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  Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04  de Novembro   www.mostra.org #mostrasp #44ªmostra #44mostra #EuvinaMostra #MostraPlay Acompanhe o MaD...



 Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro



#mostrasp #44ªmostra #44mostra #EuvinaMostra #MostraPlay

Acompanhe o MaDame Lumière para saber mais sobre os filmes

Viva à permanência da Mostra SP em 2020!


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Experimentação no Cinema, assim com a Arte em si como um todo, é um território de liberdade narrativa e criativa. São múltiplas linguagens e inter-relações de natureza artística, temática, simbólica, linguística, social, entre tantas outras, que podem ser realizadas através dele e, evidentemente,  o cineasta tem a liberdade para pesquisar, definir, desenvolver e orquestrar recursos,  perspectivas, movimentos, imagens e toda sorte e oportunidades de fruição pela Arte.



Entretanto, espera-se, pelo menos, considerando a potencialidade de conexão com o público, o mínimo de narrativa, ainda que ela seja não-linear. Ela é relevante sob a visão da recepção da obra, e da reflexão e discussões a partir da experiência cinematográfica.






Em Limiar(Threshold, 2020), os realizadores Rouzbeh Akhbari e Felix Kalmenson entregam um filme que perde essa oportunidade de conexão a partir de como a narrativa foi estruturada e desenvolvida. Inspirados pela ideia de um personagem-cineasta que busca locações para seu filme na Armênia, a tentativa foi percorrer uma jornada de interações, relações e experimentações com esses espaços, realidades e historia da região, porém, Limiar não funciona bem como longa-metragem.



Pode-se afirmar que o longa é muito mais uma jornada fotográfica, resultando em uma exposição mais espacial (geográfica) do que o hibridismo tempo-espaço-personagem-enredo-narração em uma narrativa básica. Se Limiar estivesse em uma exposição de Artes Visuais, ele funcionaria bem melhor como produto de Arte. Como Cinema, não.



Deveras, há experimentação visual e sensorial em algumas imagens, porém, o personagem em questão é muito mais um figura sem muita ação, bastante passiva. Não se aproxima nem à função de um coadjuvante. Ainda que os realizadores optassem por um homem sozinho pela Armênia, a relação do homem em busca de locações poderia ter tido algum atrativo em termos de narrativa, até mesmo considerando o próprio processo criativo do diretor. Nem mesmo as belas imagens de uma geografia distante e exótica mantêm o engajamento da obra.







Ademais, considerando o sentido de limiar como lugar que permite a entrada e/ou acesso, que marca o início de algo, ou que expõe o eu, suas subjetividades e limites sensoriais, temporais e abstratos, levando a uma exteriorização dessa alteridade e vivências, também, o filme não coloca para fora a experimentação além da estética. Muitas imagens surgem ali mais como uma contemplação do plano imagético, de forma muito isolada, do que propriamente com função narrativa que aproveite a potência do simbólico e do esculpir do tempo e espaço.



O filme passa a mensagem de que os realizadores não tinham muito claro o que fazer com relação a essa potência da imagem, do tempo e sua relação com o simbólico e com as questões geopolíticas e sociais da Armênia. Nem sempre um processo narrativo de Cinema resulta em um longa-metragem. Às vezes,  um percurso de imagens são como um esboço, uma preparação para algo além.



Nesse sentido, Limiar se aproxima de um exercício estético inacabado e indeterminado. Ele poderia ter sido melhor amadurecido com o tempo, caso a ideia fosse realmente relacionar a geopolítica e as complexas fronteiras identitárias, étnico-raciais, culturais e geopolíticas dessa ex-República Soviética.



A própria sinopse promete algo que não entrega na realização ao mencionar "uma narrativa que caminha entre o mundano e o transcendental". De maneira geral, as imagens terrenas não extrapolam algo espiritual, transcendental e até mesmo catártico. Está longe disso por conta dessa indefinição da narrativa! 



Limiar funciona mais como uma exibição fotográfica, uma contemplação documental de uma viagem mais solitária do que interacional. Perderam a oportunidade de explorar a ancestralidade, as fronteiras, as pessoas e até mesmo a cultura Armênia para que o mundo a conheça melhor.



(1,5)



Fotos: uma cortesia Reprodução Mostra SP via assessoria de imprensa do evento.

MaDame te mostra a  Mostra internacional de Cinema  Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo Acompanhe! ...

MaDame te mostra a Mostra internacional de Cinema 
Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
Acompanhe!







Por Cristiane Costa


Quando um filme de horror é originário da Islândia, país que está em alta na Mostra internacional de Cinema de São Paulo com longas bem recebidos pelo público como "Ovelha Negra", "Pardais" e "Virgin Mountain", não há como não ser despertado por um ímpeto de curiosidade, principalmente quando o gênero horror moderno e de qualidade tem sido uma raridade. Como nem tudo são flores em uma Mostra, cabe falar aqui do que não deu certo. Baseado em uma tragédia familiar, "Túmulos e Ossos" de Anton Sigurosson é forte candidato a um dos piores filmes de horror dos últimos tempos.  A explicação é simples: o diretor teve tudo para gerar um clima de tensão e explorar o drama familiar mas, de tanto ficar preocupado em gerar essa crescente tensão, esqueceu de contar a história, desenvolver os personagens  e de, pasmem, pregar um bom susto.


Na história, Gunnar (Björn Hlynur Haradldsson) está envolvido em um escândalo financeiro e em crise com a mulher Sonja (Nína Dögg Filippusdóttir). Desde o falecimento da filha do casal, o casamento não vai bem. Após uma tragédia familiar, eles visitam a sobrinha Perla (Elva María Birgisdóttir), garota estranha e misteriosa. Acontecimentos sinistros começam a acontecer na casa. 


Como podem ver, é um roteiro mais do mesmo, portanto o que faria a diferença é exatamente a execução e criar um suspense que fosse eficiente na conclusão. O que o diretor faz? Promete o que não entrega. A tensão existe mas nada acontece de  interessante  e as tentativas de dar susto na plateia não têm qualquer vigor e naturalidade. Chega a ser ridículo como ele não conseguiu nem colocar em prática os sustos clichês que ocorrem no Cinema Hollywoodiano. Por incrível que pareça, o resultado ficou aquém dos filmes medianos do gênero e de origem americana.  Também, ao colocar uma atriz mirim que leva jeito para ser uma criança sinistra e potencialmente diabólica, Sigurosson poderia ter desenvolvido melhor o papel dela. Também não acontece isso. Ela apenas encara a câmera como se fazê-lo fosse suficiente.



