no seio da família de Claude e Marie Verneuil. O resultado fica dentro da média, porém inferior ao timing cômico, carisma e "novidade" do primeiro filme.




Desta vez, Claude (Christian Clavier) tem que lidar com as decisões matrimoniais de seus genros que desejam deixar a França, logo, a figura do sogro provinciano, invasivo e divertido mantém o alicerce humorístico do pai de família que fará de tudo para preservar todos por perto. Neste sentido, o experiente Clavier tem um papel importante ao lado da esposa (Chantal Lauby) com tiradas cômicas, às vezes tolas para sua senioridade como pais, porém carregadas com um misto de doçura, ingenuidade e desespero, assim, fazendo o contraponto com os diferentes estilos, origens  e ambições dos genros.









A família Koffi representa um núcleo familiar que se relaciona com os Verneuil como novo parentesco, agrega uma distinta camada de humor ao trazer o ator Pascal Nzonzi, outro sogro que, dadas suas raízes Africanas, mantem uma identidade pessoal estrangeira e única, mas também se aproxima de Claude ao representar o patriarca engraçado que quer controlar situações e as crias que não necessariamente serão controladas.




A continuação tende a agradar como um leve entretenimento se o espectador se desvencilhar da primeira parte e permanecer sem expectativas. Em grande parte do filme, Chauveron em parceria com Guy Laurent ainda forçam bastante diálogos para obter risos como retorno e as situações não são significativas o suficiente para sustentar um bom engajamento com a história. De fato, embora a comédia apresente as falhas dos personagens como um ativo irresistível do gênero e o elenco seja bem entrosado, a parte 2 busca criar situações muito mais ligadas à diversidade e ao valor da França para os estrangeiros.  A defasagem é que os diálogos e experiências não são convincentes e envolventes para um filme com tantos personagens.








No mais, o centro da comédia ainda é bastante focado nos personagens masculinos e muito pouco nos femininos, representando ainda uma lacuna narrativa em uma França na qual a diversidade de gênero é igualmente constante. Ainda que, neste filme, há abertura para abordar os afetos da mulher lésbica e da mulher da terceira idade, isso torna-se apenas mais um detalhe coadjuvante para a aceitação e não insere as perspectivas do elenco feminino de maneira equilibrada e participativa. Nesse aspecto, os roteiristas perderam a oportunidade de equilibrar os diferentes papeis de gênero.





  Disponível no Belas Artes a la Carte #Drama #Família #Violência #Crime Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e sp...

 




Disponível no Belas Artes a la Carte


#Drama #Família #Violência #Crime


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



É um prazer assistir a um filme clássico de Sidney Lumet, em especial quando no elenco há atores incríveis como Sean Connery, Dustin Hoffman e Matthew  Broderick. Em Negócio de Família (Family Business, 1989), o diretor coloca essas três gerações : avô, pai e neto como criminosos em diferentes estágios de preservação desse "status" de família que, entre um golpe e outro, se metem em problemas na justiça.





Não é especificamente um longa sobre gângsteres, porém carrega em si uma estrutura dramática que reúne os familiares com fortes vínculos afetivos que ultrapassam suas escolhas pelo crime. É como manter a tradição da transgressão mais motivados pela conexão que os une do que propriamente pelo dinheiro e adrenalina. Nesse sentido, Sean Connery no papel de Jessie é o patriarca e o audacioso chefão que tem o afeto do neto Adam (Matthew Broderick) mas tem problemas mal resolvidos com o filho  Vito (Dustin Hoffman).











Certo dia, Adam recebe uma oferta para roubar um plasma em uma empresa de tecnologia e ganhar 1 milhão de dólares. A ideia desperta o interesse de Jessie, bem influenciado pelo neto disposto a aventurar-se. Eles convencem Vito a invadir o laboratório e as consequências são danosas a ponto de despertar as emoções dos familiares em distintos aspectos, afetando as relações interpessoais.





É perceptível que Sidney Lumet dirige o filme em uma combinação de experiente apuro cinematográfico e uma leveza narrativa, assim não se trata de um longa dramático e violento como muitos de sua época. Está mais próximo de um drama cômico. Na verdade, o trio se aproxima e distancia, se alia e briga, mas no fundo, o amor e sangue os une. Essa força familiar masculina de que o negócio da família deve ser preservado, mesmo que este business seja uma violação da lei. O sucesso do negócio implica proteger as gerações dentro do possível. 





