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Mostra SP: Eu Verei (Ik Zal Zien/ I Shall See, 2025)

 




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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Eu Verei: A Busca Onírica pela Liberdade e o Alto Preço da Visão




A diretora Mercedes Stalenhoef iniciou sua jornada com este filme a partir de uma vivência profunda: o acompanhamento próximo de um amigo que perdeu a visão. Sua decisão de trabalhar com atores e figurantes majoritariamente cegos confere um realismo naturalista à obra. O posicionamento da cineasta é, portanto, híbrido. Ela harmoniza a ficção com a rotina de ressignificação, adaptação e sofrimento de Lot (Aiko Mila Beemsterboer).




A vulnerabilidade de Lot se aprofunda ao confrontar a perda de sua identidade. Sendo uma atleta de mergulho, seu corpo e controle ativo eram sinônimos de performance. Seu sonho de ser arqueologista marinha era uma extensão existencial. Essa perda a coloca na fronteira entre a superação e o fracasso, gerando a urgência pela fuga. Essa crise existencial encontra eco na forma como o filme traduz visualmente a nova percepção de mundo da protagonista.








O filme se revela um olhar sensível, utilizando a sutileza do design para registrar a nova percepção de Lot. A cinematografia trabalha com a amplificação sensorial. O público observa detalhes que são intrinsecamente táteis e sonoros: a queda de um ovo, o toque da bengala, e a amplificação dos sons do mar, do vento e da música.




Lot se refugia em sonhos vívidos que servem como uma fuga escapista do drama. A leitura crítica, ancorada na psicologia analítica, sustenta que o cérebro já possui essa habilidade de enxergar sonhos como janelas do inconsciente. O filme, no entanto, opta por um recurso químico, como medicamentos ou drogas, não para criar a visão onírica, mas para forçá-la e intensificá-la. Essa escolha revela a fronteira frágil entre superação e fracasso pessoal.










Enquanto Lot busca refúgio nos sonhos, sua realidade afetiva se desintegra em silêncio. O papel de Caps, o namorado de Lot, é construído em uma ambiguidade que o reduz à figura de um companheiro compassivo, porém distante. O distanciamento entre o casal é implícito, mas palpável. A omissão do roteiro, neste ponto, reflete uma tese sobre a dura realidade de homens que abandonam mulheres não por falta de carinho, mas por não saberem lidar com a dor, a vulnerabilidade ou a nova condição da pessoa amada. Essa distância se aprofunda quando Lot encontra conexões com deficientes visuais no centro de reabilitação. O filme é coerente em não investir na família e amigos de Lot, pois, na vida real, as pessoas mudam e os relacionamentos se redefinem quando rotas de vida se alteram drasticamente.





No final, a diretora entrega uma mensagem poderosa. O filme consegue evitar o clichê da "história inspiradora" ao confrontar o espectador com a desordem do real. Ele nos força a despir a primazia da visão e a entender que a verdadeira cegueira não está na ausência de luz. Está na incapacidade de ver a humanidade do outro.





(3,5)


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