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O Agente Secreto (The Secret Agent, 2025)

 




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Estreia nos Cinemas 06 de Novembro de 2025



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



 O Agente Secreto: A Ditadura no Microcosmo e a Memória Viva do Brasil 

 




Kleber Mendonça Filho (KMF), consagrado com o Prêmio de Melhor Direção em Cannes 2025, utiliza o thriller de espionagem para traçar uma crítica social que é, infelizmente, atemporal. Wagner Moura, vencedor do Prêmio de Melhor Ator no mesmo festival, interpreta Marcelo, que chega ao Recife em 1977 em busca do filho e de um fio de esperança, enquanto tenta escapar das ameaças de um empresário corrupto e articulador de violência institucional.






Divulgação. Orelhão presente no Espaço Petrobrás de Cinema. Pré estreia Mostra. Arquivo pessoal MaDame Lumière




                                                Divulgação. Wagner Moura. Foto: Victor Juca/Vitrine Filmes




A ambientação de 1977 é meticulosamente construída, com direção de arte e fotografia espetaculares que conferem ao filme um toque vintage e, ao mesmo tempo, moderno e realista. Essa estética não é apenas visual: ela sugere que essa época ainda pulsa como memória histórica viva. As relações transitam entre os afetos de quem teve sua liberdade cercada e a brutalidade dos mandantes e matadores de aluguel. A tensão revela que o autoritarismo é um vírus social que infecta o país até hoje.






        Divulgação. Painel do Filme presente no Espaço Petrobrás de Cinema. Pré estreia Mostra. Arquivo pessoal MaDame Lumière





Muito da força do longa reside na atuação catalisadora de Wagner Moura. Sua performance é cheia de sutilezas, marcada por uma ambiguidade sofisticada. Marcelo sabe com quem está lidando, o que gera repulsa e tensão, mas também carrega a serenidade de quem reivindica o direito de viver e buscar uma segunda chance. Moura imprime ao personagem uma leveza e credibilidade raras, tornando Marcelo uma ameaça ao sistema justamente por ser consciente, discreto e esperançoso. O autoritarismo quer destruir quem sabe demais e não se deixa levar pelo efeito manada. Talvez Marcelo saiba demais.






Wagner Moura e diretor Kleber Mendonça Filho em "O Agente Secreto" - Victor Jucá/Vitrine Filmes

Divulgação




A mise-en-scène de KMF traduz com precisão as tensões do suspense. Recife não é apenas cenário, mas armadilha viva, onde a paranoia se infiltra em cada instituição. Elementos macabros e episódios de violência institucional surgem como fragmentos, intensificando a sensação de que algo fundamental está oculto. A crítica social é corrosiva. A polícia é nepotista e autoprotetora, representada pelo delegado vivido por Robério Diógenes. A mídia é silenciada. O empresariado é retratado com precisão afiada. O antagonista interpretado por Luciano Chirolli encarna uma branquitude arrogante e corrupta, interessada apenas em lucro e privilégio. A elite continua invadindo o que é público, especialmente em tempos de privatizações que servem a interesses privados.






Divulgação Vitrine Filmes




KMF posiciona os coadjuvantes como ecos da crise social e política. Gabriel Leone interpreta Bobbi, figura que encarna a violência herdada pela parentela corrupta. Maria Fernanda Cândido vive Elza, parceira vigilante e atenta, mas até onde pode agir? Hermila Guedes é a mulher silenciada, profissional e mãe, que busca refúgio em um país de decepções. Isabel Zuaa interpreta uma mulher negra refugiada, que descobre que nem mesmo no Brasil a segurança é garantida. Dona Sebastiana, vivida por Tânia Mara, surge como foco de acolhimento, resistência e humor. KMF opta por manter essas histórias como fragmentos, revelando que o maior perigo reside na cumplicidade social e na nossa incapacidade de distinguir vítima e algoz.






Cineasta Kleber Mendonça Filho durante pré-estreia no Espaço Petrobrás de Cinema durante Mostra SP. 
Foto: Arquivo pessoal para divulgação de imprensa




A trilha sonora de O Agente Secreto não é composta originalmente, mas cuidadosamente curada por Kleber Mendonça Filho. Ela reúne faixas de artistas brasileiros como Lula Côrtes & Zé Ramalho, Angela Maria, Waldick Soriano, Orquestra Nelson Ferreira, Banda de Pau e Corda e Ennio Morricone. Essa seleção musical evoca o Recife dos anos 1970 com precisão afetiva, reforçando o clima de tensão, melancolia e resistência. A música funciona como elemento narrativo, costurando as cenas com uma sonoridade que é ao mesmo tempo regional, inquietante e profundamente emocional.





KMF é, inegavelmente, um cineasta político de mão cheia. Ele não teme, não se silencia. É profundamente cinéfilo e sabe fazer cinema de forma memorável, humanizada e subversiva. Sua subversão não é barulho gratuito, mas uma compreensão única de como o Brasil funciona. Obras como Som ao Redor, Aquarius e Bacurau confirmam essa lógica. O Agente Secreto, ambientado em 1977, dá nova dimensão histórica ao revelar que não temos todas as evidências do que aconteceu na ditadura. O sistema é corrompido, e a memória apagada por medo e desinteresse.





Elenco do filme presente durante pré-estreia no Espaço Petrobrás de Cinema durante Mostra SP. 
Foto: Arquivo pessoal para divulgação do filme





A repercussão internacional confirma o impacto. O filme venceu também o Prêmio FIPRESCI da crítica internacional e o Art et Essai dos exibidores franceses. Foi ovacionado por veículos como Variety, The Guardian e Le Monde, e já está garantido em mais de 90 países. É a aposta oficial do Brasil ao Oscar 2026, e especialistas apontam sua presença como quase certa entre os indicados.



A reflexão final é clara. Não podemos esquecer quem somos, o que fizeram conosco e, principalmente, o que faremos a partir de agora.




(4,5)





Fotos do filme e bastidores: Vitrine  Filmes. Divulgação.

Fotos da Mostra SP. Pré estreia. Arquivo Pessoal



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