Mas o principal equívoco dele é não refletir a qualidade dos demais filmes da Islândia que têm sido apresentados na Mostra.  O Cinema Islandês tem uma qualidade: os atores, fotografia e elementos que compõem a cena são mais reais, palpáveis. É como o bom cinema independente de países Nórdicos, a cinematografia tem essa virtude de colocar o público em histórias mais naturalistas, dramáticas. Entretanto, em "Túmulos e Ossos" esse realismo só fica na intenção e nem a movimentação da câmera na intimidade familiar salva o longa. O roteiro deixa muito a desejar e seria mais interessante se o diretor tivesse optado por fazer um drama sem elementos de horror já que esses últimos quase inexistem. Mesmo em determinadas escolhas como criar suspense através do silêncio e de personagens dúbios e estranhos, a execução acaba sendo frágil.





Considerando o efeito piloto automático do longa, é importante que os diretores do gênero não façam o público cinéfilo e leigo perder tempo com um filme que nem o clichê entrega muito menos o que é qualitativamente eficaz e original. Perde-se muito tempo com roteiros e direções que não compreendem a essência do terror, do medo, da paranoia, da tragédia e da psicologia humana em geral. Profissionais que decidem se dedicar a esse gênero têm que dominar esse campo cinematográfico, por isso, "Túmulos e ossos" é uma aula de como não fazer um filme de horror. 




Ficha técnica do filme ImDB Túmulos e ossos

O que as mulheres querem ( Sous les jupes des filles , 2014) é o primeiro longa-metragem de Audrey Dana e traz uma comédia apenas co...





O que as mulheres querem (Sous les jupes des filles, 2014) é o primeiro longa-metragem de Audrey Dana e traz uma comédia apenas com personagens centrais femininas. No total são 11 mulheres em situações relacionadas à carreira, amor, casamento, saúde, entre outros. Embora bem intencionado para tratar questões cotidianas sobre o universo feminino e ter um elenco de ótimas atrizes como Isabelle Adjani, Vanessa Paradis, Laetitia Casta, Julie Ferrier e Sylvie Testud, o filme se perde em sua própria ambição de trabalhar com diversas histórias que não se conectam verdadeiramente com o público.


Ainda que se trate do primeiro filme e há uma inexperiência natural da cineasta para orquestrar cenas que falam pela emoção e com sinceridade sobre mulheres, o roteiro emenda histórias que, em si, pouco desenvolvem os personagens e que poderiam ter melhor significado prático para a compreensão do público, principalmente o feminino.  O roteiro é extenso e a edição é costurada sem efetivos ganchos que apreendem a atenção e mantêm o vínculo com cada personagem. Tanto que qualquer uma destas histórias poderia ser retirada do texto e não faria qualquer diferença. Não conquistam. Não permanecem. A grande ironia de "O que as mulheres querem" é que roteiristas e diretora não sabiam o que elas querem. Se soubessem, o resultado seria mais positivo. Com isso, o longa se arrasta por quase duas horas, com um desperdício de subtemas e atrizes. Um exemplo claro disso é o trio de boas atrizes dramáticas como Isabelle Adjani, Julie Ferrier e Sylvie Testud que têm personagens extremamente pequenos e subutilizados.








À luz dos dilemas da evolução da mulher na sociedade, duas tentativas que poderiam ter sido melhor elaboradas são relacionadas a personagens Rose e Ysis . Rose (Vanessa Paradis), uma executiva que , embora cercada de homens no escritório, tem a vida solitária e pouquíssimos vínculos como familiares e amigos. Na tentativa de mudar sua rota de relacionamentos, ela começa a baixar a crista e retomar amizades. Ysis (Geraldine Nakache) é uma dona de casa, pouco vaidosa e com um marido galanteador. Ela se envolve em um relacionamento homossexual e muito pouco do seu dilema é desenvolvido. Desta forma, o filme é uma bonita colcha de retalhos à primeira vista mas não aquece o coração. 







Falar sobre desafios diários como "manter um casamento", "ser sexualmente atrativa e ainda cuidar de quatro filhos", "ter desejo por outras pessoas, inclusive do mesmo sexo", "resgatar ou manter o vínculo afetivo com amigos, conhecidos e familiares", "lidar com a autoestima", "lançar-se em um novo relacionamento" etc são temas recorrentes em vários filmes. A diferença é que, ao propor um filme sobre mulheres, é necessário entender como elas funcionam, como se conectar com elas (e também com os homens) em cenas que  conquistem pela honestidade, como ser um bom contador de histórias que dê conta da complexidade que é falar do sexo feminino em uma narrativa simples, leve e bem humorada. Aqui, são poucas as cenas que existe esta sinceridade. Por mais que se dê um crédito a um longa de estreia, a experiência é cansativa, frustrante e sem ritmo. 



É importante ressaltar que pulverizar histórias com poucos personagens seria uma estratégia mais objetiva e potencialmente bem sucedida.  O risco de trabalhar com n histórias e não dizer muita coisa é um risco previsto para cineastas sem muita experiência em direção, tanto que, até os mais experientes, também têm que ter uma sólida habilidade para montar um filme com elenco central maior. Agregar como a mente de uma mulher funciona torna o desafio cinematográfico bem arrojado. Desafio e dom para poucos.






 Ficha técnica do filme ImDB O que as mulheres pensam


Não há pior cilada para um(a) cinéfilo do que assistir a um desastre cinematográfico desnecessário, principalmente no Cinema Nacional, uma s...




Não há pior cilada para um(a) cinéfilo do que assistir a um desastre cinematográfico desnecessário, principalmente no Cinema Nacional, uma seara que tem evoluído e tem muito a acrescentar para ensinar o Brasileiro a pensar e não só a rir desenfreadamente com piadinhas típicas de stand up de programas televisivos. Sabe aquele filme que, mesmo seguindo as receitas prontas de um humor apelativo, clicherizado e machista, consegue um efeito muito distante do bom cinema cômico? Pois é, temos agora uma nova Cilada "Pie" Americanizada made in Brazil, o mais recente exemplo de filme piadista, extensão de produto de consumo de TV a cabo. Ele é Cilada.Com, com roteiro de Bruno Mazzeo e direção de José Alvarenga Jr (de Os Normais), dois profissionais talentosos e experientes em arrancar gargalhadas da plateia porém, desta vez, exageraram no tom e entregaram um filme com excessos: um roteiro que forçou em palavrões, piadinhas sujas, situações forçadas e constrangedoras e no narcisismo do dono da Cilada, Bruno Mazzeo. Nesse aspecto, a primeira pergunta que o bom observador se faz é a seguinte: O que é humor no Brasil atual ? O que é humor no Cinema? O bom Humor é o que é apresentado na fita? O bom humor é depreciar as pessoas, etiquetá-las com estereotipos e encher o texto com baixaria e palavrões ao invés de provocar o público para uma reflexão com o mínimo de inteligência?

