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Mostra SP 2020| Entre meus sonhos (In my dream, 2020)

 




Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro


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Viva à permanência da Mostra SP em 2020!


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Primeiro longa-metragem nunca é um projeto fácil. Muito mais do que a experiência e estilo que virão apenas com o tempo e prática, normalmente, escolhas narrativas de um novo realizador se localizam entre o ávido desejo de contar uma boa história e a experimentação na adoção de linguagens audiovisuais que, na forma que foram realizadas, nem sempre conseguem emular o desejado. É o que acontece em Entre meus sonhos (In my Dream, 2020), uma boa ideia que não conseguiu aproveitar a potente conexão dramatúrgica entre os temas infância, memória e perdas.





O diretor Turco Murat Çeri narra a história de Tarik, um menino de 8 anos que vive em uma pequena vila no interior da Turquia. Após sofrer um acidente com sua família, perde o pai  e sua mãe fica em coma. A criança também perde a memória e fica sob os cuidados dos avôs. O argumento dá margem a uma história potencialmente sensível, mas no efeito dramatúrgico, a execução não traz essa emoção e muito menos densidade às personagens e situações. É claro que emoções variam de indivíduo para indivíduo e estão no campo da recepção, ainda assim, Em meus sonhos traz uma intenção poética à execução que nem sempre se concretiza de maneira natural. Desse modo, o filme perde em autenticidade.










Levando em conta alguns aspectos narrativos, a princípio, tudo parecia propício a um filme marcante, começando pela questão cultural. Na maior parte do tempo, Tarik convive com os homens do vilarejo, em conversas, brincadeiras e rituais. É um traço interessante sob uma perspectiva de gênero na Turquia e se materializa no elenco, de maioria masculina. O país ainda é muito conservador, principalmente nas regiões interioranas que têm hábitos diferentes de Istambul. Com a ausência dos pais, a criança recebe os conselhos e companhia dos avôs, em específico, da figura paterna (avô) representada muito bem pelo ator Nevzat Yilmaz. As melhores cenas giram em torno das conversas entre eles, e a nobreza que existe nesse cuidado entre gerações.





Perseguindo o mesmo objetivo de cenas melodramáticas, o cineasta também aproveita a convivência de Tarik com os amigos, entre brincadeiras e brigas  pueris, e outros momentos solitários e introspectivos. Alguns momentos dos meninos são voltados à diversão e prometem expandir essa força narrativa da infância, do pertencimento, da amizade masculina, porém, de tanto forçar algo, há um anti-naturalismo em cena. Isso é visível como uma aparente cobrança pessoal do cineasta em emocionar a qualquer custo, decisões que resultam em irregularidades. As boas oportunidades de evocar,  espontaneamente, a infância  e o convívio de Tarik com essa comunidade vão se perdendo.








A presença do personagem interpretado por Recep Çavdar, um tipo peculiar, meio maluquinho, vem a trazer uma ideia de presença sincera, pura, ingênua próxima a Tarik. Entretanto, é um personagem igualmente forçado e desperdiçado pois sua caracterização traz clichês como o sem teto, o andarilho sujo, o maluco do vilarejo que, na narrativa, não se estabelece com profundidade e verossimilhança.









Por fim, realizar um filme com crianças abre muitas oportunidades para mobilizar essa potência, aqui, perdida na execução, principalmente, considerando a orfandade como uma realidade possível na vida de Tarik. A ideia era muito boa, e os aprendizados devem servir para próximos filmes, afinal, a história e cultura Turcas são um amplo, belo e complexo território narrativo para ser apresentado ao mundo.








Fotos: uma cortesia Reprodução Mostra SP para imprensa credenciada.

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