Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Mostra SP, uma das temporadas mais amadas, inspiradoras e interculturais do Cinema acontecerá de forma totalmente inovadora na história desse festival: on-line e também presente em sessões em Drive-in. Começa em 22 de Outubro através da plataforma do evento Mostra Play, exibindo uma seleção de filmes no total de 198 títulos vindos de 71 países, distribuídos nas seções Perspectiva Internacional, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil e Apresentação Especial. As plataformas de streaming da SP Cine e SESC Digital darão acesso a 30 títulos gratuitamente.
Na pandemia global, a área cultural foi uma das mais impactadas, considerando que ela mobiliza eventos que reúnem uma quantidade maior de pessoas e ambientes mais fechados em infraestruturas para eventos, museus, cinemas, casas de shows, entre outros, portanto, entregar uma Mostra em um período histórico pandêmico mobilizou esforços em tecnologia e negociação para a direção e produção do festival e seus parceiros, além de viabilizar cinemas Drive-in dentro das recomendações de saúde e segurança da Organização Mundial de Saúde e decretos municipais.
"É muito importante nesse ano que estamos enfrentando uma crise sem precedentes manter a realização dessa Mostra. Eu acho que essa Mostra já deu sinais muito evidentes e muito claros de uma resiliência muito grande e de uma resistência cultural que se mantém(... ) a Mostra conseguiu se reinventar em deixar mais uma vez uma grande quantidade de filmes que serão exibidos aqui"
(Mario Mazzilli, do Instituto CPfl, um dos patrocinadores do evento, durante coletiva de imprensa)
O festival realizou uma negociação diferenciada para a viabilização de filmes online, como a de views dos títulos no streaming. Em um formato comum de festival presencial, as negociações ocorrem por sessões de filmes, entretanto, dado o contexto, a Mostra oferecerá excelente preço pelo ingresso, R$ 6,00/ visualização, viabilizando maior acesso a esse rico e amplo acervo cinematográfico mundial. A maioria dos filmes terá até limite de 2000 views.
A Mostra SP tem uma virtude significativa para a cultura, em especial, com a sólida parceria com SP Cine, Instituto CPfl, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa - SP, Itaú Cultural e SESC: ela trabalha em favor do acesso ao Cinema, seu fomento e difusão. Além dos 30 títulos com acesso gratuito nas plataformas do SP Cine e SESC Digital, a Mostra tem uma plataforma única, a Mostra Play, que foi contratada exclusivamente para o evento. A loja virtual também venderá itens da coleção do evento como sacolas, livros, catálogos, canecas, lápis, entre outros.
A direção realizou todo um esforço de convencimento para influenciar os produtores a colocarem os filmes online. De fato, o contexto de pandemia trouxe muitos desafios para a área cultural viabilizar suas produções em outros formatos, sendo assim, a Mostra SP se posiciona de uma forma assertiva e corajosa, pensando também na visibilidade de parceiros, produtores, realizadores e exibidores, e não deixou o público Brasileiro sem o festival.
Para assegurar a qualidade de transmissão do streaming, a Mostra está trabalhando com empresas Festival Scope e Shift72, que se uniram na pandemia e foram responsáveis pelas edições online dos festivais de Toronto e de Tribeca, além do Mercado de Cannes, assim, elas trazem o background e experiência nesse tipo de formato que, por sinal, exige muita responsabilidade e usabilidade na exibição.
Sobre o acesso, todos os filmes poderão ser acessados pelo site da Mostra (Mostra.org), que irá direcionar o usuário para as plataformas. É importante considerar que, em função desse formato e valor reduzido dos ingressos, a Mostra não oferecerá pacotes de ingresso este ano e haverá número limitado de visualizações por filme.
Além das exibições em streaming, a Mostra contará com a estrutura de 2 Drive-ins em São Paulo - Capital, um no Belas Artes Drive-in (Memorial da América Latina) e no Cinesesc Drive-in (unidade do SESC do Parque Dom Pedro II). Em virtude do ano atípico de pandemia, a Mostra não trará seus convidados para São Paulo, entretanto, haverá a presença dos diretores e profissionais da área em vídeos gravados e lives.