Cilada.Com gira em torno de uma grande cilada que se desdobra em outras ciladas. Bruno (Bruno Mazzeo) traí a namorada Fernanda (Fernanda Paes Leme) na mais ridícula e embaraçosa das situações que expoem a amada à uma vergonha assistida pelos convidados de uma festa de casamento. Ela, fazendo jus à pior vingança do mundo: a feminina, vai aos arquivos sexuais do casal e coloca o vídeozinho de uma transa deles na internet. Ao invés de uma trepada show, o que os internautas verão é Bruno transado em menos de 20 segundos na mais triste e egocêntrica das performances masculinas. Sofrerá o rapaz de uma ejaculação precoce? Nessas horas nas quais a intimidade já foi para a web, para quem já está em uma cilada aos olhos e aos risos de milhares de telespectadores, ter ejaculação precoce é um mero detalhe a ser usado para ridicularizar mais ainda o pulador de cerca. No final, a pergunta que se autocalará é: Foi bom pra você?








Seguindo a previsibilidade da massa, o filme faz rir porque está muito aderente ao universo cultural da ala do povo Brasileiro que adora um sarrinho e uma baixaria e cultua as piadas do machismo tão intríseco no humor do país. Aqui, o herói cinematográfico envergonhado em sua intimidade vai tentar provar que é bom de cama ao invés de provar o quanto ama a namorada. Pelo menos, as primeiras iniciativas são buscar comprovar sua virilidade seja pelos testemunhos de ex-namoradas seja pela tentativa de protagonizar uma transa fenomenal sob a lente de um cineasta contratado. Oras, Bruno está disposto a enganar outras mulheres para obter o seu vídeo demonstrativo de machão homo sapiens, afinal o seu umbigo cresce a cada tomada e o seu pênis também quer. Baseando-se nessa premissa, não há como negar que Bruno Mazzeo faz um texto pertinente para atrair os telespectadores que adoram esse tipo de apelo; na sala de projeção, as gargalhadas não parám, só demonstram que mais engraçado do que ver um cara gozar em 12 segundos é gozar da cara dos outros. O povo ri do bafão da bela executiva, da namorada traída na frente da família, da bunda do cineasta obeso e negro, do bizarro comportamento do pai de santo, da cabelereira do chefe da publicidade, da empregada nordestina confundida com uma prostituta, ou seja, todos têm que passar por situações ridículas impregnadas de estereotipos humanos e sociais e fórmulas prontas do mercado do riso de apelação. Só depois do público tirar sarro dos personagens, o herói arrependido se redime no final e tem a benção do amor. E é esse o Cinema Brasileiro que pretende levar milhões de espectadores aos cinemas de forma a gerar o incremento das bilheterias do país? Mais uma cilada para a Sétima Arte.








O filme só tem um efeito positivo: a atuação carismática de Bruno Mazzeo. Mesmo com suas piadas grosseiras, ele tem um estilo sarcástico, sabe atuar e conquistar, sustentando o interessse do público pelo seu personagem. Aliás, Bruno interpreta a ele mesmo e parece ter feito o filme como um projeto que extrapola o pessoal e vai direto à massagem do seu ego na mais profunda das realizações. A direção de José Alvarenga Jr não tinha muito a acrescentar a não ser a experiência prévia com comédias, considerando que a enfâse em Cilada.Com é o seu texto fadado a gerar o riso pausterizado, o riso dejá vu e apelativo, além disso não se pode confundir o longa com uma comédia romântica, pois até algumas delas tem mais bom gosto, carisma e conteúdo do que essa fita que é capaz de gravar gozadas em um centro de terapia para ejaculadores precoce. Logo, o filme não tem muito valor como Cinema (e está bem longe do bom Cinema, ou melhor, é uma aula de Como não fazê-lo após várias conquistas de cineastas Brasileiros nos últimos anos). Ele funciona melhor como um produto de mídia fria que é a Televisão e seu poder alienante sobre o público. Aqui, o povo não tem mais nada a fazer a não ser ficar na passividade rindo à toa, de futilidades já vistas em algum outro programa. Pensar para que? O melhor é rir das baixarias, não é mesmo? Ter um entretenimento ligeirinho como uma transa de 12 segundos. Como disse sabiamente o cineasta Claudio Assis em entrevista à Cult desse mês , é triste ver que no país não há o Cinema de Reinvenção, há muito mais o de violência e o que é continuação da novela das 8 h. Portanto, Cilada.Com é muito mais um produto claro de consumo que não precisa ser exibido na Tela Grande. Seria até mais "nobre" ter ficado como seriado na MultiShow ou como um programa especial na Globo, empresas que patrocinam o longa-metragem, assim elas teriam como mantê-lo dentro de casa, gerar economias para fins mais artísticos, evitando mais uma cilada para o Cinema Brasileiro.






Avaliação MaDame Lumière




Título original: Cilada
Gênero: Comédia
Roteiro: Bruno Mazzeo, Rosana Ferrão
Direção: José Alvarenga Jr
Elenco: Fúlvio Stefanini , Thelmo Fernandes , Fabiula Nascimento,Carol Castro, Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Augusto Madeira, Serjão Loroza

Um filme, uma canção por Madame Lumière a combinação inesquecível para uma nostálgica emoção com resenha integral do filme Adaptado do roman...


Um filme, uma canção por Madame Lumière
a combinação inesquecível para uma nostálgica emoção
com resenha integral do filme


Adaptado do romance 'Endless Love' de Scott Spencer, Amor Sem Fim tem foco argumentativo no primeiro amor adolescente, impregnando de muita paixão e obsessão e um desenrolar de fatos trágicos na vida de dois jovens: Jade (Brooke Shields) e David (Martin Hewitt). Em um determinado momento do namoro, eles são proibidos de se encontrarem. O pai de Jade, Hugh (Don Murray) se opõe ao relacionamento dado que os rotineiros encontros noturnos do casal estavam impedindo Jade de se dedicar aos estudos, e de dormir durante a noite. David não se conforma com a separação; impulsivamente toma uma decisão irresponsável e insana que coloca em risco a vida da família de Jade. Os desdobramentos são terríveis para os amantes, pondo em evidência a seguinte indagação: Este amor é 'sem fim' e resiste ao tempo, à distância, às mágoas e todos os tristes acontecimentos na vida de David e Jade?





