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Mostra SP: Jovens mães (Jeunes Mères, 2025)




Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Jovens Mães (Jeunes Mères, 2025), dos Irmãos Dardenne: A Maternidade como Testemunho da Resiliência Feminina



Os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, reconhecidos pelo prestígio de um cinema realista que expõe as dores da classe trabalhadora, estão de volta à Mostra SP com um filme contundente: Jovens Mães (Jeunes Mères, 2025). A obra aborda as histórias de cinco jovens que tiveram filhos na adolescência. O roteiro, merecidamente vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes, abre um espectro de diferentes realidades e amplifica o olhar da plateia, conectando-se de maneira formidável com o drama global das jovens mães solteiras. Vale destacar que o filme representa a Bélgica na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026.




Histórias de abandono, violência doméstica, consumo de drogas e desilusão amorosa compõem o histórico dessas jovens. O roteiro foi elaborado com a versatilidade necessária para dar voz a cada história de maneira muito pessoal e realista. Jessica, Perla, Julie, Ariane e Naïma vivem a mesma realidade de serem acolhidas por um centro de maternidade para cuidarem de seus bebês.








Contudo, elas precisam interagir com pessoas que fazem parte de seu passado e presente, como mães negligentes, namorados e pais ausentes, além de possíveis adotantes. Esse cenário cria um universo bem específico que é central em seus traumas, dilemas e perspectivas para seguir adiante com suas crianças, ou não. A ausência da maioria dos pais dos bebês é, aliás, a prova de que o homem, como figura do patriarcado, tem muito a aprender e não abandonar seus filhos. A recorrência dessa temática, inclusive na dramaturgia nacional, como na novela Três Graças, revela o quanto o abandono paterno permanece como ferida aberta na sociedade contemporânea. Isso torna o roteiro um trabalho técnico e humanizado de primeira grandeza no cinema internacional.



Uma das riquezas do cinema dos Irmãos Dardenne é essa capacidade de conduzir a câmera com pouquíssimo texto, mas o suficiente para falas que expressam a face mais sombria das relações humanas. Principalmente quando se trata de pessoas que oprimem aquelas que deveriam acolher. Um desses exemplos é a presença dos pais de um dos progenitores ausentes, que nem aparece em tela, reforçando ainda mais essa ausência. Ver a arrogância dos mais abastados pode ser previsível na cinematografia dos Dardenne, mas é incrivelmente eficaz como eles conseguem rasgar o véu da hipocrisia diante das câmeras e expor a crueldade estrutural que permeia os vínculos sociais.








O naturalismo austero da obra acentua a condição dessas jovens. O silêncio e o pouco texto dizem muito sobre como elas são praticamente esquecidas e, para fugirem da miséria, precisam se fortalecer muitas vezes de forma heroica. Neste contexto, o silêncio é a própria resistência e força delas para lidar com o trauma e a imensa responsabilidade. A câmera, muito próxima aos personagens, nos conecta com elas para sentir sua vulnerabilidade e testemunhar sua dor. Mas é muito mais do que ser solidário. É um convite à empatia e à compreensão daquela realidade. Assim, o naturalismo com a escolha de direção íntima e documental nos faz refletir que, nesse cenário, elas são forçadas a amadurecer.



A narrativa apresenta uma direção e montagem eficientes, diretas ao ponto, mas igualmente sensíveis. A escolha do elenco é estelar, pois são jovens bastante preparadas na atuação, com um protagonismo humanizado. Elas transitam com verdade entre a couraça emocional e a vulnerabilidade latente, pois precisam ser fortes por seus filhos. Ao mesmo tempo, carregam a casca dura que a vida lhes lançou. Afinal, ser abandonada, ter um filho nos braços para cuidar com pouquíssimos recursos, e ainda contar com a ajuda de um serviço social, é um golpe difícil para jovens que, muitas vezes, não alcançaram nem 18 anos.







O ponto de inflexão reside na presença do namorado de uma das jovens. Isso não o coloca como o homem salvador da mulher, mas demonstra como é possível que os semelhantes se encontrem e, juntos, possam criar uma nova história, mais humana e possível. Por isso, o final é tão relevante para a compreensão da obra.



A obra dos irmãos Dardenne, portanto, não é apenas um retrato social. É um testemunho visceral da resiliência feminina e um convite direto à reflexão sobre a responsabilidade coletiva. É um filme que não apenas denuncia, mas convoca. A olhar, a sentir, a agir.





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