"Renata Almeida tem uma característica de resiliência, de suportar as dificuldades, vencer as dificuldades (...) não só no plano financeiro, plano de apoio, no suporte para poder realizar(...), mas sobretudo no momento de pandemia e em novas formas, novos meios de fazer a Mostra."
(Danilo Miranda, Diretor Regional do SESC - SP, durante coletiva de imprensa)
A Mostra SP 2020 traz alguns filmes, como destaque, que tiveram boa aceitação da crítica especializada em festivais fora do Brasil e/ou geraram controvérsias por suas temáticas provocativas e urgentes, desse modo, se tornam um imperdível exercício reflexivo sobre a sociedade contemporânea, dilemas e conflitos coletivos e pessoais com o avanço da violência, do poder e do autoritarismo.
Cena de Nova Ordem, de Michel Franco. Reprodução Mostra SP.
Nesse sentido, Nova Ordem (New Order, 2020) é um deles e foi vencedor do grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. O longa-metragem dirigido pelo Mexicano Michel Franco (de "Depois de Lucía") abre a Mostra em 22 de Outubro às 19 h 30 no Belas Artes Drive-In, com apresentação virtual de Renata de Almeida e Serginho Groisman. A cerimônia também será exibida pela plataforma Mostra Play e, a partir das 00:01 de 23 de Outubro, o filme poderá ser visto nesse streaming, com limite até 1000 views.
Durante coletiva de imprensa realizada recentemente em formato online, a diretora do Festival, Renata de Almeida, fala sobre a escolha de Nova Ordem para abertura do festival:
"A abertura da Mostra vai ser com um filme polêmico, um filme muito forte, até violento. Pensei muito antes de decidir abrir com esse filme (...) Ele é um filme polêmico, mas é um ano que não é fácil para o Brasil em nenhum sentido, é um ano de reflexão, até um ano de luto. Então, acho que podemos sim abrir com um filme da América Latina, um filme do México, que reflete questões que o Brasil tem também... Espero que nós conseguimos ver o filme, refletir, e se for polêmico, não tem problema, a polêmica faz bem também"
Cena de Não há mal algum, filme do irã, premiado em Berlinale
Outro filme confirmado para a seleção é o vencedor do Urso de Ouro em Berlim, Não há mal algum (There is no Evil) , dirigido pelo iraniano Mohammad Rasoulouf. Além de variadas confirmações, desde filmes exibidos em Tribeca, até Berlim, apenas para citar alguns títulos imperdíveis que estarão na edição:
- Kubrick por Kubrick, de Gregory Monro
- O ano da morte de Ricardo Reis, de João Botelho, baseado no livro homônimo de José Saramago
- Berlim Alexanderplatz, de Burhan Qurbani
- Aranã, do Chileno Andrés Wood
- Vencidos da Vida, de Rodrigo Areias
- Sportin' life, de Abel Ferrara,
- City Hall, de Frederick Wiseman,
- Crianças do Sol , de Majid Majidi
- Pan, de Lav Diaz
- Notturno, de Gianfranco Rosi
- Fevereiro, de Kamen Kalev
- Mães de Verdade, de Naomi Kawase
- Nadia, Borboleta, de Pascal Plant
- Josep, de Aurélien Froment
- Dezesseis Primaveras, de Suzanne Lindon
- Suor , de Magnus von Horn
- A morte do Cinema e do meu pai também, de Dani Rosenberg
- Caminhando contra o vento, de Wei Shujun
- Ao entardecer, de Sharunas Bartas
- Fábulas ruins, de Fabio e Damiano D'Innocenzo
- Sem ressentimentos, de Faraz Shariat
- Mamãe, mamãe, mamãe, de Sol Berruenzo Pichon-Rivière
- O problema de nascer, de Sandra Wollner
- Coronation, de Wi Weiwei (sobre o confinamento em Wuhan durante o início da pandemia de Covid-19)
- Curta Escondida, de Jafar Panahi
- A Visita, de Jia Zhangke, autor do pôster do ano
- Nadando até o mar se tonar azul, Jia Zhangke
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