Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Em tempos tão sombrios como o da pandemia, é acolhedor encontrar poesia no isolamento social através de uma realista matéria, sensibilidade e uma câmera 16 mm na mão. Tamanho olhar poético chegou através de uma talentosa cineasta, Alice Rohrwacher, cujos trabalhos preservam esse natural espírito Toscano que é tão identitário no interior da Itália. No curta-metragem Four Roads (Quattro Strade, 2021), mesmo isolada, a diretora decide filmar o cotidiano de seus vizinhos, aproximando seu olhar mágico capaz de enxergar beleza e esperança no isolamento.
O curta é aquela joia surpreendente que dá uma dimensão otimista desafiando toda a negatividade da pandemia. Não é uma negação da realidade hostil imposta pela Covid19, pelo contrário, faz do cotidiano a sua força, resgatando a humanidade e seu efeito solar. Filmado em Quattro Strade, na Toscana, o curta é absorvido pelos vizinhos da cineasta: uma senhora e seu cachorro, o vizinho solitário e gentil, a família com meninos e meninas que alegram o ambiente.
Em quase 9 minutos, um tempo razoavelmente curto, Alice Rohrwacher reforça mais uma vez porque é uma excelente diretora da nova geração Italiana, com belos trabalhos como o longa As Maravilhas e alguns episódios da incrível série My Brilliant Friend, adaptado do romance A Amiga Genial, de Elena Ferrante. A cineasta filma e narra Four Roads, utilizando o zoom e rolos antigos, aproximação e distanciamento de vizinhos e objetos das casas, e de uma paleta de filtros que traz os aspectos da natureza com a fotografia como memória.
Uma ideia cotidiana e simples mas gigante na reflexão sobre a pandemia. Uma sensibilidade fílmica que faz pensar em muitas questões, afinal a pandemia não acabou: "Precisávamos (e precisamos) ser tão isolados, irritadiços e deprimidos na pandemia?" . Decerto não, mesmo que não tenhamos vizinhos tão simpáticos como os de Alice. Ainda que a Covid19 seja aquele fantasma invisível que nos assombra, nossas vidas terão que voltar ao normal. Cabe a nós nos preservar com segurança e ter empatia e respeito pelo coletivo. E falando em empatia, é um dos melhores aprendizados desse afetuoso curta.
A cineasta não filma por filmar, como mais um registro comum de fragmentos diários. Ela é bem empática! O roteiro tem um texto gracioso que valoriza esses vizinhos no que eles têm de poético e humano: O homem discreto que colhe flores para enfeitar a mesa, a senhora elegante que tem como principal companhia o cachorro, as crianças que brincam de assoprar flores, correr e andar de bicicleta e que dão sorrisos mais iluminados do que o sol da manhã. Nem mesmo a mesa do quarto foge ao olhar sensível da diretora, aliás, home office não é privilégio apenas dos grandes centros.
E o melhor é perceber que o curta diz muito sobre harmonia, algo que ainda é pouco visto na pandemia. Tínhamos (e ainda temos) todas as chances de ser melhores pessoas ao superar essa crise sanitária, afinal, o lar não é apenas nossa casa física, o lar é nosso país, nossa Terra.
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