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  #Drama #Imigração #Empatia #Lançamento #CinemaFrancês Estreia 14 de Outubro nos Cinemas Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crític...

Sob as Escadas de Paris (Sous Les Étoiles de Paris, 2020)

 




#Drama #Imigração #Empatia #Lançamento #CinemaFrancês



Estreia 14 de Outubro nos Cinemas





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Qual é a real miséria humana? Ser um sem-teto, pobre e excluído ou ser incapaz de olhar com generosidade e empatia aqueles que vivenciam as piores dores do mundo? Decerto, observar o quão miseráveis somos, passa por observar como a sociedade (e nós) enxergamos o outro e interagimos no coletivo. Aos olhos de muitos cidadãos, ser miserável é ser fracassado, mas há pior fracasso na vida do que olhar somente para si e perder a capacidade de acolher e amar a própria espécie?









No drama Francês, Sob as Escadas de Paris (Sous Les Étoiles de Paris, 2020), o retrato social realista da crise migratória na Europa é entrecruzado com uma jornada de amizade e esperança entre a moradora de rua Christine (Catherine Frot) e o pequeno imigrante Suli (Mahamadou Yaffa). O contraste entre a pobreza e a riqueza da capital Francesa reúne a realidade dos desabrigados com o glamour atemporal da cidade, criando uma composição cinematográfica que combina a fábula, o conto e a pintura.





Dirigido por Claus Drexel, documentarista de À beira do mundo (Au Bord du Monde, 2013), o longa é um desdobramento de sua experiência com a agenda social relacionada às desigualdades e os moradores de rua. Em seu doc, ele interagiu com a real Christine e outras pessoas e conheceu a fundo seus hábitos, rotinas e histórias.  Esse novo filme é seu olhar ficcional sobre essas narrativas, trazendo sensibilidade, poesia e humanidade. 





Você nunca sabe realmente por que escolheu um tópico. Mas duas coisas me revoltam visceralmente. Por um lado, o fato de que as riquezas que a terra nos oferece são cada vez mais monopolizadas por um pequeno bando de bandidos que, além disso, têm muito orgulho de si mesmos. E, por outro lado, fico chateado com as ideias recebidas, o fato de dizer que os pobres, os desempregados, os sem-abrigo, as prostitutas etc. são assim ou assim. Minha filha certa vez disse a alguém: "Meu pai faz filmes para tentar entender as pessoas que não entendemos".

[Fala do diretor, sobre seu interesse nos mais pobres]






Juntamente com Catherine Frot e sua ampla e incrível trajetória no Cinema Francês, o projeto ganha peso e foge da caricatura. A atriz consegue dar uma dimensão arquetípica, mítica e atemporal à Christine, aproximando-se da Estética e da Literatura  dos irmãos Grimm, de Vitor Hugo e dos contos Medievas além das pinturas de Caravaggio e de Honoré Daumier. Também é visível o exercício metalinguístico do roteiro com O Garoto, de Charles Chaplin e Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica, criando um elo de amor e amizade entre um adulto e uma criança.










Catherine Frot se envolveu profundamente com o projeto, começando pelo entusiasmo pelo doc. do diretor. Durante sua preparação, visitou locais frequentados por moradores de rua como a igreja Saint-Leu, "La Moquette", a rue Gay-Lussac, além do mais, Claus Drexel assumiu uma postura ativa como um pesquisador social, em parceria com o amigo e roteirista Olivier Brunhes, conheceu tanto a parte luxuosa de Paris como os lugares com moradores de rua como as tendas do Canal Saint Martin e os acampamentos de migrantes em Porte de la Chapelle. Desse modo, embora a narrativa seja previsível como muitos contos sobre miséria, amor e esperança, o filme tem essa magia atemporal e universal que emociona e faz acreditar no ser humano.





 

Revelação mirim do Cinema Francês, o Maliano Mahamadou Yaffa, entrega uma performance dócil, com eficiente uso do não verbal. Gestos, olhares e emoções verdadeiros que superam as barreiras linguísticas e culturais.




