Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A música, como uma das expressões das linguagens e sociedade, é a potência de dizer o indizível, de mostrar o imostrável, de superar o insuperável. Escondida (Hidden, 2020), curta do consagrado cineasta Iraniano Jafar Panahi, mostra a liberdade de uma talentosa cantora cerceada pela realidade autoritária da tradição familiar do Irã. É uma narrativa muito triste e, ao mesmo tempo, iluminada por uma sensibilidade ímpar, profundamente comovente em seu desfecho.
Como parte de projeto da 3e Scénes , da Ópera de Paris, e integrante do longa-metragem Celles qui Chantent (Mulheres que cantam), Escondida tem um excepcional recorte documental, no qual o cineasta, acompanhado por sua filha e uma amiga produtora teatral, viaja ao encontro de uma jovem cantora em uma aldeia do Curdistão. Apesar da voz fascinante, a mulher está proibida de cantar ao público pelas autoridades Iranianas.
Como natural em seu estilo cinematográfico, Janar Panahi filma a partir do seu carro. Com a ajuda de sua filha Solmaz Panahi, que porta um dos smartphones, o desenvolvimento do curta tem a notável versatilidade do Cinema Digital, filmado por dispositivos móveis, e utilizando mais de uma câmera em diferentes posicionamentos. Esse frescor cinematográfico coopera com o registro contemporâneo documental, espontâneo, em movimento e expositivo das realidades cotidianas.
Antes da chegada ao local, o cineasta entrevista a produtora Shabnam Yousefi, que revela o talento da cantora e as dificuldades de gênero diante das tradições do Irã. Entre o real e o metafórico, em apenas 18 minutos, o diretor consegue deixar algumas marcas históricas, culturais, religiosas e comportamentais do Irã, para fazer o público refletir sobre uma situação na qual há o cerceamento da liberdade, da música, da Arte. Isso colabora para o encantamento com o desfecho. Sem esse final tão poderosamente simbólico, o curta não atingiria tão bem o seu propósito dramatúrgico, e também social.
Escondida é um registro comovente quando uma mulher é impedida de ter a visibilidade de sua voz, de seu corpo, de sua competência artística. Sua imagem é escondida, como desdobramento de uma cultura rígida, porém, sua voz pode ser agora ouvida. O desfecho é profundamente dramático, unindo as pontas do poético e do trágico. Um curta para ser visto e revisto, cuja voz precisa ser amplificada.
(3,5)
Fotos: uma cortesia Reprodução Mostra SP


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