No geral, é uma família de golpistas com diferentes níveis de experiência. O neto acaba sendo um iniciado e se dando mal, fazendo com que sacrifícios sejam feitos em prol de seu bem-estar. A relação entre Jessie e Vito tende a ter altos e baixos nessa jornada, assim, abrindo e mantendo mágoas que não são superadas.










Assistir a Sidney Lumet é uma experiência cinematográfica prazeirosa partindo da premissa de que ele é um ótimo orquestrador de planos e movimentos de câmeras. Planos amplos e médios que localizam o espectador com todos os detalhes da cena, com a ampliação dos espaços e profundidade de campo é um bel-prazer para os admiradores de decupagem. Nesse aspecto, o filme é um colírio de linguagem cinematográfica através de suas sutilezas na direção. Por outro lado, esse não é o melhor filme do diretor exatamente porque o roteiro deixa a desejar e se arrisca pouco a desenvolver os conflitos e transição entre cenas.  A todo momento, o filme transmite que é o trio que o sustenta e não a narrativa.




Ainda assim, vale testemunhar este encontro de 3 gerações do Cinema. É uma produção que não tem o status de obra prima, fato que é positivo pois propicia uma experiência mais espontânea e exploradora para o público. E o melhor: Sidney Lumet é um cineasta que sabe fazer cinema até nas pequenas joias. 






  Imperdíveis dicas  Streaming  MaDame Lumière  Lançamento @A2Filmes direto nas plataformas de Streaming/home vídeo Por  Cristiane Costa ,  ...

 



Imperdíveis dicas Streaming MaDame Lumière 

Lançamento @A2Filmes direto nas plataformas de Streaming/home vídeo


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação


A distribuidora A2 filmes lançou diretamente em streaming o novo filme de Éric Besnard, "Espírito de Família" (L'Esprit de Famille, 2020), que escreveu esse roteiro  baseado em sua própria história de vida. Ao perder o pai, o cineasta Jacques Besnard, ele teve que lidar com a ressignificação do luto, em como lidar com a falta do pai, a sensação de espanto com a perda e a necessidade da presença dele. Foi exatamente a partir dessa sublimação do luto e a onipresença de Jacques que Éric Besnard, um roteirista inquieto, escreveu essa história. 




"Os mortos se dissolvem na eternidade. Os que ficam devem decidir dialogar com eles em espírito. Mas, no cinema, meio de todas as licenças à realidade, você pode encontrar o impossível."

(Éric Besnard)


Não se trata de um filme de fantasmas, como diz o diretor, porém a presença física e espiritual do pai, interpretado pelo ator François Berléand, é constante em boa parte da projeção, em especial, nos diálogos com o filho Alexandre (Guillaume de Tonquédec), em função dessa ideia de diálogo com os mortos que, na maioria das vezes, ocorre no luto; uma das reações é tentar ao máximo recordar do ente falecido e estabelecer um tipo de conexão que precisa resgatar,  continuar e/ou ter as conversas e experiências que não necessariamente foram vividas. 






Nesse aspecto, a história funciona como uma comédia dramática tipicamente Francesa. Além do pai e filho, em cena estão alguns conhecidos atores nesse tipo de cinematografia como Josiane Balasko (a mãe Marguerite), Isabelle Carré (a mulher de Alexandre), Jérémy Lopez, da Comédie Française (Vincent, irmão de Alexandre) e Marie- Julie Baup (Sandrine). Os familiares se reúnem, e de certa forma, resolvem alguns problemas de relacionamento e/ou despertam-se para uma melhor convivência familiar. 


A escolha da casa, na baía de Quiberon ao sul da Bretanha, proporciona momentos mais bonitos e solares para a experiência coletiva com a família, assim como mostra a tradição de uma casa antiga na qual Marguerite agora se vê sozinha e sem condições de sustentar. Executar planos próximos à praia, embora pareça clichê demais, era necessário nessa narrativa que já aborda o luto. De alguma forma, aproximar o homem à natureza, o filho ao pai, o filho à família e o filho a si mesmo são dimensões percebidas no longa e fortalece a união familiar. Como diz Éric Besnard: "Coloque uma pessoa de frente para o mar... Não há necessidade de acrescentar mais: tudo diz sobre a possível comunhão entre o homem e a natureza"


É uma narrativa bem humorada, sincera e imaginativa pois, é perceptível a mistura de melancolia, mau humor e desespero em Alexandre, um pouco de culpa natural, já que nem sempre os filhos aproveitam o máximo de seus pais quando vivos. Sendo assim, é possível perceber a fragilidade do protagonista e suas dificuldades de estabelecer essa intimidade com seus familiares. Em uma das cenas, ele não dá muita atenção à Jacques, além dos silêncios e relações mais rasas com um ou outro membro da família, como por exemplo, sua mulher Roxane e irmão Vincent.


