Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Não Odeie (Non Odiare, direção Mauro Mancini), inspirado em fatos e vencedor de melhor filme e melhor ator (Alessandro Gassmann) no Festival de Veneza apresenta o drama de Simone, um médico judeu atormentado pela culpa após tomar uma polêmica decisão em uma emergência. Durante um treino de canoagem, ele testemunha um acidente de carro no qual a vítima tem uma tatuagem da suástica nazista no peito. Simone decide deixar o acidentado entregue à morte.
A partir dessa ocorrência, o médico desenvolve um interesse peculiar em investigar a vida do falecido, chegando a conhecer os três filhos do morto, entre eles Marica (Sara Serraiocco) que começa a trabalhar em sua residência em Trieste como diarista. Paralelamente, o médico é desafiado pelo irmão Nazi de Marica interpretado pelo ator Luka Zunic. Essas vidas se cruzam em uma dinâmica dramática de afeto, ódio e culpa na qual o roteiro se ocupa de enfocar a relação de aproximação entre Marica e Simone. Desse modo, ambos formam um elo dialógico e equilibrado que possibilita o avanço da narrativa.
Não Odeie não entra em discussões sobre a ética médica e se posiciona como um drama pessoal de Simone, filho de um sobrevivente do Holocausto. Tanto a origem como a história familiar do médico impactam diretamente no seu emocional. Ele não tinha boas lembranças do pai, logo se sente inclinado a se libertar de magoas e traumas que ainda permanecem e influenciam suas emoções e ações. Conhecer Marica confunde seus sentidos e ele mistura culpa com atração e responsabilidade.
Sob a perspectiva de personagem, teria sido possível desenvolver melhor o papel de Simone se o roteiro tivesse criado situações mais conflitivas para o elenco. Os conflitos não existem no seu potencial, tendo em vista que o médico guarda a culpa para si e seu segredo é mantido inviolável. O excelente empenho de Alessandro Gassmann sustenta a história ao silenciar sua dor ao máximo e tentar conviver com ela. O ator expressa uma maturidade cênica de entregar apenas o permitido. Ele trabalha bem mais sozinho nessa missão, por mais que Sara Serraiocco seja uma boa coadjuvante.
Como resultado, até metade do roteiro a história é envolvente como Cinema, depois ela se estabelece com cenas mais novelísticas e conclusivas que aceleram a resolução de conflitos e conduzem o público ao desfecho com a principal mensagem. Por fim, essa decisão sobre a narrativa tem um pouco de fantasia em um mundo tão hostil habitado por posturas extremas e discursos de ódio, mas é preciso aprender com autoconhecimento, consciência e História e ressignificar a vida. O ódio exaure todas as forças, então Não odeie!




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