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Mostra SP: DJ Ahmet (2025)

 



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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



DJ Ahmet: O Preço da Liberdade  e a Arquitetura Poética da Subversão 




O longa-metragem de estreia do diretor Georgi M. Unkovski, DJ Ahmet (DJ Ahmet, 2025), emerge no cenário da 49ª Mostra SP como uma joia rara do cinema da Macedônia do Norte. Ambientado em um vilarejo rural da minoria étnica Yuruk, o filme mergulha no conflito geracional e cultural de Ahmet, um garoto de 15 anos dividido entre as rígidas expectativas de seu pai, ligadas ao pastoreio e à tradição, e seu sonho pulsante de se tornar um DJ de música eletrônica. Vencedor do Prêmio do Público e do Prêmio Especial do Júri em Sundance, a obra estabelece um diálogo profundo e sensível sobre identidade, tecnologia e o alto custo da autenticidade em um mundo dominado pelo patriarcado.










O diretor Georgi M. Unkovski ancorou o clássico conflito do primeiro amor proibido e o choque de gerações por meio de uma parceria juvenil de grande autenticidade. O filme nos apresenta o triângulo de afetos entre o DJ Ahmet (Arif Jakup), a jovem Aya (Dora Akan Zlatanova), obrigada a um casamento arranjado, e Naim (Agush Agushev), o gracioso irmão mais novo de Ahmet, cujo silêncio é contagiante e apoiador. O embate central é estabelecido entre os jovens e a estrutura patriarcal que os cerca: enquanto se apaixonam e se apoiam em suas subversões artísticas, a música de Ahmet e a dança de Aya se tornam a linguagem comum de resistência. O fato de a mãe falecida de Ahmet ser uma amante da música adiciona um ingrediente emocional poderoso, mostrando que a arte é o elo capaz de superar a rigidez do patriarcado e a dor do luto.




A personagem de Aya é, inegavelmente, a força motriz e a alma subversiva do filme. Ela transcende o clichê da garota romântica: não é apenas a jovem que conquista o DJ, mas a figura que o encoraja e inspira a buscar a criatividade e alternativas para a subversão. Por meio dela, Ahmet se arrisca a conectar a rigidez do pastoreio com os encontros musicais.










O filme, no entanto, é perspicaz ao diferenciar as figuras paternas. O pai de Ahmet é um senhor endurecido pelo luto e focado na solidão e na venda de queijo, e embora seja rígido e, por vezes, grosseiro com o filho, ele surpreende em um dado momento com um toque de humanidade. Já o pai de Aya é nitidamente o conservador que negocia o destino da filha em um casamento arranjado, motivado puramente por posses e dinheiro. Aya, com sua bagagem de internet e música eletrônica, serve como um poderoso vetor da modernidade, introduzindo a dança e o techno na rigidez do vilarejo. Essa representação da arte e da tecnologia como ferramentas de libertação é o que torna o filme tão relevante para a pauta de inovação e cultura dos festivais internacionais.










A eficácia do filme reside em sua abordagem técnica para o protagonista. Ahmet é o DJ deslocado do meio urbano: ele não remixa, não possui equipamentos sofisticados nem recursos. No entanto, sua determinação em buscar alternativas o torna, de fato, um DJ. Nesse cenário, o desenho de som investe em uma arquitetura peculiar, mesclando músicas modernas com sons orgânicos do vilarejo — o balido das ovelhas, a sonoridade do templo religioso e a pulsação da tecnologia. O contraste criado é potente, permitindo que o mundo interior e escapista de Ahmet se mescle com o mundo exterior e realista. O diretor Georgi M. Unkovski amplifica essa dualidade utilizando planos cômicos e técnicas de câmera que revelam Ahmet em momentos de reflexão ou de fuga, como se estivesse em um sonho, reforçando a natureza escapista de sua arte.




DJ Ameht se revela uma joia rara: simples, eficaz e arrebatadoramente poético. O cineasta Georgi M. Unkovski constrói duas tensões que, ao invés de se anularem, coexistem: a necessidade de expressão, linguagens e autenticidade da geração jovem e o desafio da geração mais antiga de acolher essa nova identidade. O longa demonstra que há espaço tanto para o rompimento subversivo com a tradição quanto para o afeto acolhedor da família, provando que a tradição só permanece quando há amor. Em essência, a obra é sobre identidade, mas também sobre a coexistência: o amor pela família e o amor pela arte podem dialogar. Ao colocar o protagonista no dilema de seguir seu sonho, o filme reafirma que a barreira pode ser rompida, pois o mundo é global e as culturas — mesmo as mais isoladas — estão prontas para o diálogo.












Com este filme, Georgi M. Unkovski não apenas oferece um olhar autêntico sobre a Macedônia do Norte e a diáspora cultural Yuruk, mas também entrega uma ode à coragem juvenil. DJ Ahmet é um lembrete contundente de que a revolução pessoal acontece com os fones de ouvido e o volume no máximo, desafiando a ordem ancestral com o ritmo incontrolável do techno. DJ Ahmet é, afinal, a arquitetura poética da liberdade.








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