Aos poucos, ele vai se soltando e se reconectando com esses novos momentos, e seu pai onipresente é responsável por essa "provocação" e amadurecimento. Como corrobora o diretor, esse diálogo já se deu no próprio ato de criação da história: "Pode parecer loucura, mas quando parei na frente do meu computador, imediatamente senti como se estivesse escrevendo com quatro mãos. Parecia senti-lo por cima do meu ombro. Eu estava escrevendo tentando fazê-lo sorrir. Procurando um tom que o agradasse. Essa história de conversa entre um pai falecido e seu filho é um pouco um abismo do que eu senti, para não dizer que vivi."






Alexandre não é um personagem fácil de assistir e nem de agradar, assim com o ator  Guillaume de Tonquédec tem um perfil mais sério e pouco carismático, porém uma boa escolha na decisão de tê-lo nesse papel está relacionada ao fato de ele ser crível e comum. Há características interessantes no ator em cena: Ele não é vaidoso, nem fake e muito menos caricato. No início do longa, seu personagem é passivo e apático, vivendo no seu mundo particular de escritor e fechado em si.


Entretanto, um dos pontos de destaque do roteiro é permitir que ele,  à medida que estabelece essa conexão espiritual com seu pai, vai expondo sua alteridade e subjetividade gradualmente e convivendo melhor com sua família. O ator consegue transmitir essas nuances sutis de seu temperamento assim como mudança comportamental, sem exagerar, afinal, ainda está sublimando o luto. Nesse ponto, o filme foi salvo por essa verossimilhança e honestidade.






É interessante perceber que uma obra sobre família não precisa necessariamente ser perfeita já que grande parte das famílias são disfuncionais, ela precisa ser verossímil e estabelecer outros pontos de vista que sejam palpáveis  nos sentimentos, ou seja, ainda que tenha o encanto imaginário, o riso tragicômico e, algumas vezes, non sense do Cinema Francês, o filme deve falar algumas verdades sobre os relacionamentos, ou pelo menos, sublimar ou transcender emoções tão humanas, frágeis e comuns. 


"Espírito de família" tem esse "espírito". Coloca o personagem em uma posição de fragilidade. Ao estabelecer essa ponte, o roteirista e diretor confia na plateia como se fosse parte da família.









Fotos do filme  e falas do diretor: uma cortesia Distribuidora A2Filmes. 

Vencedor Oscar 2020: melhor ator coadjuvante para Brad Pitt  e melhor design de produção  Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogue...




Vencedor Oscar 2020: melhor ator coadjuvante para Brad Pitt 
e melhor design de produção 


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Temos que reconhecer aqui que Era uma vez... Hollywood (Once upon a time... Hollywood, 2019), recente longa de Quentin Tarantino é uma fantástica viagem no tempo e uma genial homenagem à Americana indústria de TV e Cinema . Para essa jornada cômico dramática recheada de reviravoltas e boas doses de melancolia, humor ácido e violência gráfica, o diretor escalou dois dos melhores atores para essa recriação da Hollywood dos anos 60: Leonardo DiCaprio e Brad Pitt.  O primeiro acerto da produção começa por eles, acrescido por roteiro e direção muito sólidos que convergem o que Quentin Tarantino valoriza em seus trabalhos: conhecimento cinéfilo sobre o Cinema e a indústria, storytelling do seu próprio jeito e com forte metalinguagem e o violento e bem humorado de sua filmografia.








Assim como Pedro Almodóvar realiza em "Dor e Glória", Quentin Tarantino também faz um filme levemente melancólico que utiliza o tempo como protagonista da viagem narrativa. Esse elemento temporal tem muito a dizer sobre o diretor, o contexto e suas reflexões após longa carreira. Embora filmes bem distintos, são produções  de cineastas com estilos muito bem marcados e levam a entender como reflexivos de um crise criativa na qual cada diretor repensa sua trajetória e o Cinema. Felizmente, eles recuperam na tela muito de sua autoria cinematográfica, muito madura em escolhas na linguagem empregada, na qual esta dinâmica do tempo tem um papel fundamental na qualidade da obra. O resultado é impressionante e evidentemente belas homenagens ao Cinema e sua potência narrativa.



