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Cyclone (2025)

 



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Lançamento nos Cinemas 04 de Dezembro de 2025



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Cyclone: O Drama da Força Feminina em um Tempo Suspenso




O filme brasileiro Cyclone (2025), dirigido por Flávia Castro, é uma homenagem e reinterpretação da figura histórica de Maria de Lourdes Castro Pontes, a Miss Cyclone dos Modernistas, sob uma perspectiva assumidamente contemporânea e feminista. Na trama, ambientada em São Paulo em 1919, a atriz e produtora Luiza Mariani, que há duas décadas trabalha para levar o projeto do teatro para o cinema, vive Dayse, uma operária apaixonada por dramaturgia que confronta os obstáculos de ter nascido em um mundo onde a mulher não é dona do próprio corpo ao buscar realizar seu sonho de estudar em Paris. 



Ao preencher as lacunas de uma trajetória feminina insuficientemente registrada pela História, a obra reflete os dilemas atemporais da mulher moderna, com um elenco que inclui Eduardo Moscovis, Karine Teles e Ricardo Teodoro.








Inspirado nas obras "O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo", de Oswald de Andrade, e "Neve na Manhã de São Paulo", de José Roberto Walker, o filme estabelece que a força de Dayse Castro, a Cyclone moderna, reside na sua paixão pela dramaturgia e em seu talento, que são a sua força centrífuga, o seu caos interno criativo. No entanto, sua origem humilde e o ambiente hostil mostram que ela não tem apoio.



Cyclone desnuda a hipocrisia de um momento de efervescência modernista no Brasil, provando que essa renovação era reservada à elite. Dayse, por sua vez, é explorada, uma vulnerabilidade acentuada na relação com o personagem de Eduardo Moscovis. O filme utiliza a metáfora do fenômeno: a força incontrolável da protagonista em contraste com o destino rígido imposto pelo sistema, destacando que, apesar de todo o seu ímpeto, ela está praticamente sozinha na luta para realizar seus sonhos.








Esse conflito não pertence apenas ao passado modernista. O filme dialoga diretamente com o Brasil contemporâneo, onde mulheres ainda enfrentam barreiras para consolidar suas carreiras e têm seu talento podado por estruturas de violência de gênero. A crítica social, portanto, é atual e urgente.



A dimensão estética e a direção de Flávia Castro são pilares que conferem qualidade ao longa. A direção de arte de Ana Paula Cardoso e a interpretação de Luiza Mariani criam a sensação de tempo suspenso e conduzem o espectador a um tempo psicológico e intimista do drama. Contudo, o roteiro carece de dar voz à força da protagonista, deixando a impressão de que Cyclone tinha muito mais a dizer sobre si. 



A cineasta, crescida no exílio, imprime um olhar pessoal e político, cuidadoso e vulnerável, focalizando o processo de escrita e solidão da personagem. Closes, detalhes de cena e o posicionamento da câmera nos espaços internos, como quarto e coxia, reforçam essa atmosfera íntima e sugerem a solidão que atravessa a protagonista. O som, com trilha original de Thiago Pethit e ruídos urbanos que se tornam parte da narrativa, intensifica o turbilhão emocional da personagem, enquanto o silêncio funciona como contraponto, ampliando a sensação de isolamento.



Se o texto limita a voz da personagem, é justamente na atuação que ela encontra sua expressão plena. Luiza Mariani entrega uma performance de presença forte e resiliente. Sua atuação transcende o texto, utilizando o corpo e as expressões para transmitir a dor física e emocional de uma mulher cuja força é podada por um sistema e contexto bastante patriarcais.








O filme, através do olhar e da vulnerabilidade da atriz, expõe como a mulher ainda é usada sexualmente, como ocorre com a personagem de Karine Teles e até com a própria Cyclone. Inegavelmente, Mariani demonstra um potencial notável para o cinema ao transmitir uma resiliência palpável que entrelaça a vulnerabilidade e a solidão, tornando a protagonista mais real e honrando o legado da figura histórica, mesmo quando o roteiro a silencia.



O filme funciona em seus momentos mais tensos, sobretudo quando a protagonista é levada a situações decisivas que colocam em risco seus sonhos e sua liberdade. Nesses pontos, a urgência é palpável, pois a problemática existencial de Dayse esbarra na repressão coletiva imposta às mulheres, elevando o drama a um patamar social e político.



No entanto, a narrativa se dispersa nas interações. De maneira geral, a relação da personagem com os demais atores poderia atravessar camadas mais dramatúrgicas e conflitivas, o que enfraquece o ritmo e não sustenta a tensão do ciclone para além do ponto central da crise.



Apesar dessas dispersões, o filme encontra sua maior força no legado que constrói: a urgência atemporal. Mesmo após muitos anos da figura que o inspirou, o drama feminino é ainda pungente. Os anos se passaram e a mulher continua a ter dificuldades para realizar seus sonhos ou é forçada a abrir mão deles.





Theatro Municipal de São Paulo no Cinema : Cyclone é um projeto pessoal da atriz Luiza Mariani, que interpreta essa história no teatro.




O filme critica diretamente o mundo artístico que nem sempre favorece a mulher em detrimento do homem. A relação de Cyclone com Heitor Gamba (Eduardo Moscovis) sugere mais uma inserção utilitária do que um vínculo genuíno. O longa ganha em mostrar a resiliência de uma personagem vigorosa que, apesar da força, está profundamente sozinha.



Há uma aura que aproxima Cyclone de obras como A Vida Invisível de Karim Aïnouz, não pela temática ou direção, mas pela energia feminina que confronta contextos tradicionais. Nesse sentido, o filme se insere em uma linhagem de obras profundamente femininas, que dialogam com a crítica ao patriarcado e às formas de repressão.



Assim, Cyclone confirma ser um drama da força feminina em um tempo suspenso, onde a resiliência ecoa, mas a solidão ainda persiste.








Imagens. Cyclone. Divulgação Bretz Filmes. Assessoria Sinny.

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