#Drama#Juventudes #Adolescência #Educação #MullheresnaDireção #EuvinaMostra #MostraSP #CinemaAsiático #CinemaSulCoreano #Resiliência #Violênciacontraamulher #CinemacomAfeto #CoreiadoSul #YoonGa-eu
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O Mundo do Amor: Trauma, Resiliência e o Otimismo Possível
A diretora Yoon Ga-eun, em sua reconhecida excelência, tem o propósito claro de abordar as sutilezas do universo infantil e juvenil. Em O Mundo do Amor (Segyeui Ju-in), ela percorre o cotidiano da adolescente Joo-in no ambiente escolar, nas interações com as amigas e o namorado. Também estende a câmera a crianças mais jovens, como o irmão e a menina na creche dirigida pela mãe da protagonista. Essa escolha é propositalmente leve e humanizada, introduzindo o cotidiano com humor e as dificuldades inerentes à comunicação de jovens e crianças. Essa leveza inicial contrasta com a profundidade do tema central que se revela aos poucos: o trauma do abuso sexual.
O filme se revela uma obra diferenciada e legítima, tratando esse tabu universal, intensificado quando o algoz é um parente próximo, com inteligência aguda. O roteiro não se limita à denúncia, mas expõe as camadas complexas da cultura do silêncio, que se manifesta em cada personagem: na negação da mãe, na ausência do pai, na dúvida dos colegas e na repressão da própria vítima. A protagonista, Joo-in, é o grande acerto. Mesmo sentindo-se sozinha em sua dor, ela tenta ao máximo projetar uma imagem de superação e normalidade. Esse lado expansivo e, por vezes, desafiador, é o seu posicionamento pessoal e ativo diante do trauma. É uma forma de processar a dor em silêncio e ressignificar a própria história. A impassividade da mãe, nesse sentido, não é uma falha dramática. Ela representa, de forma dolorosa, a cultura que prefere o silêncio à confrontação.
Os bilhetes anônimos funcionam com eficácia máxima como um artifício de thriller, pois imediatamente forçam o público a uma reflexão moral. Joo-in está falando a verdade ou está apenas representando? Ela é genuinamente brincalhona ou carrega uma trágica máscara social? Como dispositivo para o suspense, o recurso é funcional. No entanto, a maior riqueza narrativa está na forma como ele aprofunda a complexidade da protagonista, especialmente em sua última aparição, que ilumina o entendimento integral da obra sem recorrer a revelações explícitas.
Essa ambiguidade narrativa encontra eco na performance de Seo Su-bin. Há momentos em que Joo-in é deliberadamente irritante e forçada, transmitindo a impressão de que exagera nas brincadeiras e discussões. Esse comportamento é o reflexo da pressão cultural para o sucesso e a disciplina que se espera de adolescentes em culturas asiáticas. Também funciona como uma máscara social para disfarçar a vulnerabilidade. A essência de seu papel é complexa. Joo-in, com pais omissos e um trauma profundo que a marcou para sempre, recusa-se a ser definida por essa dor. Há cenas pontuais que funcionam como chaves simbólicas para entender sua trajetória emocional.
O conceito de Segyeui Ju-in, que significa “Proprietário do Mundo” ou “Mestre da Própria Vida”, é eficaz para a cultura sul-coreana. Em uma sociedade que ainda preserva fortes traços de tradição, tornar-se proprietário da própria vida exige coragem e continuidade. A diretora Yoon Ga-eun entrega essa mensagem de resiliência e empoderamento de forma sutil. A afirmação da autonomia acontece em momentos de silêncio ou em diálogos discretos, mas é um posicionamento claro para as novas gerações. O otimismo existe, sim, mas não como um caminho fácil. Ele surge como a necessidade de não se forçar a nada, apenas ressignificar o próprio mundo.




0 comments:
Caro(a) leitor(a)
Obrigada por seu interesse em comentar no MaDame Lumière. Sua participação é essencial para trocarmos percepções sobre a fascinante Sétima Arte.
Este é um espaço democrático e aberto ao diálogo. Você é livre para elogiar, criticar e compartilhar opiniões sobre cinema e audiovisual.
Não serão aprovados comentários com insultos, difamações, ataques pessoais, linguagem ofensiva, conteúdo racista, obsceno, propagandista ou persecutório, seja à autora ou aos demais leitores.
Discordar faz parte do debate, desde que com respeito. Opiniões diferentes são bem-vindas e enriquecem a conversa.
Saudações cinéfilas
Cristiane Costa, MaDame Lumière