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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Como parte da Mostra SP, a seção Competição de Novos Diretores tem a tradição de dar visibilidade a novos realizadores que se encontram em seu primeiro ou segundo trabalho de longa-metragem. Este ano, dos 264 títulos presentes na programação, 108 participam desta competição concorrendo ao Troféu Bandeira Paulista que reúne a votação do público e a de um júri especializado.
Um dos diretores participantes é Esteban Cabezas e seu Chileno, A Taça Perdida (La Taza Rota, 2021), também traduzido como a Taça Quebrada. A história apresenta um roteiro muito mais cômico que dramático no qual um homem chamado Rodrigo (Juan Pablo Miranda), após ter se separado da namorada e do filho há muito tempo, retorna ao seu antigo lar e deseja ocupá-lo novamente. O mais tragicômico deste encosto em forma de homem é perceber que se trata de um ser vazio, mimado, teimoso e egoísta.
Pela performance invasiva de Rodrigo, um personagem desprovido de carisma e com um ego gigante, a Taça Perdida mostra a falta de bom senso dele em forçar uma situação na qual ele não é bem vindo a um lar. Independente da relação afetuosa que tem com o filho, na verdade, a família não está em primeiro lugar na lista de Rodrigo considerando seu comportamento territorialista. A narrativa demonstra muito mais o egoísmo deste pai que, ao ver o namorado da sua ex ocupando a casa, não suporta vê-la reconstruindo a vida e a felicidade com outro. É como dizem por aí: Orgulho ferido de homem! É isso que Rodrigo tem: Um ego frágil.
Embora seja considerado um drama, a graça da história é o humor acerca do ridículo. Rodrigo é o homem tipicamente passivo agressivo que força uma permanência na casa, descarta os produtos de higiene do oponente e age de maneira infantil vestindo a camisa de outro homem e tentando se masturbar na cama do casal. Diante de tanta imaturidade, ele ainda acha que é um "homem maduro" que merece voltar ao lar.
É um personagem indigesto no qual não há verdade no sentido da empatia e reciprocidade. Para ele, importa muito mais impor a vontade pessoal do que perceber o mal estar e danos que está causando. Diante disso, o longa-metragem tem uma estrutura simples que, em muitos momentos, cai no vazio narrativo. Rodrigo é desinteressante e, como consequência, não é tão verossímil para sustentar a narrativa dentro desta decupagem limitada , em grande parte, à casa.
Com relação à verossimilhança, ela é impactada pela falta de bons diálogos ou de silêncios que realmente agreguem algum sentido. O filme se torna muito apático e perde oportunidades de assegurar uma melhor relação entre a ficção e as realidades de outros conflitos conjugais. Como uma evidência de desalinho entre a ficção e o real está, por exemplo, a conversa amistosa entre Rodrigo e o atual da ex como se ambos tivessem sangue de barata. É bem improvável que haveria uma discussão tão amortecida, principalmente porque dificilmente os homens são diplomatas quando o assunto é lutar pelo território e impor a masculinidade.
Outro mal estar da película é perceber que a personagem feminina (María Jesús González) não é defendida em seus desejos e escolhas pessoais. No começo, por causa do filho, ela deixa Rodrigo entrar na casa e passar algumas horas de lazer com o garoto. Depois, ela fica nervosa em uma discussão e na sequência final abre um pouco mais a guarda. É claro que, o roteiro defende um posicionamento instável para essa personagem e não há problema já que há homens tóxicos que agem assim no cotidiano e desequilibram muitas mulheres, entretanto, a escolha do roteiro é acomodada sob uma perspectiva feminina de preservação do bem estar dela e do filho.
Neste sentido, Rodrigo fica bem à vontade nesta casa e os outros têm que aceitar sua presença passiva agressiva. Apesar da temática possibilitar uma discussão sobre a seara dos relacionamentos mal resolvidos, falta autenticidade e afeto a este personagem masculino. Seria muito melhor que ele mostrasse real afeto por essa família e casa que tanto deseja, mas é uma questão de ego e, algo pior, um ego patético.
Fotos, uma cortesia divulgação filme 45ª Mostra
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