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Mostra SP 2021| Pegando a Estrada (Hit the Road, 2021)

 




#MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema #EuvinaMostra



De 21 de Outubro a 03 de Novembro




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




O ditado popular que diz "Filho de peixe, peixinho é" serve potencialmente para relacionar o jovem cineasta Iraniano, Panah Panahi, ao seu experiente pai, Jafar Panahi (Táxi Teerã (2015), 3 Faces (2018), entre outros). Desde o início da carreira no Cinema, Panah já participava como editor e assistente de direção nos filmes recentes do pai e, com o lançamento do seu primeiro-longa "Pegando a Estrada" (Hit the road, 2021), ele evidencia que sabe utilizar a linguagem e a experiência cinematográficas, o lirismo, o humor e a Cinefilia a seu favor.






Panah Panahi: Nova geração do cinema Iraniano, com a tradição familiar em novos olhares





Exibido nos Festivais de Cannes e de Londres e atual competidor da seção de Novos Realizadores da 45ª Mostra, o filme de estreia de Panah Panahi é um road-movie sobre um rito de amadurecimento vivenciado por uma família divertida, afetuosa e caótica. Conduzido pelo filho mais velho, o carro segue para o Norte do Irã, porém o público não sabe exatamente o que eles farão no local. O clima de drama e comédia percorre toda a viagem em um fascinante exercício cinematográfico que destila doses de poesia, realismo e cultura.










O cineasta acerta em abordar o realismo de uma família Iraniana em uma viagem que está além da jornada física. A narrativa diz respeito a uma jornada de afetos, maturidade e crescimento. Faz parte do processo de mudanças familiares e culturais, especialmente com relação às novas gerações,  uma mentalidade que transita entre o deixar ir e a permanência de valores como o amor, a tradição, a união e o respeito. A crível escolha do elenco constitui uma família com personagens humanizados, táteis e imperfeitos. Personagens que não precisam dar todas as respostas diante das mudanças e incertezas. 










Interpretada pela atriz Pantea Panahiha, a mãe foge da convencional aspereza das mães super protetoras e autoritárias. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela tem uma expressividade cheia de nuances espontâneas: madura, divertida, leve e resiliente. Todos esses aspectos estão em sintonia com o ciclo que está vivenciando e com o híbrido, amoroso e angustiante papel de ser mãe. Cantando em sublimes planos, a mãe representa essa rocha que sustenta o lar, mas que também precisa deixar os filhos crescerem e os laços familiares permanecerem.





O pai representado por Hassan Madjooni está com a perna quebrada na viagem e tem um humor sarcástico que contribui em momentos hilariantes ao lado do filho pequeno. Ele é o pai que catalisa o humor através de um jeitinho burlador, muito crível com as figuras paternas mais jovens que ainda são influenciadas pela tradição. Nem sempre esses pais conseguem expressar afetos, porém, o mais bonito é perceber que há amor nos silêncios e no estar junto nos momentos decisivos. Muito sabiamente, o cineasta equilibra muito bem a direção de atores experientes como Hassan e Pantea e lhes dá liberdade para lapidar o personagem. O resultado é fantástico.









As situações mais cômicas são reservadas ao filho mais novo (Rayan Sarlak), bastante agitado e "fora da caixa". Ele brinca, esperneia, canta, discute e reflete, enfim, é um menino com personalidade carismática e igualmente maníaca. O pequeno ator é uma das melhores surpresas do filme, ficando sob sua responsabilidade a maior parte da comédia. Ele também quebra a seriedade que normalmente é dada à cultura Iraniana e sua faceta hilária é acompanhada por pensamentos avançados e criativos. Essa efervescência da infância e da vindoura juventude humaniza as crianças do país, pois elas também são alegres e podem ser ativas e questionadoras como qualquer criança de outras culturas.










Independente da inspiração e referências paternas de Panah Panahi, seu primeiro longa-metragem se mantém como autoral, com frescor cinematográfico. Sua identidade na obra cria autonomia em relação a seu pai. Apesar de muitas tomadas acontecerem no carro que, no Cinema de Jafar Panahi, tem uma representação recorrente na decupagem, Panah absorve outras frentes de direção como a de atores, o uso de trilha sonora em conexão com os acontecimentos, a direção de fotografia e a montagem, inclusive utilizando a Cinefilia sem cópias, com um toque especial como o poético momento CGI da história. Com isso, o cineasta tem luz própria e legítima e seguramente tem qualificação e coragem para crescer na filmografia.










Estamos diante de um belíssimo filme com um arco dramático que envolve o público na hora certa. Com êxito, Panah Panahi cria uma viagem peculiar e afetiva, no qual a família é verossímil e envolvente. Eles brigam e também expressam seus silêncios que dizem muito sobre as emoções, crises e hesitações. Pegar uma estrada, no sentido simbólico, é lidar com as incertezas e o choque entre o porto seguro, o  escapismo e o amadurecimento. Uma transição essencial para quem parte e para quem permanece.








Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação do filme.


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