Também temos que observar e aplaudir essa dimensão temporal na prática. A edição é muito bem realizada ao longo de 160 minutos de projeção. É uma montagem extensa, porém bem projetada para uma experiência única ao espectador. A sensação é de ter realizado uma imersão na história, como se despregar do tempo cronológico real e entrar absurdamente no tempo da narrativa cinematográfica. A experiência se torna espetacular e só ressalta que  Quentin Tarantino realizou um dos melhores filmes de 2019 e merecidamente recebeu indicações no Oscar, Globo de Ouro e BAFTA 2020. Além da vitória de Brad Pitt nas três premiações como melhor ator coadjuvante, o longa ganhou melhor filme cômico ou musical e melhor roteiro no Globo de Ouro.


Não se pode esquecer de mencionar aqui que a recriação de Hollywood passa por vários detalhes da enciclopédia cinéfila que Quentin Tarantino representa, e são muito bem reinventados em cena pelo design de produção orquestrado por Barbara Ling , além do fiel diretor de fotografia Robert Richardson que já trabalhou com Tarantino em filmes anteriores. O Oscar à Ling só vem a reforçar a qualidade dessa recriação. 






No centro da narrativa, temos a dupla Rick Dalton(Leonardo diCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt) que, em uma relação mista de chefe x empregado e de amizade tem uma química incrível para a perspectiva cômico dramática da história, já que cada um vive uma crise pessoal e profissional, portanto, um alimenta o resto da autoestima e do ego do outro. Dalton é um ator cowboy de TV já em declínio e com altos e baixos e que busca renovação através do Cinema. Booth é um dublê experiente que representa a não valorização da classe, ocupando seu tempo em pequenos favores a Dalton, circular pela cidade, cuidar do próprio Rottweiler e o ócio. Ele é como um capataz, aparentemente tranquilo mas uma bomba relógio em situações críticas. Em umas sequências mais extraordinárias, Cliff Booth visita um rancho abandonado, surge como um cowboy estrangeiro e provoca o estranhamento e incomodo dos esquisitos do local, entre eles, a atriz Lena Dunham (da série Girls) que interpreta uma hippie sem teto.






A premiação de Brad Pitt é uma das mais justas da temporada em virtude de que a história é bem mais interessante com seu personagem coadjuvante. Pitt consegue dar uma dimensão bem autoral ao personagem, ao mesmo tempo, expressa um humor pseudo tranquilo  e uma lealdade excepcional a Dalton. É um cara natural, tipo um cowboy eficiente e desconfiado,  com o qual o espectador pode simpatizar facilmente mesmo que Booth não se esforce tanto para isso. Em várias cenas, esse personagem desconfia do que está à sua volta, dessa Hollywood aparentemente cool e glam, e com isso, ele passa a ser um coadjuvante chave para ver além da superfície do olhar. Brad Pitt demonstra bastante liberdade e espontaneidade nessa atuação, com um charme fora de série que é reforçado com toda a composição de figurino, maquiagem, design de produção e fotografia da época, que valoriza as nuances retrô e fashion.






Muito mais do que belos, loiros e talentosos, Brad Pitt e Leonardo DiCaprio funcionam bem juntos, tem uma parceria com toque de insanidade que, a qualquer momento, pode explodir em violência e descontrole emocional, além da admiração e bom humor de certas cenas.  Basta lembrar que Di Caprio fez muito bem o Jordan Belfort (de O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese) e Calvin Candie (de Django Livre, de Quentin Tarantino), além de Pitt ter arrasado como Aldo Raine em Bastardos Inglórios. Todos esses personagens passados são boas referências para reforçar como Dalton e Booth cairam como uma luva para os atores.








Além do excelente e premiado roteiro fazer a diferença,  Tarantino é um reconhecido roteirista de mão cheia. Nesse aspecto, ele acrescenta outras formas de recriar fatos ao  contextualizar essa história em uma época também macabra que entra em choque com o clima glamouroso de Hollywood. Assim,  o  público é levado à época dos crimes macabros de Charles Mason, elemento que oferece um estranho suspense à história em torno da presença da belíssima Sharon Tate (Margot Robie), assassinada na Drive Cielo. Tanto ela como Roman Polanski (Rafal Zawierucha) são vizinhos de Rick Dalton que considera um glamour se aproximar dessa "gente de cinema" que na ocasião não era tão de cinema assim. Tarantino consegue jogar bem com a narrativa cômico dramática que representa essa crise de Dalton  e que, essencialmente, é uma crise que muitos Hollywoodianos passaram e continuarão a passar.





Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Em comemoração aos 30 anos da distribu...



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Em comemoração aos 30 anos da distribuidora Imovision, uma das mais importantes no mercado audiovisual, o ator e diretor Francês Cédric Kahn foi um dos convidados e homenageados com a exibição de seu mais recente longa, Feliz Aniversário (Fête de Famille, 2019), filme coral de inspiração autobiográfica no qual o realizador coloca a visão sobre sua família. Com estreia nesta semana no Brasil, o filme conta com um elenco competente  Catherine Deneuve, Emmanuelle Bercot, Vincent Macaigne, Luàna Bajrami e o próprio diretor. A escolha por esta obra para o aniversário da Imovision é bem adequada pois reflete o engajamento e DNA da distribuidora em promover o Cinema independente autoral continuamente com filmes únicos e temáticas contemporâneas.





Feliz Aniversário é aquele tipo de filme cômico - dramático que muitas pessoas poderão se reconhecer nele a partir da  perspectiva de que todas as famílias, em menor ou maior grau, tem um nível de disfuncionalidade. Em um momento, todos estão rindo e aplaudindo uns aos outros, em outro momento, conflitos com desabafos, gritos e choros são manifestados, mudam a dinâmica do ambiente e das relações, além dos silêncios e sentimentos ocultos que agravam mais situações mal resolvidas. O roteiro e execução da obra são bem Franceses e o diretor assum que seu longa é tradicional, entretanto, trata-se de uma história que traz a universalidade das relações  familiares, considerando que não escolhemos quem somos família, temos que lidar com diferentes sujeitos com histórias, personalidades, temperamentos e crenças limitantes variadas.




Banner com cartaz do filme no Reserva Cultural em São Paulo.






Jean Thomas Bernardini, dono do Reserva Cultural e da Imovision, recebe o ator e diretor Cédric Kahn durante a Festa de 30 anos Imovision em São Paulo, realizada em 01 de Dezembro







Cédric Kahn falando para o público na exibição de seu filme na Festa de 30 anos Imovision

"foi preciso um percurso de 30 anos fazendo filmes para que ele ousasse se aproximar do filme retratando a própria família"


Inspirado pelo excepcional Festa de Família  (Festen, 1998) de Thomas Vinterberg, o filme número 1 do movimento Dogma 95, e também  pela direção de John Cassavettes, o pai do Cinema Independente, Cédric Kahn realiza uma boa articulação dos elementos subjetivos, físicos e técnicos para apresentar essa família Francesa que não se reconhece em seus problemas e comportamentos tóxicos. A história começa no aniversário da matriarca Andréa (Catherine Deneuve) na casa de campo. Não se trata de uma família burguesa abastada, mas mediana e falida, com a casa em ruínas, com dívidas e sem dinheiro. É uma família que não faz absolutamente nada para mudar essa situação, que não compartilha conquistas e nem planos, que explode em mentiras e verdades. A decisão por um filme coral foi bem pertinente para explorar as várias pessoas em cena com sutilezas, principalmente a intempestiva atuação de Emmanuelle Bercot como Claire, a filha que retorna dos Estados Unidos e apresenta intensos episódios de transtorno bipolar.





O propósito do diretor não foi explorar nenhum transtorno psiquiátrico, ainda que a personagem de Bercot seja mais "protagonista" e responsável pelas cenas mais emocionalmente vulneráveis e impactantes. Suas relações são imprevisíveis,  dinâmicas e autênticas, o que a torna um chamariz para o êxito do argumento e valoriza o estilo da atriz, que funciona bem em papéis que exteriorizam conflitos pessoais complexos. Na verdade, Cédric Kahn quis muito mais colocar o ponto de vista como ele enxerga sua família, neste sentido, entre uma das principais virtudes da direção está estabelecer um texto bem claro aos atores, dando-lhes também a liberdade de contribuir com os conflitos e questões comuns a qualquer indíviduo como a falta de dinheiro e de trabalho, as dúvidas e inseguranças sobre a carreira e casamento, a relação com o fracasso e o sucesso, a culpa, perdas e ausências, a maternidade, a doença e a morte. O diretor também traz a hipocrisia da sociedade no contato com negros, imigrantes e mulheres (de fora da família).