Ainda que, como formadora de opinião de Cinema, considero este filme bem deficiente; como uma mulher de nostálgicos momentos cinematográficos, não posso excluir o valor que Amor sem Fim teve em minha ingênua e romântica juventude. Ele era o drama de um amor adolescente e eu era uma, compadecia a dor alheia de corações apaixonados. Para quem ama e acredita no Amor e sabe que há sofrimento em amar, Amor sem Fim é convidativo e sofrido. Por outro lado, o longa-metragem tinha de tudo para dar certo como Cinema e como uma sublime e realista história do primeiro amor se a orquestração do cineasta Franco Zefirelli e o roteiro de Judith Rascoe tivessem sido bem elaborados e enfocado a sensibilidade do otimista aflorar do amor e não do drama trágico, forçado. Zefirelli se enveredara em filmar mal pontuais e dramáticos desdobramentos que soam também cômicos. Perceba cenas como o atropelamento do pai de Jade, a briga entre David e Keith, irmão de Jade (James Spader), e o reencontro de David e Jade em um hotel de Nova York. Todos estes momentos são muito 'fake' e, na forma como são registrados, dão vazão ao riso ou ao ridículo de tanto estardalhaço trágico. Zefirelli deixa de lado o explorar genuíno dos sentimentos dos jovens amantes. Brooke Shields era a bela e desejada teen da época (desde Lagoa Azul, 1980), cuja beleza não salvou a tragédia de sua insossa atuação, e Martin Hewitt performa um pouco melhor que ela e tem um papel mais interessante, como o 'bonitinho, problemático obssessivo'.



Brooke e Martin eram bonitos, ficaram nus em cena, e formaram um casal com uma química bem sensual para suas idades ( no filme, ela tem 15 e ele 17 anos). O início do relacionamento apela para cenas em que Jade perde a virgindade, e parte para a 'prática' fazendo amor com David na madrugada. Basicamente a relação deles é filmada assim: o começo de uma obsessão mais carnal. Aí está um dos problemas de Amor sem Fim. Não há um desenvolvimento afetivo romântico no registro, e logo mais, os encontros são proibidos em definitivo e a película enfoca em dramatizar ao extremo o enredo como uma barata tragédia Shakespeariana em plena década de 80. As famílias de Jade e David não se odeiam como os Capuleto e Montecchio, porém Zefirelli traz um pouco de sua experiência 'de tragédias' como Romeu e Julieta (1968) e erra a mão no 'como enfocar tudo isso'. Registra a gratuita resistência familiar ao relacionamento, e desvirtua bastante o sentimento amoroso, dirigindo muito mais uma paixão obssessiva adolescente sem a linguagem envolvente do romantismo, e com bastante sofrimento desnecessário.




Com narrativa, direção e elenco fracos, Amor sem Fim ainda teve sua significativa participação no clima de romance dos anos 80, impulsionado por uma bonita canção-tema marcou a vida dos românticos. Para uma película bem abaixo da média, ela foi afortunada pela trilha sonora e salva pela bela composição musical 'Endless Love' de Lionel Richie, indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro em 1982, entre outras premiações. O sucesso de Endless Love foi tão estrondoso que ela se tornou hit oficial de inúmeros casamentos, foi regravada na voz de Mariah Carey e Luther Vandross, e mais recentemente em um dos mais populares seriados da TV Norte Americana, Glee . É um claro exemplo de canção que tem um peso primordial para o sucesso de uma película, convive com ela em uma relação simbiótica; a música carrega Amor sem Fim nas costas, tanto em sua forma cantada em 2 momentos chave como na versão instrumental; na sua primeira aparição, ela estabelece uma inesquecível comunicação entre os jovens apaixonados. Sua letra pode ter clichês românticos de frases bem prontas como ' você é o único em minha vida', 'nossos corações batem como um', no entanto é uma bela canção tão autêntica e cercada por uma aura de compromisso que é inevitável não pensar nela, com amor. Endless Love é como se fosse um juramento de amor eterno entre duas almas enamoradas, tanto que a composição é interpretada em dueto, com a participação de Diana Ross. Nisso reside a beleza e a emoção de Endless Love, uma melodia encantadora para uma promessa de amor sem fim.







Avaliação Madame Lumière:



Título Original: Endless Love
Origem: EUA
Gênero(s): Romance
Duração: 116 min
Diretor(a): Franco Zeffirelli
Roteirista(s): Judith Rascoe, baseado no livro 'Endless Love' de Scott Spencer
Elenco: Brooke Shields, Martin Hewitt, Shirley Knight, Don Murray, Richard Kiley, Beatrice Straight, Jimmy Spader, Ian Ziering, Robert Moore , Penelope Milford, Jan Miner, Salem Ludwig, Leon B. Stevens, Vida Wright, Jeff Marcus

Encontro de Casais é o primeiro longa metragem dirigido pelo produtor Peter Billingsley que já havia trabalhado com Vince Vaughn em Sepa...



Encontro de Casais é o primeiro longa metragem dirigido pelo produtor Peter Billingsley que já havia trabalhado com Vince Vaughn em Separados pelo Casamento. Assim como assinou o roteiro da comédia de Peyton Reed, Vaughn também é roteirista de Encontro de Casais, mas infelizmente, o filme está distante da qualidade cômica da briga do casal Brook (Jennifer Aniston) e Gary (Vince Vaughn) e não flue de forma sinérgica e cativante nem no texto, nem na direção, perdendo assim a oportunidade de ganhar a apreciação de um tema muito utilizado e pouco aprofundado no Cinema: A discussão da relação de casais. Dessa vez, o foco é acompanhar a viagem de 4 casais a um resort tropical que oferece um programa de terapia de casais, o Eden. Durante a viagem, há uma tentação à vista: um resort de solteiros que fica do outro lado da ilha. Terapia chata de casais ou festa divertida com solteiros? Eis a questão.

