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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Integrante da Seleção Oficial Premières do Festival de Cinema de Tribeca, O Perfeito David (El Perfecto David, 2021) é uma perturbadora imersão na história do adolescente David (Mauricio di Yorio), sua busca e obsessão por um corpo forte e musculoso. Filho de uma artista plástica interpretada por Umbra Colombo, David convive com a estranha obstinação de sua mãe que controla seus treinos e alimentação. Ela deseja que o filho tenha um corpo escultural como uma obra de arte.
Primeiro longa-metragem do diretor Argentino Felipe Gómez Aparicio cuja experiência em publicidade e assistência de direção o projetou em premiações na área, O Perfeito David se destaca como um drama psicológico surpreendente. Apresenta um impecável trabalho de direção de atores, composição de planos, enquadramentos de câmera e criação de uma atmosfera de horror contemporâneo.
Como sua experiência com filmes Independentes, o diretor encontra um equilíbrio narrativo e uma marca autoral, demonstrando um minucioso trabalho de estranhamento em cena, com intensa tensão sexual do que está por vir. Ao mesmo tempo que David é acessível como um adolescente comum, com poucas interações sociais e focado em seus treinos diários, sua obsessão o coloca em uma representação extra humana. Assim, ele é como uma criação monstruosa moldada por uma mãe bizarra e radical e incentivada por técnicos igualmente rígidos.
Com câmeras fora do plano e bem posicionadas pelo cineasta, o ponto de vista do protagonista é atentamente observado pela audiência e possibilita mergulhar no cotidiano de David. Os planos bem estruturados, com baixa luz e sombreamento e jogo de espelhos, cria uma atmosfera intimista, sombria e em contínuo suspense. O que acontecerá com David? Quais os limites? Quão musculoso ele se tornará? são incógnitas que permeiam toda a narrativa e despertam o interesse rumo ao desfecho.
O contraponto do adolescente em formação do corpo e da identidade se mistura com a deformação de um corpo à base de drogas, isolamento, obsessão e dor. Neste sentido, David é como partes da expectativa dos outros. Seus amigos esperam que ele seja o pegador e brincam com sua sexualidade, a mãe com ambições artísticas desenvolve um zelo incomum pelo filho, David, o treinador e o colega fisioculturista apreciam os corpos masculinos com olhares de admiração que se misturam a um potencial desejo sexual.
Com direção, fotografia e montagem competentes, Felipe Gómez Aparicio chama a atenção pelo seu foco no desenvolvimento da narrativa, cravando em 75 minutos um argumento incrível que permite acompanhar cada drama, exercício, olhar e músculo de David. As decisões de decupagem utilizam os recursos visuais com consciência e o cineasta mostrou ser habilidoso. Aparentemente um roteiro deste tipo poderia esgotar as possibilidades plano a plano, mas ocorre o contrário: de forma crível, ele articula as tomadas na residência, colégio e academia sem perder a natureza perturbadora e o ritmo envolvente da história. Além do mais as atuações de Colombo e Di Yorio são conexas.
O Perfeito David aproxima-se mais do horror psicológico que do drama e isso o torna bem atrativo. É preciso reconhecer que nos tempos modernos sombrios, o horror está continuamente no dia a dia, surgindo em discursos, ações e rotinas, ora explícitas e explosivas, ora discretas e lentas. No caso de David, como ocorre com muitas pessoas, a busca do corpo perfeito é um propósito que nem sempre é apenas do indivíduo que se dedica a esse fim. Na maioria das vezes, este desejo visa a atender as expectativas dos outros. Com isso, o jovem atual precisa se conhecer e saber tomar suas próprias decisões.
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