Com todos esses elementos, mesmo que seja um filme bastante autoral,  a direção e o roteiro dão conta de expor determinados conflitos que valem a pena ser ressaltados sob a perspectiva universal das relações humanas, como por exemplo:


A postura da matriarca (Catherine Deneuve) diante das brigas em pleno seu aniversário. Ela é aquela mãe, como muitas mães por aí, que evitam o confronto e "empurram a sujeira para baixo do tapete". É interessante notar que a atriz , como sempre sublime, mantém essa postura de forma impecável, elegante e acolhedora,  o que não significa que ela não sofra em silêncio e/ou esteja cansada dessa família, principalmente com tantas confusões em seu aniversário, o que não deixa de ser um desrepeito à sua pessoa.  


Outro personagem divertido, porém totalmente instável, perdido e fracassado é o de Vincent Macaigne. Ele traz  relações metalinguísticas para a obra que são relevantes para compreender a dinâmica em cena e as escolhas do diretor. Ao inserir a câmera em diferentes planos, ele é o aspirante à cineasta que, não sabe ao certo se tem essa aptidão e nem o que faz,  nem mesmo a família o considera um artista e/ou um visionário do audiovisual. Sua família ri na sua cara na mesa de jantar, e nem mesmo a namorada leva a sério uma menção a um potencial casamento, dessa forma, ele é uma piada que ajuda o público a (re)pensar a relação com a arte e com o fracasso. A surpresa é que ele não é tão divertido como parece, considerando que há alguns segredos e mentiras nessa história.






Cabe a Cédric Kahn o papel mais conservador, mas igualmente relevante. É aquele irmão um pouco melhor sucedido. Casado e com dois belos filhos pequenos, educados e amorosos. Ele representa o homem que, aos olhos da sociedade, é o estável, o responsável e o controlador da família, porém isso também é uma crítica ácida, já que ele e sua esposa não se tratam de forma apaixonada, não dialogam muito e quase não se olham como cúmplices e amantes; inclusive ela, representada pela atriz  Laetitia Colombani, também não recebe o devido respeito da família em cena.  O efeito de sua atuação coadjuvante é de dar pena da esposa, realmente uma mulher sem espaço expressivo mesmo já casada há anos.


A rainha do elenco é Emmanuelle Bercot, uma das melhores atrizes em dramas contemporâneos do Cinema Francês, com destaque para Polissia e Meu Rei, ambos dirigidos po Maïwenn. Está insanamente intensa e foi uma escolha bem acertada por ter um estilo bem visceral e exteriorizado de atuação.  É um personagem incômodo que desperta rejeição e piedade, unindo essas duas pontas de sentimentos. Há cenas que ela está odiável, como cobrar uma dívida familiar na hora da refeição e ofender sua mãe com fúria; em outra ela está dócil e disposta a reverter a relação problemática com a filha (Luàna Bajrami). Além disso, a presença dela traz um elemento de mistério que aos poucos se desdobra na narrativa. O espectador não sabe porque ela voltou dos EUA e o que aconteceu lá, o que ajuda a despertar o interesse por essa mulher e seus dramas.






Trata-se de um bom recorte narrativo para explorar as contradições familiares e os picos temperamentais e emocionais dos vários personagens que a compõem, assim, tem um efeito reflexivo que possibilita compreender porque a família é tão necessária, e também, desnecessária, por mais duro que seja ressignificar constantemente os afetos que realmente unem pessoas como pais, filhos, irmãos, e parentes em geral. Assim como amamos nossos familiares, eles tambêm são as pessoas mais capazes de despertar certos episódios de raiva, humilhação, culpa, fracasso e mágoas. 


Nesse aspecto, Festa  de aniversário é um microcosmo de uma visão sobre família que se encaixa perfeitamente bem à realidade de muitas. É um aniversário turbulento no qual não há nada a celebrar na superfície e na profundidade dramáticas das discussões, mas que  é possível rir e se divertir do quão humanos e vulneráveis somos no núcleo familiar ; ao mesmo tempo, tem momentos de calmaria que não deixam de atravessar críticas e um humor sarcástico a famílias disfuncionais que não se enxergam como também nocivas. Essa contradição faz parte da vida. Sempre o fará até mesmo nas "melhores famílias".