Na maioria das vezes, um(a) grande ator/atriz não precisa de um excepcional papel ou estar nos mais caros filmes para mostrar a grandeza de sua atuação. A nobreza e simplicidade em expressar reais emoções no Cinema vem do talento e sutilezas de atores/atrizes como Catherine Frot. A grandiosidade da atriz está no seu talento em criar e homenagear uma personagem atemporal que, mesmo em condição miserável e com o psíquico frágil, no decorrer da história, se torna um forte alicerce para um menino de 8 anos separado da mãe. Ela assume provisoriamente a figura materna e parte para uma jornada mítica para encontrar a mãe do garoto que está em processo de deportação.





Estranhamente, não sofri com esta imersão, experimentei sobretudo o silêncio; eu me refugiei lá; estava vazia... E livre, sentindo que não era bem real; para sair de um livro. Como se Christine, seu casaco, seu capuz, suas luvas furadas e o pequenino que segurava pela mão tivessem escapado de um desenho. Foi uma travessia, uma viagem rara para mim. Estranhamente, não sofri com esta imersão, experimentei sobretudo o silêncio; eu me refugiei lá; estava vazia... E livre, sentindo que não era bem real; para sair de um livro. Como se Christine, seu casaco, seu capuz, suas luvas furadas e o pequenino que segurava pela mão tivessem escapado de um desenho. Foi uma travessia, uma viagem rara para mim.

[Catherine Frot, sobre mergulhar nesse universo e na personagem]




Christine emociona como personagem esculpido por Catherine Frot porque é acessível apesar de seu arquétipo que remota aos tempos medievais. No início, ela está destruída e não se sabe seu passado. Depois, como é bastante comum em moradores de rua, Christine começa a mostrar traços de sua educação e conhecimentos. Gosta de ler revistas científicas e rapidamente comenta sobre a teoria de Newton. Encontrar Suli é como despertar ainda mais sua história e humanidade. Ela não é ninguém aos olhos preconceituosos da sociedade, entretanto, ela tem muito mais valor do que os endinheirados que frequentam as luxuosas boutiques e cafés Parisienses.








Desse modo, o roteiro dá sinais de que ela tem um passado no qual teve acesso à cultura e laços familiares. Ela está calejada e adormecida mas ela tem uma fortaleza em seu interior. Então, O que a levou a morar na rua? Algum familiar nunca a procurou? São perguntas recorrentes na experiência com o filme e que os roteiristas não precisam responder já que essas histórias são tão tristes e surpreendentes que dariam para compor uma série não-ficcional com várias temporadas, principalmente em uma Europa cada vez mais multicultural e xenófoba. O que vale a pena é se perguntar: Como agimos com imigrantes e moradores de rua? Desprezamos sua presença ou acolhemos com respeito e cooperação? Tentamos ver o outro lado da história e conectá-lo com o contexto social e suas implicações?



"Não é a realidade da pobreza que me atrai nesta história ...

É o crack dessa mulher e o que sobrou da normalidade.

Nesse sentido, é grande e quase teatral. Ela é uma deusa da miséria

[Christine, uma deusa da miséria. Poema de Catherine Frot]





Por fim, o  propósito do longa não é dar lição de moral a ninguém (e muito menos essa crítica), pois todos temos nossos preconceitos, na maioria das vezes muitos inconscientes, mas essas reflexões são importantes e fazem parte do mundo globalizado e suas desigualdades. Filmes como esses são o Cinema em ação e sua poderosa representação metafórica a serviço de despertar nossa humanidade. Assim, o melhor da história é o diretor ter dado conta de situações pelas quais passa um morador de rua e um imigrante, de como essas pessoas têm histórias, culturas, sentimentos e escolhas e não são a escória do mundo como muitos pensam e discursam por aí.









Fotos e falas do diretor e atriz, uma cortesia da @A2filmes press book para divulgação e crítica do filme. Fotos de @Carole Bethuel e @Arches films, autorizados pela assessoria.

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