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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Explorar as experiências das juventudes contemporâneas passa pelo enfoque em conflitos humanos que sejam universais, independente do país. No ciclo de amadurecimento da adolescência, o sentido de pertencimento a um grupo social na escola, no bairro e na cidade é uma necessidade contínua, ainda que a turma de "amigos" provoque contraditórias emoções como a alegria, a culpa, a raiva e a solidão.
Na esteira de produções que percorrem a toxicidade destas relações juvenis, o filme Macedônico Irmandade (Sisterhood, 2021) de Dina Duma aborda a amizade entre duas adolescentes, Maya e Jana, que culmina em um drama violento sobre a cruel dependência emocional nestes relacionamentos. Interpretada por Antonija Belazelkoska, Maya é introspectiva e discreta. Vivencia a separação dos pais e não tem muito diálogo com a mãe. Jana (Mira Giraud) age como uma "líder" inconsequente. De personalidade egoica, ela define o que deve ser feito ou não, influenciando Maya em diferentes situações.
Filmado com a presença do elemento água, seja através da piscina na qual as jovens praticam natação ou do mar que os amigos frequentam, a narrativa é construída com esta fisicalidade que flui onde tudo transborda em silêncio, escapismo e movimentos na água. Alternando com o cotidiano na família e no colégio, a direção constrói uma linguagem na qual a água é essencial na relação entre a história e os personagens, tanto nos momentos de contato com o eu como nos conflitos e tragédia.
Nem mesmo algumas situações recorrentes em dramas adolescentes como mentiras, bullying, outras violências psicológicas entre amigos e um roteiro econômico e previsível, diminui o valor da obra em sua trajetória autoral. A cineasta se esforça na boa condução da dramaturgia de Maya. Neste sentido, a garota tem um medo terrível de perder a melhor amiga ainda que esta represente uma ameaça à sua sanidade mental, bem estar e segurança. A culpa se torna um fardo após brutais acontecimentos.
O pertencer a qualquer custo é uma realista tragédia juvenil. Na maioria das vezes, os jovens não têm apoio e aconselhamento, nem autoconhecimento, e muito menos, se esforçam para identificar os próprios padrões comportamentais e das más companhias. Certos jovens preferem ouvir os amigos do que dar atenção à própria família e professores, logo, a narrativa toca nos desafios da comunicação e da empatia. Neste aspecto, ao observar o comportamento das jovens e as decisões tomadas com relação à Elena, a garota popular do colégio, fica nítido que Jana só gosta de si mesma, não mede consequências de seus atos e tem uma influência muito tóxica sobre Maya.
Irmandade acerta em passar pela solidão e culpa e, muito mais em colocar na pauta a discussão sobre as amizades femininas juvenis. Mulheres em geral têm todas as qualidades e condições para ser unidas como uma real irmandade, mas melindres, falsidades, narcisismo, inveja e diversas opressões cotidianas fazem com que muitas mulheres sejam nocivas umas às outras. Neste contexto, como forma de amadurecimento, observar as amizades e seus padrões ajuda a constatar se há afeto na relação. Para isso, é preciso mergulhar em si mesma.
Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação da crítica.
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