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HEBE - A estrela do Brasil (2019)

 



Imperdíveis dicas Streaming  

#CinemaBrasileiro por MaDame Lumière


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação


Hebe Camargo, saudosa e emblemática apresentadora Brasileira de TV foi uma mulher que enfrentou e desafiou variados padrões do patriarcado estruturalmente arraigados na nossa sociedade. Começando pelo fato de que, em sua trajetória, ela era uma artista polivalente com grande talento para a mídia e muito à frente de seu tempo: radialista, cantora e humorista. Teve como amigos artistas como Roberto Carlos,  Nair Bello, Lolita Rodrigues, Dercy Gonçalves, Chacrinha, entre tantos outros. Era muito querida e não tinha medo de se posicionar, mesmo tendo como superiores personalidades poderosas como Silvio Santos, além dos ex-maridos Décio Capuano e Lélio Ravagnani, retratados na sua biografia como homens que reproduziam o machismo da época.





Figurino, maquiagem e design de produção: referências da moda e estilo Hebe de ser
(Fotos: reprodução)



Criado e roteirizado por Carolina Kotscho e dirigido por Maurício Farias, o longa-metragem "Hebe - A estrela do Brasil" (2019) apresenta Andréa Beltrão como a protagonista, resultando em um trabalho bem delimitado e articulado para narrar um período específico da vida da apresentadora: a transição entre a Ditadura Militar e a Democracia, passando pelas fases nas quais ela apresentou o programa na Band (1979) e depois, contratada por Silvio Santos (Daniel Boaventura), consolidou sua carreira no SBT a partir da primeira metade da década de 80.


Esse recorte se estabeleceu como fundamental para que essa cinebiografia não se perdesse no meio do caminho, além de representar um desafio para os produtores, considerando que encontrar uma atriz à altura para atuar como Hebe faria toda a diferença no projeto. Andréa Beltrão é competente e bem humorada nesse papel, transmitindo a simplicidade de Hebe mas também sua capacidade de não temer os desafios do casamento, da carreira e de ser uma mulher.


Durante o desenvolvimento do longa, buscou-se não tornar Hebe tão caricata, ainda que, como uma mulher parte do show business, ela tinha uma forma brilhante de se vestir, de valorizar os cabelos loiros e de ser uma pessoa inclusiva e provocativa, chegando a valorizar pessoas que eram marginalizadas pela sociedade como LGBTQ+ (a modelo trans Roberta Close), Dercy Gonçalves (uma atriz idosa sem papas na língua) e o cabelereiro Carlucho (Ivo Müller) que faleceu de AIDS. Todos esses tabus eram comuns no contexto, principalmente levando em conta que o país ainda tinha profundos reflexos do período ditatorial na mentalidade e comportamento da população e dos bastidores da TV.




Com atrizes que representaram  Dercy Gonçalves e Roberta Close: não à censura!
(Foto: Reprodução)



Além das oscilações de carreira para ela se firmar com um programa ao vivo, ter salários pagos em dia e aumentos na remuneração e manter-se ativa na TV com liberdade de expressão, Hebe também vivenciava um casamento bastante contraditório como muitas mulheres vivenciam que, de fato, tinha características de casamento abusivo: ao mesmo tempo que o ex-marido Lélio Ravagnani (Marco Ricca) era insuportavelmente possessivo, ciumento e inseguro, ele também cuidou dela e ajudou a criar Marcelo Capuano (Caio Horowicz), filho de Hebe com Décio Capuano. O longa expõe alguns conflitos da relação, chegando a mostrar algumas cenas fortes e incomodas sobre violência psicológica e doméstica.


Esse recorte foi eficiente considerando que, para uma mulher firmar-se na TV após um longo período de Ditadura, não é algo fácil. Em variadas cenas, Hebe tem que lidar com a censura, levando em conta que ela, em sua natureza artística, é uma apresentadora para programas ao vivo. Essa herança que vem do próprio rádio, desde sua carreira na Rádio Tupi, era valiosa para ela. Hebe não gostava de programas gravados, editados e censurados. Ela gostava de ser uma boa anfitriã e fazer as pessoas se sentirem bem à vontade em seu sofá e palco. Ela lutou para ter a liberdade de expressão e o reconhecimento pela qualidade de seu trabalho.




Com Marco Ricca e Caio Horowicz, respectivamente o ex-marido Lélio e o filho Marcelo: os homens de sua vida. (Foto: Reprodução)




Nesse sentido, embora seja um filme sobre uma mulher, os papéis dos homens são relevantes para expor e denunciar a opressão do patriarcado, mas também os  amores da apresentadora. No início, a história mostra o agente Joesley Castro de Magalhães (Fernando Eiras) em conflito com Walter Clark (Danilo Grangheia), diretor-executivo da Band. Magalhães não queria que Hebe tivesse liberdade até mesmo no vocábulo, como por exemplo falar palavrões, levando Clark a pressioná-la e discutir com ela. Por outro lado, há cenas do carinho da apresentadora com Lélio, Marcelo, Carlucho e também, com o sobrinho Cláudio Pessutti, um dos seus produtores e interpretado por Danton Mello.



Grande parte do acerto é a atuação de Andréa Beltrão que se lançou com muito compromisso nesse trabalho.  Alguns criticaram a caricatura dela, os "tiques" , as cenas de conflitos conjugais e os copos de bebida na mão da personagem, mas o bem da verdade é que Beltrão foi corajosa pois Hebe foi e sempre será única, praticamente inimitável. A atriz foi tão profissional que recentemente foi indicada ao Emmy Internacional de melhor atriz por sua atuação na série de TV HEBE, um desdobramento desse filme. Em 23 de Novembro, o Emmy anunciará os vencedores em Nova York.




Andréa Beltrão: sensibilidade e bom humor para representar um ícone das mulheres
(Foto: Reprodução)



Essa cinebiografia autenticamente Brasileira é uma boa opção para rememorar e celebrar a vida de Hebe Camargo. O longa não tenta dar conta de toda a vida da icônica apresentadora, ele delimita seu campo de narração e essa decisão possibilitou uma melhor imersão nas fronteiras entre a censura e a liberdade.







Fotos: uma reprodução do filme, cortesia Warner Bros, para imprensa.

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