A princípio, o casal Jason (Jason Bateman) e Cynthia (Kristen Bell) propõe a viagem aos outros três casais para que possam conseguir um desconto. São criticados, afinal, quem está prestes a se divorciar são eles e também, quem precisa acordar cedo para fazer terapia de casal quando há a possibilidade de curtir o paraíso terrestre? No entanto, o casal Dave (Vince Vaughn) e Ronnie (Malin Akerman) vê nisso a possibilidade de curtirem um ao outro já que têm filhos pequenos; Joey (Jon Favreau) e Lucy (Kristin Davis) não estão nem aí um pro outro, com um casamento bem distanciado e querem mais é diversão e Trudy (Kali Hawk) acabou de sair de um relacionamento e está namorando uma garota bem mais jovem.




Encontro de casais é o típico filme que tinha tudo para ser melhor por conta da premissa em torno do matrimônio desgastado e dos problemas velados de todo casamento, mas é uma comédia sem carisma e arrastada em um humor que não traz absolutamente nada diferente a não ser um riso pausterizado. Ele usa alguns padrões de casais durante a terapia que são performados por esse bom e subutilizado elenco, mas não entra em um texto substancial para discorrer sobre os problemas de um casamento e ainda força piadas superficiais desperdiçando o paraíso Bora Bora como belo cenário da película. Por que? Primeiramente, a motivação da terapia de casal é de apenas um casal. Jason e Cynthia é o casal que não conseguiu ter filhos ainda. Jason é metódico e lida com o casamento como se fosse um relatório ou uma apresentação de negócios. Cynthia está sufocada e, com sua fragilidade emocional em torno da gravidez, acaba nutrindo o comportamento do marido. Eles são o casal que está disposto a viajar e fazer terapia. Os outros vão pelo embalo festivo e pela amizade, mesmo que tenham problemas como qualquer casal e estejam cegos a isso. Esse já é o problema número 1 desse argumento porque só faz uma terapia genuína de casal quem consegue identificar que há um problema e está compromissado a realizá-la, logo, a premissa do encontro de casais não é tão honesta com o expectador. Para dar risada genuinamente dos momentos terapêuticos desses casais e acreditar que a comédia não está só de palhaçada, é necessário, no mínimo, fingir que o roteiro não forçou o encontro e a terapia de casais, mesmo que ele forçou tal acontecimento. Viu como nossa risada é subestimada pelos roteiros de comédia? A risada e o bom senso.






Durante as conversas com psicólogos, os clichês da discussão de relacionamento são os mesmos: O casal acha que está tudo bem com a relação, o casal não transa mais ou não transa daquela apaixonante e fogosa maneira. A esposa se cala e se afugenta nos afazeres dosméticos e cuidados com os filhos. O homem racionaliza a rotina e só se preocupa com ele mesmo. Até aqui não há problema na abordagem de temas rotineiros, o problema é que os problemas extraconjugais não são convertidos em um texto que ensina algo além do convencional e, pior, não diverte os que apreciam um humor de fácil digestão, porém inteligente. Encontro de casais se torna uma miscelânea de casais com problemas, que estão loucos para fugir para o outro lado da ilha e soltar a franga na farra. E adivinha o que acontece? O óbvio. Não é a terapia que os ajudará com uma solução catártica em valorizar os seus amados. Será exatamente a festa que deixa todo mundo vulnerável, de mulheres carentes e saudosas de seus ex-amados até cenas de ciúmes que revelam o quanto o casal se ama. E não é isso mesmo que acontece? Nos momentos mais espontâneos é que temos medo de perder quem amamos, os valorizamos e os perdoamos, por isso, Encontro de Casais vale mais a pena pela óbvia mensagem final do que pelo início e meio do filme... mas aí, já é tarde demais para consertá-lo e a única vontade que dá é mandar diretor e roteiristas para a terapia, ou para uma escola de Cinema.



Avaliação Madame Lumière:




Título Original:
Couples Retreat
Origem:
Estados Unidos
Gênero(s):
Comédia
Duração:
113 min
Diretor(a):
Peter Billingsley
Roteirista(s):
Jon Favreau, Vince Vaughn, Dana Fox
Elenco:
Vince Vaughn, Jason Bateman, Faizon Love, Jon Favreau, Malin Akerman, Kristen Bell, Kristin Davis, Kali Hawk, Tasha Smith, Carlos Ponce, Peter Serafinowicz, Jean Reno, Temuera Morrison, Jonna Walsh , Gattlin Griffith





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Antes de revisar esse filme, pensei várias vezes se o faria. Para falar a verdade, não faria tanta diferença já que o longa-metragem que une...



Antes de revisar esse filme, pensei várias vezes se o faria. Para falar a verdade, não faria tanta diferença já que o longa-metragem que une a descoberta da dança e do amor faz jus clássico ao clichê romântico e dançante dos filmes do gênero, porém dança é dança e romance e romance e, por que não, valorizar o que o Ritmo do amor se esforça em fazer. Além disso, desde que abri o blog, decidi que seria um blog democrático com o próprio Cinema, sem fazer acepção de gêneros, estéticas, diretores, etc. O bom blogueiro e/ou crítico de cinema tem que estar preparado para desenvolver um olhar sobre todos os tipos de filmes, até os mais besteiróis e tirar algum proveito disso sem depreciar o trabalho alheio, por isso, confesso que entrei no Ritmo do Amor em relação a filmes que não atendam as minhas expectativas, mas ainda assim, são parte do Cinema.





Ritmo do Amor tem a direção de Robert Iscove (de Ela é demais) e relata a história de uma professora de inglês Jessica (Amy Smart) que se adaptou à sua triste cotidiana vida, porém ainda não se deu conta disso. Ela é noiva do workholic Kent (Billy Zane) que só pensa em trabalhar e não tem tempo nem para fazer as desejadas aulas de dança com ela. Kent é o típico homem que não tem tempo nem para a noiva e só pensa em crescer na carreira, logo ele acaba se tornando a personagem mais realista do filme já que existem vários homens desse tipo e, consequentemente, mulheres insatisfeitas e caladas como Jessica. Então, Jessica conhece o professor de dança e ex-campeão americano em campeonato de dança swing, Jake (Tom Malloy) que é deficiente auditivo (fato que torna o personagem dele interessante já que ele consegue conciliar o talento dele para a dança , independente de ser surdo). Ela começa a ter aulas com ele, desenvolvem uma ótima química, decidem competir juntos por um novo campeonato e, à medida que eles ensaiam para o grande espetáculo final, eles passam a vencer suas próprias negações e a se envolverem emocionalmente, ainda que em silêncio. Ela se torna mais bonita e mais feliz e repensa se vale a pena casar-se com um homem viciado em trabalho. Ele supera o fiasco que foi o relacionamento dele com sua ex-parceira de dança, Corinne (Nicola Royston) e descobre um novo amor em Jessica.






