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Mostra SP 2020| Sem Ressentimentos (No hard feelings, 2020)

 



Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro



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Viva à permanência da Mostra SP em 2020!



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




A Mostra SP tem suas gratas surpresas nesse exuberante e multicultural campo de obras cinematográficas que já percorreram vários festivais no mundo, entre elas, destaca-se  Sem Ressentimentos (No hard feelings, 2020) também traduzido do título original "Futur Drei". Uma produção Alemanha com a direção do jovem cineasta  Faraz Shariat que, ao lado de Paulina Lorenz, assinam o roteiro sobre um belo drama que tece sobre amor LGBTQ+, amizade, família e imigração. O  longa ganhou o prêmio Teddy no Festival de Berlim esse ano.




O filme nasce também como um desejo criativo do coletivo ao qual cineasta e roteirista pertencem, o  Collective Jüngling. Assim, eles propõem uma nova forma de fazer Cinema, sem a rigidez da própria técnica audiovisual e do mainstream. Nascido na Alemanha e de família Persa, Faraz Shariat gosta de música e linguagem de vídeo clipe, que tem seu espaço nessa narrativa, mas também é engajado em estudos culturais e teve uma experiência nessa área. 




O roteiro se estabelece como uma história sobre identidade, pertencimento e amor que entrecruza narrativas de 3 jovens do Irã, um que nasceu na Alemanha e é homossexual assumido chamado Parvis  Joon (Benny Radjaipour), e outros dois que são irmãos e estão ilegais no país, ela, Banafshe (Banafshe Hourmazdi),  ele, Amon (Eidin Jalali).










Os três se conhecem em um centro de refugiados na Saxônia, no qual Parvis presta serviços comunitários como tradutor após cometer um delito na danceteria. Banafshe logo se afeiçoa a ele e, com o irmão, passam a ter a companhia de Parvis em dias e noites de curtição, assim, desenvolvendo uma afetuosa relação de confiança na temporada de verão. Nesse exílio, Amon começa a se sentir atraído por Parvis e seu espírito livre e autêntico, e os dois se apaixonam. Banafshe, grande amiga de Amon, começa a sofrer a pressão da deportação. 





Entre cenas que mostram a força da juventude, do amor, da amizade e do encontro, o diretor narra uma história sensível com momentos de aceitação, crise de identidade e pertencimento e inadequação na realidade Alemã. Como tantos outros refugiados no mundo, os três amigos sentem a natural melancolia de ser um estrangeiro em outro país.










Faraz Shariat realiza uma direção promissora no Cinema Independente ao mesclar a dimensão coletiva da imigração, sob uma perspectiva sociológica e cultural com a dimensão privada desses jovens. As nuances sobre várias problemáticas estão no longa como a lgbtfobia, a violência de gênero, a realidade do Irã, a imigração e o exílio, a identidade linguística, cultural, entre outras, seja direta ou indiretamente, e se manifesta, ora de forma bem aberta, ora de forma mais sutil. 





Em uma das cenas, Amon pede para que Parvis se afaste dele como uma ligeira negação de assumir um relacionamento homossexual; em outra cena, um "amigo" de Amon age com preconceito contra gays reproduzindo atitudes de intolerância vistas no cotidiano; em outra situação, Banafshe  é tratada com machismo por homens (tanto persa como alemão, que deixam claro o lugar da mulher no patriarcado); em determinado momento, Parvis questiona se no Irã existe a palavra homossexual em uma sincera conversa com sua mãe. São exemplos como esse, bem dirigidos, que integram uma boa visão sobre todas essas complexidades que fazem parte da realidade  dos refugiados (e até de quem também não é refugiado, mas sofre preconceito de gênero e em sua sexualidade).






A direção funciona muito bem em mesclar alguns registros biográficos do diretor, como imagens de sua infância e família, com outros baseados em uma linguagem mais independente, com frescor cinematográfico, e também uma linguagem de vídeo clip. Todas essas escolhas se tornam harmônicas na montagem, com bom ritmo considerando a sensibilidade e o desenvolvimento da relação dos 3 jovens. Há um tom pessoal na narrativa que facilita a conexão com a obra.





Com três vidas tão interligadas, o drama ganha o contorno de um encontro de verdadeiro amor e aceitação em uma realidade que, de certa forma, não os aceita plenamente. Amon e Parvis não podem viver seu amor livre no Irã, Banafshe tem que retornar do exílio e distanciar-se do irmão. Nesse sentido, a Alemanha surge como uma terra  das contradições: nação de exílio e possibilidade de permanência e futuro, e nação de deportação, cheia de refugiados em crise de pertencimento. E o Irã? Aquele país onde tudo poderia ter sido diferente, onde as gerações exiladas poderiam ter sido alguém mais ou outra coisa.







Fotos: Uma cortesia Reprodução Mostra SP para imprensa credenciada.

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