Fotos  Festa 30 anos  Imovision 01/12/2019 , por MaDame Lumiére
Citação do diretor. Em coletiva para convidados e público da Festa.
Fotos do filme, uma cortesia Imovision.


Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Estreia hoje, 25 de Julho, O Mistério...





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Estreia hoje, 25 de Julho, O Mistério de Henri Pick (Le Mystére de Henri Pick, 2019), um dos filmes de maior destaque no Festival Varilux de Cinema Francês 2019 e surpreendente nas bilheterias da França. O diretor e roteirista Rémi Bezançon ("Nosso Futuro") escreveu a adaptação com Vanessa Portal baseado no best-seller de David Foenkinos. 








A história que enfoca um mistério em torno de uma biblioteca de livros recusados foi atrativa por possibilitar uma investigação literária. Na adaptação, diferente da obra original que tinha vários personagens, os roteiristas optaram por desenvolver a do personagem de Jean-Michel Rouche, crítico litérario cético e imaginativo que assume o comando da pesquisa neste instigante mistério.








Nesta imperdível comédia dramática, com sua sólida experiência, competência e leveza,  o extraordinário ator Fabrice Luchini  interpreta o famoso crítico. Após a jovem e ambiciosa editora Daphne Desperto (Alice Isaaz) encontrar um manuscrito em uma biblioteca Bretã, na parte de obras recusadas pelas editoras, ela publica o romance que faz grande sucesso editorial. Seu autor, Henri Pick, um fabricante de pizza bretão, morreu há anos atrás e não tinha o hábito de escrever e ler nada complexo. A partir desta estranha evidência, Jean-Michel Rouche acredita que o romance não foi escrito por ele e, com a ajuda da filha de Henri, Joséphine Pick (Camille Cottin), começa a investigação para descobrir a verdadeira autoria.








O longa tem qualidades decisivas como comédia dramática a partir  de como o diretor articula e combina vários elementos na narrativa e sua execução de forma a dar um agradável tom de suspense e humor para o engajamento do público. A eficiência do filme se destaca também pelo seu ritmo.



Entre estes elementos, começamos com o cômico personagem de Fabrice Luchini, uma combinação de arrogância e inteligência com curiosidade e travessura. Ele é um crítico literário que tem um programa cultural na TV. Admirado por muitos, sua palavra como profissional tem reputação para o público literário e leitores(as). De um dia para o outro, com o sucesso meteórico de Henri Pick, Jean-Michel Rouche sofre uma inversão no seu cotidiano: passa a ser considerando louco e inconveniente por achar que a autoria do romance é uma farsa. Enquanto Henri Pick se eleva,  o crítico literário circunstancialmente cai. 



Seu personagem é determinado e tem certeza de que a autoria de Henri Pick é uma grande mentira, o que leva à uma investigação com motivações muito pessoais. Desta forma, o público está diante de uma atuação focada e crível de Fabrice Luchini, no qual o personagem é um detetive amador, um peculiar híbrido de homem travesso e sério, porém conhecido especialista em Literatura, demonstrando que alguma razão ele deve ter. É possível dar um crédito a este cético crítico literário, o que torna o filme bem mais divertido.



A narrativa é alimentada pela imaginação e obstinação de Jean-Michel Rouche que, em excelente parceria com o personagem de Camille Coutin, realizam uma investigação  envolvente e engraçada. Sua pesquisa literária é uma jornada viva dentro do filme, com isso, o espectador acompanha uma viagem pela Literatura e as paisagens magníficas da Bretanha. De certa forma, assistir a este filme é como entrar em um livro e ler a história em um lugar diferente e sublime bem longe da agitação cosmopolita.



O enfoque do roteiro é decisivo para esta qualidade ao colocar uma dupla de amadores como detetives, ou seja, pessoas comuns mas que são diferenciadas na expressão de suas ideias, críticas e questionamentos. Tanto Jean-Michel Rouche como Joséphine Rick têm personalidades marcantes e são personagens determinados e curiosos que buscam a verdade, mesmo com suas diferenças e conflitos. 



A investigação é pessoal em duas vias: Jean-Michel quer descobrir quem é o autor brilhante por trás do romance e provar que Henri Pick não era capaz de escrever uma linha extraordinária, Joséphine quer saber a verdade do porquê usaram o nome de seu pai; afinal, por mais doloroso que seja, nenhuma filha gostaria de ver o sucesso de um pai baseado em mentiras.








