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Lançamento @A2Filmes direto nas plataformas de Streaming/home vídeo
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A distribuidora A2 filmes lançou diretamente em streaming o novo filme de Éric Besnard, "Espírito de Família" (L'Esprit de Famille, 2020), que escreveu esse roteiro baseado em sua própria história de vida. Ao perder o pai, o cineasta Jacques Besnard, ele teve que lidar com a ressignificação do luto, em como lidar com a falta do pai, a sensação de espanto com a perda e a necessidade da presença dele. Foi exatamente a partir dessa sublimação do luto e a onipresença de Jacques que Éric Besnard, um roteirista inquieto, escreveu essa história.
"Os mortos se dissolvem na eternidade. Os que ficam devem decidir dialogar com eles em espírito. Mas, no cinema, meio de todas as licenças à realidade, você pode encontrar o impossível."
(Éric Besnard)
Não se trata de um filme de fantasmas, como diz o diretor, porém a presença física e espiritual do pai, interpretado pelo ator François Berléand, é constante em boa parte da projeção, em especial, nos diálogos com o filho Alexandre (Guillaume de Tonquédec), em função dessa ideia de diálogo com os mortos que, na maioria das vezes, ocorre no luto; uma das reações é tentar ao máximo recordar do ente falecido e estabelecer um tipo de conexão que precisa resgatar, continuar e/ou ter as conversas e experiências que não necessariamente foram vividas.
Nesse aspecto, a história funciona como uma comédia dramática tipicamente Francesa. Além do pai e filho, em cena estão alguns conhecidos atores nesse tipo de cinematografia como Josiane Balasko (a mãe Marguerite), Isabelle Carré (a mulher de Alexandre), Jérémy Lopez, da Comédie Française (Vincent, irmão de Alexandre) e Marie- Julie Baup (Sandrine). Os familiares se reúnem, e de certa forma, resolvem alguns problemas de relacionamento e/ou despertam-se para uma melhor convivência familiar.
A escolha da casa, na baía de Quiberon ao sul da Bretanha, proporciona momentos mais bonitos e solares para a experiência coletiva com a família, assim como mostra a tradição de uma casa antiga na qual Marguerite agora se vê sozinha e sem condições de sustentar. Executar planos próximos à praia, embora pareça clichê demais, era necessário nessa narrativa que já aborda o luto. De alguma forma, aproximar o homem à natureza, o filho ao pai, o filho à família e o filho a si mesmo são dimensões percebidas no longa e fortalece a união familiar. Como diz Éric Besnard: "Coloque uma pessoa de frente para o mar... Não há necessidade de acrescentar mais: tudo diz sobre a possível comunhão entre o homem e a natureza"
É uma narrativa bem humorada, sincera e imaginativa pois, é perceptível a mistura de melancolia, mau humor e desespero em Alexandre, um pouco de culpa natural, já que nem sempre os filhos aproveitam o máximo de seus pais quando vivos. Sendo assim, é possível perceber a fragilidade do protagonista e suas dificuldades de estabelecer essa intimidade com seus familiares. Em uma das cenas, ele não dá muita atenção à Jacques, além dos silêncios e relações mais rasas com um ou outro membro da família, como por exemplo, sua mulher Roxane e irmão Vincent.
Aos poucos, ele vai se soltando e se reconectando com esses novos momentos, e seu pai onipresente é responsável por essa "provocação" e amadurecimento. Como corrobora o diretor, esse diálogo já se deu no próprio ato de criação da história: "Pode parecer loucura, mas quando parei na frente do meu computador, imediatamente senti como se estivesse escrevendo com quatro mãos. Parecia senti-lo por cima do meu ombro. Eu estava escrevendo tentando fazê-lo sorrir. Procurando um tom que o agradasse. Essa história de conversa entre um pai falecido e seu filho é um pouco um abismo do que eu senti, para não dizer que vivi."
Alexandre não é um personagem fácil de assistir e nem de agradar, assim com o ator Guillaume de Tonquédec tem um perfil mais sério e pouco carismático, porém uma boa escolha na decisão de tê-lo nesse papel está relacionada ao fato de ele ser crível e comum. Há características interessantes no ator em cena: Ele não é vaidoso, nem fake e muito menos caricato. No início do longa, seu personagem é passivo e apático, vivendo no seu mundo particular de escritor e fechado em si.
Entretanto, um dos pontos de destaque do roteiro é permitir que ele, à medida que estabelece essa conexão espiritual com seu pai, vai expondo sua alteridade e subjetividade gradualmente e convivendo melhor com sua família. O ator consegue transmitir essas nuances sutis de seu temperamento assim como mudança comportamental, sem exagerar, afinal, ainda está sublimando o luto. Nesse ponto, o filme foi salvo por essa verossimilhança e honestidade.
É interessante perceber que uma obra sobre família não precisa necessariamente ser perfeita já que grande parte das famílias são disfuncionais, ela precisa ser verossímil e estabelecer outros pontos de vista que sejam palpáveis nos sentimentos, ou seja, ainda que tenha o encanto imaginário, o riso tragicômico e, algumas vezes, non sense do Cinema Francês, o filme deve falar algumas verdades sobre os relacionamentos, ou pelo menos, sublimar ou transcender emoções tão humanas, frágeis e comuns.
"Espírito de família" tem esse "espírito". Coloca o personagem em uma posição de fragilidade. Ao estabelecer essa ponte, o roteirista e diretor confia na plateia como se fosse parte da família.
Fotos do filme e falas do diretor: uma cortesia Distribuidora A2Filmes.
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