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  Lançamento @A2Filmes na retomada do Cinema nas salas #Thriller #MulheresnaDireção  #CinemaHolandês Por  Cristiane Costa ,  Editora e blog...

Instinto (Instinct, 2019)

 




Lançamento @A2Filmes na retomada do Cinema nas salas



#Thriller #MulheresnaDireção  #CinemaHolandês




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Como lidar com o poder, a sexualidade e a intimidade quando o instinto não nos preserva de situações perigosas e potencialmente danosas? Como confrontar-se com pulsões do amor e do desejo que podem nos levar a sofrimentos em sérios conflitos com dilemas morais? Como agir quando não sabemos mais identificar as fronteiras e limites de nós mesmos e nossas paixões?











O primeiro longa-metragem da atriz e diretora Holandesa Halina Reijn é um complexo thriller-drama psicológico que traz para a cena todas essas controversas questões. Estrelado por Carine Von Houten (da série Game of Thrones, da HBO) e Marwan Kenzari (do live-action Aladin), Instinto (Instinct, 2019) narra um arriscado jogo de poder e manipulação no qual Nicoline, uma experiente psicóloga começa a desenvolver sentimentos ambíguos e perigosos por Idris, um criminoso sexual que cumpre pena há 5 anos e está prestes a ganhar a liberdade condicional.





De personalidade narcisista, Idris (Kenzari) está muito seguro de que terá sua liberdade desacompanhada. Além do comportamento contraditório e manipulador, o agressor sexual colocou em ação toda sua habilidade sedutora para conquistar a confiança de todos os outros terapeutas da instituição penal. Entretanto, Nicoline (Van Houten) é a única que não confia nele e não pretende facilitar sua liberdade condicional.





Sustenta-se no desenvolvimento da narrativa um jogo de poder e de intimidade entre os dois. Dúbio e enigmático. Repulsivo e sedutor. Desse modo, o longa transita entre  atração e aversão a esses sentimentos e comportamentos, podendo ser apreciado ou odiado, a depender de como o público vir a compreender o propósito da jovem cineasta.






É interessante notar que, embora haja filmes que tratem a relação entre mulheres e psicopatas ou com agressores sexuais, esse assunto ainda é um grande tabu. É um tema polêmico e difícil também no Cinema; tendo em vista que ainda há mulheres em relacionamentos abusivos sem se dar conta de que foram seduzidas por narcisistas e/ou têm questões psíquicas mais densas a serem cuidadas no campo afetivo. Nesse caso, Halina Reijn, em parceria com o experiente produtor Frans van Gestel e com um ótimo duo de protagonistas, conseguiu trazer essa complexidade que nem sempre é colocada para fora.




Segundo a diretora, após assistir a um documentário sobre o amor no canal TBS, ela se interessou em explorar como mulheres que sabem do risco de envolvimento com um homem abusivo, ainda assim, entram nesse tipo de relação. "Claro que você tem amor em todas as instituições. Apenas realmente me atraiu a ideia de que alguém que conhece o problema que esse psicopata, sociopata ou narcisista tem e ainda pode ser vítima de tal pessoa – e ir muito além de seus próprios limites" (via Press Book*). É claro que o filme retrata a relação mulher e homem, mas é conhecido que o abuso se dá em variados gêneros e tipos de relacionamentos.











De fato, Nicoline e Idris têm danos antes mesmo de se conhecerem, portanto, têm que lidar com os efeitos danosos, as experiências complexas e pulsões incontroláveis que surgem no transcorrer da narrativa. Como psicóloga, evidentemente, Nicoline sabe que ele é um narcisista de mão cheia, assim como que ele tem um passado que nunca será apagado e tem prazer em manipular e jogar esse game. Também, ainda que ela esteja no pool de psicoterapeutas, ela está em uma zona de risco e nitidamente perdendo o controle e entrando em uma espiral de descontrole emocional.





Trata-se de um drama de efeito contraditório que, na execução, tem um recorte narrativo mais objetivo. Basicamente, a  instituição penal é o ambiente principal, onde ocorrem as consultas de psicoterapia, as discussões entre psicólogas, as trocas de olhares e palavras entre Nicoline e Idris. É estranho perceber que, nesta entidade penal, o agressor sexual está tão à vontade que ele tem poder de manipulação entre os funcionários. Halina Reijn não aprofunda a questão em termos de grandes desdobramentos de roteiro, porém, em forte parceria com a roteirista Esther Gerritsen que responde pela densidade psicológica do texto, ela coloca em cena o suficiente para causar barulho e incômodo.





A diretora comenta que é um filme "sobre alguém que nunca mais poderá ter intimidade com alguém devido a danos. Em última análise, é uma história sobre poder,  sexualidade e intimidade (...) é uma luta com intimidade"(*). Com certeza, ela foi bem assertiva nessa citação. É um filme que mexe (e remexe) com a moral, principalmente porque Carine Von Houten e  Marwan Kenzari colocam bastante veracidade e ambiguidade nas interpretações. Esse efeito realista não se trata apenas do desejo e da perda de limites e do bom senso, mas está relacionado à química que os aproxima e os rejeita mutuamente. 





Com destaque para Carine Von Houten, absolutamente, o filme não seria nada sem sua atuação. Ela consegue dar boas nuances dramáticas entre a razão e a loucura, entre o rechaço e o desejo, entre o distanciamento e a intimidade. Desde Game of Thrones, é uma atriz excepcional. Misteriosa, sedutora e elegante, aqui surge mais simples e igualmente potente no drama.  Como também dito pela diretora, "esta é uma história sobre alguém quase enlouquecendo. Porque toda interação humana é íntima demais para ela. Você pode sentir esse barulho" (*). Com efeito, Carine von Houten faz uma personagem inquieta e contraditória. 










E é exatamente a contradição de Nicoline e Idris que traz outra questão poderosamente desconfortável: Quem está manipulando quem? Ambos entram no game! Chega a ter momentos bem irritantes e fora de si. É um jogo onde há atração e repulsa, mas também os dois têm similaridades que os aproximam na esfera do passado danoso. Embora não dito tão visualmente, Nicoline foi e é abusada pela mãe, portanto, a violência sexual é um ponto de intersecção na vida dos dois. Esse histórico de violação deixa os dois personagens bastante vulneráveis, logo, na história ocorre uma atração perigosa entre eles.





Instinto é um filme difícil de assistir, contem gatilhos para pessoas que já sofreram alguma violência sexual ou relação abusiva. No geral, o seu diferencial é  perceber que Nicoline não deve ser julgada por essa paixão. Muitas mulheres já se apaixonaram por seus inimigos, e sair desse círculo vicioso é bastante complexo. O campo da paixão, da intimidade, do poder e do desejo é fortemente minado.






Fotos: uma cortesia Reprodução filme via assessoria da A2 Filmes.

Trechos da entrevista, uma cortesia press book do filme por A2filmes, fonte e créditos: Entrevista realizada por Ronald Rovers, para o site De FILM KRANT, na ocasião do lançamento de INSTINTO no Nederlands Film Festival, em setembro de 2019. Tradução e edição de André Cavallini. Fonte: https://filmkrant.nl/interview/halina-reijn-instinct/

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