Ritmo do Amor é fraco tanto como romance quanto como filme de dança, o que é lamentável pois o amor e a dança são uma mistura bombástica entre parceiros de dança que potencialmente desenvolvem um relacionamento. Dançar a dois é uma troca de energia, de cumplicidade, de confiança, de desejo e, embora Jessica e Jake descubram o amor um pelo outro a partir da dança, isso não é acompanhado pela emoção da dança e pela emoção do romance. Entendem a questão? Falo isso com certa propriedade porque já dancei muito e não há coisa mais maravilhosa ao bailar do que trocar essa energia com um parceiro. Eu entendo o valor da dança e como ela traz felicidade mas também muito autoconhecimento e sedução. Além disso, não há sex appeal algum em Tom Malloy, e muito menos habilidade como roteirista e como dançarino, o que o torna nada interessante em comparação à sensualidade e carisma de grandes atores bailarinos como Patrick Swayze (Dirty Dancing) e John Travolta (Os Embalos de Sábado à noite). Por isso, o longa em si não foi bem desenvolvido, nem na questão da deficiência auditiva (que poderia ser um grande tema a ser explorado), nem mesmo aprofundado para uma dinâmica mais movimentada com espetáculos de danças mais emocionantes a partir do meio e fim do filme, pelo contrário, Ritmo do Amor deixou a dança performática (que é o que mais interessa em filmes desse tipo) para o grand finale, por isso acabou perdendo o ritmo.



Avaliação Madame Lumière:



Título Original:
Love N' Dancing
Origem:
Estados Unidos
Gênero(s):
Dança, Romance
Duração:
93 min
Diretor(a):
Robert Iscove
Roteirista(s):
Tom Malloy
Elenco:
Amy Smart, Tom Malloy, Billy Zane, Nicola Royston, Caroline Rhea, Leila Arcieri, Rachel Dratch, Betty White, Alexandra Krizman, Purva Bedi, Frank Bond, Shane Crown, Jennifer Dunstan, Elise Eberle, Pamela Finley

Paixão Selvagem , dirigido pelo francês Serge Gainsbourg foi um filme muito cult e controverso na década de 70 mesmo para os padrões libe...


Paixão Selvagem, dirigido pelo francês Serge Gainsbourg foi um filme muito cult e controverso na década de 70 mesmo para os padrões libertinos dos amantes franceses, decerto por conta da popularidade de Gainsbourg, um convicto e polêmico músico e compositor que apreciava o carpe diem destrutivo regado a álcool, mulheres e muito sexo. Estrelado por sua ex-esposa, a bela Jane Birkin (com a qual teve a cantora Charlotte Gainsbourg, filha do casal), Joe Dalessandro, Hugues Quester e Reinhard Kolldehoff, Je t'aime, moi non plus apresenta além da famosa erótica canção homônima francesa a temática homossexual entrelaçada a questões dramáticas como o amor, a paixão, o desejo, o sexo e a desilusão afetiva. Neste enredo, Krassky (Joe Dalessandro) e Padovan (Hugues Quester) vivem e trabalham juntos e são caminhoneiros. Ambos têm exatamente o estereótipo homossexual insinuado em grande parte dos filmes, ou seja, eles não têm relações sexuais no vídeo e, muito menos se beijam mas os olhares passionais os denunciam, além disso são bonitos, sarados, usam calças jeans apertadas e estão em um ambiente rústico e entediante. Krassky acaba entrando em um bar de beira de estrada e conhece Johnny (Jane Birkin), uma jovem mulher com aparência masculinizada, cabelos curtos, quase sem seios e nádegas. De imediato, ela o atrae, o desejo desabrocha de forma evidente e ele não tira os olhos dela. Johnny(que recebeu este nome exatamente porque parece um menino de corpo esguio) também se sente atraída por Krassky, começa a fitar a pele e o braço bem definido dele e, sem hesitação, o convida para uma festa no bar mais tarde. Na ocasião da festa, eles dançam juntos e se beijam ao som da clássica música Je t'aime, moi non plus, garantindo à audiência a única cena poeticamente decente do filme. Por outro lado, o começo desta paixão é observada pelo ciúmes do pobre infeliz Padovan e dos comentários reativos de Boris (Reinhard Kolldehoff), o asqueroso chefe de Johnny que tenta avisá-la de que Krassky é gay e ela se decepcionará com o rapaz. O ator Gerárd Depardieu também faz uma participação especial (e dispensável), cuja fala foi uma das mais comicamente ridículas e desnecessárias de todo o longa metragem (ele, sendo um homem cavalgante que nem nome tem, ao encontrar Padovan sofrendo de ciúmes, lhe diz: "Não vou transar com você porque meu pênis é muito grande e já enviei vários ao hospital"). Agora, caro leitor, me diga o que isso tem a ver com o filme e qual a relevância de tal fala para o drama? Serge Gainsbourg podia saber escrever canções, mas texto para cinema, nem pensar.





Johnny e Krassky acabam se envolvendo sexualmente, o que é previsível porque o enredo é baseado nesta tensa paixão entre uma mulher hetero e um homem gay que, particulamente, não achei tão tensa porque é uma das relações mais egoístas que eu já vi na história do cinema, e que ficou bem pior por conta do enredo sem tato e sem sensualidade. Por que é uma relação egoísta? Eu explico-lhes a seguir. Primeiramente, quando eles se conhecem no bar, ainda há uma esperança de que Paixão Selvagem será realmente intenso e potencialmente bem consolidado por este interessante viés passional: início do desejo na contra-mão das preferências sexuais de um deles, olhares marcantes e com o tesão aflorado e a esperada consumação do sexo. Ótimo! Mas alegria de cinéfilo pode durar pouco. Quando eles decidem transar, ele não consegue ficar excitado. Até este momento, é compreensível porque o objeto de desejo sexual de Krassky é primordialmente o sexo masculino, no entanto, dado o desejo de Johnny e sua tolerância e entrega à paixão por ele, ela oferece a si mesmo como um menino, ou seja, oferece o seu corpo para uma relação anal e, então, Krassky consegue transar (e ele só a possuirá desta maneira em todo o transcorrer do filme). Embora eu compreenda que, Krassky, sendo gay ativo, gosta deste tipo de relação, em nenhum momento, ele está disposto a amá-la de uma forma diferente, cedendo também aos desejos dela, ele não faz o mínimo esforço, por isso além das transas serem dolorosas para ela, Johnny praticamente se anulou para viver esta paixão masoquista. Infelizmente, o enredo não se predispõe a valorizá-la enquanto mulher que o deseja e que tem desejos sexuais próprios, logo além de Krassky ser um homem sem qualquer conteúdo sensível e intelectual (só sabe chamar o que e quem ele não gosta de "pedaço de merda"), ele se mostra um homem bonito mas vazio, que só pensa em satisfazer-se da forma que ele gosta sem qualquer espaço ao desejo do outro; sem assumir de vez sua homossexualidade, afinal, para ele Johnny era uma mulher com jeito de menino e, principalmente, com bunda e sem vagina.





