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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
A travessia para a morte é um dos mistérios mais profundos da existência e várias culturas e povos apresentam lendas sobre o tema em sua tradição local. Resgatando o imaginário da região Espanhola de Aragão, o longa-metragem Armurgan (2020) dirigido por Jo Sol é ambientado nos Pirineus em uma atmosfera mítica, envolvente e misteriosa na qual Armurgan (Iñigo Martínez) é carregado por seu leal servo Anchel (Gonzalo Cunill). Ambos caminham onde a morte os chama.
Com competência e equilíbrio, a escolha das locações, cenografia, design de produção, trilha sonora, elenco e direção recriam um híbrido entre Cinema e Literatura filmado em P&B cujo ritmo lento é como embarcar rumo às fronteiras entre a vida e a morte. Armurgan é um atravessador que ajuda as pessoas a passar para o mundo dos mortos. Sua função é envolta em uma missão terrível e dolorosa na qual não é possível aliviar inteiramente a dor ou determinar a hora da partida.
Os mistérios da convivência com a morte, um tema tão natural e controverso, pode ser compreendido como um fardo de Armugan, porém há nobreza e uma ética pessoal em seu propósito. Seu corpo como deficiente físico não o fragiliza, pelo contrário, torna-o fiel à sua missão com o companheirismo de Angel. Apenas essa imagem visual já cria uma força sobrenatural no Cinema, e muito mais na solenidade desta caminhada, lidando com as contradições, conflitos e dilemas que vão surgindo na interação com a comunidade e entre eles.
A contemplativa fotografia P&B de Daniel Vergara colabora para o lirismo da trajetória e trabalha bem as dimensões da natureza dos Pirineus e seus vilarejos, as humanas com os planos de interação luminosa entre Armugan e Anchel assim como os momentos mais introspectivos e sombreados nos quais cada um está em sua solidão e silêncios. Considerando o tipo de narrativa, em um tom solene e reflexivo, a direção de fotografia se torna um dos aspectos mais bem sucedidos no bom resultado do longa.
É uma narrativa belíssima na forma como foi decupada, aproximando-a cada vez mais do imaginário coletivo e da recriação de figuras mitológicas no Cinema, capazes de representar valores, crenças, histórias e experiências universais. Desta maneira, Armugan tem muito da tradição local Aragonesa, mas também serve à reflexão humanista e global acerca da transição entre a vida e a morte.



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Cristiane Costa, MaDame Lumière