Não há pior cilada para um(a) cinéfilo do que assistir a um desastre cinematográfico desnecessário, principalmente no Cinema Nacional, uma seara que tem evoluído e tem muito a acrescentar para ensinar o Brasileiro a pensar e não só a rir desenfreadamente com piadinhas típicas de stand up de programas televisivos. Sabe aquele filme que, mesmo seguindo as receitas prontas de um humor apelativo, clicherizado e machista, consegue um efeito muito distante do bom cinema cômico? Pois é, temos agora uma nova Cilada "Pie" Americanizada made in Brazil, o mais recente exemplo de filme piadista, extensão de produto de consumo de TV a cabo. Ele é Cilada.Com, com roteiro de Bruno Mazzeo e direção de José Alvarenga Jr (de Os Normais), dois profissionais talentosos e experientes em arrancar gargalhadas da plateia porém, desta vez, exageraram no tom e entregaram um filme com excessos: um roteiro que forçou em palavrões, piadinhas sujas, situações forçadas e constrangedoras e no narcisismo do dono da Cilada, Bruno Mazzeo. Nesse aspecto, a primeira pergunta que o bom observador se faz é a seguinte: O que é humor no Brasil atual ? O que é humor no Cinema? O bom Humor é o que é apresentado na fita? O bom humor é depreciar as pessoas, etiquetá-las com estereotipos e encher o texto com baixaria e palavrões ao invés de provocar o público para uma reflexão com o mínimo de inteligência?
Cilada.Com gira em torno de uma grande cilada que se desdobra em outras ciladas. Bruno (Bruno Mazzeo) traí a namorada Fernanda (Fernanda Paes Leme) na mais ridícula e embaraçosa das situações que expoem a amada à uma vergonha assistida pelos convidados de uma festa de casamento. Ela, fazendo jus à pior vingança do mundo: a feminina, vai aos arquivos sexuais do casal e coloca o vídeozinho de uma transa deles na internet. Ao invés de uma trepada show, o que os internautas verão é Bruno transado em menos de 20 segundos na mais triste e egocêntrica das performances masculinas. Sofrerá o rapaz de uma ejaculação precoce? Nessas horas nas quais a intimidade já foi para a web, para quem já está em uma cilada aos olhos e aos risos de milhares de telespectadores, ter ejaculação precoce é um mero detalhe a ser usado para ridicularizar mais ainda o pulador de cerca. No final, a pergunta que se autocalará é: Foi bom pra você?
Seguindo a previsibilidade da massa, o filme faz rir porque está muito aderente ao universo cultural da ala do povo Brasileiro que adora um sarrinho e uma baixaria e cultua as piadas do machismo tão intríseco no humor do país. Aqui, o herói cinematográfico envergonhado em sua intimidade vai tentar provar que é bom de cama ao invés de provar o quanto ama a namorada. Pelo menos, as primeiras iniciativas são buscar comprovar sua virilidade seja pelos testemunhos de ex-namoradas seja pela tentativa de protagonizar uma transa fenomenal sob a lente de um cineasta contratado. Oras, Bruno está disposto a enganar outras mulheres para obter o seu vídeo demonstrativo de machão homo sapiens, afinal o seu umbigo cresce a cada tomada e o seu pênis também quer. Baseando-se nessa premissa, não há como negar que Bruno Mazzeo faz um texto pertinente para atrair os telespectadores que adoram esse tipo de apelo; na sala de projeção, as gargalhadas não parám, só demonstram que mais engraçado do que ver um cara gozar em 12 segundos é gozar da cara dos outros. O povo ri do bafão da bela executiva, da namorada traída na frente da família, da bunda do cineasta obeso e negro, do bizarro comportamento do pai de santo, da cabelereira do chefe da publicidade, da empregada nordestina confundida com uma prostituta, ou seja, todos têm que passar por situações ridículas impregnadas de estereotipos humanos e sociais e fórmulas prontas do mercado do riso de apelação. Só depois do público tirar sarro dos personagens, o herói arrependido se redime no final e tem a benção do amor. E é esse o Cinema Brasileiro que pretende levar milhões de espectadores aos cinemas de forma a gerar o incremento das bilheterias do país? Mais uma cilada para a Sétima Arte.
