Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
No longa-metragem da atriz e cineasta Tcheca, Bojena Horackova, Walden se refere a um belo lago em Vilnius, capital da Lituânia. Cercado de muitas árvores em uma paisagem silenciosa e marcante no tempo, o lago representa parte das memórias afetivas da jovem Jana (Ina Marija Bartaite) que, antes do exílio em Paris, conheceu o primeiro amor, o rebelde Paulius (Laurynas Jurgelis). O filme foi exibido no Festival de Locarno e na seleção de L’ACID do Festival de Cannes.
O enredo é influenciado pela biografia da diretora, que mudou-se para Paris nos anos 60 e estudou Cinema no IDHEC. A garota protagonista se envolve com Paulius, um jovem que não quer responsabilidades com estudos e trabalho. Como um "rebelde sem causa" apegado a atividades ilícitas para conseguir dinheiro e alguns caprichos, ele não tem nenhum plano estruturado, muito menos anseio apaixonado. Ambos pensam em fugir, como aquelas fantasias juvenis da paixão que entorpecem a mente. Jana começa a apresentar comportamentos como ausências e mentiras para viver esse amor.
A narrativa intercala o presente e o passado, também, com um propósito de mostrar esse cotidiano dos jovens antes da queda do comunismo; entretanto, a história não conseguiu trabalhar bem essa intencionalidade social política, ainda que fosse apenas mostrar um pouco do estilo de vida dos jovens e pincelar essas mudanças no contexto social. Em determinados planos, fica no ar apenas aquela atmosfera mais entediante de filmes independentes sobre a juventude Européia: os jovens descobrem o amor e o sexo, conversam com amigos do colégio, bebem escondido e curtem um cotidiano sem grandes acontecimentos. Não se trata de um filme com engajamento político, desse modo, localiza-se mais na temática do primeiro amor e suas descobertas.
Assim, apesar do argumento ser interessante, roteiro e direção não apontam para uma boa articulação entre a temporalidade do passado e presente. Os cortes entre os tempos são muito bruscos e sem um bom ritmo, desencadeamento narrativo e montagem nessas passagens. Por ser um filme sobre a juventude Lituana com seus desejos afetivos, estudantis e libertários, o elenco jovem tinha bom potencial de desenvolvimento, principalmente se o roteiro tivesse sido elaborado para integrar melhores diálogos e interações entre as diferentes situações e personagens, podendo, dessa forma, explorar melhor a relação entre Jana e Paulius.
A lacuna qualitativa na execução da obra está muito relacionada a como o presente não é bem explorado na cena. Jana surge mais velha e retorna a Vilnius. A ideia de vivenciar essa memória afetiva em qualquer filme é potente, mas, em Walden, ela não se torna atrativa e nem gera expectativa porque os personagens do presente não são bem desenvolvidos para preparar esse momento. Tudo fica morno no tempo atual, restando ao casal protagonista sustentar a história no passado.
Na seara dos filmes com crianças e jovens na Mostra SP, acontece com Walden a mesma coisa que aconteceu com Entre meus sonhos: uma ideia afetiva e com potencial dramatúrgico, mas com um resultado morno.
Fotos: Uma cortesia Reprodução Mostra SP para imprensa credenciada.
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