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Parte da programação do RFF, exibições gratuitas até 10 de Outubro
www.spcineplay.com.br ou https://supomungamplus.com.br/
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Parte da programação da 2ª edição do Festival de Cinema Russo (Russian Film Festival 2021), Masha (2020) é uma das gratas surpresas desta curadoria. Ambientado em uma cidade provinciana da Rússia na década de 90, o longa dirigido e roteirizado por Anastasiya Palchikova, é uma combinação de filme sobre uma família mafiosa com o amadurecimento da jovem Masha (Polina Gukman). A ótima atriz interpreta uma garota de 13 anos que é criada e protegida por seu tio, o "Padrinho" (Maksim Sukhanov), temido chefão do território e irmão de sua mãe, Lena (Iris Lebedeva). Como traço de personalidade e do universo particular de Masha, ela adora cantar clássicas músicas de jazz. Seu sonho é ser cantora.
Ainda que seja bem inteligente, carismática e amada por sua família e amigos, Masha é criada em um ambiente bastante violento no qual seu tio é dono de uma academia de boxe que funciona como uma fachada social. Ela é como uma luz no filme sob o qual pairam as seguintes reflexões: Ela conseguirá viver com sua família destrutiva? Terá conflitos desastrosos ou libertadores a medida que amadurece? Entre uma canção e outra embalada por sua bela voz que suaviza essa mise en scène hostil, a vida de Masha é retratada como quem não teve escolha e vai amadurecendo sem perceber integralmente o quão dolosa é sua família. Na verdade, ninguém escolhe a família na qual nasce e, por mais detestável que seja um ou outro membro da família, ainda há um elo sanguíneo e afetivo que os une.
A cineasta concebe um longa Coming of Age com autoconfiança nas escolhas de direção, dando liberdade à sua jovem atriz agir com naturalidade em cena, como uma flor que desabrocha em meio à violência. Mesmo com a super proteção que a cerca, Masha é autêntica e sobrevive em meio a homens duros. Ela não precisa agir violentamente como eles. Dá atenção e afeto aos amigos próximos e encontra o primeiro amor. Não perde sua paixão pela música mesmo quando lida com o luto.
A cineasta foi habilidosa em dirigir a maioria do elenco masculino sem perder o viés de denunciar o cotidiano provinciano desta família cujo patriarcado comanda as escolhas das mulheres; entretanto, o maior êxito é a direção da jovem atriz e seu protagonismo em um ambiente mafioso que, tradicionalmente no Cinema, é ultrapassado e masculino. Ainda que haja lacunas no roteiro que criam um universo bem tutelado para a jovem, a história de uma garota na máfia motiva o espectador a observar o presente e esperar qual será o futuro da garota.
É muito complexo julgar o comportamento da jovem Masha que, sendo protegida e amada, não entra em conflito com sua família. A roteirista não se arrisca neste aspecto e prefere manter um amadurecimento mais mergulhado na intimidade de Masha, trazendo o repertório das canções para sua personagem. Em grande parte da projeção, ela perde amigos por conta da violência praticada pelo próprio tio, mas não tem cenas conflituosas com seu familiar, ou seja, não o enfrenta. Mais adiante, a cineasta utiliza elipses para avançar a história e opta por não entrar nesta seara. A partir daí, vem outras reflexões: "Como odiar aquele que ainda é uma das poucas referências de afeto e família?", "Como ficará a relação entre Masha e seu "Padrinho" no decorrer dos anos?. Afinal, quando o amadurecimento avança e as tragédias pessoais são mais visíveis, as máscaras sociais nas relações humanas tendem a cair.
Esta problemática é vivenciada por sua mãe Lena que já sofreu muito neste contexto. Seu maior desejo é escapar com a filha. É uma mulher de meia idade chorosa e deprimida que não deseja viver neste ambiente e muito menos casar com outro mafioso como Andrey (Aleksandr Mizev). Outra personagem feminina dramática é a amante do "Padrinho". Ainda que performe um papel coadjuvante, ela é a mulher objetificada que sofre abusos e está ali em uma prisão a serviço da máfia. É a mulher cujos desejos são sufocados pelo poder, comando e violência dos homens. Sendo um filme dirigido por uma mulher, trazer estas experiências femininas é essencial para permitir ao público observar as dramáticas realidades e fins destas mulheres.
Em Masha, ter uma família mafiosa determina muito das tragédias que ocorrem, resultando em um filme trágico na sua essência. Mesmo quando a música liberta, entretém e dá um fio de esperança, no plano real, a tragédia está acontecendo com diversas perdas humanas que marcam o passado, não escapam ao presente e nem às memórias que estarão no futuro.
Fotos: uma cortesia RFF
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