O filme só tem um efeito positivo: a atuação carismática de Bruno Mazzeo. Mesmo com suas piadas grosseiras, ele tem um estilo sarcástico, sabe atuar e conquistar, sustentando o interessse do público pelo seu personagem. Aliás, Bruno interpreta a ele mesmo e parece ter feito o filme como um projeto que extrapola o pessoal e vai direto à massagem do seu ego na mais profunda das realizações. A direção de José Alvarenga Jr não tinha muito a acrescentar a não ser a experiência prévia com comédias, considerando que a enfâse em Cilada.Com é o seu texto fadado a gerar o riso pausterizado, o riso dejá vu e apelativo, além disso não se pode confundir o longa com uma comédia romântica, pois até algumas delas tem mais bom gosto, carisma e conteúdo do que essa fita que é capaz de gravar gozadas em um centro de terapia para ejaculadores precoce. Logo, o filme não tem muito valor como Cinema (e está bem longe do bom Cinema, ou melhor, é uma aula de Como não fazê-lo após várias conquistas de cineastas Brasileiros nos últimos anos). Ele funciona melhor como um produto de mídia fria que é a Televisão e seu poder alienante sobre o público. Aqui, o povo não tem mais nada a fazer a não ser ficar na passividade rindo à toa, de futilidades já vistas em algum outro programa. Pensar para que? O melhor é rir das baixarias, não é mesmo? Ter um entretenimento ligeirinho como uma transa de 12 segundos. Como disse sabiamente o cineasta Claudio Assis em entrevista à Cult desse mês , é triste ver que no país não há o Cinema de Reinvenção, há muito mais o de violência e o que é continuação da novela das 8 h. Portanto, Cilada.Com é muito mais um produto claro de consumo que não precisa ser exibido na Tela Grande. Seria até mais "nobre" ter ficado como seriado na MultiShow ou como um programa especial na Globo, empresas que patrocinam o longa-metragem, assim elas teriam como mantê-lo dentro de casa, gerar economias para fins mais artísticos, evitando mais uma cilada para o Cinema Brasileiro.
Avaliação MaDame Lumière
Título original: Cilada
Gênero: Comédia
Roteiro: Bruno Mazzeo, Rosana Ferrão
Direção: José Alvarenga Jr
Elenco: Fúlvio Stefanini , Thelmo Fernandes , Fabiula Nascimento,Carol Castro, Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Augusto Madeira, Serjão Loroza
Ainda tô em dúvida se devo assisti-lo ou não. É que o Bruno Mazzeo é bem chatinho.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Olá MaDame!
ResponderExcluirNossa, não esperava que fosse um filme tão ruim assim. Sua crítica me desmotivou mais do que eu já estava rs. Não aguardava grandes coisas da fita, tampouco esse esculacho. Uma pena que o cinema nacional vem se rendendo a esses enlatados comerciais da Rede Globo. Uma pena! Mazzeo é legal, mas enjoa facilmente. Ainda estou considerando a minha ida no cinema, porque entrar em cilada sabendo do que se trata é muito masoquismo rs.
Bjs!
Pra ser bem sincera, não achei esse filme uma cilada tão grande assim! Acho que a obra faz jus ao seriado no qual se inspira... O que me chocou mesmo foi o Bruno Mazzeo, que é uma revelação do novo humor brasileiro, usar uma linguagem tão anos 70/80, com tanta baixaria e piadas de duplo sentido....
ResponderExcluirTem cara de ser uma cilada de péssimo gosto. Não tenho vontade de conferir, não...
ResponderExcluirOi Madame!
ResponderExcluirCompartilho do mesmo sentimento que você ao ter visto esse filme. O Bruno Mazzeo é um bom humorista, mas infelizmente esse filme dele não foi pra lugar nenhum, apelando para um humor de péssimo gosto. É uma cilada mesmo.
Abs. Linno.