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Lançamento nos Cinemas 27 de Novembro de 2025
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A Natureza das Cosas Invisíveis: O Luto no Olhar e a Liberdade de Perguntar
Com estreia nacional em 27 de novembro pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras, A Natureza das Coisas Invisíveis surge como um coming-of-age urgente no cinema brasileiro. Ambientado nas férias de verão, o filme aproxima as crianças Glória e Sofia em um hospital, unidas pela necessidade de encarar as verdades agridoce da vida e da morte que os adultos tentam suavizar. A obra de Rafaela Camelo nasce da curiosidade infantil diante da finitude e da ausência de liberdade para formular perguntas difíceis. É um filme que ilumina a capacidade única das crianças de reinventar sentido, obrigadas a inventar novos imaginários para decifrar o luto e seguir adiante.
O filme se inicia com uma amizade que floresce em um hospital, espaço que funciona como fronteira entre saúde, doença e morte. Glória (Laura Brandão), transplantada e acompanhando a mãe (Larissa Mauro) que trabalha no hospital, e Sofia (Serena), cuja bisavó (Aline Marta Maia) está internada e acompanhada pela mãe (Camila Márdila), são obrigadas a enfrentar essa fronteira existencial. O ambiente hospitalar as coloca diante das “coisas invisíveis” e de perguntas que os adultos nem sempre sabem ou desejam responder. Como crianças inteligentes e autênticas, elas acionam seu motor de resistência e fazem o que a infância realiza com maestria: ser curiosa, criativa e indagadora. Nesse percurso, a dor do luto se revela como a primeira grande verdade que a singularidade da infância precisa decifrar.
A estrutura narrativa se revela como uma engenhosa metáfora. O filme se divide em dois atos distintos: o primeiro, ambientado no hospital, impõe a fronteira existencial da dor e do desconhecido. Nesse espaço, o tédio, a tensão e o silêncio deixam as crianças à mercê do tempo institucional, cuja seriedade é suavizada pela presença de um paciente idoso e pela singularidade da infância.
Essa mudança de espaço não é apenas geográfica, mas simbólica, marcando a passagem da dor institucional para o acolhimento comunitário. A transição para o refúgio no interior de Goiás é funcional e, como explica a cineasta Rafaela Camelo, é como se naquele ponto o filme precisasse morrer para que outro pudesse nascer. Longe da rigidez hospitalar, o interior oferece um espaço mais acolhedor, onde fé, espiritualidade e tradições da terra ensinam uma forma mais sábia de lidar com a morte e a vida. É ali que Glória e Sofia encontram sua verdadeira identidade e pertencimento.
A direção de fotografia revela uma sensibilidade que valoriza a brasilidade, a identidade local, a simplicidade e o aconchego familiar. O filme é valorizado pela diversidade de seu elenco, composto por crianças, mulheres e idosos, que trazem naturalidade à narrativa, sobretudo na abordagem de gênero em Sofia, sem a necessidade de rótulos.
O trabalho das jovens atrizes Laura Brandão e Serena dá força à experiência, pois interpretam Glória e Sofia com emoção e organicidade. Rafaela Camelo reconhece essa contribuição decisiva, afirmando que as meninas trouxeram autenticidade ao filme com suas ações genuínas e a forma de se mover no espaço, ajudando inclusive a fechar o roteiro de certa forma. Essa escolha estética se conecta diretamente ao impacto pedagógico da obra, que afirma a infância como sujeito de direitos, garantindo às crianças o direito de criar o seu imaginário cotidiano e de compreender a morte e a perda, temas ainda considerados tabus. A direção estabelece uma resistência construída que valoriza os valores da memória e do luto no Brasil.
A Natureza das Coisas Invisíveis já conquistou reconhecimento nacional e internacional, vencendo dois prêmios na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Coelho de Ouro e o Coelho de Prata no Festival Mix Brasil, além de três Kikitos no Festival de Gramado: Melhor Atriz Coadjuvante para Aline Marta Maia, Melhor Trilha Musical para Alekos Vuskovic e o Prêmio Especial do Júri. Esses prêmios reforçam a relevância da obra e consolidam seu lugar no cinema brasileiro contemporâneo.
Pela sua potência pedagógica e pelo profundo respeito em colocar a criança como protagonista atuante no ciclo de vida e morte, o Madame Lumière o recomenda para professores, educadores, gestores escolares e famílias. Afinal, quando a morte dos mais velhos chega, são as crianças que permanecerão para construir e mudar este mundo tão carente de conexão.


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Cristiane Costa, MaDame Lumière