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  #FicçãoCientífica #Distopia #Ação #Críticasocial #Streaming Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista e...

O Preço do Amanhã (In Time, 2011)

 



#FicçãoCientífica #Distopia #Ação #Críticasocial #Streaming


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 



As transformações sociais, políticas, tecnológicas e comportamentais que testemunhamos ecoam, de forma crescente, as premissas de um futuro distópico em desenvolvimento. A indignação diante das atrocidades e da fragilidade da moral humana já não surpreende, encontrando ressonância em obras como "A Sociedade do Cansaço" de Byung-Chul Han e nas narrativas perturbadoras de "Black Mirror".




Em "O Preço do Amanhã" (In Time, 2011), sob a direção de Andrew Niccol, somos confrontados com uma distopia que perspicazmente antecipava a exacerbação da divisão de classes: uma elite privilegiada, detentora dos bens de produção, do poder e do capital. Em contrapartida, uma vasta parcela da população é subjugada à venda de sua força de trabalho em condições laborais cada vez mais precárias e salários irrisórios. Em um futuro onde o envelhecimento cessa aos 25 anos, a sobrevivência se torna dependente da aquisição de tempo, sob a constante ameaça da expiração.









A premissa central expõe a cruel realidade de que o tempo, a própria essência da vida, é um bem inacessível aos desfavorecidos. Enquanto os abastados usufruem da promessa de uma juventude eterna com inegável qualidade de vida, os despossuídos lutam contra o aprisionamento em subempregos degradantes, a violência de criminosos que roubam instantes vitais e a vigilância opressiva de "guardiões do tempo" incumbidos de manter a ordem de uma injustiça institucionalizada.





Nesse cenário sombrio, Will Salas, interpretado com um carisma magnético por Justin Timberlake em seu auge, emerge como um indivíduo bonito, de origem humilde e dotado de uma coragem intrépida. A trágica perda de sua mãe (Olivia Wilde) o impulsiona a buscar vingança contra um sistema implacável. Inicialmente, Will parece alheio ao seu potencial como agente de transformação coletiva, mas seu destino se entrelaça ao de Sylvia Weis (Amanda Seyfried), a filha de um magnata com espírito contestador. Juntos, tornam-se alvos da implacável perseguição de Raymond Leon (Cillian Murphy), o zeloso executor da lei do tempo, e de Fortis (Alex Pettyfer), o impiedoso líder de uma gangue de ladrões de vida.










A dinâmica entre Timberlake e Seyfried em cena confere energia à narrativa, impulsionando a ação com uma química convincente. Contudo, é Timberlake quem assume o protagonismo, transformando seu personagem em uma figura que evoca um Robin Hood distópico, roubando tempo da elite como um ato de rebelião e buscando meios de garantir a sobrevivência daqueles à margem do sistema. Considerando a notoriedade de Timberlake como astro da música e sua crescente incursão no cinema à época, é pertinente ponderar se sua participação neste projeto visava mais a consolidação de sua imagem pública do que uma profunda imersão na arte dramática. Ainda assim, seu inegável carisma contribui para a vitalidade da narrativa.





Apesar do ritmo frenético da ação e da trama de perseguição, o mérito essencial desta distopia reside em sua perturbadora atualidade. Embora a narrativa não se aprofunde exaustivamente na crítica social, a premissa central ressoa com uma verdade incômoda: na prática, uma parcela significativa da população, incluindo a classe trabalhadora e a classe média, aliena seu tempo e energia vital em troca da subsistência. E essa transação impõe um preço elevado, o preço de uma esperança cada vez mais tênue em um futuro incerto. A criatividade do roteiro reside em transmutar uma dinâmica intrínseca ao sistema capitalista em uma lei distópica de vida ou morte: a ausência de "créditos de tempo" acarreta a extinção.









Essa premissa espelha a realidade contemporânea, marcada por uma distribuição de renda desigual, fundamentada na exploração e na manutenção de um status quo que perpetua os privilégios de uma minoria. Embora a busca por uma vida confortável e próspera seja legítima, ela se torna questionável quando construída sobre a privação e o sofrimento de muitos. A equidade ideal permanece uma utopia distante, pois a acumulação de riqueza por alguns frequentemente se concretiza à custa da miséria de outros. "O Preço do Amanhã", portanto, transcende a mera ficção, atuando como um espelho crítico de nossas próprias desigualdades e um chamado à reflexão sobre um sistema que precifica a própria existência.





(3,5)


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