Igualmente como ponto forte, o roteiro traz o elemento da dúvida que todo o mistério provoca e, de forma inteligente, coloca o livro como o detonador das várias dúvidas e ações para a resolução do mistério."Quem é Henri Pick?" "Quem escreveu este romance brilhante?" Se não foi Henri Pick, por que o verdadeiro autor escolheu logo ele como autor?". Estas diversas dúvidas abrem outras janelas para perguntas levando o público  à dinâmica e tensa relação entre ficção e realidade.



Felizmente, o mistério em cena não tem um clima sufocante em função do cômico, do ritmo e da qualidade do elenco. O ritmo é essencial porque há um dinamismo na investigação que não pode parar e cair no desinteresse ou descrença do público.  Neste aspecto, o diretor foi bem sucedido ao conseguir alcançar um ritmo narrativo que é intrínseco ao gênero comédia e absolutamente necessário. Sem este timing, o filme seria um fracasso ou deixaria muito a desejar. Cabe considerar que este  bom ritmo acontece bem por causa da própria competência de Fabrice Luchini para a comédia, para o improviso. Tanto que ele improvisou em cena. Sendo ele um ator muito experiente com background do teatro, o papel de Jean-Michel lhe caiu como uma luva.




Bastidores:  o grande Luchini



O cenário da Península de Crozon é um personagem encantador que suaviza o ambiente da história e leva o público para outra "aura", bem coerente com a literatura, as pequenas bibliotecas e vilarejos em regiões distantes. As escolhas das locações  e cenários combinados com uma boa fotografia e direção de arte tornam este mistério visualmente mais degustativo. É como efetivamente visitar a Bretanha e sair a conhecer as histórias desta biblioteca estranha e perdida em um lugar tão bucólico e antigo. É possível imaginar os manuscritos empoeirados nas estantes, esquecidos com o tempo, de vozes que foram silenciadas por suas ideias excêntricas e comercialmente desinteressantes.




Ademais, outro aspecto que não deve ser desconsiderado na apreciação desta obra é a relação entre Literatura e mercado editorial. Em certo ponto da história, o espectador tem a possibilidade de observar a questão mercadológica do "marketing" para a publicação de um livro, sua relação com o autor da obra, a importância da autoria e o comportamento de alguns editores como Daphe. Com o personagem de Bastien Bouillon, namorado de Daphne, o público observa os desafios do jovem escritor e seu ingresso no universo literário. Todos estes aspectos são contemporâneos. Ainda que o filme seja imaginativo, eles possibilitam uma ponte entre ficção e realidade.





Rémi Bezançon e Fabrice Luchini : parceria que deu muito certo 



Rémi Bezançon avança como cineasta ao se lançar em uma combinação de gêneros que fogem à dinâmica de seus filmes anteriores, que foram mais introspectivos. Aqui ele realiza uma excelente orquestração ao deixar em evidência sua habilidade como diretor de atores, inclusive de atores experientes no Cinema Francês como a dupla de detetives (Luchini e Cottin), como também os mais jovens e emergentes como Alice Isaaz e Bastien Bouillon.




O próprio Luchini elogia o trabalho do diretor e o roteiro : "Ele  (Rémi) não quer dominar tudo. Seu outro grande talento está nos dando a sensação – o que é raro – de fazer o filme juntos. Desde o começo, senti que estávamos indo na mesma direção, ele e eu. Às vezes, o ponto de vista do diretor e do ator divergem. No caso do O MISTÉRIO DE HENRI PICK, fizemos o mesmo filme". 



E para o público, ele pôde dizer que o filme causará risos (e ele não está errado), o filme entretém bem: "tenho a intuição de que o filme vai causar um sorriso. Há suspense, humor, travessura. Eu odeio dizer isso, mas faz muito tempo desde que estive tão feliz em um set, eu espero que o público sinta isso. Porque, se o nosso trabalho é proporcionar-lhe prazer, experimentá-lo também nos permite transmiti-lo (...) Rémi concebeu uma fantasia feliz."



Com um roteiro bem escrito em torno de um mistério literário pelas belas paisagens bretãs, "O Mistério de Henri Pick" é indubitavelmente uma fantasia feliz e imperdível!



 (3,5)


Fotos e trechos da entrevista com Fabrice Luchini, uma cortesia da A2 filmes. Fonte: press book, O Mistério de Henri Pick, Rémi Bezançon

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