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  #MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema De 21 de Outubro a 03 de Novembro Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de...

Mostra SP 2021 | Má Sorte ou Pornô Acidental (Bad Luck Banging or Loony Porn, 2021)

 




#MostraSP #45ªmostra #45mostra #FestivaisdeCinema

De 21 de Outubro a 03 de Novembro





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Má Sorte ou Pornô Acidental, o vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim é da Romênia, mas poderia ser de qualquer lugar do mundo. É o tipo de crítica social contemporânea que engloba variadas evidências da hipocrisia praticada pelo ser humano, especialmente com a presença crescente de governos totalitários, corruptos e oportunistas e cidadãos intolerantes cada vez mais entregues à ignorância e ao fascismo. Qualquer semelhança com o Brasil não é coincidência.










Com roteiro e direção de Radu Jade, o longa é um drama cômico de eficiente contribuição para a reflexão sobre a decadência moral e comportamental do mundo atual. Partindo da historia de uma professora primária de um renomado colégio de elite, o filme entrecruza um evento privado e intimista que, após vazado na internet, ganha proporções caóticas que trazem à tona o pior da humanidade: racismo, misoginia, machismo, fake news, autoritarismo, desrespeito e por aí vai. Emilia (Katia Pascariu) decide filmar sua relação sexual com seu marido, filme pornô amador que aparece nos primeiros minutos da projeção. O vídeo caseiro cai na internet e ela é convocada para uma reunião de pais para decidirem seu destino.





O diretor estrutura a narrativa em 3 capítulos. No primeiro, o espectador acompanha a caminhada de Emilia pelas ruas da cidade rumo à escola. De forma muito inteligente, o cineasta antecipa uma visão geral desta sociedade: intolerante, mal educada, ignorante, selvagem. O público vê pessoas que não respeitam mulher, pedestres, trabalhadores, entre outras regras sociais básicas. Emilia caminha como uma via sacra, indo para a crucificação pois não faltarão hipócritas tentando aniquilar sua individualidade e reputação.




No segundo capítulo, o diretor altera a composição dos planos, optando por uma perspectiva fragmentada da realidade, mais tragicômica e ácida, mostrando a montagem de diferentes recortes com anedotas e denúncias. Emilia sai de cena neste capítulo e a ideia do diretor de mostrar a sociedade contemporânea permanece.  É o típico capítulo "tapa na cara" cujas representações críticas como, por exemplo, colocar a foto de uma criança com marcas de violência e o título "família" permite associar o nível de hipocrisia e agressividade que existe nas pessoas. É interessante notar que, os "politicamente corretos" que se elogiam como "cidadãos do bem, defensor da moral e dos bons costumes" são normalmente os mais equivocados, chegando ao ponto de invadir as subjetividades alheias que não lhes pertencem.










O terceiro e último capítulo é a visão do caos moral e da baixaria. Se não fosse um filme e seu poder simbólico e crítico, seguramente poderia ser a prova viva de abusos morais a uma pessoa em um processo jurídico. A professora chega à reunião e é exposta ao ridículo. "As pessoas de bem"  representadas por vários segmentos sociais como a senhora da elite, o membro do exército, o clero, o "intelectual", a religiosa, entre outros, fazem questão de assistir ao vídeo íntimo da professora e começar a ofendê-la. O cineasta não coloca limites neste capítulo, assim, é uma descida ao fundo do poço da humanidade, como temos visto em redes sociais, notícias de TV e no cotidiano.










A professora ainda tenta dar explicações coerentes baseadas na lucidez de seu conhecimento, porém os comportamentos dos presentes são piores do que um tribunal ou julgamento medieval. "As pessoas de bem" hoje em dia se sentem no direito de se envolver em situações privadas, posicionar-se e tomar decisões baseadas unicamente em seus preconceitos e limitações sem se dar conta de que há limites e valores universais básicos. Se a professora foi exposta, deveria ser acolhida e não julgada como uma bruxa. 





Ainda que seja um longa de ficção que usa do exagero e do humor para chocar o público, o material humano e contextual é realista e legítimo, afinal, atualmente há indivíduos que perderam a noção de civilidade. Com isso, o longa deixa, pelo menos, algumas provocações nos seus 3 possíveis finais: Devemos ficar em silêncio diante destas crueldades cotidianas? Devemos descer tão baixo como os ignorantes e violentos ou utilizar outras estratégias mais coletivas? A professora Emilia é um exemplo ruim a ser seguido pelas crianças e jovens e poderá prejudicá-las? Ou os piores exemplos são as inúmeras "pessoas perfeitas" que adoram apontar o dedo para os outros mas são incapazes de olhar o próprio umbigo e refletir sobre suas ações desumanas e destrutivas?






(3,5)



Fotos, uma cortesia divulgação filme 45ª Mostra

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