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  #AnimaçãoBrasileira #Streaming #DisneyPlus #Infância #Adolescência Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specia...

O Pergaminho Vermelho (The Red Scroll, 2020)

 



#AnimaçãoBrasileira #Streaming #DisneyPlus #Infância #Adolescência



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação






Uma obra audiovisual para o Cinema e/ou TV continuamente oportuniza distintas experiências e opiniões na sua recepção pelo público e um dos efeitos mais enriquecedores no acesso e democratização destes produtos culturais é a possibilidade de melhor apreciar e analisar a obra dentro do seu contexto de produção, podendo relacioná-la a outros contextos deste mercado. Nesta seara de obras que ganham cada dia mais espaço, a Animação tem sido destaque tanto em Festivais de Cinema como em plataformas de Streaming, entre elas a mais recente produção Brasileira da Tortuga Studios"O Pergaminho Vermelho" (The  Red Scroll, 2020) dirigida por Nelson Botter Jr, que concorre ao prêmio de melhor animação dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano.








Com ineditismo, o filme é a primeira animação Brasileira a estrear no catálogo da Disney Plus, feito que já representa uma excelente conquista para os produtores e realizadores nacionais, levando em conta que a plataforma tradicionalmente tem a força das produções Americanas, além da demanda e exigência por emplacar conteúdos de blockbusters ou fidelização de personagens e super heróis  da Disney e Marvel. É claro que, neste cenário, a Disney tem buscado valorizar produções Latino-Americanas para atrair público mas também como uma necessidade crescente de estar alinhada à diversidade dos mercados internacionais e, por consequência, compreender e estar aberta a novas narrativas para diferentes públicos.








A história é sobre a mítica jornada de amadurecimento de Nina (Marina Sirabello), uma adolescente de 13 anos que está naquela fase complexa de transição entre a infância e a puberdade. Dócil, comunicativa e praticante de skate, Nina ainda tem um jeito de criança e encontra-se em um natural ciclo de mudanças com todas as dúvidas, inseguranças e descobertas que ele traz. Com constantes pesadelos, certo dia, ela é transportada para o mundo de Tellurian, no qual encontra figuras semelhantes à mitologia e novos amigos como Idril (Any Gabrielly) e Victor (Viny Takahashi). Ela tem que enfrentar o Lorde Dark (Nelson Machado), o Senhor dos Pesadelos, para recuperar o pergaminho roubado, defender a Terra Telluriana e voltar a ter bons sonhos em seu mundo real.




"- Queríamos abordar o mundo da imaginação das crianças, o motorzinho que impulsiona todas as criações e fantasias infantis, sempre tão livres de amarras e limites. Para isso, imaginamos uma aventura em um mundo onírico, que servisse de representação para tudo isso, nosso inconsciente coletivo, como uma Alice no País das Maravilhas. " - Fala do diretor




"O Pergaminho Vermelho" vem de encontro a apresentar animações que não reproduzam as grandes produções Disney e a valorizar outras formas regionais de realizar filmes, incluindo algo que é muito específico para o público infanto-juvenil em termos de linguagem, que é a sua identidade e capacidade de se conectar com histórias que englobam o universal e o local. Diante do apresentado pelo diretor, em parceria com Fernando Alonso, Keka Reis e Leo Lousada, o roteiro demonstra a busca por uma identidade infanto-juvenil que concilia o amadurecimento de Nina com sua eterna criança, podendo ser um filme muito adequado a crianças menores na faixa de 5 a 8 anos e bem compreendido por jovens que estão entre 12 e 13 anos. 










Em determinados eventos e diálogos, o longa é bastante infantil na fértil imaginação que é comum à infância, como por exemplo, na forma de falar de Wupa (Marcelo Palermo), o bicho-preguiça de pelúcia que se assemelha à voz de uma criança pequena; por outro lado, o roteiro traz um frescor contemporâneo ao colocar elementos de aventura que trazem à memória produções da cultura pop como Senhor dos Anéis e Harry Potter, e personagens que remetem a natureza e ao Folclore Brasileiro como os Sacis. Assim, o filme caminha de um polo ao outro: entre o global e o regional, entre a maturidade e o pueril, entre o real e a fantasia.





Para um filme que levou 10 anos para ser realizado, o mérito é digno de aplausos e  visualizações no streaming, afinal haja superação.  Ademais os desafios cotidianos recorrentes na Animação, a cronologia de 1 década de produção é uma legítima evidência do resiliente esforço dos realizadores para viabilizá-lo.  É compreensível tanto tempo considerando que não é fácil fazer Cinema no Brasil, principalmente o de Animação. Faltam recursos financeiros para tantos bons profissionais que se esforçam todos os dias para produzir um filme, logo, quando se analisa "O Pergaminho Vermelho", deve-se observar o contexto da produção. Foram 10 anos em um país no qual a área Cultural é continuamente ameaçada ou pouco incentivada, portanto cabe prestigiá-la no que ela tem de mais especial, amoroso e Brasileiro.









Certamente, é notável que o longa tem aspectos que poderiam melhorar e que demonstram mais uma oportunidade de lapidação do que propriamente falhas, entre os quais, o texto, no qual os diálogos nem sempre são fluídos e dão continuidade ao aproveitamento dos conflitos e aventuras. Neste sentido, em algumas cenas, Nina se vê em um cenário onírico e atrativo e alguma fala ou ação interessante deixa de ser oportunizada. É como notar algumas lacunas nas interações que, independente da imaginação da criança e do amadurecimento da jovem, poderiam ter sido preenchidas para gerar mais conexão e engajamento com a história. 





O filme funciona melhor quando tenta mostrar os conflitos internos da personagem, mas ainda assim, foram poucos momentos dando a impressão de que esses conflitos não conseguiram ser desenvolvidos em toda sua potencialidade. No geral, o roteiro se aproxima mais da linguagem das crianças, priorizando a aventura. Apesar de ser uma Animação para toda a família, as crianças se divertirão mais com o acesso a esse streaming por conta da leveza e doçura da história. 




Como pontos favoráveis, além da Animação ser visualmente competente e criativa com elementos híbridos e referências culturais, a história é divertida e os personagens são próximos e cativantes, especialmente Nina e Wupa, seu fiel companheiro. Ela, empática e corajosa. Ele, engraçado e comilão. Essa graciosidade tem tudo a ver com a infância, mesmo porque está relacionada a criar fantasias que são bem espontâneas da criança. A maioria delas acredita que seus bichinhos de pelúcia e demais brinquedos conversam e se aventuram com elas em mundos imaginativos. Nina e Wupa representam o afeto e a diversão presentes na infância e que não podem ser perdidos no amadurecimento; então é um prazer conhecê-los e não deixar de sonhar.









Fotos e citação do diretor, uma cortesia assessoria do filme.

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