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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A parceria entre a Netflix e Guillermo del Toro é, por si só, um evento cinematográfico. Frankenstein (2025) surge como uma das grandes apostas do streaming, ostentando o status de superprodução que busca redefinir a fronteira entre o cinema de autor e o consumo massivo doméstico.
A obra rapidamente conquistou a atenção da crítica especializada, garantindo cinco indicações ao Globo de Ouro 2026. Entre as categorias - chave, destacam-se Melhor Filme – Drama, Melhor Direção (para Del Toro), Melhor Ator em Filme – Drama (para Oscar Isaac), Melhor Ator Coadjuvante (para Jacob Elordi) e Melhor Trilha Sonora Original (de Alexandre Desplat). Se os prêmios ressaltam sua relevância industrial, é na estética que Del Toro reafirma sua singularidade, colocando a Netflix no centro do debate sobre o futuro das narrativas de grande escala fora das salas escuras e questionando se a genialidade visual pode prosperar inteiramente sob a égide do algoritmo.
Apesar do formato de superprodução da Netflix, o filme pulsa com o DNA autoral de Guillermo del Toro. O cineasta entrega uma adaptação fiel ao espírito de Mary Shelley, mas marcada por sua assinatura estética. Del Toro mergulha no realismo mágico, no horror gótico e na fantasia com um toque de romantismo e humanidade. Longe de se render ao formato genérico de “evento de streaming”, a obra utiliza o grande orçamento para amplificar, e não diluir, sua visão, provando que a alma do autor pode sobreviver ao algoritmo.
É impossível abordar Frankenstein sem considerar a vasta tapeçaria de adaptações que o precedem. Desde a versão icônica de James Whale nos anos 30 até as releituras modernas, a Criatura e seu criador fazem parte do inconsciente coletivo. O que Del Toro faz, porém, é dialogar com essa tradição, honrando-a com o drama gótico clássico e reescrevendo-a com sua paleta de cores e humanismo. Ao situar a história sob a chancela da Netflix, garante que a profundidade de Mary Shelley sobre a responsabilidade do criador e os limites da ciência seja revisitada por uma audiência global sem precedentes.
Essa reflexão ética encontra sua expressão visual na estética gótica. O Doutor Victor Frankenstein, vivido por Oscar Isaac, é movido por um interesse obsessivo e doloroso, enraizado em traumas de infância. Ao criar a Criatura, ele a condena à dor da imortalidade e da solidão. Guillermo del Toro transcende a ideia da criatura como ser malévolo. Seu Frankenstein, belamente interpretado por Jacob Elordi, é a prova de que a crueldade reside no egoísmo humano, tornando a Criatura a vítima mais sensível e trágica da história.
A estética gótica, marca autoral de Del Toro, atinge aqui uma arte majestosa e levada ao extremo. Isso se revela nos figurinos quase oníricos de Elizabeth, interpretada por Mia Goth, e no laboratório de Victor, que se move entre penumbras, ciência e sangue. Essa ambientação potencializa a dualidade da Criatura, cuja perfeição escultural contrasta com sua alma dilacerada. A melancolia e o drama são amplificados pela trilha sonora de Alexandre Desplat, que confere à narrativa uma dimensão épica e romântica.
O elenco estelar e de alta qualidade interpretativa dá voz a um dos clássicos mais dramáticos da literatura. Oscar Isaac e Jacob Elordi exibem uma química palpável, elevando o drama para além do gênero. Isaac traduz a obsessão e a tragédia de Victor, enquanto Elordi humaniza a Criatura em sua busca por identidade. A essa dinâmica se somam Christoph Waltz, como o ambicioso Heinrich Harlander, que encarna a crítica à exploração da ciência por interesses gananciosos, e Mia Goth, no papel de Elizabeth, cujo olhar moral é o contraponto da obra. Juntos, compõem um mosaico interpretativo que sustenta a densidade dramática e filosófica da narrativa.
A ressonância de Frankenstein não se limitou às indicações do Globo de Ouro. O filme foi celebrado em festivais de prestígio, elogiado por críticos por sua audácia visual e pelo refinamento das atuações. Ao mesmo tempo, conquistou rapidamente o público da Netflix, tornando-se um dos títulos mais consumidos da plataforma. Essa aclamação dupla confirma que há um apetite global por narrativas de grande escala que não sacrificam a complexidade ética e estética em nome do entretenimento imediato.
A adaptação de Del Toro é relevante não apenas para o streaming, mas para o próprio conceito de cinema contemporâneo. Com o talento excepcional do diretor, o filme dificilmente poderia ser algo abaixo do excelente. Frankenstein é um blockbuster de autor que revela que a verdadeira monstruosidade é a ambição e a arrogância humanas. Para além do perdão e da redenção, o filme deixa uma reflexão fundamental: ao provar que densidade artística pode ser um sucesso global de audiência, Del Toro impõe um novo padrão de qualidade para o streaming, elevando o patamar do que deve ser considerado cinema no conforto do lar. A glória desta adaptação reside em demonstrar que grande arte e grande audiência podem, e devem, coexistir, um triunfo que reafirma o poder da sala escura mesmo quando transposto para a tela doméstica.




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