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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Quando ficções científicas buscam conciliar complexas emoções com a grandeza das possibilidades cósmicas, o risco do realizador tende a ser maior para abarcar a relação entre linguagem cinematográfica, narrativa e sentido na recepção da obra. Considerando este tipo de risco, determinadas direções de Cinema devem ser prestigiadas em função da coragem e esforços em realizar uma produção audiovisual diferente do convencional encontrado nas cinematografias do país de origem.
É o que acontece no primeiro longa-metragem do diretor Português Carlos Amaral. Conhecido por sua competência em efeitos visuais e curtas como Longe do Edén (2013) e Por Diabos (2016), em Mar Infinito (Infinite Sea, 2021) ele realiza uma distopia na qual Pedro (Nuno Nolasco) busca partir para a colonização de um novo mundo, transitando em uma viagem espacial entre sonhos e realidade. Neste processo, ele conhece e se envolve afetivamente com Eva (Maria Leite) que o ajuda a encontrar o seu propósito.
Com o excelente expertise audiovisual de Carlos Amaral, ele teve autonomia para transformar seu filme em um espetáculo visual na seara do Cinema Independente. A direção de Arte é autoral e minimalista na medida exata para encantar o público, desta forma, abrindo espaço sinestésico para outras sensações através céu, do mar, dos corpos solitários e apaixonados, da beleza expressiva de Pedro e Eva. Construído com paleta de cores em azul e cinza, o mundo distópico em cena une dois extremos que conectam a solidão e a busca por um mundo novo, diferente e incerto.
Pedro foi deixado para trás. Em um percurso de Êxodo, ser esquecido e enfrentar um esvaziamento existencial que convive com dúvidas, frustrações e possibilidades não é um trajeto fácil. Assim, a personagem de Eva surge como afeto e companheirismo em uma viagem intergaláctica que é bem anterior ao se mover a um outro planeta. Trata-se de uma travessia existencial, humanista, auto reflexiva. E a partir desse aspecto, o filme foi uma realização de risco. Corajosa, mas que deixou uma sensação de incompletude.
Durante a projeção, visualmente, a narrativa é envolvente. Atores belos e com química sexual, fotografia deslumbrante, direção audaciosa. Porém, a todo instante, o roteiro não propõe um real engajamento com os conflitos do personagem. São palavras e textos aleatórios que se misturam com um Pedro perdido em um tipo de limbo. Desta forma, por mais hipnotizante que seja o visual do longa, a sensação de incompletude é recorrente. É como se o diretor precisasse de um pouco mais de tempo ou lapidação do roteiro para entregar a potencial profundidade humanista do seu argumento.
Ainda assim, Mar Infinito é um trabalho que merece ser visto e prestigiado, legitimando que Carlos Amaral tem ousadia como realizador. Ele poderá vir a entregar trabalhos futuros que reúnam diferentes formas de conceber os espaços do sci fi com a realidade social, histórica e existencial. Seu primeiro longa é sobre travessias entre o novo e o velho. Se observado tendo em vista o contexto atual do mundo e, especificamente de Portugal, as confusas emoções de Pedro têm muito a ver com as frustrações e incertezas de inúmeros cidadãos.
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