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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
The Running Man : O Profeta Cult da Violência e do Espetáculo
Com direção de Paul Michael Glaser, O Sobrevivente (The Running Man, 1987) é um clássico cult da ficção científica que, ao antecipar o formato de reality show distópico, se consolida como uma crítica profética ao totalitarismo transformado em espetáculo. Ambientado em meio à crise de 2017, a América distópica utiliza condenados como os "Running Men" (Homens em Fuga), perseguidos até a morte por "Stalkers" (Perseguidores) em um programa de TV. Nesse contexto, o programa não é apenas um espetáculo de ação sci-fi, mas sobretudo uma manipulação governamental e midiática que oculta a realidade e perpetua um autoritarismo letal. Lançado durante o governo Reagan, em uma era marcada pela ascensão da cultura televisiva e pelo medo do controle estatal, o filme dialoga com os temores da década de 1980 e antecipa debates que só se intensificariam nas décadas seguintes.
O filme é extremamente violento, mas essa brutalidade se manifesta não apenas na ação, e sim no comportamento social: desde as torcidas vibrantes pela morte até a forma como todos estão presos a um sistema de controle e fake news. Richard Dawson encarna Damon Killian, o criador e apresentador do reality show, com um carisma artificial que encobre um autoritarismo insano. Sua visão é a do espetáculo a qualquer custo, manipulando o público condicionado, que se entrega ao efeito sanguinário de gostar de ver a violência. Os Stalkers são, na verdade, prisioneiros da Rede, controlados por Killian para manter a brutalidade em curso. A cultura do espetáculo se impõe como uma engrenagem que consome todos: os participantes, os espectadores e os próprios algozes. A influência de The Running Man é visível em obras como Jogos Vorazes, Battle Royale e episódios de Black Mirror, que herdaram sua crítica à espetacularização da dor como entretenimento.
O longa é muito bem projetado no design de arte como assinatura de uma estética trash e camp dos anos 80, evidente nos figurinos exagerados e no campo de batalha que parece um lixão futurista que reflete o colapso moral e urbano. O filme critica que, por trás do entretenimento do espetáculo, a sociedade está vibrando exatamente para a crueldade do futuro que arrasta a todos para o lixo mundano. É a imagem de um país abandonado e desprovido de valores reais. Resta a esperança em Ben Richards (Arnold Schwarzenegger) que, ao lado de Amber Mendez (Maria Conchita Alonso), mais dois amigos e um grupo de resistência, luta pela sobrevivência, pela ética e pela justiça em uma sociedade decadente.
O filme é bom, mas não alcança a excelência na atuação de Arnold Schwarzenegger, que não é um ator com alcance dramático político. Embora sua fisicalidade e força sejam cruciais para a ação, essa limitação impede que o protagonista ganhe camadas mais complexas, restringindo seu impacto a um humor de frases de efeito bem colocadas. Por outro lado, a sátira é mais eficaz e brilhante na crítica ao público da ficção: os figurantes demonstram que a massa espectadora adora o entretenimento regado a sangue. Essa é uma crítica realista e atemporal, ligando o filme a uma sociedade que hoje vibra com o sensacionalismo midiático e os dramas de reality shows. É justamente por essa falta de densidade dramática que a nova adaptação de Edgar Wright promete ser mais incisiva e satírica, com potencial para aprofundar a crítica à cultura do espetáculo contemporânea.
Revisitar The Running Man de 1987 é um ótimo momento de entretenimento e repertório, pois, após 38 anos, o filme ainda ecoa na estagnação da sociedade diante do culto ao espetáculo. Historicamente, a sociedade é a espectadora dessa violência de forma estrutural e cruel. O filme já deixou de ser distopia e se tornou um espelho desconfortável da realidade: a violência e a manipulação estão na base social. Inevitavelmente, a nova adaptação de Edgar Wright exige uma abordagem mais ágil e contemporânea que dialogue com esse grande cult e com a crueza da nossa realidade.



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