Considerando que a idéia do filme fosse somente expor a frieza carnal de
Krassky e o desejo libidinoso dele por só transar com ela somente através de sexo anal, entendo perfeitamente este ponto se o filme tivesse o propósito de manter este foco investigativo do desejo homossexual porque o problema de Paixão Selvagem não é fundamentalmente este; o problema é que o filme não é sexy nem sensivelmente dramático e o diretor foi péssimo em não aproveitar este rico tema controverso para fazer a película brilhar e se tornar excepcional. Muito mais do que uma história complicada de paixão entre um mulher heterossexual e um homem homossexual, o longa metragem é um culto à fixação anal e, por isso, se apresenta como um filme sem nenhum tato por parte do diretor e roteirista para tratar um tema ainda tabu como este, enfocado de uma forma totalmente inverossímil com a sensibilidade tanto do público heterossexual quanto do público gay, infelizmente, um filme vulgar até mesmo para tratar a questão do desejo anal que se tivesse sido bem enfocado poderia ter rendido cenas mais bem sucedidas e impregnadas de um erotismo valoroso. Serge Gainsbourg monopolizou o filme com referências anais enfocadas de forma tosca, desde uso de vasos sanitários na caçamba de um caminhão e de falas de mal gosto, passando por transas cheias de dor nas quais Johnny gritava escandalosamente alto em vários motéis fazendo com que ambos fossem expulsos ("eu não sabia se eu ria ou chorava considerando a falta de tato deste roteiro"), até a implícita citação sobre a bunda do cachorro de Johnny e minutos e minutos de foco nas nádegas de Krassky e Johnny durante um banho em um lago, ou seja, não houve uma elevação do tema a algo mais sensual, mais pulsante das tensões do desejo, delicadamente bem enquadrado pela câmera ainda que pudesse, obviamente, colocar uma forte carga erótica na relação sexual em si. Definitivamente, faltou percepção aguda a Serge Gainsbourg e, honestamente, penso que este filme é de mau gosto, direção precária com uso exagerado de câmera a partir do ponto alto, bird eye) e não dignifica o desejo nem mesmo homossexual, pois tenho alguns amigos gays e jamais eles são medíocres como o filme, pelo contrário, são inteligentes, poéticos e até mesmo em temas sobre o desejo eles conseguem ser sensíveis e de fino trato principalmente cinéfilo, prova disso é alguns deles admirarem O Segredo de Brokeback Mountain que, embora tenha um outro tipo de relação em foco, consegue ter muito mais sensibilidade e desejo à flor da pele e ilustrar verdadeiramente o drama dos sentimentos em pauta através notáveis direção e roteiro. Paixão selvagem trata o tema amoroso e sexual com uma selvageria total e o desfecho só reforça isso. Mesmo se o intuito do roteiro fosse mostrar que uma relação desta é fadada ao fracasso, um pouco de sexo com sensualidade não faria mal a ninguém. Convém salientar que o filme só chama a atenção por conta da presença de Jane Birkin, que foi diva francesa clássica, símbolo cool fashion style sexual de toda uma geração e da canção título que virou trilha sonora até de motéis. Só lamento que o filme seja tão descartável, perdeu a oportunidade de ser uma obra prima verdadeiramente e eroticamente poética do Cinema Francês.


Avaliação Madame Lumière






Título original: Je t'aime, moi non plus
Origem: França
Gênero: Drama
Duração: 90 min
Diretor(a): Serge Gainsbourg
Roteirista(s): Serge Gainsbourg
Elenco: Jane Birkin, Joe Dalessandro, Hugues Quester e Reinhard Kolldehoff

Assistir Entre Lençóis após 9 1/2 semanas de amor pode ser altamente broxante. Juro-lhes que eu quase abandonei "entre lençóis" ...


Assistir Entre Lençóis após 9 1/2 semanas de amor pode ser altamente broxante. Juro-lhes que eu quase abandonei "entre lençóis" e fui me divertir entre meus lençóis (risos) e, durante boa parte do filme, fiquei a pensar que o roteirista Rene Belmonte deveria ter adotado a tática de Adrian Lyne, ou seja, colocar o casal para transar de forma mais espontânea e erótica ao invés de enchê-los com diálogos cansativos e patéticos dignos de um roteiro mal mensurado, enjaulados em um quarto de motel horroroso, sem estética e com uma fotografia pobre. O filme brasileiro baseado no original latino "Entre Sabanas" do mesmo diretor Gustavo Nieto Roa e estrelado pelos belos Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira é um teste de resistência ao mais otimista dos cinéfilos ao expor um casal desconhecido que após se conhecer na balada, vai direto ao motel e, entre algumas trepadinhas básicas e algumas conversas que soam como forçadas e complexas demais para o "one night stand", os protagonistas chegam a fantasiar que ficariam juntos. Sem dúvidas, eu deveria ter sabido que meus lençóis seriam muito mais divertidos, principalmente após dar uma de voyeur contemplando o bumbum de Mr. Gianecchini.



