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Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Verão na Sicília: O Verão Siciliano, a Raiz e o Afeto como Antídoto à Hiperconexão
A estreia de Margherita Spampinato na direção de longas-metragens é uma joia encontrada na programação do Festival de Cinema Italiano no Brasil. Gioia Mia é um filme, ao mesmo tempo, melancólico e solar, com a atmosfera tranquila de um verão na Sicília. A diretora estabelece uma conexão singular ao unir duas gerações: o garoto Nico (Marco Fiore), hiperconectado, e sua Tia Gela (Aurora Quattrocchi), profundamente religiosa e tradicional. O embate de opostos rapidamente cede lugar a um vínculo baseado na autenticidade e na aceitação. O filme utiliza esse contraste para despertar afetos que nascem a partir das diferenças e das raízes sicilianas, cercadas por tradições, fé e espiritualidade, aproximando as novas gerações de um mundo mais discreto, afetivo e ancestral.
É uma escolha feliz da diretora a escalação de Marco Fiore e Aurora Quattrocchi, pois suas personalidades fortes, somadas à diferença de gerações, garantem um humor autêntico e diálogos afiados, mas sinceros. A mise-en-scène é construída pelo contraste: as casas antigas da vila funcionam como museus religiosos, cercados de superstição e silêncio. A ausência de tecnologia inicialmente gera tédio em Nico, mas esse vazio acaba despertando seu amadurecimento e desejo de conexão. Por sua vez, a Tia Gela guarda segredos como em uma caixa ancestral. Essa conexão entre os dois é descontraída e genuína, tecida na rotina sensível de uma Sicília que divide seu tempo entre a lentidão dos idosos e a solaridade das brincadeiras infantis.
Esse contraste entre tradição e modernidade se aprofunda na relação entre Tia Gela e Nico, que emerge da solidão compartilhada. Ela vive na discrição de sua solitude, apenas com a companhia do cachorro, enquanto ele, apesar da pouca idade, está apegado ao celular e demonstra dificuldades de conexão pessoal. A beleza do filme está nas sutilezas que a diretora constrói em cena, aos poucos quebrando a teimosia mútua e abrindo espaço para a busca por vínculos. Sendo Nico o protagonista do coming of age, ele tem a chance de amadurecer ao deixar o celular de lado. Essa vida fora da hiperconexão virtual e próxima ao calor siciliano possibilita que Nico faça o que faz sentido: ter experiências reais e simples como brincar, fazer amigos e se apaixonar. No fundo, essa desintoxicação digital sinaliza a mensagem filosófica da cineasta: a vida cibernética não oferece os afetos reais que nascem da presença e da ancestralidade.
A relação com a família e a mística da ilha também se entrelaçam nesse processo de amadurecimento. A ausência de figuras parentais diretas é preenchida por uma rede de afetos silenciosos, onde a tradição e a fé funcionam como guias invisíveis. A ilha, com sua paisagem solar e seus rituais cotidianos, torna-se personagem viva, moldando os sentimentos e os silêncios. A espiritualidade não é imposta, mas paira como uma brisa constante, sugerindo que o sagrado pode estar na escuta, no cuidado e na permanência.
Ao final, Gioia Mia transforma esse verão siciliano em uma ponte de afetos possíveis e necessários entre as gerações, ao conectar um núcleo de mulheres fortes e idosas e crianças, priorizando a coexistência do amor, da presença e da raiz. A escolha da praia siciliana em uma das cenas centrais, um espaço de conversa, perdão, amor e companhia, consolida o diálogo intergeracional. Spampinato afirma com sutileza que precisamos mais de presença afetuosa e leve do que das conexões virtuais ilusórias. A contribuição duradoura do filme reside justamente em resgatar a identidade italiana através desses laços viscerais, provando que a lentidão da tradição, quando temperada pelo afeto, é o antídoto mais eficaz contra a velocidade vazia da modernidade.
Imagens: Divulgação, Festival de Cinema Italiano no Brasil


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Cristiane Costa, MaDame Lumière