A propósito, Reynaldo Gianecchini é Roberto que antes de conhecer Paula (Paola Oliveira) acabou de terminar uma relação de 3 anos com Cris. Paula vai se casar no dia seguinte com Marcos, logo entre o fim de uma relação e a consolidação de outra, estão Roberto e Paula tendo uma festinha privê no motel VIP, famoso no Rio de Janeiro. No começo do filme, a transa promete: beijos selvagens, pegadas fortes e o tesão a mil por hora. Corpos nus belíssimos e o carisma dos atores, o grande apelo para a audiência nacional, parece funcionar, no entanto após uns 20 minutos de filme, o roteiro se torna um desafio para aguentar os outros 76 minutos de duração do filme .Entre transas e briguinhas rápidas e infantis, Roberto e Paula começam a trocar confidências que vão desde brincar de momento "intimidade" até começar a fantasiar que estão apaixonados, indicando que deveriam ficar juntos após a noite de sexo. Neste ponto, o filme peca, não somente pelo diálogo em si, o que seria produtivo se ele não fosse tão extenso e artificial, mas pelo inusitado explorado nesta noite com um roteiro arrastado que tenta sobreviver a qualquer custo até mesmo com devaneios românticos. Além disso colocar Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira em um quarto de hotel trancafiados a quatro chaves é um grande desafio aos atores que, embora o tenham segurado com competência, ainda assim deixou-me sem um pingo de paciência com relação à fotografia mal feita, quase claustrofóbica, fora que há momentos cômicos no filme que me fizeram rir, rir e rir, de forma negra.



Vejamos algumas pérolas dignas a serem incluídas na sessão Madame Lumière pede socorro durante o filme(e reforço que não é que eu não seja romântica e um pouco psicologicamente poliana, mas pelo amor de Deus, lembrem-se que isso é uma transa casual entre desconhecidos cujo roteiro é empurrado às últimas até acabar o filme. Eu prefiro acreditar que, de forma factível, atitudes movidas por paixão como esta acontecem a partir, no mínimo, da segunda transa ou terceira transa e/ou encontros):

- Paula e Roberto confessam que estão se "envolvendo", pelas minhas contas, antes do quarto gozo.
- Roberto faz uma surpresa romântica para Paula e deixa o quarto cheio de rosas desde o chão até a cama.
(surreal demais para uma transa pós balada... o que a falta de um enredo pode causar a um filme!)
- Em uma romântica cena, ambos vão ver o amanhecer na sacada do quarto e, de repente, o celular de Roberto toca, toca e toca insistentemente. Ele fica com cara de mané sem atendê-lo porque é a Cris quem está lhe chamando e permanece olhando para Paula que se irrita e pede para ele colocar no vibra-call. (quanto constrangimento desnecessário!)
- Após ler a mensagem de Cris(a mulher de Roberto) no celular dele, Paula faz um drama de que ficou com medo de perdê-lo, de entregar os sentimentos dela de "bandeja" e ficar sem Roberto. Ela diz que precisava sentir nele esta "firmeza" e ele responde "Você também não acha que isso é difícil para mim"? (pasmem! eles estão delirando em um show privativo de fantasias românticas pós coito).
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Paula diz para eles ligarem para Marcos e Cris e dizerem toda a verdade a eles, começando a relação tudo do zero. (risos... ela vai se casar mesmo?, afinal Roberto tem menos a perder do que ela, segura seu Marquito, querida!)
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Roberto diz que Paula é a mulher mais sensacional do mundo e que ele não tem raiva de mais ninguém (???) após conhecê-la, por isso não pode tratar Cris de qualquer jeito e, emenda: "Você acha justo partir o coração de Marcos assim também"? (momento "vamos relativizar as coisas" e matar um pouco mais o filme)
- Roberto diz: "Agora para sempre será só nós dois". ( Eu quero o corpinho e a loucura do Gianecchini)
- Após definirem que a fantasia é a única coisa que sobrará desta longa noite, mais uma transa rápida e romantizada entre as pétalas de rosas. (inesquecível, não? para esquecer o filme de vez e lembrar que as rosas são eternas...risos)




Sinceramente, agora tirando o trigo do meio do joio, penso que Gustavo Nieto Roa e Rene Belmonte tiveram uma boa intenção com o filme, recriando este cenário entre lençóis de dois amantes desconhecidos que desfrutam o prazer e colocam à prova seus próprios sentimentos afetivos, neste sentido, não tiro o mérito da intenção da fita, mas ao invés de apreender o interesse e a satisfação da audiência com uma sensual performance e um diálogo mais equilibrado, Entre Lençóis acaba empurrando a si mesmo como se não houvesse mais opção nem mesmo para a ação e os diálogos das personagens. A culpa é mais do roteiro que se torna ainda pior com o cenário e, neste ponto, deveriam ter sido melhor trabalhados de forma a não serem tão exaustivos.


Em alguns momentos do filme, Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira já não tinham mais posições para mostrar outros focos de seus corpos nus, usados de forma apelativa, muito menos assunto interessante para conversar logo começaram a fantasiar a relação e, ainda que eu seja mais "pé no chão e muito esclarecida" com relação a sexo casual me preservando como uma mulher romântica, estou segura de que o filme forçou demasiado este romantismo enganoso com evocativas fantasias de que poderiam ficar juntos e de que estavam sentindo um "algo a mais". N
ão acho impossível que eles pudessem ficar juntos, mas não seria uma decisão que chegaria a ser tomada seriamente em uma madrugada em um quarto de motel pós fervor baladeiro, a relação poderia evoluir em outro segmento de ações caso este fosse o intuito do roteiro, logo para Roberto e Paula este roteiro foi forçado demais e se tivessem tomado umas biritas, transado como coelhos e rido como palhaços o filme poderia ser menos trágico. Convém comentar que, como ocorrido no filme, muitas vezes o sexo bom faz a gente fantasiar que aquela noite louca de sexo casual pode se desenvolver para algo mais profundo, o sexo é tão bom que pensamos que estamos nos apaixonando ou, no mínimo, a vida afetiva está tão confusa em meio à insegurança e aos conflitos que o vazio da alma e do corpo é preenchido com o fogo que recarrega as esperanças em uma incrível noite de sexo que pode ser transfromado em um potencial amor. Apesar de considerar o filme abaixo da média, penso que este seja o ponto desta produção cinematográfica, uma intimidade entre lençóis que se converte em questionamentos sobre o próprio curso das vidas de Roberto e Paula. Um curso que não mudará de curso após uma perene fantasia entre ambos e muito menos de lençóis.

Avaliação Madame Lumière


Título original: Entre Lençois
Origem: Brasil
Gênero: Drama, Romance
Duração: 96 min
Diretor(a):
Gustavo Nieto Roa

Roteirista(s): Rene Belmonte
Elenco:
Reynaldo Gianecchini, Paola Oliveira

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